As luzes de Alice, capítulo 4: A expedição
CAPÍTULO 4
A EXPEDIÇÃO
(No episódio anterior, diante de uma terceira vítima Alice conseguiu vencer a resistência do Administrador Buckley, que aceitou organizar uma expedição pelos interiores do satélite em busca do ser que está matando no Mundo Negro. Uma expedição armada até os dentes... mas que vai ao encontro do desconhecido.)
Alice vestia calças de tipo "jeans" azul-marinho e um casaco que lhe deram uma aparência de guerreira ou soldada; mas por força do regulamento da estação e de sua própria ignorância, não portava as armas militares requisitadas pelo administrador. Buckley e Robinson, porém, faziam até lembrar Ripley, de tão bem armados. Hilário Coelho, aproveitando a sua condição de reservista, portava uma metralhadora eletrônica. Buckley chamara os chefes de segurança, Alan e Jefferson, formando um comando de caça. Buckley ajustou os comandos de seu canhão-laser portátil e de seu rifle de explosão e encarou a vidente:
— Estamos à sua espera.
— Pois bem. Vamos à Central de Refrigeração e dali vamos penetrar no sistema interno da estação.
Saíram para o corredor e foram caminhando a passo decidido, até chegarem a um elevador. Foi quando o Dr. Harrington apareceu correndo, ofegante:
— Vai se expor ao ridículo? Não vai encontrar nada aí dentro!
Robinson interferiu:
— Homem, você está extrapolando. Não manda nessa nave! Vamos, Buckley!
Quando Alice passou pelo médico, ele ainda verberou:
— É tudo culpa sua!
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O elevador parou no piso central do Mundo Negro, em frente a uma pracinha onde uns robôs vigiavam. Buckley aproximou-se com seu cartão, que passou nas fendas dos três robôs, que imediatamente abriram seus braços-porteiras. Buckley conduziu o grupo até a porta blindada que dava acesso ao Sistema Interior do Mundo Negro.
— Vamos lá.
Alice benzeu-se e seguiu no rabicho do grupo, com expressão concentrada.
Penetraram num mundo escuro e opresso, limitado por paredes claustrofóbicas que projetavam apêndices sufocantes e sombras depressivas, intermináveis. Tubulações hediondas acompanhavam as paredes e o teto cupular percorrendo corredores intestinais metálicos repletos de reatores e outros equipamentos ligados aos sistemas de refrigeração da espaçonave. A um sinal de Buckley, Alice colocou-se à frente do grupo.
— Sente alguma coisa? — indagou Buckley, tenso.
Alice parou, tapou os olhos com a mão esquerda e falou lentamente:
— Vejo uma coisa se esgueirando... entre fiações e circuitos... uma coisa escura e maligna... malignidade excessiva... como se transpirasse pelos poros... a coisa está distante... e reúne forças para atacar de novo...
Ergueu o rosto, num átimo, abrindo os olhos...
— Sigam-me.
Caminharam rapidamente pelos corredores lúgubres, seus lampiões fotônicos de cotovelo projetando luzes movediças, claras, que entrechocavam com as luzes amarelentas do sistema. Alice caminhava com uma determinação impressionante, sem se preocupar em olhar para os lados, ao contrário de seus companheiros, que ostentavam esgares como os dos tripulantes da Nostromo. Alice prosseguia, penetrando cada vez mais no coração do sistema.
Os homens estavam cada vez mais nervosos. Robinson pegou o braço da moça:
— E agora?
— Vou tentar.
Fechando os olhos, Alice concentrou-se intensamente. Cobriu o rosto com as duas mãos. Arfou. Àquela luz estranha e híbrida, algo estranho foi visível: gotas inicialmente de suor comum, depois avermelhado, desceram de sua testa.
Jefferson, tendo observado o fenômeno, sussurrou a Buckley:
— Por efeito de uma grande angústia, pode ocorrer o suor de sangue... como houve com Jesus em Getsemani.
Alice voltou a falar com esforço e reticências:
— Ele já nos notou... aprontem-se, por favor... ele atacará. E nós temos que matá-lo. Não haverá possibilidade de acordo.
— E onde ele está? — perguntou Buckley.
— Eu não sei. Ele está usando seus poderes mentais para se ocultar.
— Então ele já sabe que nós o estamos caçando? — indagou Alan, perplexo.
— Não, Sr. Alan. Para ele nós é que somos a caça. Ele sabe que nós estamos dentro do sistema, só isso.
— Não, ele deve saber que nós queremos pegá-lo — argumentou Buckley.
— Saber ele sabe, mas não leva isso em conta. Ponha isso na cabeça: nós somos a caça, na cabeça dele. Aliás, a mentalidade destes seres é incompreensível para nós.
Alan comprimiu o gatilho travado de sua arma, pensando no encontro com a criatura. Um homem escuro, alto e magro, de senho fechado; era todo tensão e expectativa. Alice prosseguiu, ultrapassando umas serpentinas que partiam do chão em arcos sinuosos, provavelmente dutos de refrigeração. A jovem parecia em transe; começou a caminhar mais rapidamente, até chegar a uns degraus de pirita (material meteórico), que desceu num instante.
— Peguem suas armas!
Parecia presa de grande excitação contida. Abriu uma porta de alumínio que dava para uma espécie de galpão ou depósito. No mesmo instante a bandeira de uma porta oposta, a dez metros de distância, foi arrombada e a criatura apareceu em todo o seu horror.
Alice fitou o horror, que flutuava no ar à sua frente, e declarou com grande frieza:
— Finalmente nos encontramos, mensageiro das trevas.
— Sim — respondeu o monstro com uma voz horrenda, um cicio hediondo e indescritível. — Finalmente nos encontramos, vidente.
(A criatura foi localizada. Entretanto não parece temer os humanos apesar de suas armas. Como disse a vidente Alice Chantecler, na mentalidade da criatura os humanos não são os caçadores mas a caça. O confronto está iminente. Os cinco homens estão armados com armas eletrônicas avançadas. Mas quais serão os recursos do monstro? E Alice... o que fará ela, depois de guiar a patrulha? Vejam no próximo ato da novela:
CAPÍTULO 5: FACE A FACE)
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