A CIDADE DO TERROR, epílogo: A reunião das Centelhas: aliança com Sailor Moon
(No capítulo anterior, o último, vimos como no duro combate travado diante do nó auxiliar da REM - Rede Energética Mundial - no mais alto das torres do Rio de Janeiro do século 30, Cindy saiu vencedora e o Espectro foi arremessado em chamas no abismo, juntamente com seu exemplar do Livro dos Nomes Mortos (Necronomicon). Agora, no fecho da novela, veremos o que as Centelhas decidem sobre os próximos passos, inclusive propor uma aliança com Sailor Moon, Rainha de Tóquio, visando a proteção total do planeta Terra.)
EPÍLOGO
A REUNIÃO DAS CENTELHAS: ALIANÇA COM SAILOR MOON
Cindy ficou olhando o corpo que descia vertiginosamente, até que tanto a imagem como o som se desvaneceram. E então três figurinhas lépidas surgiram no ar e pousaram ao seu redor. Rosa, Eliana e Celeste estavam de volta.
— “Estacionamos” tudo na praia da Barra da Tijuca, Cindy, sem machucar ninguém. E de passagem, captamos que o “putch” dos Anjos e dos Macacos Negros está sendo levado de vencida, porque o povo saiu à rua com o apoio da polícia.
O relatório fora feito pela Eliana. Cindy suspirou, aliviada:
— Virgil Limusine é um homem e tanto. Se já não tivesse Gipsy Green... (risos).
— A ele eu confiaria minha identidade — observou Celeste.
— Cindy, querida... — disse Rosa — o que devemos fazer agora? Ganhamos a guerra, não ganhamos?
— Tudo indica que sim, mas as gangues não deixarão de existir tão facilmente. Não, amigas, teremos de continuar sendo as vigilantes da cidade. E se as gangues de transviados ainda quiserem aterrorizar a população do Rio de Janeiro, sofrerão por sua vez o terror que lhes infligirão as Centelhas Negras.
Eliana murmurou: — Você tem planos para nós, então...
— Eu tenho, minha irmã — Cindy, sem olhar para a amiga que a enlaçava, prolongava seu olhar para o imenso horizonte que se fechava com cúmulos escuros — mas antes, me digam que fim levaram aqueles três exemplares do Necronomicon?
— Os do pentagrama... foram todos consumidos — esclareceu Rosa..
— Aqueles livros do inferno... — sussurrou Celeste.
Eliana acrescentou: — Sim... toda aquela hediondez...
— E o exemplar que estava no corpo de Coutinho — finalizou Cindy — acabou-se com ele.
Rosa, a Centelha Amarela, apertou Cindy em seus braços.
— Nós sempre estaremos com você... aconteça o que acontecer.
— Obrigada. Eu penso que a Esfinge deseja que todas continuemos juntas. Mesmo que tenhamos resolvido a Questão do Futuro.
— Mas o que você ia dizer? — indagou Celeste, a Centelha Azul.
— Eu ia dizer que nós faremos, se Deus quiser, um pacto com a Rainha de Tóquio de Cristal. Se tudo der certo teremos um sistema de segurança para este planeta. Se as sailors e Endymion tiverem inimigos paranormais para combater, nós estaremos prontas para ajudar. E em troca pediremos que Sailor Moon e sua equipe nos ajudem, quando nós formos as primeiras a enfrentar um inimigo.
— Em suma, haverá colaboração mútua — disse a Centelha Verde.
— Isso aí.
A lourinha perpassou o seu olhar doce pelas companheiras de fortuna e murmurou num tom como de devaneio:
— Sabem, a maneira como o Espectro morreu me recorda uma passagem importante do Evangelho. Algo que Jesus Cristo, o Verbo de Deus, falou, e calou tão fundo em meu coração que eu memorizei a passagem: é no Evangelho de São Lucas, capítulo 10, versículo 18.
— E o que foi que Jesus Cristo disse? — perguntou Rosa, alisando os cabelos de Cindy.
A Centelha Negra vagou o olhar para a incomensurável voragem do Rio de Janeiro e murmurou de maneira sublime:
— Ele falou assim: “Eu vi Satanás cair do Céu... como um raio”.
F I M
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POSFÁCIO
A classe política e a corrupção que a assola numa batalha épica contra o vigor justiceiro de jovens idealistas. Este novo trabalho de Carqueija remeteu minha mente aos recentes movimentos por um Brasil melhor, liderados, em boa parte, por jovens que não se conformam com o uso irresponsável dos recursos públicos e com o pouco caso que é feito da classe trabalhadora.
Semelhanças à parte, na presente obra o drama ganhou proporções muito maiores e, por esta razão, requereu das personagens principais o uso de superpoderes. Um futuro distópico, violento, no qual o mal tentou angariar novos aliados, estendendo suas garras sobre aqueles que ainda defendiam a dignidade. Para tanto, planejava influenciar os Fluxos de Energia Psíquica, por intermédio da dominação da Rede Energética Mundial.
Para combater este perigo, o autor encontrou na pureza de heroínas adolescentes a resposta ideal. Pureza sim, mas com combatividade, pois o Bem que se cala serve apenas para estimular o Mal.
As Centelhas Cindy, Celeste, Eliana e Rosa batalharam nesta obra com garra e graciosidade, vencendo as poderosas milícias coordenadas pelo corrupto e pretensioso Espectro. As garotas lembraram personagens de mangás, porém combateram forças de maior malignidade, que pretendiam contar com o poderoso auxílio do Necronomicon criado por H. P. Lovecraft.
Muita ação e aventura numa trama que, embora tecida num ambiente obscuro, não deixou de lado o romantismo das jovens heroínas, as quais, com muita determinação e tenacidade, mostraram que é possível consertar uma cidade dominada por forças malévolas. Eliana (a pintora), Celeste (a romancista), Cindy (a jogadora virtual) e Rosa (a linguista) são versões tupiniquins de heroínas japonesas como a famosa Sailor Moon, protetora da Tóquio de Cristal do século XXX. E, em minha opinião, nada ficaram a dever àquelas.
A Cidade do Terror é uma obra envolvente e de ágil leitura, que, apesar de apresentar um ambiente de fantasia, tem um pé firme na realidade ao retratar a corrupção e sede de poder ilimitado que costuma tomar conta dos ocupantes de cargos políticos. Aliás, será que nossas grandes cidades, como o belíssimo Rio de Janeiro, não estariam caminhando para um futuro apocalíptico semelhante ao pintado pelo autor?
Claro, há que ser observado o limite entre a realidade e o imaginário do escritor, mas a corrupção na esfera governamental está diante de nossos olhos. Os noticiários nos mostram novos exemplos a cada dia. E, no futuro, haverá novos meios de se obter Poder e novas ferramentas (tecnológicas, inclusive) para se beneficiar dele.
Preocupante.
Sim, vamos precisar de heróis e heroínas idealistas, senão com superpoderes, que tenham a mesma garra das Centelhas de Carqueija.
Ricardo Guilherme dos Santos
(escritor de ficção científica, tem escrivaninha no Recanto das Letras)