A CRUZADA DE CATARINA capítulo 6: Planos do Bem e do Mal

 

CAPÍTULO 6

 

 

PLANOS DO BEM E DO MAL

 

(No episódio anterior Catarina e Lena salvam do suicídio o jovem Márcio, que havia cortado os pulsos como resultado de sua relação com o Barão Homer. O interesse de Lena por Márcio é imediato e Catarina agora tem uma equipe de três pessoas contando com ela, na incipiente luta contra o império maligno de Homer Nightgale. Agora veremos como Cathy investiga sobre a origem da juventude de Homer e chega a uma dedução curiosa. Enquanto isso Homer reencontra o macabro mago Lúpus, que agora reside na cidade de Pedra Torta* no norte fluminense.)

 

 

Márcio tomara um calmante à base de passiflora e agora dormia em seu quarto. Lena cobrira-o carinhosamente e, verificando que dormia, afastou-se. Cathy aguardava-a na entrada do quarto, e passou o braço em seu ombro.

— Ele não vai mais se suicidar, Lena. Nós já o convencemos.

— Ele é tão bonitinho... – Lena falava quase num sussurro, da mesma forma que Cathy – tão inocente e indefeso... parece uma criança.

— Ele precisa quem tome conta dele, Lena.

— Eu já percebi isso. Tomaria conta dele com muito prazer, Cathy. Ele precisa de proteção.

— Evite magoá-lo, ele é muito sensível.

— O que vamos fazer? Deixá-lo sozinho? Temos os nossos afazeres, e se eu ficar sozinha com um rapaz que os meus pais nem conhecem...

— Por que você não o leva para sua casa, Lena? Essa noite ele não deve ficar sozinho, e os pais estão muito longe. Em sua casa tem um quarto vago?

— Até tem... mas o que dirão eles?

— Eu vou junto e converso com eles. Se souberem que é outra vítima de Homer, vão colaborar.

— Cathy... não sei o quanto eu lhe agradeço. Você é tão boa... você espalha o bem em sua volta. Eu queria ser como você!

— Você nada tem a invejar de mim, Lena. Eu já vi como você é sensível. O Márcio é um rapaz de sorte. Mas será bom que ele faça um exame de doenças venéreas. Desculpe tocar nesse assunto... mas se vocês se casarem terão um longo tempo pela frente. Vale a pena uma boa prevenção.

— Não, tudo bem. Mas será que o Homer... ainda mais essa?

— Não sei, Lena. O maldito pacto dele deve protegê-lo de doenças, ou não permaneceria jovem de aspecto.

— Eu às vezes fico pensando isso, Catarina... toda a degradação desse homem... para onde vai, se não atinge o seu corpo físico? Se é uma coisa feita no plano físico...

- É, eu já pensei nisso também. Para onde vai?

Qualquer coisa passou pela cabeça de Catarina.

— Frei Jiri me falou sobre a maldição de Don Juan e de Dorian Gray... Dorian Gray, você já ouviu esse nome?

— Que eu saiba, não...

Catarina adquiriu uma expressão de luz interior, de revelação.

— O envelhecimento... as marcas da vida... num quadro, numa imagem. Será essa a verdade? Será possível?

— Me explique isso melhor.

— Já explico, querida. Mas vamos sair do quarto, deixar o Márcio dormir.

 

 

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Quando Homer localizou Lúpus foi para constatar que o mago negro estava imerso em profundas elucubrações malignas: um projeto secreto que o absorvia cada vez mais.

— Os Grandes Antigos têm pressa – explicou Lúpus, em seu palacete de Pedra Torta. – Quem os serve deve dedicar tempo integral...

— Mas certamente você poderá me conceder algum tempo, tendo em vista o que me cobrou...

— É claro – Lúpus sorriu, seu corpo magérrimo lançando sombras fantasmagóricas na parede cor-de-rosa, por força das chamas bruxuleantes das velas. – Diga-me o que o aflige.

Homer contou em minúcias os fatos que o estavam preocupando. Lúpus, silencioso, foi tomando algumas notas; só raramente pedia algum esclarecimento específico.

— Se nós estivéssemos nos tempos de Babilônia as coisas seriam mais fáceis... mas agora, nesta era cristã, tudo é mais difícil. Em todo o caso é possível fazer alguma coisa.

