A Saga de Godofredo Parte III – O Iceberg

20.05.24

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Godofredo estava em seu leito na cabine do navio. O avô, no catre ao lado, dormia profundamente. Resolveu sair. Foi ao convés do navio, que navegava em águas calmas. Uma enorme lua cheia, com sua luz opaca, iluminava com cores sombreadas a embarcação, envolvendo-a em mistério. Sentou em uma poltrona e pensou em seus antepassados maternos, a caminho do Brasil.

Imediatamente estava no navio que os levava. Não era noite, mas dia, e os passageiros estavam no convés aproveitando o sol forte da manhã, pois fazia muito frio. Uma bruma cobria o mar, fazendo com que o navio navegasse cauteloso, mas com o calor solar, ela se dissipava lentamente.

Curioso, foi à um marujo que manuseava cordas, perguntando-lhe:

-Bom dia! Em que região do Atlântico estamos, pode me dizer?

-Bom dia Senhor! Estamos no meio do Atlântico Norte e deveremos atracar em Nova Iorque depois de amanhã.

-Muito Obrigado!

Andou por entre as pessoas, todas encapotadas, para ver se encontraria com a família da sua avó. Em um canto do navio, abrigados, viu-a com o Barão Krumin Lep, sentados ao sol em duas cadeiras com cobertores nas pernas. Foi a eles.

Ela, vendo-o se aproximando, acenou, chamando a atenção do Barão, que sorriu. Ele os cumprimentou, tirando o chapéu da cabeça:

-Bom dia, Herr Barão; bom dia, Frau Alide! O sol está muito bom, não? Mas nada comparado ao do Brasil, verão a diferença.

-Ah, bom dia, Herr? Não nos disse seu nome? – respondeu o Barão.

Godofredo ficou sem resposta. Cons. veio em sua ajuda, dizendo-lhe em sua mente:

-Responda a verdade! Diga que seu nome também é Gotffried , igual ao de seu parente que ajudou aos pais do Barão a fugirem da Revolução Francesa.

-Gotffried! – disse ao Barão, que o encarava com ar de surpresa pela demora em responder.

-Mas que coincidência! O mesmo nome do salvador dos meus pais. Incrível não?

-Sim, Herr Barão! Sei que me deram esse nome em homenagem a ele – completou, aliviado.

-E como sabe que o sol do Brasil é muito forte? Já esteve lá, Herr Gotffried? – perguntou-lhe a avó, curiosa.

-Frau Alide, tenho conhecidos que emigraram para lá e me escreveram dizendo que o calor chega a ser insuportável.

-Ah! E em que região estão seus amigos? – seguiu questionando-o.

-Em São Paulo. Herr Barão, em qual região do Brasil pretende se estabelecer?

-Na cidade de Blumenau. Nos disseram que lá o clima é mais ameno e faz frio – respondeu o Barão.

-Vão descer em Nova Iorque? Conhecer a cidade? – seguiu Godofredo conversando.

-Não podemos. Só no Brasil desceremos. Gostaria muito de ver esta cidade, que dizem ser muito moderna. Conhece, Herr? – questionou o Barão.

Então, repentinamente um rumor surgiu na multidão no convés, indo todos à amurada do navio. Apontavam para algo no mar. Godofredo voltou seu olhar e viu, surgindo da bruma, um enorme Iceberg flutuando próximo ao navio. Lembrou do Titanic, que afundou por causa de um deles e sentiu um frio na espinha. Olhou para a ponte de comando com o capitão com binóculos, monitorando esse gigante de gelo. Era enorme e branquíssimo, como se fosse de algodão.

-Surgiu da bruma um iceberg. Eles flutuam nessa região e podem causar danos ao casco do navio – disse Godofredo, preocupado.

-Ah meu Deus, será que irão nos causar problemas, papai?

-Acredito que não, pois os comandantes são experientes e sabem como contorná-los – respondeu o Barão, mas também com feições de preocupação.

O navio, inesperadamente, começou a mudar a direção. A visão do enorme bloco de gelo começou a crescer. Era imenso, largo e mais alto que o navio, fazendo com que as pessoas, espantadas e preocupadas, e sentindo-se ameaçadas, começassem a recuar da amurada do navio. Godofredo avistava a gigantesca massa de gelo se aproximando da lateral do navio. Iria colidir com ele!

Vários marujos com lanças se alinharam na lateral do barco, empunhando-as na direção do bloco de gelo, para tentar fazer com que ele não batesse no navio.

Todos assistiam petrificados ao que acontecia. O comandante, com um megafone metálico, informou aos passageiros que se segurassem, para que, caso houvesse impacto, não se machucassem.

O bloco crescia assustadoramente, quase encostando no navio. Os marinheiros, agrupados com todas as lanças juntas, empurravam o gelo. Então, a embarcação começou a deslocar a sua popa para a esquerda, descolando-se do bloco. Ficou algum tempo assim, retomando o rumo à frente, desvencilhando-se do imenso iceberg, que foi sendo deixado para trás com a sua imagem linda e ameaçadora.

Todos no convés bateram palmas e soltaram suspiros de felicidades. Godofredo também ficou aliviado, pois não teria o que fazer, caso o navio fosse abalroado e vindo a pique.

-Ufa! O comandante foi muito habilidoso! – disse o Barão.

Cons. apareceu em seu cérebro com sua inigualável vozinha de taquara rachada, chamando-o, pois estava amanhecendo e deveria estar com seu avô, que acordava. Godofredo pediu licença aos antepassados maternos e adentrou ao navio por uma porta, sumindo. Voltou à cadeira no convés do seu navio. O dia raiva. Retornou à cabine, com seu avô já se aprontando para o trabalho. Ao vê-lo entrando, perguntou:

-Bom dia meu amigo. Não dormiu bem?

-Bom dia, Paul! Dormi sim, mas tive um sonho com icebergs e fui ver se havia alguns, pois eles podem causar naufrágios.

-Não se preocupe. Nesta região são difíceis de aparecer, mas no Atlântico Norte, são comuns. E fique tranquilo, os comandantes já sabem em qual região são frequentes. Vamos tomar café?

O Titanic rondava a cabeça de Godofredo...

Obra de ficção e qualquer semelhança é mera coincidência

Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 24/05/2024
Código do texto: T8070593
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