A cruzada de Catarina, Nota introdutória e prefácio

 

NOTA INTRODUTÓRIA DO AUTOR

 

“A cruzada de Catarina” é um romance de ficção científica com clima de terror e aspectos claramente religiosos. Assumidamente, é livro escrito por um católico, embora esteja muito longe de ser um católico de primeira água.

 

Hoje em dia causa polêmica escrever textos de ficção com mensagem religiosa. Por isso, a presente obra apresenta, excepcionalmente, além do prefácio (assinado por um escritor de tendência humanista/espiritualista), dois posfácios. Neles podemos ver como encara o texto, um autor que se declara materialista, e no outro posfácio, uma escritora declaradamente católica. Os leitores tirarão suas próprias conclusões.

 

Sabemos que cada leitor tem sua própria visão e interpretação de uma obra. Há um mútuo enriquecimento quando podemos tomar conhecimento das visões de outras pessoas, parecidas ou não com as nossas. E cabe ao escritor uma atitude de humildade ao aceitar as diversas interpretações que lhe cheguem ao conhecimento, como manifestação de um direito dos leitores. Tolo é o escritor que se ofende quando alguém não gosta do seu texto ou mesmo quando gosta, mas com restrições. A atitude de “O que eu faço é incontestável e incriticável” só depõe contra o literato.

 

Por esse motivo, sempre peço aos resenhadores que conheço, o favor de resenharem meus livros, mas nunca lhes peço elogios e procuro deixá-los à vontade para escreverem críticas sinceras.

 

Os textos aqui agregados são, todos, provenientes de grandes amigos.

Ricardo Guilherme dos Santos, com seu profundo humanismo, escreveu comigo o romance “Asteroid Girl: aventuras de uma fora-da-lei”, que foi publicado no Kobo. É um nome que em boa hora surgiu no fandom brasileiro de ficção científica, com sua grande disposição de produzir, e assumiu recentemente a editoria da revista digital “Somnium”, órgão oficial do CLFC (Clube de Leitores de Ficção Científica). Mantém escrivaninha no Recanto das Letras, onde colocou a notável novela “Bandeirantes do Espaço”.

Ronald Rahal surgiu já maduro como autor de ficção científica “hard” (com grande embasamento científico) mas em poucos anos produziu um volume surpreendente de textos, publicados em sua maioria em Agbook/Clube de Autores (“Superposição”, “Somente um dia”, “Regresso da máquina do tempo” etc). Apesar de nossas diferenças em aspectos filosóficos e doutrinais, fizemos diversas parcerias (o que prova que pensar diferente não deveria provocar guerras pelo mundo) sendo a mais recente, a novela “Prisioneiros do passado” recentemente publicada em minha escrivaninha no Recanto.

Shirleyde Fernandes da Mota é uma amizade recentíssima porém já muito importante, sendo inclusive uma autora de ficção científica – recentemente lançou o romance “Sancti – a batalha de uma nova era” – além de ser uma poetisa de grandes méritos, como vem demonstrando em sua escrivaninha no Recanto, tendo ainda participado da antologia poética “Flores do Recanto”. É pessoa de grandes predicados e sua amizade é muito enriquecedora.

 

 

Miguel Carqueija

 

 

Prefácio para “A cruzada de Catarina”,

por Ricardo Guilherme dos Santos

 

 

Os textos de Miguel Carqueija – um dos mais produtivos escritores da LitFan brasileira – demonstram que o autor é, antes de tudo, um profícuo leitor de obras de fantasia e ficção científica, além de admirador da arte cinematográfica. Não é difícil perceber que estas influências conjugam-se e ganham destaque em suas obras, trazendo para o leitor textos ambientados em universos oníricos, por vezes com referências a obras, personagens e heróis de várias mídias e épocas. O resultado deste experimento vem na forma de tramas criativas, que instigam o desenvolvimento da imaginação e trazem também um marcante apelo moral, lamentavelmente desprezado por muitos escritores hodiernos. Seus romances consubstanciam leitura prazerosa, altamente indicada, em especial, para os jovens leitores.

