As aventuras de Honey Bel capítulo 5: Honey Bel entra pelo cano

CAPÍTULO 5

 

HONEY BEL ENTRA PELO CANO

 

(No capítulo anterior vimos como Honey Bel encontrou-se com Fred, o "Príncipe Encantado" como ela o vê, e se surpreende ao saber que deverá agir sozinha logo na primeira missão: entrar em um duto de ventilação e chegar à sala onde se encontra guardado o valioso "columbroso roxo" que teria sido roubado pelas autoridades da zona portuguesa da Terra II. Agora finalmente a Sino Doce entra em ação, aliás entrando literalmente pelo cano... mas uma descoberta espantosa espera por ela.)

 

 

“Ele devia pelo menos ter entrado comigo, para me encorajar”, pensava a garota. “Mas que estou dizendo? Eu sou a grande espiã Honey Bel, a Gisele dos tempos modernos... mas não, a Gisele não, essa era uma espiã nua, e eu não vou tirar a minha roupa...”

Honey comprou a entrada com o dinheiro português que Fred lhe dera, e ao se ver no grande saguão de entrada deu-se conta de estar tremendo de medo e de frio. Esbateu os braços e quase se amaldiçoou porque ainda não tinha comprado o seu casaco.

“Deus do Céu, ainda tenho que entrar num duto de ar condicionado! É agora que eu pego uma pneumonia, mesmo. Por que é que eu tenho que ser tão avoada?”

Nisso o pequeno salto do seu sapato prendeu-se numa ondulação do imenso tapete e a garota foi de cara no chão. Isso, justamente na hora em que ela se concentrava em não chamar a atenção.

— Você está bem?

Duas mãos vigorosas ajudaram-na a se levantar. Honey percebeu que todas as pessoas presentes, e não eram poucas, estavam olhando para ela. Em outra ocasião teria ficado super-contrariada e embaraçada, mas naquele momento algo sublime estava lhe acontecendo. Um rapaz que parecia o Príncipe de Cinderela — ou talvez o da Branca de Neve — a estava amparando. Deus, aquele penteado, aqueles cabelos, aqueles olhos...

— Você está bem? — ele parecia algo admirado.

Honey sacudiu a cabeça, tentando voltar à realidade.

— Oh, sim, estou bem! Muito obrigada! Puxa, eu fui tão descuidada...

— Aconselho-a a tomar mais cuidado — disse ele, e afastou-se.

Honey teve um impulso de correr atrás dele, gritando: “Espere aí, meu Príncipe!” Então caiu em si, lembrando que já havia um Príncipe Encantado em sua vida.

“Oh, puxa, que pena, eu não posso ficar com dois príncipes encantados...”

“Outra coisa. Quem foi que me falou esta mesma frase, não faz muito tempo? Que coisa estranha!”

Honey foi até o sanitário mais próximo, embora não estivesse com muita vontade, porque lhe ocorreu que, dessa maneira, conseguiria dissipar toda aquela carga de atenção que recebera. Ao sair, mesmo tendo viva na lembrança a imagem dos olhos azuis do Príncipe Encantado II, tentou concentrar-se na missão. Afinal, a sala onde ficava o terminal de ar que era o seu objetivo, mesmo estando semi-escura (devido à projeção de filmes educativos) estava cheia de gente em cadeiras.

Ela não contava com isso. Sentou numa cadeira mais isolada e tentou pensar em um milhão de soluções para o seu caso, sem chegar a conclusão alguma.

E então houve uma explosão ou coisa parecida. As pessoas se levantaram e correram em pânico e aos gritos, naquela semi-obscuridade.

“É agora”, pensou Honey, que não podia se dar ao luxo de entrar também em pânico. Correu para o duto na parede, borrifou com o “spray” desapertante, afastou a chapa, entrou e encaixou-a de volta; acreditava que não havia câmeras vigiando aquela passagem.

Pôs-se a rastejar pelo duto, tendo colocado a lanterna de testa para enxergar o que fazia. Consultou a planta e seguiu adiante. Às vezes tinha de subir, por sorte a subida era oblíqua e não vertical.

Honey sentia-se morrer de frio.

