As aventuras de Honey Bel, epílogo: De princesas e príncipes
EPÍLOGO
DE PRINCESAS E PRÍNCIPES
Honey Bel colocou a sua rubrica nas duas vias do contrato lido e relido, e guardou sua própria via na bolsa. Estava muito alegre e, erguendo-se, deu pulinhos de alegria, abraçou Rick e rodopiou em torno dele. Tina, que também assinara, entregou a Joyce a pasta funcional de Honey, para ser arquivada.
— Agora eu sou da Cosmopol! Agora eu sou uma agente de verdade! Nunca mais vou passar fome e frio! Me cumprimente, Rick! Me cumprimentem, vocês todos! — exclamou ela, chamando Tina, Joyce e Morgan, as outras pessoas presentes no gabinete.
Era o gabinete particular de Tina que, mantendo a sua austeridade após o cumprimento geral, alertou:
— Espero que você passe a ser mais compenetrada, Honey. Ao menos nas missões. Uma operadora da Cosmopol não dá pulinhos na rua só porque se sente alegre, não faz coisas que chamam a atenção de todo mundo. Fui bem clara?
— Em outras palavras, controle a sua birutice — acrescentou Morgan.
Ela passou as mãos pelos cabelos já meio desalinhados:
— É claro, vou tentar me lembrar disso quando estiver de serviço. Se bem que estou tão acostumada a ser biruta!
— Nós também estamos nos acostumando — observou Rick.
Ela se voltou para ele:
— Fico pensando, como tudo deu certo! Até aquele oficial português, o Seu “Ô Raios”, arranjou uma promoção!
— Fomos muito bonzinhos em deixar que ele próprio devolvesse a Coroa de Circássia ao museu — lembrou Joyce. — Mas é bom contar com amigos nas polícias locais. O Oduvaldo decerto agora é nosso amigo.
Mas Honey já mal escutava o que os outros diziam. Sentia-se uma princesa. Alisou um pouco a blusa de Rick e murmurou:
— Agora, Príncipe Encantado, preciso acertar umas coisas com você.
— Vai fundo, Príncipe — zombou Morgan.
— Honey, tenha calma... — balbuciou Rick, mas Honey já o estava abraçando com a firmeza de um tamanduá-bandeira e, empurrando-o com decisão, imprensou-o na parede. Aturdido, ele tentou contê-la, mas Tina, sorrindo pela primeira vez nessa história, falou:
— Rick, deixa de ser besta! Uma garota fenomenal como essa te dá o seu amor assim de mão beijada, e você fica com esses fricotes? Estou quase duvidando da sua masculinidade!
Risos. Rick finalmente sentiu que apreciava aquela garota meio maluca porém cálida, sincera, corajosa e inteligente. Ele por fim correspondeu ao abraço e, em meio ao amplexo, eles colaram seus lábios. E os lábios de Honey Bel eram quentes e macios.
Foi um beijo demorado, tanto que Joyce aproveitou para filmar com seu comunicador. Enfim Honey afastou seus lábios e disse:
— Agora vem cá, meu Príncipe!
Conduziu o rapaz quase à força até um sofá, jogou-o nele de costas e deixou-se cair por cima.
— Vocês só não podem chegar às vias de fato — admoestou Tina. — Afinal, isso aqui não é motel!
— Não! Tá maluca, Tina? Não vamos chegar a tanto! Meu amor, se endireita, tudo o que eu quero é sentar no teu colo!
Ele obedeceu, sem nada melhor para fazer e, já instalada, Honey voltou-se para a amiga:
— Querida Tina, você vai ser nossa madrinha de casamento, não vai? Tem que ser você!
— Eu vou com prazer, mas quem vai ser o padrinho?
— Ah, isso eu deixo o Rick escolher! Quem você vai escolher, meu amor?
— Mas nós vamos nos casar? — gemeu ele.
— Ué, você tem alguma dúvida? Então, quem você escolhe?
— Eu vou pensar... vai ser algum colega.
— Está tudo muito bem! Fica tudo em família, a grande família da Cosmopol! Tina, no meu contrato diz que eu sou Nível 1, o que isso quer dizer?
— O nível mais baixo: aprendiz. Mas não se preocupe, todos começam por baixo.
— Eu sou Nível 10 — arriscou-se a dizer Rick.
— E eu sou Nível 28, o máximo é 30 e só tem na Terra — concluiu Tina.
— Você logo vai subir — vaticinou Joyce. — Do jeito que é atirada...
Honey já se desinteressara do assunto e tornou a olhar Rick, deu-lhe vários beijos e prosseguiu:
— O que você está achando disso tudo, Príncipe Encantado?
— Eu... bem... eu acho...
— Você não é de falar muito, não é mesmo, meu Príncipe? Mas não faz mal, eu gosto de homens caladões e posso falar por nós dois! Sim, porque eu falo pelos cotovelos, não sei se você chegou a reparar!
— Na verdade eu reparei — disse ele sorrindo.
— E tem mais! Nós vamos ter uma porção de filhos! Se der, quatro garotas e quatro meninos, inclusive a Honey Bel II! Não sei que tempo vai sobrar para a Cosmopol, mas a gente dá um jeito!
