A face oculta da Galáxia capítulo 10: Os espíritos da Galáxia

 

CAPÍTULO 10

 

(No capítulo anterior tivemos a primeira intervenção de Ataliba Yezzi, o técnico informático da equipe do Professor Gaspar, que marca logo um tento identificando o Homem da Bengala: Torquato Valongo, mafioso da Mão Negra e assassino perigoso, que já matou diversos agentes e mercenários da Cosmopol. Beng consegue se desentender com o Empaixador da Terra em Sombrio. com o Professor Gaspar e com o Caveira... E agora conheceremos a última pessoa da equipe de Gaspar, talvez a mais curiosa: Ornela Santangelo, a mulher que acredita nos Espíritos da Galáxia.)

 

 

OS ESPÍRITOS DA GALÁXIA

 

 

Sair à superfície daquele planeta escuro, de albedo baixíssimo, não era experiência agradável. Tínhamos que usar uma cabinamóvel – isto é, um veículo anfíbio, alado, trepador, e pau-para-toda-obra, comum naquele planeta e utilizado por viajantes e excursionistas; por si só não era coisa que chamasse atenção. Enquanto esperávamos que Beng liberasse a nossa saída, resolvi dar um passeio inquisitório por aqueles esquisitos campos que circundavam o complexo arquitetônico da embaixada da Federação Terrestre. Munida de alguns equipamentos, numa ensolarada manhã de segunda-feira (no calendário terrestre, é claro, que continuávamos seguindo), dirigi-me para aquele esdrúxulo bambuzal onde se escapara o Bengala.

Duas figuras me alcançaram. Licia e Ornela Santangelo, esta última a figura mística do quarteto que acompanhava o Professor Gaspar (quinteto, se computada a pestinha).

— Está procurando alguma coisa, Vésper? Eu creio que pode ser uma boa ocasião.

— Como assim? — voltei-me para Ornela, uma mulher de longos cabelos castanhos e que não sorria.

— Esta noite eu vi muitas estrelas cadentes. Um sinal de que os espíritos cósmicos estão em grande atividade. Nós podemos aproveitar a energia positiva deles.

Licia, que pegara a minha mão, segredou-me ao ouvido:

— Não ligue, Vésper. Ela é maluca assim mesmo.

— Eu sei disso há anos — respondi, também sussurrando.

A italiana, que caminhava a nossa frente, não nos escutou, mas insistiu na pergunta:

— E então, Vésper? O que está procurando?

— Quem sabe o Bengala deixou cair alguma coisa? Ninguém pensou nisso.

— Pois vamos verificar. E tomara que os espíritos da Galáxia nos ajudem!

Não eram bambus terrestres, bem entendido. A variedade sombriana era igualmente dura, e daria um excelente palmito, mas sua cor era rosada, ou em alguns casos, amarronada. Muitas outras gramíneas e trepadeiras cresciam em meio àquele matagal de bambus, mas a iluminada do grupo foi empurrando, abrindo caminho com os dois braços. A certa altura, um dos caniços veio na minha cara e eu esbravejei, enquanto Lícia sugeria que fôssemos buscar um facão de mato.

— Nem por sombras — respondeu a Santangelo. — Tira todo o romantismo!

— Quem quer ser romântica agora? Eu quero ser prática! — gritou Lícia, furiosa.

— Schiu, pirralha! Os espíritos galácticos podem não gostar do seu mau humor!

— Você acha mesmo — falei, eu própria já meio irritada — que esses espíritos não têm mais o que fazer lá nos espaços cósmicos para virem bisbilhotar a nossa conversa?

— Nunca se sabe. Uma das correntes de espíritos passa perto desse planeta e eles podem estar de sentinela.

— Ufa — eu me sentia cansada do trabalho e das pessoas com quem tinha que lidar.

Mas procurava observar à nossa volta. Localizamos os sinais deixados pelo mafioso e fomos seguindo a sua pista.

Não era tarefa das mais fáceis já que, no meio de todo aquele mato, até cactáceas espetantes a gente encontrava. Licia, maravilhada, ajudava a empurrar os bambus e ofereceu-nos balas de alcaçuz — só ela se lembraria disso naquela hora!

— Vamos, gênios planetários, ajudem! — murmurou Ornela.

— Gênios planetários? — zombei. — Não eram os espíritos galácticos?

— Nós temos que pedir ajuda também aos gênios planetários, que estão mais perto.

— Você tem certeza? Pode me explicar o que é que eles fazem nesse bambuzal?

— Os espíritos da natureza estão em toda parte. Por aqui existem fadas, gnomos, sílfides, gênios, ondinas...

— Ui! — falei, porque uma droga de bambu empurrado por Ornela me resvalara na cara.

— Ei, vejam! — Licia se abaixou e revirou o capim cor-de-rosa.

— Que foi, menina?

— Um medalhão. Ora vejam!

Ela me entregou e eu examinei-o, interessada. Era um baixo-relevo de bronze, um disco redondo de 12 centímetros de diâmetro e a figura de um mágico de máscara e bengala.

Fiquei na mesma, e foi a iluminada quem esclareceu o assunto:

— Tuxedo Mask.

— Quem?

— Endymion, ou Tuxedo Mask. O namorado de Sailor Moon, da antiga lenda.

— E que significa isso?

— Ele é o símbolo da bengala do poder. É natural que o Bengala use essa medalha.

— É, eu já ouvi falar desse cara.

— Mas tem qualquer coisa errada, Vésper. O Tuxedo Mask é um personagem bom, e o Bengala...

— Ele se julga bom — opinou Licia.

— Espere... vejam o outro lado.

Virei o outro lado, e lá estava a figura ominosa da mão negra.

— “La Mano Nera”... — comentou Ornela, segurando a medalha.

— Parabéns, Lícia — falei, beijando a face da minha amiguinha. – Você obteve a confirmação de que nosso inimigo é realmente o Bengala, o mafioso.

— É mesmo, Vésper? Isso aí prova?

— É claro, meu anjo. Não está vendo? Torquato é um membro da Mão Negra, que é um dos braços da Máfia.

— Esperem! Não vão abrir o medalhão?

— O que?

— Há um segredo de roldanas aqui no perímetro, Vésper! Temos que abrir esse troço!

Bela mercenária eu era! Recebendo lições de uma menina de dez anos. Ela tinha razão. Licia pegou o medalhão e em habilidosa digitação identificou o segredo e abriu o objeto.

Meu Deus, pensei. Temos aqui uma arrombadorazinha!

Separaram-se os dois lados da medalha, unidos apenas por um pino. Dentro estava um pergaminho repleto de sinais cabalísticos, e um retrato.

— Investigaremos isso — falei, fechando o objeto.

— Não falei que os espíritos da Galáxia iam nos ajudar?

Preciso dizer de quem foi esta última observação?

Abaixo do pergaminho vinha uma face de mulher: oriental, jovem, cabelos negros emoldurando uma fria e misteriosa beleza.

 

(No próximo episódio a equipe de Beng vai por veículo aéreo seguir a pista do artefato desaparecido. Mas alguém aparentemente os está seguindo.

Em breve:

Capítulo 10

VALENTINA EM AÇÃO)

 

 

Imagem Freepik 

 

 

Miguel Carqueija
Enviado por Miguel Carqueija em 25/01/2024
Reeditado em 25/01/2024
Código do texto: T7984492
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