A FACE OCULTA DA GALÁXIA capítulo 1: Valentina

 

(Na introdução deste romance vimos como Joana Pimentel, mercenária aposentada, foi chamada pelo diretor Beng, da Cosmopol, para uma missão muito importante e crucial para a humanidade. Joana, codinome Vésper, afastara-se do serviço da Cosmopol, após a morte em serviço de seu marido Alfie. Todavia, premida por difícil situação financeira, aceita sair do seu retiro para uma última missão: recuperar um objeto cósmico relacionado com a estabilidade do universo. Mas, Vésper não imagina os eventos inesperados que a esperam. No primeiro capítulo travamos conhecimento com outros agentes que tomarão parte na missão, inclusive a assassina profissional Valentina, que também é mercenária.)

 

CAPÍTULO 1

 

VALENTINA

 

 

— A serviço do governo, Joana? Depois de tanto tempo?

— Eu poderia ter feito pesquisas arqueológicas esse tempo todo, Jael... mas não quis. De qualquer modo está mais do que decidido, eu preciso de dinheiro e distração e você cuida dos meus negócios.

Mesmo na tela dava para ver a preocupação em seu rosto.

— Não se meta em nada arriscado. Esse Instituto de Pesquisas Galáticas já mandou você para cada buraco...

— Eu sei me virar. Bem, estamos conversados. Mais uma vez muito obrigada, meu amigo.

Anos de conhecimento davam-me condições de confiar em meu advogado que, aliás, fôra amigo também de Alfie. Despedi-me dos meus filhos pela Cosmonet — Andréia e Filipe não esconderam a surpresa! — e fui ao encontro de Beng, não na cúpula da Cosmopol, é claro, mas no restaurante das Azaléas, no Grande Corredor do Nordeste, a um quilômetro do Cosmoporto Noriel Casagrande. Tendo modificado o meu penteado e colocado roupas diferentes das minhas usuais, e portando uma porção de utilidades na mochila e nas roupas, cheguei pontualmente e até adiantada na mesa que nos fora reservada. Não havia ninguém, de modo que pedi um caldo de kitprultz e uns bolinhos de queijo com aperitivo, enquanto aguardava. Em dez minutos Beng apareceu e sentou-se à minha frente.

— Que prazer em vê-la, princesa! E pensar que eu julgava que esses dias estavam definitivamente no passado...

— Eu também, eu também, chefe. Quem mais virá?

— Mais três pessoas: Rotterdam e Tenessee, que você conhece, e Valentina.

— Ah, sim. A figura.

— Vocês duas terão que se dar bem, você sabe. Não quero saber de ciumeiras. A Cosmopol está pagando um preço muito alto pelos seus serviços e vai me cobrar resultados.

Eu fiz um gesto displicente.

— Da minha parte não tem com o que se preocupar. Tratarei de fazer o meu serviço. Só não me ponha sob as ordens dela, porque isso eu não aceitarei.

— As duas estão sob as minhas ordens. Agora evitemos falar nisso. Quer uma pitza?

Eu sorri.

— É por conta da casa? Está bem. Peça uma bem grande, de cogumelos, que deve chegar para cinco pessoas.

Mas nós já havíamos acabado com metade dela quando Tenessee chegou. Era baixo, gordo, mulato, com lábios grossos e braços vigorosos. Eu e Alfie havíamos trabalhado com ele em Netuno, na encrenca da sabotagem no gerador ultrapositrônico, e sabia que ele trabalhava bem e falava pouco. Mas ele comia bastante, e encomendou logo uma lasanha de frango com espinafre ao molho tuperine.

— E Valentina? — indaguei.

— Ela virá com Rotterdam. Já devem estar chegando. — Beng ajeitou os cabelos brancos e já escassos e abriu uma garrafa de “brandy”.

— Lá vêm eles — disse Tenessee.

Olhei — e vi pela primeira vez em minha vida, a pessoa de Valentina. Era uma mulher alta e forte, loura, tipo norueguês ou finlandês, não propriamente feia mas com uns ares masculinizados, os cabelos curtos. Rotterdam, a seu lado, parecia quase pequeno, com seu 1,70m e peso médio, cabelos pretos e aparência de uns 48 ou 50 anos, era um agente veterano. Eu e ele explodíramos juntos o caldeirão atômico dos ostorões, durante a guerra de Dorado, doze anos atrás; mas eu não via o há oito anos. Envelhecera, sem dúvida.

Não era o meu caso, tanto que, quando ele me beijou, disse:

— Você não mudou nada.

Agradeci lisonjeada, e ele me apresentou Valentina. Ela me cumprimentou friamente, apertando-me a mão. Mas apertou-a com uma força excessiva, e ostensiva, machucando-me. Senti a dor mas reprimi toda a manifestação. Não me agradava dar parte de fraca diante daquela viking metida a besta.

— Eu estava curiosa em conhecê-la — disse ela, com uma voz meio masculinizada.

— Eu também — falei, para ser agradável, mas sem muito entusiasmo.

— Vai ser bom trabalharmos juntas.

— Espero que sim.

Ela chegou com muito apetite, tanto que encomendou logo uma repugnante sopa de mexilhões, cujo cheiro e aspecto me nausearam. Pedi um café de cheiro para contrabalançar. Estávamos começando bem, pensei.

E Rotterdam? Bem, lembro-me que ele pediu uma feijoada bem brasileira. Hábito adquirido em minha companhia, em tantas missões no passado... mas, desde que eu me tornara mais naturalista, abandonara as comidas mais pesadas e indigestas.

 

 

(No próximo episódio começam os problemas entre Vésper e Valentina, na Roda Espacial Zênite. E a missão ainda não começou.)

 

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Miguel Carqueija
Enviado por Miguel Carqueija em 30/11/2023
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