A FACE OCULTA DA GALÁXIA episódio 9: Relatórios são indigestos
CAPÍTULO 9
(No capítulo anterior Lícia derruba um mosquito-lanterna que na verdade era um drone espião, fato que revela a presença do Bengala na área da embaixada terrestre em Sombrio. Mesmo em meio às brigas entre o Diretor Beng e o Professor Gaspar, a missão tem de continuar. O homem da bengala, porém, conseguiu escapar.)
RELATÓRIOS SÃO INDIGESTOS
Spik Movila soltou uma baforada nojenta do seu cachimbo de ferro e, fitando-nos ferozmente de sua escrivaninha, encarou Beng:
— Presumo que o senhor possa me dar uma explicação razoável.
Nós dez ocupávamos umas cadeiras antiquadas e desconfortáveis em semi-anfiteatro de fileira dupla diante da mesa do embaixador cujos auxiliares sentavam, um à sua esquerda, o outro à direita. Beng, seguro de sua posição de diretor da Cosmopol, encarou o romeno-estadunidense:
— Como assim, senhor embaixador? Houve uma espantosa e ilegal penetração nos terrenos da embaixada e os intrusos conseguiram fugir, apesar da guarda robótica...
— Os robôs foram desativados por uma influencia magnética poderosa que supõe uma arma de tecnologia avançada, dessas que têm vida útil muito curta e já são feitas para utilizações específicas.
— Imagino — disse o Prof. Gaspar — que isto poderia ser evitado se também houvesse guardas humanos.
— Guardas humanos! Isso é obsoleto! Hoje em dia tudo tem que ser informatizado!
— É claro — o Prof. Gaspar foi ferino. — Que tal um robô no seu lugar de embaixador, então?
— Exijo respeito, senhor!
— Devo lembrar, senhor embaixador, que nós representamos a Cosmopol e que seu papel é colaborar conosco. Se eu mexer alguns pauzinhos o senhor é removido!
Spik se ergueu, mas deve ter refletido que ele e seus constrangidos auxiliares encontravam-se em inferioridade numérica, por isso voltou a se sentar.
— Farei um relatório sobre a sua atitude — atirou. — Mas além disso foi aberto um processo contra essa mulher aí... — e ele me apontou com o dedo.
Fiquei perplexa.
— Eu? O que quer dizer?
— A senhora agrediu um dos nossos funcionários e ele formalizou queixa.
Beng se ergueu, já perdendo a calma:
— Oh, pare com isso, embaixador. Agora o senhor vai me permitir falar alguns segundos sem interrupção. Até porque, eu sou diretor executivo da Cosmopol e o senhor vai ter que me ouvir.
— Então fale.
— Pois muito bem. Primeiramente, ao convocar esta reunião o senhor atropelou os critérios que eu vinha seguindo, pois em princípio a equipe do Professor Gaspar teria de ficar separada da minha para que a sua condição de cortina de fumaça fosse preservada.
— Até porque há uma criança no meio, o que vem a ser uma irregularidade sem precedentes!
— Sem interrupções, como eu falei, embaixador!
O outro se calou. Beng prosseguiu, raivoso:
— Assim sendo, e para isso eu liguei o PPE, nada disso pode transpirar lá fora. A equipe que carrega o segredo de estado somos só eu, Rotterdam, Tenessee, Valentina e Vésper. Os outros não sabem de nada e se encontram em missão científica. Fui claro? Quanto à queixa contra Vésper, arquive-a. Ela agiu no cumprimento do dever e se não fosse o seu empregado ter estorvado, ela poderia ter capturado o nosso desconhecido inimigo.
— Desconhecido, não — interrompeu, inesperadamente, Ataliba Yezzi.
— Hein?
— Isso mesmo, Beng. Você se esquece que eu sou a maior memória da Cosmopol. Pesquei na minha memória e confirmei com pesquisa eletrônica. Esse tal homem de bengala tem todo o aspecto de ser um velho conhecido nosso, Torquato Valongo, natural da Sicília e membro ativo da sociedade secular conhecida como “La Mano Nera”.
— Um mafioso! — exclamou o Caveira. —– Agora que sei que vamos morrer mesmo!
A pedido de Beng, Ataliba pôs-se a imprimir um relatório sobre Torquato, o “Bengala”, como era conhecido. Logo, logo, a impressora do laptop do mochilão que estava sempre nas costas do Yezzi (dizem que essa mochila era à prova de balas) informou que Torquato Valongo já havia assassinado a sangue frio 24 agentes da Cosmopol e 17 mercenários.
O CAVEIRA – É o que estou dizendo! Nós vamos todos...
Não terminou, porque Beng arrancou o relatório da impressora e meteu-lhe pela boca a dentro.
— Imprima de novo! — gritou para Ataliba.
O Caveira foi até o banheiro cuspir o relatório, ou regurgitá-lo, não sei, e o Beng, que já estava por aqui com aquilo tudo, rugiu:
— Embaixador, o senhor nos arranjará um transporte secreto para a Baía da Morte Violenta. Para cinco pessoas, entende? A equipe do Gaspar...
GASPAR — Se me permite...
— Se disser que é para chamá-lo de Professor Gaspar, eu lhe quebro a cara! Como eu dizia, embaixador, eu vou com a minha equipe. A equipe dele segue em veículo à parte, depois, e ficará de sobreaviso para me dar cobertura, como ele fez no espaço. Agora, enquanto a gente não parte, mantenha uma contínua vigilância nessa embaixada, não só com os robôs idiotas, mas também com guardas humanos. Eu estou sendo claro?
— Desta vez, sim — disse Spik, visivelmente mortificado.
imagem pinterest
(Beng dá as cartas: segue com sua equipe para o local que tem o nome pouco animador de Baía da Morte Violenta, e a equipe de Gaspar em outra nave como reserva. Mas antes que isso aconteça tomaremos conhecimento com a quarta pessoa da equipe de Gaspar: a mística e misteriosa italiana Ornela Santangelo.
Breve nesta escrivaninha:
CAPÍTULO 10
OS ESPÍRITOS DA GALÁXIA)