As luzes de Alice, prefácio e introdução: O terror à espreita

 

PREFÁCIO

 

O AUTOR E SUA NOVELA

 

Cesar Silva

 

 

Mais uma vez tenho o prazer de apresentar ao leitor uma noveleta de Miguel Carqueija, um dos mais frequentes colaboradores do Hiperespaço enquanto fanzine, que continua a prestigiar este selo em sua nova fase, sendo este o terceiro trabalho do autor neste formato — os anteriores foram A âncora dos Argonautas (1999), número 2 da primeira fase da Coleção Fantástica, e A Esfinge Negra (2003), número 2 da segunda fase da mesma coleção.

Miguel Carqueija é carioca, com muitos trabalhos apresentados em jornais, revistas, livros e fanzines. Sua ficção é conhecida como positivista e construtiva, com previsões favoráveis para o futuro da humanidade. Gosta de trabalhar com personagens femininas bem construídas, instaladas em universos com referências à cultura pop, aos quadrinhos e ao mangá, assim como apropria-se, muitas vezes, do rico universo criado pelo cultuado escritor americano H.P. Lovecraft. Todas estas principais características do universo de Carqueija reúnem-se na noveleta que pode ser lida a seguir, pela primeira vez publicada em edição própria. (*)

“As luzes de Alice” é uma aventura de ficção científica tétrica e misteriosa, com violência em medida adequada para uma leitura de interesse, sem ser desagradável ao estômago e sem deixar de atemorizar ao leitor mais sensível.

Um bom exemplo da obra deste que certamente é um dos mais prolíficos autores brasileiros de ficção científica.

Boa leitura.

 

(*) Anteriormente este trabalho foi visto no fanzine Juvenatrix de Renato Rosatti e na edição brasileira do periódico Perry Rodhan, da Editora SSPG.

 

 

 

Cesar Silva é um dos mais conhecidos fanzineiros e divulgadores de ficção científica e congêneres no Brasil; durante anos editou o fanzine “Hiperespaço”, que depois evoluiu para a Coleção Fantástica de livros de bolso sob o selo “Edições Hiperespaço” e hoje mantém o blog “Mensagens do Hiperespaço”.

Este prefácio foi escrito para a edição em papel e em formatinho de “As luzes de Alice” (São Bernardo do Campo, 2004).

 

(Começamos hoje a acompanhar a novela "As luzes de Alice" que introduz a personagem Alice Chantecler, a vidente dos cabelos de fogo. A ação se passa no Mundo Negro, misterioso satélite artificial privado em orbita nos confins do Sistema Solar. Algo terrível surge nesse satélite e a sensitiva se oferece para investigar. Mas não será fácil lidar com o poder das trevas...)

 

 

INTRODUÇÃO

 

O TERROR À ESPREITA

 

 

 

Meia-noite e trinta e três minutos. A hora, no Mundo Negro, segue a convenção da Terra. Uma porta se abre e uma garota, acabada de se vestir, despede-se às pressas de alguém que permanece no interior da suíte:

— Eu volto amanhã, meu bem. Tchau.

A garota loura e longilínea se afasta rapidamente enquanto a porta se fecha às suas costas. Os sapatos de salto médio fazem pouco ruído no piso acolchoado enquanto ela caminha pelo corredor curvo, que vai derivando sempre para a esquerda, as paredes marrom-escuras iluminadas pela fileira de luzes branco-esverdeadas. O caminho parece interminável e pela primeira vez ela pensa no ambiente com medo ou, pelo menos, apreensão.

Subitamente um ruído chama a sua atenção, como se algo se aproximasse por trás. Ela se vira e só tem tempo para uma coisa: gritar...

 

 

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Buckley Elizondo examinava o relatório quando o delegado Robinson se aproximou dele e interrompeu-o:

— Buckley, esta pessoa quer falar com você.

O administrador segurou o cartão curricular e, à primeira vista, leu: "Alice Chantecler - corretora de imóveis", com vários tipos de direção, a começar pela Cosmonet.

— O que ela quer comigo? Não quero comprar nada.

— Ela também não quer vender nada, eu acho. A não ser o peixe dela, eu acho.

— Do que é que você está falando?

— Buckley, ela faz parte da Liga Internacional de Clarividência e quer falar com você sobre a Miki. Eu estive acessando dados e constatei que essa Alice é considerada pessoa idônea.

— Pode ser, mas não gosto dessas interferências estranhas. Isso pode não dar bom resultado. Mas mande ela entrar!

A um comando de Robinson, a porta metálica correu e uma jovem de cabelos avermelhados entrou. Trajava-se de forma simples e normal, no entanto alguma coisa nela, indefinível, parecia fora do comum. Buckley sentiu-se incomodado com algo que não sabia o que fosse; mais tarde, pensando no caso, o máximo que conseguiu chegar foi que, naquele momento, pareceu ocorrer uma súbita e inexplicável queda de temperatura. O aposento estava quente e Buckley tirara o seu paletó. Foi Alice penetrar, e algo como uma sensação gélida também penetrou no ambiente: um frio que lembrava desolações árticas, regiões obscuras e esquecidas onde se refugiavam coisas tenebrosas e silentes. Entretanto o terror só durou uma fração de segundo, muito pouco para formar impressão definida: a temperatura voltou ao normal e a mulher parecia normalíssima:

— Administrador Buckley?

— Eu mesmo.

— Permita que eu me apresente. Sou Alice Chantecler, possuo clarividência e gostaria de ajudar na solução do assassinato que ocorreu neste satélite.

Buckley pôs-se a manipular o cartão, mudando sua posição para que os hologramas se revezassem. Uma das telas dizia:

"Alice Chantecler pode localizar objetos perdidos, bem como pessoas e animais, e por considerar seu dom uma dádiva de Deus, auxilia gratuitamente a quem precisar de seus serviços".

— Já trabalhou com assassinatos? — perguntou Buckley.

— Não me sentia preparada... mas agora estou.

— Você já tem alguma ideia sobre esse crime?

— Permite que eu me sente?

— É claro. Me desculpe.

Alice sentou em frente a Buckley, tirou um bloquinho e uma caneta de seu bolso e, destacando uma folha, pôs-se a escrever sobre a escrivaninha. Escreveu apenas um nome e passou a folha para o administrador do mundo artificial.

— O que vem a ser isso?

— É o que eu o aconselho a investigar.

Na folha entregue por Alice estava escrito: NECRONOMICON.

 

 

(O Necronomicon, na mitologia do ficcionista norte-americano H.P. Lovecraft (1890-1937), o "Livro dos Nomes Mortos", é uma obra maligna que conteria os ritos capazes de trazer de volta ao nosso universo os seres demoníacos conhecidos como os "Grandes Antigos". A vidente, mostrando esse título ao administrador do satélite, dá a entender que o crime ocorrido se relaciona com tais poderes ocultos.

E o que poderá Alice fazer a esse respeito?

A seguir nesta escrivaninha:

CAPÍTULO 1:

VISÃO DO MAL)

 

imagem freepik 

Miguel Carqueija e Prefácio de Cesar Silva
Enviado por Miguel Carqueija em 06/05/2024
Reeditado em 06/05/2024
Código do texto: T8057377
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