Roteiro

Às vezes eu invento sua presença. Crio roteiro de conversas, diálogos cheios de sons e fúria. A decupagem é sempre em uma cozinha simples de interior. Uma trilha sonora bem baixinha, quase inaudível. Tem dias que faço chover. Em outros eu risco um arco íris sempre atrás de você, onde a imensa janela amarela funciona como plano visual destacando a composição mágica da sua alma.

- Quer um café?

Mesmo sendo uma habitual interrupção, dado que sou eu quem formula os scripts, sou tomada por um sentimento de surpresa gostosa que sempre me faz sorrir.

- Quero.

O café coado na hora. O beijo matinal mesmo antes do bom dia. Quero sempre.

O seu humor é ameno. Seus pares de olhos atentos me dizem mais quando então em silêncio partilhamos o pão.

Há ternura quando você confessa o seu desejo em mim. Quando o toque de suas mãos nas minhas instiga uma vontade que nunca se perde.

Você dentro de um pijama de bolinhas, meias de pares diferentes, cabelos sempre livres, (sua cabeça dói quando os prende), me pergunta se ainda é cedo pra um cálice de vinho.

“Aquela garrafa que Dionísio trouxe do Porto”. Certo. Teatral demais. Mas eu lembro que você não toma Coca-Cola e, me recuso a incluir algo que não seja muito seu. Vinho, eu sei que adora.