— Você está falando sério... oito filhos?
— Isso e mais o nosso zoológico particular, já se esqueceu? Claro que vamos ter que arranjar uma casa bem grande!
Deu um suspiro e continuou:
— Ah, meu amor! Meu querido! Meu Príncipe! Meu Príncipe Encantado! Vou ser a tua Princesa! Nós vamos casar no civil e no religioso e o mais rápido possível! Três ou quatro meses no máximo!
— Mas, Honey, por que tão depressa?
— Porque eu não posso esperar mais tempo, é por isso! Sabe, eu prometi à mamãe que vou me casar virgem e sou dessas mulheres que cumprem as suas promessas! Ah, Rick! Vai ser o nosso conto de fadas e viveremos felizes para sempre! E vamos passar a lua-de-mel no Brasil, no Rio de Janeiro, porque eu vou querer ir à praia com você! Aqui nesse mundo artificial não tem praia...
— Que bela ideia — interveio Tina, sorrindo de novo, a contragosto. — Tirou a sorte grande, rapaz.
— Sabem, eu acho... eu... — começou Rick, mas Honey pôs dois dedos em seus lábios.
— Não fale nada! Não é hora de falar! Meu Príncipe! Meu Príncipe Encantado! O nosso conto de fadas está começando agora!
E Honey tornou a colar seus lábios nos dele, abraçaram-se e assim ficaram demoradamente, sob o complacente olhar dos colegas.
FIM
Posfácio
Encantadora. É assim que eu definiria Honey, na hipótese de me pedirem para resumir, numa única palavra, a impressão que tive dela. Talvez seu jeito “amalucado” e o romantismo incomum tenha soado um tanto surreal para você. Note, porém: o autor deixou claro, desde o primeiro parágrafo, a intenção romântica da obra. Bem romântica, não é verdade?
Se você está familiarizado com os animês japoneses, por certo já conhece um pouco as reações emocionais efusivas e apaixonadas de seus protagonistas. Honey Bel é assim. E, num mundo onde as pessoas parecem se esforçar cada vez mais para mascarar sentimentos, em nome de um pseudo equilíbrio emocional, a jovem protagonista desta novela de Carqueija aparece como um resgate da importância de se externar os verdadeiros sentimentos. Um resgate da doçura e da sinceridade, das quais nosso mundo está, em minha opinião, tão carente.
Quem conhece o trabalho do autor sabe que ele tem predileção por heroínas. A mulher – o sexo forte! – que consegue ser doce, meiga e romântica, mas ao mesmo tempo forte, resistente e até fatal (provoque-a, se duvidar!) aparece com frequência em seus trabalhos. Desta maneira, Carqueija prova que não é necessário cara de mau ou montanhas de músculos para ser protagonista de um romance repleto de ação e disputas corporais. A verdadeira força, a invencível força, pode estar atrás de um par de olhos meigos, mas obstinados. Como os de Honey.
Enquanto lia, eu imaginava a protagonista em ação. Uma garota franzina e bela, perambulando de forma jovial pelos cenários futurísticos imaginados pelo autor, com sua alegria juvenil, sua inocência e sua grande marca registrada: a espontaneidade (outro atributo incomum nos dias atuais, onde as pessoas parecem caminhar com máscaras que ocultam seus verdadeiros sentimentos e emoções). Às vezes eu a via como um desenho animado, uma garota com cabelos ruivos cacheados, feliz por natureza e sempre à procura de seu príncipe encantado. Foi como uma viagem por múltiplas dimensões: futurismo, fantasia e animação.
Entendo que a protagonista pode ter lhe parecido um pouco exagerada no princípio. Com o avançar da leitura, porém, creio que você desenvolveu um grande carinho por ela, uma afeição especial, assim como eu o fiz. E se isso aconteceu, caro leitor, ouso lhe dizer: você é um romântico!
Honey Bel é uma jovem e incomum diva; uma diva sonhadora, criada para leitores românticos. Como eu. Como você.
Como todos potencialmente somos.
(Ricardo Guilherme dos Santos)
(Autor da coletânea "Contos de literatura fantástica", publicada no Recanto como e-livro.)
(E assim a Sino Doce obteve ingresso na Cosmopol, tornando-se uma das mais jovens e surpreendentes agentes da instituição. E já com noivo e tudo.
Uma coisa podemos garantir: a Cosmopol nunca mais será a mesma depois de Honey Bel.
Temos uma continuação, que infelizmente não está finalizada. Honey Bel destacada para combater os piratas interplanetários. Claro que Rick e Tina participarão.
Esta coluna continuará apresentando novelas em forma de folhetim. A próxima será uma história de terror lovecraftiano:
AS LUZES DE ALICE
Passa-se esta história no misterioso e distante satélite artificial conhecido como o "Mundo Negro". Um ser das trevas penetrou no satélite e espalhou o terror.
Acompanhem a aventura da sensitiva Alice Chantecler, a mulher dos cabelos cor de fogo, e seu confronto com o Mal.)
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