Tudo isto fez com que eu me sentisse muito honrado ao ser convidado por ele a prefaciar esta obra. Com a honra, todavia, veio o peso da responsabilidade de escrever um prefácio pela primeira vez. Cuidado com os spoilers! – disse a mim mesmo, conhecedor que sou da tentação que sinto por revelar detalhes de minhas leituras prediletas. Creio, no entanto, que algumas pequenas revelações não estragarão a surpresa do prato principal. Pelo contrário: poderão servir como um aperitivo para a leitura que se seguirá.

Em “A Cruzada de Catarina”, a inocência e a lascívia travam um duelo épico, cada qual auxiliada pelas forças ocultas que lhes são correlatas. Ou seja: o escritor nos brinda com uma trama que tem como ponto central a eterna luta entre o bem e o mal, com personagens sendo amparados por forças divinas e demoníacas. Os heróis são carismáticos e o ritmo do romance é célere, porém recheado de aventuras com descrições precisas – e muito imaginativas – do cenário futurista em que a história se desenvolve. Embora trate de um embate clássico, relatado pelas artes literárias desde o início dos tempos, “A Cruzada de Catarina” mostra-se inovador, sobretudo na ambientação sci-fi [muito bem caracterizada] desta guerra milenar e no detalhamento dos acontecimentos, recheado de saborosas referências a diversas formas de arte. Esta característica multifacetária agrega à obra uma nuance pedagógica, ao estimular a curiosidade do leitor no sentido de desvendar o universo das referências inseridas no livro.

Foi por influência de Carqueija, aliás, que recentemente passei a procurar por leituras de grandes mestres da literatura fantástica (como Clifford Simak) que têm sido esquecidos pelos editores brasileiros nas últimas décadas. Sou muito grato ao Miguel por ter ampliado meu horizonte literário e desejo que esta extensão de universo seja vivenciada por cada um de seus novos leitores.

Por falar em referências, o leitor está familiarizado com “O Retrato de Dorian Gray”, obra de Oscar Wilde? Bem, é alicerçada neste clássico que tem início a saga do Barão Homer Nightgale, o vilão vaidoso, promíscuo e ludibriador que Catarina – a jovem heroína cristã – terá de confrontar. Homer não está só nesta luta: conta com o apoio do mago Lúpus e de energias sobrenaturais muito poderosas. Torna-se, com isso, um oponente bastante perigoso, que comete diversas maldades, atentando contra a vida, a dignidade e a liberdade sexual de suas vítimas. Um antagonista que não envelhece e que se torna cada vez mais forte à medida que aumenta sua influência dentro da alta sociedade paulistana. O poder econômico, com sua déspota influência, transforma Homer em um Apolo aparentemente invulnerável.

Cathy, por sua vez, também tem seus aliados, alguns divinos e outros humanos. Os primeiros encantam pela pureza e majestade; os demais, pela inocência e coragem de lutar pelo Bem, apesar da fragilidade humana. É interessante ver, batalhando juntos, um anjo da guarda e uma justiceira mascarada (Andrômeda), escudada por um carro aéreo senciente e dois robôs com personalidades jocosas. Para mim, este aspecto simboliza a união de energias superiores invisíveis com as potencialidades humanas – de caráter e inteligência –, no elevado mister de impedir que o Mal, que tanto prolifera na sociedade atual (mesmo que sob hábeis disfarces), faça novas vítimas.

Em tempo: vale a pena também ficar atento à veia humorística de Carqueija. Ela está presente em “A Cruzada de Catarina” e representa um interessante contraponto ao clima tenso gerado pelos inevitáveis embates entre as forças conflitantes.

E olho vivo nas referências a livros, séries televisivas e obras cinematográficas. É um prazer identificar cada uma delas durante a leitura.

Bon Voyage!

 

 

 

 

 

 

 

Miguel Carqueija e Prefácio de Ricardo Guilherme dos Santos
Enviado por Miguel Carqueija em 06/06/2024
Código do texto: T8079509
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