A FACE OCULTA DA GALÁXIA capítulo 15: Rufina
CAPÍTULO 15
RUFINA
(Após os últimos acontecimentos, parece que o foco agora voltarão a ser os inimigos e a missão... porque brigas dentro da própria equipe podem fazer com que tudo acabe mal. Vésper sabe disso e se preocupa, mas não pode abrir mão de proteger a Licia. Na sequência reaparece Rufina e faz revelações surpreendentes...)
A embarcação facultou-nos a ponte levadiça e rapidamente embarcamos, levando os instrumentos e objetos, alguns dos quais estavam aparelhados para levitar. O globo de Beng já se aproximava. Lícia, Tenessee e eu fomos recebidos pelo Gaspar e sua equipe. Lícia abraçou-se ao professor enquanto Maturina a olhava colericamente. É claro, a presença do avô era uma proteção para a pequena, mas eu também estava atenta para qualquer eventualidade.
O Caveira veio falar comigo:
— Vamos nos reunir para morrer juntos.
Olhei-o com firmeza:
— Não fale em morte. Eu não quero morrer, Caveira. Eu quero viver! E que Deus me ajude, porque eu vou lutar pela minha vida.
— Os espíritos da galáxia vão nos ajudar — disse a Ornela (é claro).
— Não temos tempo para conversar — disse Maturina. — Aquele velho horrível já vem chegando com sua horrível valquíria. Vamos cumprir logo essa horrível missão!
De fato Beng já tinha pousado na água e vinha subindo a bordo com Valentina e Rotterdam. Ao chegar a bordo Gaspar, com as mãos nos bolsos do guarda-pó, aproximou-se dele:
— As coisas estão muito quentes?
— Três homens-sapos e duas mulheres provavelmente da Mão Negra nas proximidades. Mas depois eu lhe conto o que houve: primeiro vamos recolher os dirigíveis.
— Você está louco! O que, aliás, não é nenhuma novidade. Já fiz o milagre de conseguir esse barco! Ele não tem capacidade de transportar lastro.
— O quê! Nós vamos desinflar as naves, não podemos seguir sem elas! Como vamos escapar depois?
— Esse barco voa, seu idiota. E é muito mais seguro que um salva-vidas! Pode esquecer esses balões.
Beng, porem, não gostava de dar o braço a torcer diante de Gaspar:
— Quem manda nessa missão sou eu! Já esqueceu disso?
— Nós podemos discutir isso num tribunal da Cosmopol. Não se esqueça que lá já correm quatorze processos meus contra você e treze seus contra mim. É uma ótima chance para você empatar.
Resolvi intervir conciliatoriamente:
— Gente, por que não rebocamos esses balões? Eles flutuam bem e ainda podem ser úteis. Temos uns cabos de magiplast galvanizados que podemos usar...
Lícia exclamou: – Genial, Vésper! Você é minha heroína!
Talvez até hoje a minha querida Lícia não tenha avaliado o que representou para mim aquele elogio. Eu já havia sido chamada de aventureira, de assassina, de criminosa, de mercenária, de espiã... mas nunca de heroína. Minha profissão não é heroica. É violenta, perversa e traiçoeira.
O professor Gaspar concordou a custo com a minha sugestão (desconfio que isso nos poupou uma cena de pugilato entre os dois homens) mas, enquanto Tenessee, Rotterdam e Ataliba providenciavam o reboque dos dirigíveis salva-vidas, Gaspar nos alertou sobre a situação:
— Não vamos precisar submergir. Aconteceu um fato muito estranho: as forças navais que guardavam o artefato entraram em fuga.
— Como assim? O que foi que aconteceu? — perguntou Beng, incrédulo.
— O meu idiomascópio deu conta de uma epidemia que varreu os militares e os pôs em fuga. Nesse momento o artefato já está localizado: o informulti de Yezzi o detectou no Paredão da Carnificina, próximo aos Rochedos do Esquartejamento, e já estamos a poucas milhas. Vamos para lá a toda, pegamos o artefato e azulamos! Por sorte estamos na maré baixa.
Algo porém me palpitava... Dizem que nós mulheres somos mais intuitivas que os homens.
— Um momento! Professor Gaspar, que epidemia é essa?
