A CIDADE DO TERROR capítulo 13: O destino do mundo nas mãos de Cindy
CAPÍTULO 13
O DESTINO DO MUNDO NAS MÃOS DE CINDY
(No episódio anterior vimos como, na batalha entre os dois grupos - bruxos antiguistas e as Centelhas - todos os vilões morreram, exceto o Espectro, que com seu aparelho voador portátil sobe para mais alto ainda nas torres, em busca do nó da Rede Energética Mundial - onde pretende inocular a energia maligna do Necronomicon que carrega em seu peito. Cindy o perseguiu sozinha, pois suas três aliadas precisaram descer para impedir a queda desastrosa de uma pesada estrutura, destruída e derrubada em decorrência do conflito. Agora, Cindy terá de enfrentar sozinha seu poderoso adversário...)
O Sol iluminava mal e mal, por causa das nuvens que prenunciavam uma próxima tempestade. Naquela plúmbea atmosfera, porém, a Teia do Rio de Janeiro ainda era bem visível, como o esqueleto de uma construção gigantesca, e por entre aqueles cabos subia a esguia figura de Cindy, a Centelha Negra, no encalço obstinado de seu inimigo mortal. O corpulento vulto do Espectro pousou numa das hastes metálicas, como a desafiar sua perseguidora, enquanto, centenas de metros abaixo, as outras centelhas lutavam para impedir a queda fatal da pesada estrutura do depósito. A certa altura, sentindo-se pairar nas alturas com uma visão de Mary Poppins ou de Peter Pan, Cindy Darling teve consciência de quão monstruosa era aquela cidade da qual ela se tornara protetora. Uma cidade de torres cada vez mais altas e pontiagudas, como se ameaçassem empalar quem nelas caísse; com olhos e mais olhos que, se noite fosse, tornariam a visão ainda mais aterrorizante. Uma cidade tão atroz e impiedosa que já nem os pássaros circulavam por ela, e dirigida por um sistema minaz, mendaz e desumano, onde o indivíduo pouco contava.
Como se adivinhando o seu raciocínio, o Espectro chamou-a às gargalhadas:
— Olhe para baixo, Centelha Negra! Veja bem esta cidade imensa! Há lugar nela para o amor e para a bondade? Ou antes, é uma visão de Moloch, a exigir sacrifícios humanos como no livro “Salambô” de Flaubert? Ah, você não deve ter lido!
Cindy pousou a poucos metros de seu adversário.
— Eu o li, canalha. Sei do que você fala, sei que seu demônio Cthulhu quer sacrifícios humanos. Mas ele não os terá, a não ser o seu.
— Acha mesmo que vale a pena? Toda esta luta para salvar uma humanidade que já é podre por natureza? Uma raça que já tem a atração inata pelo mal?
— Os seres humanos quando nascem são inocentes, sem maldade. Seres como você é que espalham a cizânia. Sei que esta cidade é apavorante, agressiva e inumana, vista de cima e de longe. Mas se descermos, se chegarmos perto das pessoas, encontraremos dramas humanos, emoções e sentimentos...
— Que todos fingem! Pois todos são hipócritas, egoístas e interesseiros. É esta a humanidade!
— Na sua visão! Mas eu creio nas pessoas... na sua parte boa.
— Então, fique com a sua crença e eu com a minha. E saia do meu caminho!
Quando viu que Coutinho ia novamente levantar vôo, Cindy atacou, lançando seus dardos e investindo contra o bandido. Este aparou os projéteis elétricos, que resvalaram em seu manto e no livro, e com o báculo disparou uma descarga que desequilibrou a garota; esta caiu um pouco no ar e viu, muito lá embaixo, as nuvens de explosões e o fogo.
— Veja, Centelha Negra, como o princípio do Mal já vai ocupando o seu lugar nesta cidade! Esta será a cidade dos Antiguistas!
— Seu quartel-general já acabou, Coutinho! Nós já liquidamos seus principais auxiliares! Agora só falta você!
Ela investiu de novo, colidindo com Caetano, sem lhe dar tempo de usar o báculo, mas ele continuou subindo mesmo com a moça enlaçada em seu peito, tentando detê-lo.
— Louca! Imbecil! Pensa que não existem outros magos antiguistas no mundo? As perdas valeram a pena, se eu ativar a energia maligna na REM! E ninguém vai me impedir!
Coutinho pousou na plataforma do nó auxiliar, cuja largura era de cinco metros e oscilava com o vento das alturas, e arrojou de si a jovem guerreira, jogando-a ao chão com um violento tapa no rosto. Cindy viu-se estatelada naquele chão metálico e Coutinho, abaixando-se sobre ela com o joelho em seu umbigo, brandiu o cetro para bater com a caveira de ferro em sua cabeça, num golpe mortal. Surpreendentemente, porém, a pequena mão esquerda de Cindy aparou no ar o pulso direito do Espectro, detendo o golpe, apesar da força do atacante. Por um instante o rosto de Cindy traduziu o imenso esforço que fazia para impedir a descida do cetro; as veias de seu braço se avolumaram, gotas de suor brilharam na parte visível da face.
— Você não há de vencer — disse ela, ofegante. — Deus é mais poderoso!
Subitamente Cindy transfigurou-se, tornou-se luminosa. O Espectro se espantou, e um assomo de energia emanado da garota fê-lo soltá-la e se afastar. Cindy atirou todo o seu poder elétrico contra ele, numa descarga fenomenal. Mas uma nuvem de enxofre emanou do Necronomicon e toda a descarga se dispersou inofensivamente. O Espectro soltou uma ominosa gargalhada de deboche:
— Não adianta, Centelha Negra! Todo o seu poder é infantil diante do poder do Necronomicon! Pois aqui está, concentrada, a maldade dos séculos! Você não é páreo para isso!
— Merda!
Com essa exclamação de desabafo, Cindy acertou um inesperado pontapé de caratê em cheio no Necronomicon, partindo-o ao meio pela lombada, e fazendo o seu portador recuar; no mesmo instante chamas estranhas, sulfurinas, surgiram do livro maldito e se espalharam num abrir-e-fechar de olhos pelas vestes e pelo aparelho volante de Coutinho. Cindy então deu um pulo de ninja, girando o corpo no ar, e seu pé direito explodiu na cara do Espectro, arremessando-o para trás. Com um grito medonho de pavor, o Prefeito do Rio de Janeiro despencou no abismo, o corpo envolvido pelas chamas que consumiam o Livro dos Nomes Mortos.
(Assim terminou o plano dos Antiguistas - seguidores dos seres demoníacos conhecidos como os Grandes Antigos - de abrir, com o poder do Necronomicon, um portal dimensional para propiciar a invasão da Terra pelos poderes obscuros do Além. Mas Cindy e as demais sabem que o mal não acabou, e precisam planejar agora como deverão continuar agindo.
Em seguida nesta escrivaninha:
EPÍLOGO
A REUNIÃO DAS CENTELHAS: ALIANÇA COM SAILOR MOON)
"A Cidade do Terror" é uma fanfic cruzada dos universos ficcionais Sailor Moon (Naoko Takeushi, Japão) e Necronomicon (H.P. Lovecraft, Estados Unidos).
imagens: silhueta, freepik; cidade, pinterest.