As aventuras de Honey Bel capítulo 2: A missão
CAPÍTULO 2
A MISSÃO
No capítulo anterior um homem que se identificou como agente secreto convidou Honey Bel a entrar nessa atividade, prometendo um alto salário. Isso, tendo em vista a aptidão que ela demonstrou. Honey agora, entusiasmada, dirige-se ao escritório indicado...
Era na Torre Circular, no 200º andar. Honey Bel saltitou pelo amplo saguão, esquecendo até o frio; subitamente porém lembrou-se que uma agente secreta deve ser, acima de tudo, discreta.
— Meu Deus, umas quinhentas pessoas devem ter reparado em mim. Ainda bem que o Fred já deve estar lá em cima.
Entrou no elevador de vinte metros quadrados e pediu o ducentésimo andar.
— Só vai até o 148, moça — disse o robô-ascensorista.
— Ora essa! Por que o 148? Por que não arredondaram para 150?
— Não sei. A senhora tem que tomar o elevador D ou o E.
— Está bem, obrigada.
E pulou fora do ascensor, debaixo de olhares espantados e zombeteiros. Sacudindo os cabelos cor de mel, Honey procura ansiosa o elevador D ou o E. Só depara com J em diante, está na ala errada. Então dá uma corrida, vira a esquina do corredor... e esbarra com uma mulher alta, enorme, sólida como um muro de magiplast duro e vestida como uma bruxa, em grande contraste com as roupas alegres e leves da menina.
Honey cai sentada no chão.
— Desculpe — falou, quase chorando de vergonha. — Eu não quis fazer isso.
Ergueu-se com dificuldade, e a mulher encarou-a gelidamente:
— Acho melhor tomar mais cuidado.
— É claro. Eu tomarei.
Mas a outra não esperara para ouvir a sua resposta: afastou-se majestosamente. Honey ficou a olhá-la.
— Que tipo mais estranho! Bem, agora basta de chamar a atenção!
Ela chega na fila do elevador D, umas sessenta pessoas. Quer dizer, só na terceira viagem! Honey bate os pés e esfrega os braços, incomodada pelo frio. Sente-se a pessoa mais só do universo, com a família tão longe lá na distante Terra. O pior é que estão todos duros como ela! Mas isso vai passar, pensa Honey. E então ela se lembra que esqueceu de comprar o agasalho. Comprou, sim, roupas novas, uns perendengues para se enfeitar, sapatos novos, mas no devaneio de ficar pensando no Fred acabou esquecendo o agasalho.
“Tudo bem, quando descer eu compro. Ainda tenho trezentos créditos.”
Vinte minutos depois Honey chegou ao seu destino: uma sala sem placa nenhuma, nº 20043. Uma porta de acrílico roxo, esquisitíssima.
“Bem apropriada! Uma missão secreta tem que ter um clima sinistro!”
Honey toca a campainha.
— Passe o seu cartão de identidade — diz a voz eletrônica.
Honey atende e ouve: “Está sendo esperada. Entre!”
Ela entra e uma sarará longilínea, de vestido colorido, chega-se a ela:
— Honey Bel? O chefe a está esperando.
— Oh, obrigada.
Passam para uma sala maior, repleta de mapas celestes e terrestres, e Fred sai da escrivaninha, direto ao seu encontro. É o próprio Príncipe Encantado da Era Solar: com um impecável terno azul, combinando com seus olhos; alto, bem barbeado e penteado, sapatos de magiplast brilhante, voz cálida e encantadora:
— Querida, como está você?
— Ai, que frio! — exclama Honey, ao beijá-lo.
— O que disse?
— O que eu disse? O que foi que eu disse? Ah, esquece! O que eu quis dizer foi: é um grande prazer revê-lo!
— O mesmo digo eu. Mas sente-se aqui, precisamos conversar! Ah, essa aqui é a Arabella.
— Oi, Arabella — diz Honey, já com uma ponta de ciúme.
Arabella sorri para ela e indica-lhe uma poltrona. Fred toma o seu lugar na escrivaninha e oferece-lhe cigarros a Honey. Ela recusa polidamente. Ela é a própria Polyanna: completamente inocente e sem vícios.
— Bem, Honey. O Serviço Secreto está precisando de uma boa agente aqui em Terra II, estou com um problema seríssimo para resolver. Você pode imaginar o que seja?
— Não, eu não sou nenhuma Galicínia...
— Bem, você sabe que a Terra II é um consórcio de governos. O governo de Portugal fez um convênio com o do Brasil para explorar o subsolo do cometa original, que hoje é a Terra II. Só que os portugueses se apossaram de um bloco de um minério raríssimo, o columbroso roxo, que é altamente necessário às técnicas modernas de hiperprecisão — para a indústria holográfica, por exemplo. A descoberta foi mútua, mas o administrador português, Rubião da Matta, confiscou arbitrariamente o achado. O governo do Brasil ficou em situação delicada: se denunciar o caso arrisca-se a provocar um incidente internacional com um país tradicionalmente amigo.
— O nosso governo não pode falar com eles... a nível superior ao do administrador?
(Puxa, como estou falando bonito!)
— Não é tão simples assim. O governo português não reconhece que houve roubo.
— Mas o que é que alegam?
— Alegam que o achado foi feito só pelos portugueses. Mas como é que nós sabemos do caso então? Os lusitanos estão querendo nos passar para trás e nós não vamos aceitar isso!
— Onde é então que eu entro, Fred?
— Nós vamos lá em Lusitânia resgatar o minério. A ordem é essa: já que eles não querem dividir, nós não dividiremos. Pegaremos tudo!
— Isso mesmo! Que safadeza! — exclama Honey, indignada com a caradura dos portugueses. E acrescenta: — Bem, pelo menos não vamos ter problemas de idioma! Eu só falo português, sabe?
(E olhe lá, pensa ela.)
— Então você aceita?
— Você vai estar comigo na missão?
— É claro! Eu vou dirigir a missão!
— Então eu aceito! É claro que aceito!
— Ótimo! Muito bem! Vamos comemorar então a nossa aliança!
Premiu um botão da escrivaninha, chamando o frigobar, que se aproximou e estendeu o braço de opções.
— Que tal um brandy? Um xerez? Um amontillado? — indagou Fred.
— Hã... eu... bem, Fred, não tem uma limonada?
(A Sino Doce está entrando numa grande aventura... ou numa furada? Quem é a mulher que esbarrou com ela? E será que Honey encontrou mesmo o seu Príncipe Encantado, que ela procura em toda parte?
Não percam em breve, o novo episódio:
CAPÍTULO 3
RUMO À AVENTURA)
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