— Tem características semelhantes à Peste Negra do século XIV, e é extremamente mortífera.
— Na nossa época... numa civilização altamente tecnológica e que domina a medicina ortoeletrônica? Isso não faz sentido! Esse planeta está saneado de epidemias!
— E o que você sugere? Aonde quer chegar?
— Gaspar, eu não sei aonde eu quero chegar. O que eu sei é que a arca da aliança, quando foi roubada pelos filisteus, provocou mortandade entre eles.
— Tsc! Tsc! – zombou Valentina.
O Professor Gaspar foi mais explícito em sua crítica:
— Menina... Você acha que eu posso considerar uma explicação sobrenatural?
— Onde você leu isso, Vésper? — indagou Rotterdam, curioso.
— Isso está no primeiro livro de Samuel, no Antigo Testamento.
Ornela tocou-me o braço com carinho.
— Querida, se for mesmo isso não há razão para você se preocupar. Nós não vamos roubar o artefato, vamos resgatá-lo. Os espíritos do espaço não nos farão mal.
Entretanto, ao chegarmos verificamos ser impossível encostar o navio no paredão. Avistamos uma caverna com porta, a dez metros da linha d’água, com uma varandinha e duas escadas incrustadas na rocha, que levavam lá para cima. A decisão de Beng fora acertada: com os dirigíveis podíamos verificar se haviam sentinelas na chapada, e dar cobertura ao barco. Beng refletiu e, depois que Yezzi, com sua aparelhagem Sailor Mercúrio, me garantiu que o artefato estava lá, atrás da porta na rocha, destacou a mim e a Valentina:
— Chegou a hora de mostrar que vocês são mercenárias. Vocês são pagas para arriscar a vida, portanto vocês duas vão trazer o objeto! E nada de brigas: nossa missão é mais importante!
— Pode deixar, chefe. Irei em paz com a valquíria.
Ela não pôde deixar de reagir à alfinetada:
— Pode deixar, chefe. Irei em paz com a escoteira.
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Valentina e eu mergulhamos e fomos nadando por aquelas águas turvas, mas repletas de peixes elétricos. A viking era rapidíssima sob a água e eu tinha dificuldade em acompanhá-la. Parecia-me que as correntes marinhas eram mais fortes que a nossa sombriografia dava a entender. De fato, as isotérmicas da região indicavam temperaturas amenas e nenhuma corrente importante passava por ali. Então porque aquela agitação das águas?
Subitamente os cardumes de peixes elétricos passaram voando, por assim dizer, em volta de nós, da esquerda para a direita. Valentina tocou-me e apontou lá adiante, uma figura que se aproximava e nos apontava...
— Cuidado!
O aviso de Valentina foi desnecessário, pois eu já desviava do arpão. A nórdica jogou uma bomba de concussão e eu apontei para cima.
— Vamos subir, estamos perto. Gaspar, um ataque! Tome cuidado!
Subimos nas rochas da estreita fímbria que bordejava o paredão de granito. Vários homens-rãs (não os homens-sapos de Sombrio, mas mergulhadores terrestres, portanto humanos, naqueles trajes de mergulho) estavam subindo nos seixos da praia; Valentina e eu juntamo-nos costa com costa e iniciamos a fuzilaria, usando as armas como metralhadoras giratórias. Podem crer, é uma tática eficiente quando as armas estão preparadas para formar um protetor campo de força enquanto são manejadas. Um aviãozinho sobrevoou-nos e Valentina alvejou certeiramente. Enquanto caía, vi o signo da Mão Negra.
Por incrível que pareça, avistei a Lucy lá dentro. O veículo se espatifou na água e em seguida, um bicho colossal e bigodudo atacou-o selvagemente.
O colosso de bigodes...
Por isso a pseudo-corrente marinha! A agitação da água!
Dos quatro homens-rãs que nos atacavam sobrou apenas um inteiro, e era uma mulher; e levantou os braços em rendição, jogando a arma fora. Valentina fez menção de matá-la, mas eu segurei o cano de sua arma:
— Pare! Ela se rendeu!
— Pode ser uma armadilha!
— Pode ser, mas não creio, e nossos companheiros já vêm nos ajudar! Me dê cobertura!
Corri até a mulher, e reconheci-a assim que cheguei mais perto:
— Rufina!