— Então, o que se pode fazer?

— Veja bem, Barão Homer. O encanto que protege Catarina é semelhante ao de Santa Cecília: ela está protegida contra ataques ou assédios sexuais. Apenas isso. Você pode matá-la, que o anjo não vai interferir.

— Você tem certeza disso?

— Santa Cecília foi martirizada. Ela viveu no tempo do Império Romano, era protegida por um anjo da guarda mas não se livrou do martírio.

— Mas por que razão o anjo protege de ataque sexual e não protege da morte violenta? Isso não faz sentido!

— Você está enganado, Homer. Para um cristão a morte pela fé e pelas convicções é a maior glória possível neste mundo. Por isso, se Catarina tiver que entregar a vida... se ela for mesmo esse tipo de pessoa... ela aceitará. O anjo não pode se opor a isso.

— Mas eu não gostaria de matá-la... ela é muito gostosa...

Lúpus riu uma gargalhada hedionda.

— Não creio que valha a pena... ela se opõe a você de forma muito radical... coloca em risco a sua reputação... para você seria melhor livrar-se dela de vez. Mas isso é com você: o problema é seu.

— E como eu poderia matá-la? Qualquer método serviria?

— Eu não aconselharia o envenenamento. Qualquer coisa me diz que contra isso ela teria proteção. Você pode usar arma branca, explosivos, fogo, revólver ou dilapidador magnético. Há muitos métodos viáveis. Ah, e o afogamento.

— Está bem, eu vou pensar no assunto. E se eu resolver me tornar vampiro, como você sugeriu? Poderia procurá-lo?

— Isso lhe custará muito, mas muito dinheiro mesmo... que eu sei que você tem. Fique tranquilo: no Necronomicon existe o capítulo 26, que ensina justamente como vampirizar um ser humano normal. Mas se você resolver, faça isso logo; daqui a um ano estarei tão ocupado com os meus projetos pessoais que não poderei ficar aceitando encomendas.

O celular de Lúpus tocou.

— Raios... quando a gente usa essa coisa, perde a privacidade...

 

 

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Dias depois, numa quarta-feira à noite, Cathy, Lena e Márcio encontraram-se numa discreta lanchonete na Torre Enterprise e pediram sorvetes.

— Vigiar uma pessoa é mais difícil do que eu pensei – disse Cathy. – Todavia, nós vamos ter que agir. Ele não fez caso do meu aviso e eu vou ter que atacá-lo de novo.

— O que você pretende fazer? – indagou Márcio.

— Vigiar os seus movimentos e interferir sempre que ele se aproximar de alguém. Mas vamos primeiro procurar visitar certas pessoas.

— Quem, Cathy? Você já tem alguém em mente?

— Já fiz uma lista, Lena. As pessoas da roda do Homer... são muitas. Temos aqui... – ela pegou uma agenda – o Lessa, o Clóvis Pacheco, o Pintoff, a Duquesa Ana Éden, o Senador Horizontino Lampreia, o Dr. Edgardo Sobrinho, jornalistas como Cinzano, Demétrius Loja, Almerinda Batalha, Maria Odete Bengala, o novelista Epitácio Aranha...

— É gente demais! Isso é um trabalho de Hércules!

— É claro. Eu não disse que vai ser fácil. Nós vamos ter que nos desdobrar. Um homem como Homer possui muitas relações... algumas imprevisíveis... muitas ele perde, é claro, por causa do mal que vai espalhando...

Márcio perguntou: — Quem você vai contactar em primeiro lugar?

— O Acir Pintoff. Ele é pintor e há algumas coisas que eu quero sondar

 

* cidade fictícia

 

imagem pinterest

 

(Agindo como uma detetive inteligente, Catarina Freitas começa a investigar o círculo de relações sociais de Homer Nightgale. A busca de uma explicação para a juventude de Homer apesar de sua idade leva a Lúpus. Agora mais que nunca Cathy tem a certeza do aspecto sobrenatural maléfico que cerca a vida do barão. Não é um oponente fácil. Na sequência veremos o contato entre Cathy e o pintor Acir Pintoff:

CAPÍTULO 7

NOVAS DESCOBERTAS)

 

Miguel Carqueija
Enviado por Miguel Carqueija em 15/07/2024
Reeditado em 15/07/2024
Código do texto: T8107174
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