As aventuras de Honey Bel, capítulo 10: A hora e a vez de Honey Bel

 

CAPÍTULO 10

 

A HORA E A VEZ DE HONEY BEL

 

(Separando-se sorrateiramente de Rick e Tina, Honey decidiu buscar Fred por conta própria, arrostando grandes riscos. Mas ela está disposta a se desforrar do homem que a ludibriou e a fez de boba, e provar seu valor para entrar na Cosmopol. Agora veremos o resultado desta atitude da garota.)

 

 

Os calçados que Honey usava eram bem almofadados e não faziam ruído apreciável, de modo que ela contava que sua fuga não seria percebida de imediato. Dobrou várias esquinas e se sentiu em segurança.

A razão de não querer companhia era dupla: não se decidira revelar a sua visão mágica e queria lidar pessoalmente com Fred. Afinal, fôra ferida em seu pundonor de mulher.

Honey correu e correu, sabendo que o caminho certo seria achado mais adiante naquelas ruas fantasmagóricas, só de vez em quando cruzadas por estúpidos robôs que a ignoravam completamente, já que ela não era nada que necessitasse de manutenção. A rua na verdade parecia uma “storyboard” de desenho animado e pela concentração das linhas e um efeito de voragem Honey sabia o caminho certo, como se atraída por um redemoinho fantástico. Era como estar numa cidade de Ray Bradbury, e Honey já não se espantava com mais nada.

Correndo, dobrou uma esquina e, inesperadamente, chocou com dois corpos e caiu no chão. Ficou vendo estrelas, mas conseguiu escutar:

— Pegamos ela, Joyce! Pegamos a megera!

— Espera, Morgan...

— Que espera nada! Me ajuda a segurar ela!

Honey ergueu-se com agilidade e fez um sinal de mão espalmada:

— Parado aí! Está maluco? Eu estou trabalhando com Tina e Rick!

— Morgan, não tá vendo que não é a Violeta Fatal?

— Quem? Você fala da Arabela?

— É o apelido dela... seu nome verdadeiro é Brígida...

— Que cafonice! Bem, eu sou Honey Bel!

— Tina e Rick falaram de você... — balbuciou Morgan, um rapaz ruivo de cabelos espetados. Joyce, uma rotunda mulata, observou:

— Pedimos desculpas, mas por que você não está com eles?

— Nós nos separamos, temos de cobrir uma grande área! Vocês estão indo para onde?

— Para lá — apontou Morgan. — Nossos sensores termobiológicos indicam...

— Oh, isso! — Honey fez pouco caso daqueles aparelhos e, de qualquer modo, a visão esquemática lhe mostrava outra coisa. — Bem, sigam sua pista que eu sigo a minha. Boa sorte!

E assim ela contornou os dois e saiu na disparada.

— Que maluca! — comentou Morgan. — Quase quebrou o meu nariz.

— Acho que a Tina fez uma besteira... mas vamos, como ela disse, vamos seguir a nossa pista!

Honey já se distanciava e sabia estar na pista certa.

Afinal chegou ao edifício da subprefeitura, um prédio gigantesco. Subiu a escadaria meio ofegante porém levada por determinação febril e abriu o imenso portão. Ninguém trancava portas numa cidade vazia.

Honey entendeu que precisava se apressar. Sabia que pelos subterrâneos os dois meliantes poderiam chegar ao território canadense, italiano ou rumeno. Sabia também que, se conseguissem embarcar num foguete, perder-se-iam na imensidão populacional da Terra, nos antípodas da órbita em torno do Sol. Os subterrâneos eram necessários para unir as filiais dos países em Terra II, já que as cúpulas de magiplast ou de campos de força possuíam limitações de tamanho.

Honey embarafustou pelos salões e corredores do gigantesco prédio, levada pelo seu poder incompreensível — tão incompreensível que ela nem tentava compreende-lo. Aquilo parecia um “presente dos deuses” e o caminho da garota não apresentava segredos. Enxergava tudo em esboço e as linhas se adensavam e afunilavam para indicar o caminho a seguir. Empunhando sua lanterna Honey correu, correu, abriu e fechou portas, desceu escadas e, por fim, lembrou-se de por a máscara que fazia parte do seu kit de agente.

Agora ela redobrara de cuidado, pois a pista estava ficando “quente”. Honey tinha a certeza de que seu objetivo se achava próximo. Por fim ela se aproximou de uma porta que, pelo que percebeu, levava às passagens subterrâneas.

Ela abriu a porta e, avançando, viu-se diante de um vulto que subia a escada, incidentalmente indo ao seu encontro.

— Quem é você? Brígida? – e era a voz de Fred fazendo-se ouvir através da penumbra, chamando Arabela pelo seu verdadeiro nome. Honey sorriu e respondeu fazendo voz de falsete:

— Não, eu não sou Brígida. Eu sou a famosa princesa samurai japonesa, Texuto Nakara!

