As luzes de Alice, capítulo 5: Face a face

 

CAPÍTULO 5

 

FACE A FACE

 

(No ato anterior acompanhamos a expedição organizada por Buckley a pedido de Alice, a vidente dos cabelos vermelhos, para desentocar a criatura assassina nos bastidores do satélite Mundo Negro. E, afinal, o ser foi encontrado.)

 

 

 

Todos os outros entraram, completamente horrorizados no face-a-face com o Mal. Buckley posicionou sua principal arma e conclamou:

— Todos juntos!

— Não o farão — disse a voz, que parecia provir de algum medonho antro subterrâneo, de algum local oculto e esquecido pelos séculos.

Os cinco homens apontaram suas armas na direção da criatura. Flutuando como uma abelha, o monstro, do tamanho de um São Bernardo, parecia uma super-lagosta dotada de asas negro-avermelhadas com ossaturas e nervuras salientes, fazendo lembrar os apêndices alares dos antigos pterossauros ou pteranodontes. As pinças do bicho eram enormes e poderosas. A cor predominante era o marrom-escuro. O ser ostentava uma aparência ancestral, uma ancianidade antediluviana que desafiava a compreensão. Bem falara Alice sobre os Grandes Antigos.

Nesse momento a temperatura pareceu baixar novamente. Os presentes, porém, não puderam prestar muita atenção nisso. A presença do monstro era esmagadora, exorbitante. Ele flutuava a cinco metros do chão, seus olhos multifacetados encarando a todos os humanos.

Os disparos não vieram.

— Não o farão — repetiu o monstro. — Já interferi com os circuitos eletromagnéticos. Vocês não poderão acionar as suas armas.

— Quem é você? — gritou Buckley, tomado de cólera santa.

— Eu sou um dos Senhores do Espaço. Sou da raça que conheceu os Grandes Antigos em sua primitiva glória.

— E o que você pretende?

— Reabastecer minhas energias e retornar ao meu sistema.

— Você é um renegado — disse Alice, surpreendentemente. - Não existem raças perversas. O que resta de sua raça encontra-se em alguma região distante da galáxia... e só os desgarrados, que vieram acompanhando Cthulhu e outros demônios, aparecem por esse braço. Você é um infeliz!

— Cale-se — grunhiu a criatura, num tom profundamente repulsivo. — Você será a primeira a morrer, sensitiva.

De onde estava, a cinco metros do chão, o monstro voou rapidamente na direção da moça, estendendo pinças mortíferas. E Alice, sacando uma pistola calibre 22, fez fogo... uma, duas, três, quatro vezes, à queima-roupa. E a criatura tombou a seus pés, pesadamente.

 

(O  confronto foi rapida e surpreendentemente resolvido pela sensitiva Alice Chantecler, de maneira notável. O ser lagostiforme, relacionado com os Grandes Antigos lovecraftianos, possuía poderes telecinéticos com os quais inutilizou as armas eletrônicas portadas pela equipe de Buckley, administrador do satélite. Sabendo de antemão os recursos do inimigo, Alice levou a sua pistola comum, que apenas disparava balas mediante uma reação química. Contra essa arma primitiva, sem circuitos eletrônicos, os poderes do monstro eram inúteis.

Esta história se baseia na noveleta "Um sussurro nas trevas", de H.P. Lovecraft (EUA, 1890-1937), pertencente ao ciclo literário dos Mitos de Cthulhu.

Leiam em breve o epílogo de "As luzes de Alice": ADVERTÊNCIA.)

 

 

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Miguel Carqueija
Enviado por Miguel Carqueija em 30/05/2024
Código do texto: T8074707
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