A Saga de Godofredo Parte III – O Clima do Brasil

15.02.24

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Godofredo estaria o resto do dia e da noite livre para poder descansar das suas aventuras, pois seu avô sairia do serviço de guarda no palácio na manhã seguinte. Mas, ao saber da vinda do Czar , lembrou-se de seus antepassados maternos, os ajudara a fugir da Revolução Francesca e irem para a Rússia. Como estariam? Sabia que seus bisavós, sua a avó e a irmã emigrariam para o Brasil em 1901, segundo o passaporte russo emitido na época. E, Godofredo estava em 1902, um ano depois!

Ao pensar no passaporte deles, imediatamente se transportou para um porto. Uma longa fila de pessoas se amontoavam para embarcar em um navio. Procurou-os na multidão, mas não sabia as fisionomias. Tinha uma leve lembrança da sua avó na época em que viveu na sua casa com ele pequeno, três anos de idade, mas já era bem idosa. Olhou a placa pendurada no portal: Porto de Hamburgo. Teve uma ideia.

Foi até a pessoa que controlava o acesso das pessoas ao navio, perguntando o destino dele, e se fosse para o Brasil, se os Krumin-Lep já tinham embarcado.

Chegou ao funcionário do porto sentado à mesa, escrevendo em um livro os dados passados pelos viajantes. Questionou-o:

-Boa tarde Herr! Poderia me dizer qual é o destino deste navio?

- Inglaterra, Estados Unidos, Brasil e Argentina – respondeu-lhe afirmativo.

-Ahh, obrigado Herr! E seria possível informar-me se uma família de sobrenome Krumin-Lep já embarcou nele, tenho comunicado importante para eles.

O funcionário olhou o livro procurando o nome da família da mãe de Godofredo, dizendo repetidamente o nome, enquanto com o dedo indicador seguia as linhas anotadas.

-Ainda não, Herr!

-Muito obrigado! Ficarei aguardando, e se puder me acenar quando chegarem, lhe agradeço Herr.

- “Jawohl” ! – sim.

Godofredo foi para um local perto da mesa do funcionário, e aguardou observando as pessoas que chegavam para embarcar. Eram de vários tipos e feições. A maioria loiros, pele clara e olhos claros. Alguns poucos de cabelos negros ou ruivos. Como a origem dos seus antepassados maternos era francesa, poderiam muito bem ser de cabelos negros. Sua mãe os tinha, e a leve lembrança da sua avó era de grisalhos pretos. Ficou procurando na fila quem tivesse estas características.

O tempo passou, as pessoas identificavam-se e o funcionário alfandegário olhava para Godofredo abanando negativamente a cabeça.

Então, viu na fila um casal vestido com roupas melhores, um senhor de casaca, uma senhora com um vestido negro e duas filhas, uma mais velha, adolescente com cerca 18, 20 anos, e outra quase bebê ainda, de 2, 3 anos levada pela mãe. Ele sabia, sua mãe lhe contara, que eles tiveram seis filhos, quatro homens e duas mulheres, mas os homens morreram de escarlatina na Rússia.

Ao vê-los, pressentiu que seriam seus antepassados, o que confirmou o funcionário com aceno de cabeça, dizendo ao casal que Godofredo os aguardava, apontando-o. Seu coração começou a bater acelerado, pois já se emocionara ao conhecer seu futuro avô, e agora encontraria com sua futura avó .

O casal e a filha olharam para ele curiosos, pois a situação era inesperada, com algum temor no olhar. Godofredo foi ao seu encontro.

-Olá Herr Barão Krumim-Lep! Sou parente de Geoffrey que ajudou seus antepassados, acredito que seus pais, a fugirem da França na revolução de 1789 – disse-lhes emocionado, pois via sua avó adolescente encarando-o curiosa, e que se casaria com seu avô alguns anos depois. O coração disparado quase lhe veio à boca, e novamente lágrima lhe brotaram nos olhos.

-Ah sim Herr, não fosse ele, não estaríamos aqui – respondeu-lhe o Barão. A futura avó, vendo a emoção do desconhecido, perguntou-lhe:

- Está bem Herr?

Godofredo disfarçou, assoando o nariz com um lenço, tossiu e respondeu:

-É um resfriado, Frau! E para qual país irão? – complementou ele.

-Brasil! – respondeu ela.

Godofredo ficou em silencio observando-a com atenção. Tinha cabelos e olhos negros, pele branca, estatura mediana e sorriso curto com dentes alvos. Sua voz era leve e baixa, mas enérgica. Era bonita e parecida com sua mãe. A emoção ainda lhe tomava conta.

O Barão perguntou-lhe, fazendo-o voltar seu olhar:

-Herr também vai para o Brasil?

-Não, não irei Herr.

-E qual é a mensagem tão importante que tem para nos passar?

Godofredo não sabia o que dizer, pois adotou esse estratagema para conhecê-los, principalmente sua futura avó, ficando por um tempo mudo pensando. Depois, falou:

-Geoffrey disse para atentar com o clima no Brasil, muito diferente do nosso, quente e úmido, podendo vir a causar sérios problemas de saúde – pois sabia que, segundo sua mãe, a bisavó não aguentaria o calor em Blumenau, falecendo um anos depois, e sua avó teria problemas de pele, indo morar com uma tia no Canadá.

-Ah, muito obrigado pela informação, agradecemos sua atenção, mas já estamos cientes desta condição climática daquele país tropical, Herr - agradeceu o Barão .

Mal sabiam que o clima no Brasil provocaria a existência de Godofredo.

Nota do autor: Obra ficcional e qualquer semelhança é mera coincidência.

Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 14/02/2024
Reeditado em 14/02/2024
Código do texto: T7998924
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