As aventuras de Honey Bel, capítulo 3: Rumo à aventura
CAPÍTULO 3
RUMO À AVENTURA
(No capítulo anterior Honey Bel é convidada pelo "Príncipe Encantado" (ou pelo menos é assim que ela o vê) a ingressar no Serviço Secreto. Mas, uma mulher misteriosa e de aspecto assustador a avisa para tomar cuidado.)
Honey entrou no seu micro-apartamento, acendeu a luz, bateu com a porta, jogou os sapatos para o alto, quase acertando a lâmpada fotônica, e se atirou no sofá.
“Não tenho ninguém para me esperar em casa! Nem mesmo um cachorrinho felpudo que me abane a cauda e lata para mim e depois me pule no colo! Ah, quando eu casar com o Fred vou querer ter um cachorrinho em casa! Um ou vários...”
Virou-se no sofá, pousou o rosto nos braços, dobrou as pernas para cima, suspirou, virou de barriga para cima, flexionou os dedos dos pés, espreguiçou-se e monologou sonhadora:
— Ele é lindo! É maravilhoso! Ai, meu bonitão! Meu príncipe! Eu espero que nós tenhamos vários filhos! Uns cinco ou seis, que tal? E de ambos os sexos, é claro! Inclusive a Honey II, é claro! Eu tenho que ter uma sucessora!
Seu olhar pousou para o suporte de contas, na escrivaninha.
— Oh, puxa, tenho que me lembrar de pagar as contas em atraso! A começar pelo aluguel, é claro. Depois, o que mais? A luz, a net, o holograma, a água... e a pensão, é claro. Daqueles quibes que eu comprei, e dos sanduíches de mortadela, nos dias em que tive preguiça de cozinhar...
A contragosto ela se levantou e pagou todas as contas através do computador.
— Oh, meu Deus, já gastei bem mais da metade do dinheiro que o Fred me deu! Será que se eu pedir ele me dá mais quinhentos créditos de adiantamento antes que eu comece a trabalhar? Pode parecer um absurdo, mas o que é que eu posso fazer? Viver é muito caro!
O visofone tocou. Honey levou um susto: afinal quem poderia ser, se ninguém a procurava? Tentar a vida em Terra II, longe da família e dos amigos, transformara-a quase numa ermitã...
— Ah, já sei! — ela exclamou, num gritinho histérico. — É o Fred! Só pode ser o Fred!
Acendeu a tela do visofone, eufórica, e... esbarrou com a cara feia da bruxa com quem tivera um encontrão, horas atrás. A mulher a encarava com uma cara de poucos amigos.
— Que? Quem? O que? Como? — Honey não sabia o que falar.
— Acho melhor tomar mais cuidado — disse a mulher, azedamente.
— Mas quem é a senhora?
A outra cortou a ligação, sem responder.
— Ela deve ser uma espiã inimiga! Que gozado, ela não tinha sotaque lusitano!
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No dia seguinte, Honey — coisa espantosa! — conseguiu acordar cedo. Todo o seu ser anseia o encontro com o Príncipe Encantado, que a levará ao Reino da Aventura.
— Ai, meu príncipe! — exclama ela, no chuveiro. — Meu príncipe... como é que é o nome dele, mesmo? Ah, sim, o Fred! Como é que eu pude esquecer?
Resolveu dar um tapinha no rosto, de brincadeira. Só que calcula mal a força e acaba gritando “ai!”. Então sai do chuveiro, enrolada na toalha, e cantarola “A barca da Lua”. Rapidamente põe a roupa de troca, e enfeita o cabelo com fitas. Depois, se perfuma.
— Tenho que ser digna dele! Ele é tão bonito... tão elegante... tão “sexy”...
Honey sai à rua, correndo pela esteira rolante, diante do espanto dos transeuntes. A contragosto toma um trenzinho suspenso até o ponto de encontro em Heliópolis, a poucas quadras do setor português.
Fred encontra-se na pracinha-restaurante, comendo um estufado de gambá e tomando um vinho do Chile. Ela corre para ele, mas as bochechas do galã encontram-se tão cheias que Honey não se anima a beijá-lo e senta-se à sua frente, ansiosa.
— Por que se atrasou? — disse ele, mal a olhando, ocupado com garfo e faca.
“Está se fazendo de difícil”, pensa ela.
— Atrasei? Eu me atrasei? Mas eu vim voando!
— Eu sei — ele riu. — Mas em nossa profissão o tempo vale ouro. Você está pronta?
— É claro! Estou mais do que pronta, sou a agente secreta Honey Bel, e entrarei em ação... ah, não vai me dar um distintivo para usar na lapela?
— Muito engraçada essa! — e ele deu uma gargalhada.
“Ué, o que foi que eu disse de engraçado?”
— Bom, então vamos!
— Mas, Fred... não vou comer nada? Sabe, é que... eu acabei me esquecendo de tomar o café da manhã...
— Ah, sim, é claro! Olha o cardápio, peça o que quiser!
— O que eu quiser? O que eu quiser mesmo? — e Honey passa os olhos pelas massas, pelas carnes, pelas sobremesas...
Depois, fica tão ocupada tirando a barriga da miséria que nem repara nos esgares de impaciência que o Príncipe Encantado lança sobre ela repetidas vezes. Muito menos repara o esforço que ele faz para não reclamar quando ela pede a sobremesa.
— Você estava com bastante apetite — limitou-se a dizer o Fred, chamando o garçom para pagar a conta.
— Ah, é... — e ela limpou os lábios com o guardanapo de papel. — Eu às vezes como bem, sabe...
— Bom, vamos começar. Temos que agir, sabe?
— Sim, sim, é claro, é evidente...
— E não podemos nem devemos chamar muita atenção.
— É claro que não, Príncipe Encan... ops! Quer dizer, meu a... quer dizer, Fred, não vamos chamar atenção — e Honey coça os cabelos não muito bem penteados e olha para os lados. — Não é?
O garçom chegou, apresentou a conta (sem deixar de dirigir uns olhares espantados para Honey) e Fred pagou com dinheiro sonante, inclusive uma boa gorjeta, que o outro agradeceu com sinceridade.
— Bem, já que acabamos, vamos para o meu carro — disse Fred, puxando-a pelo braço. — A sua importante missão vai começar agora!
— Mas o que eu tenho que fazer?
— Explico tudo no carro. Venha!
E Honey acompanhou o Príncipe Encantado.
(Movida pelo amor, Honey topa qualquer parada. E, curiosamente, parece ter esquecido a mulher misteriosa e o seu aviso dito duas vezes. Como irá se sair a Sino Doce, jogada numa estranha missão, sem nenhum treino prévio?
A seguir nesta escrivaninha:
CAPÍTULO 4
A UTILIDADE DE HONEY)
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