A certa altura sentiu-se meio desorientada, confundindo-se até com a planta que levava. Seria para cá? Seria para lá? Teria fechado bem a portinhola? As dúvidas a assaltavam e a faziam suar, apesar do frio intenso.

Então algo muito inusitado começou a acontecer. Como que um esquema se desenhou à frente da garota. Era como se o caminho à sua volta se transformasse num desenho de grossos contornos, e muito mais nítido numa das bifurcações. “É para lá”, pensou ela, e seguiu em frente. A ideia de ter-se transformado numa figura de desenho animado era absurda e ridícula, mas Honey decidiu que pensaria nisso depois. O tempo urgia. Com uma rapidez dez vezes maior do que esperava ela percorreu toda a trajetória necessária, todas as reviravoltas, sem uma hesitação, porque aquela visão esquemática e geométrica lhe dava absoluta segurança.

Aquilo fez com que ela recordasse a luta que tivera com o agressor de mulheres. Também naquela ocasião surgira diante de seus olhos um esquema orientador. O que estava acontecendo com ela, afinal?

Honey desovou na sala desejada e se viu diante do seu objetivo: um mostruário onde se podia enxergar uma amostra de rocha que só poderia ser o tal “columbroso roxo”.

— Não posso acreditar! Consegui! — murmurou ela, tentando conter o nervosismo e o entusiasmo.

Na verdade existiam muitos mostruários no local, porém Honey reconheceu facilmente o seu objetivo apesar da etiqueta apenas se referir a feldspato.

— Eles pensam que podem enganar o Serviço Secreto Brasileiro! — sussurrou ela, acendendo a luz para enxergar melhor.

E então ela quebrou o vidro do mostruário com o alicate que tinham lhe fornecido e, com as mãos enluvadas, apossou-se da pedra, retirando-a da caixinha forrada de veludo.

Nesse momento a porta se abriu e apareceram três homens armados e uniformizados.

— Não se mexa! — exclamou o primeiro, um negro português de sotaque carregado.

— Pegamos você com a mão na massa! — disse outro, um baixote de bigodes grisalhos e pronunciada careca. — Só que és tão burra que erraste a sala, isso aí na tua mão nenhum valor tem!

— O que está dizendo? — e Honey Bel recuou até a parede. — Isso aqui é o valiosíssimo Columbroso Roxo, e pertence ao Brasil!

— Ora, não te faças de idiota! — gritou o terceiro, um gajo tão alto e escaniçado que até fazia lembrar o Dom Quixote. — Como ladra, és muito reles!

— Ladra? Eu não sou ladra! Sou uma agente secreta... ops! Esqueçam o que eu disse! Não sou agente secreta, não!

— Ponha isso de volta na mesa e levante as mãos! — ordenou o primeiro.

— Eu tomo isso dela! — o magrão avançou sobre Honey. Ela viu, num átimo, todo o esquema do corpo dele em linhas pretas e bem pronunciadas em torno do pulso direito, que portava a pistola.

Honey entendeu a dica e golpeou aquele pulso, fazendo a arma pular; apoderou-se dela e deu novo golpe, agora no plexo solar. A visão esquemática tornava tudo fácil — ou tornaria, se fosse um só adversário.

Os outros dois moveram-se rapidamente para tirar o colega de seu campo de visão, ocultando Honey; iriam disparar nela, mas alguém mais apareceu.

— Parem! Vocês aí, mãos ao alto!

Incrédula, Honey olhou para a dona da voz: a mesma mulher enorme que a admoestara já por duas vezes.

E junto com ela estava...

— Príncipe Encantado Dois! — exclamou Honey, alegremente surpreendida. — O que faz aqui?

 

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(Agora a situação complicou mesmo, com novos personagens em cena. Então, a mulher grande e o "Príncipe Encantado Dois" trabalham juntos! Mas, para quem? E são inimigos ou aliados de Honey?

E como lidará Honey com o estranho poder mental que acaba de descobrir em si mesma? De onde veio esse poder? Nossa amiga é, afinal, uma super-heroína?

Algumas coisas serão esclarecidas na continuação. Não percam:

CAPÍTULO 6

O PRÍNCIPE DESENCANTADO)

Miguel Carqueija
Enviado por Miguel Carqueija em 07/04/2024
Código do texto: T8036328
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