Ato contínuo, e aproveitando a posição no alto da escada, Honey acertou um pontapé nas fuças do outro, atirando-o pelos degraus abaixo, uns quinze degraus. Ela acionou o comutador, inundando o local de luz, e retirou a máscara, jogando-a no chão.

— Honey! — exclamou Fred, incrédulo, enquanto tentava se levantar.

Agora você me paga — pronunciou Honey, escandindo as palavras.

 

 

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Honey desceu os degraus de três em três e acertou um chute no punho direito de Fred no momento em que este sacava uma pistola, que voou longe e ricocheteou na parede. Honey atacou com tudo o que tinha. A visão diagramática mostrava-lhe tudo o que precisava ver para aparar todos os golpes do adversário e indicava o caminho para os seus próprios golpes. Fred sabia lutar muito bem, mas nunca enfrentara alguém com aquele poder.

Honey acertou-o seguidamente no fígado, no baço, no plexo solar, no nariz. Os socos e as cuteladas de Fred eram desviados pelos braços da garota ou ela simplesmente se esquivava. Afinal, não iria perder para um boneco de linhas. O fato de poder controlar sua visão especial, utilizá-la a seu bel-prazer, entusiasmava Honey. Até quando o outro tentou acertar-lhe um forte pontapé, Honey simplesmente agarrou a perna no ar e derrubou o oponente. Fred ainda tentou se levantar mas o pequeno punho de Honey acertou a sua cabeça, derrubando-o de vez.

— Por favor, pare... — implorou o escroque, enquanto Honey algemava as suas mãos nas costas.

— Já parei. Não preciso mais te bater. Deixa eu ver tua mochila.

Embrulhada numa toalha, ali estava a famosa coroa circassiana com suas gemas engastadas, uma beleza deslumbrante. Contudo, a rapariga prosseguiu revistando a mochila e por fim jogou todo o conteúdo no chão: blocos, armas, perfumes, lenços, aparelhos eletrônicos...

— O que você quer, afinal? O que espera encontrar?

— Um criminoso esperto e precavido como você não deixaria de providenciar alguma coisa para comer, eu acho... ah, aqui está! O que? Torrones? Pés-de-moleque? É só isso que você tem de comida?

— Escute — disse ele, levantando-se. — Será que você não entende que essa coisa vale o seu peso em ouro? Poderemos ficar ultra-milionários se a vendermos a um bom receptador! Me solte, vamos fugir juntos!

— Sem chance! Eu posso ser maluca e idiota, mas sou muito mais honesta do que você pensa! Agora senta e espera, ou prendo os teus pés também!

Quando Rick e Tina chegaram ao local, Honey estava terminando de comer os torrones e pés-de-moleque.

 

 

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Tina e Rick resolveram procurar Honey. Na verdade Rick estava aflitíssimo embora procurasse disfarçar, e Tina percebeu e fingiu que não tinha notado. Conseguiram rastrear Honey com o sensor termobiológico, que não funcionara no caso de Fred/Egsberto, pois o mesmo possuía uma parafernália de aparelhos despistadores e confundidores. Quanto a Arabela (Brígida), fôra presa por outros operadores da Cosmopol. A dupla Joyce/Morgan dera com os burros n’água: a pista termobiológica que seguia era apenas uns morcegos pendurados de cabeça para baixo num campanário. Como existiam algumas áreas verdes no bairro projetado, aves e morcegos tinham se instalado, pois existiam frutas, insetos e brotos.

Fred estava tentando achar uma passagem para os grandes túneis subterrâneos, ao ser flagrado por Honey. Como ele depois explicou, tinha se separado de Brígida para que fossem dois a procurar em locais diferentes; quem achasse primeiro chamaria o par.

Depois de tudo explicado, Tina demonstrou um novo respeito para com a agente Honey:

— Acho que você será de grande utilidade na Cosmopol. Sem brincadeira.

Abraçada a Rick, Honey pensava:

“Algum dia eu tenho que contar a ele do meu poder. Afinal ele vai ser o meu marido! Mas deixa para depois do casamento. Melhor não falar agora, não quero assustá-lo mais do que já está...”

 

(E assim Honey Bel, contra todas as espectativas, provou que pode sim, ser uma eficiente agente da Cosmopol! A sua vida mudou mesmo! Mas o que realmente importa a Honey - além de poder se alimentar e agasalhar - é a presença de Rick, eleito por ela o Príncipe Encantado.

Leia a seguir, em breve:

EPÍLOGO:

DE PRINCESAS E PRÍNCIPES)

 

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Miguel Carqueija
Enviado por Miguel Carqueija em 27/04/2024
Código do texto: T8050734
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