Sou ótima fisionomista. Posso lembrar-me após anos de uma cara vista rapidamente, se o encontro foi importante.
Cheguei-me a ela. Com as mãos bem para cima e espalmadas, o rosto tenso, e tendo-se posto de joelhos, era a imagem da rendição.
Rufina era loura, de cabelos curtos, alta, magra, dura na aparência, uma beleza fria como a de certas atrizes. Um tipo perfeito para a espionagem. Sua atitude, porém, era atípica, e eu, algo perplexa, fiz-lhe uma pergunta inusitada:
— Por que você se rendeu?
— Eu sou a ultima da minha equipe... e não aguento mais. Não posso mais. Morreram todos... por causa desse artefato.
Ela tinha lágrimas nos olhos e vi que não estava brincando. Contemplei, por alguns instantes, aquele estilicídio que descia de seus olhos... depois, caindo na real, retirei uma corda de minha mochila e amarrei as mãos de Rufina para trás. Percebi que Valentina nos observava à distância. Fiz com que Rufina se levantasse e indaguei:
— Afinal, quem são vocês?
— Nós somos, ou melhor, nós éramos, da Intercrimes.
— Suspeitei desde o início... e para que vocês querem o artefato?
— Não sei. Recebemos ordens e viemos cumpri-la. Você acha que contam tudo para nós, Vésper?
— Então sabe quem eu sou.
Ela sorriu tristemente.
— A sua fama na Cosmopol é grande. Você é respeitada por seus métodos humanitários. A ela eu não me renderia.
Referia-se a Valentina, e continuou:
— Eu estou farta, Vésper. Farta de ver os meus companheiros, as minhas amigas, morrerem. O mágico... Trig... eu o amava. E Torquato Valongo o matou. Tivemos azar desde o início, enquanto a equipe da Mão Negra vem se saindo melhor. Não tenho mais porque lutar. Quero voltar à vida civil, ser uma pessoa normal. Você acha que eu ainda tenho retorno, depois de tudo?
— Nada é impossível. Eu gostaria de ajudá-la, acredite, mas não depende só de mim. Diga... por que vocês montaram um circo? Que ideia mais maluca!
— Maluca, não! O Trig era mágico, e arranjou alguns agentes com habilidades em geral medíocres, para simular um circo. E você viu que quase pegamos vocês. Se não fosse a sua esperteza, Vésper...
— E o homem-porco?
— Ah, sim. Ele não tinha habilidades circenses. Trig deu-lhe um bumbo e mandou-o bater. Por pior que fosse, serviria.
— Bem. Valentina já está impaciente. Vou ver quem pode ficar com você, que eu e ela vamos pegar...
Não pude terminar. A água se agitou; um estranho barco discoide, cheio de vigias, emergiu girando e espadanando água salgada, a pouca distância de nós.
— Cuidado!
Joguei-me ao chão e Valentina fez o mesmo. Pegamos nossos arsenais e a fuzilaria recomeçou. Rufina, ao tentar fugir, foi atingida pela carabina giratória de laser que apontava de uma das vigias da calota superior rotativa do disco voador.
A Mão Negra estava lá, pintada no disco. Algo espantoso, porém, aconteceu. Um bicho escuro, de muitas toneladas, pintas pelo corpo e quatro tentáculos vigorosos, molusco gigantesco e asqueroso, pulou em cima da água e enlaçou o disco, imobilizando a carabina. Resfolegou raivosamente e os dois imensos corpos caíram ruidosamente na água. Havia vários colossos naquela água, pelo visto.
— Vésper, Valentina! Cuidado! A Mão Negra está atacando!
(E assim, parece que só resta um inimigo a combater, a não ser que as autoridades de Sombrio descubram o que está acontecendo. Mas como entre eles é um segredo de Estado, nem a polícia deve estar informada. Mas no momento a equipe estará muito ocupada, mesmo. O Bengala está atacando. Ele é um vilão de primeira categoria e já matou dezenas de agentes e mercenários da Cosmopol. Haverá alguém, na equipe, capaz de derrotá-lo?
Não percam a seguir o episódio crucial da novela:
CAPÍTULO 16
A BATALHA CONTRA A MÃO NEGRA)
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