A Saga de Godofredo Parte II – A Execução de Godofredo

25.10.23

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Godofredo falou mentalmente com Cons. da sua prisão e encaminhamento para La Fayette em Estrasburgo. Sabia que seria guilhotinado. Pediu para que não dissesse nada à Juliette, como também ao barão Krumin-Lep e só informar à Guillaume.

A entrega foi feita na ponte sobre o Reno. O general francês o aguardava ansioso. Ao vê-lo caminhando amarrado ao cavalo do oficial alemão que o prendera, sorriu triunfante.

-Está aqui um revolucionário que prendemos ontem na estrada para Kehl. Não sabemos seu nome e não poderia um militar estrangeiro estar em nosso território cavalgando sozinho, sem nos informar sua patente e o que fazia aqui. Acredito ser um desertor, e como militar, devo extraditá-lo para que cumpra as leis do seu país – falou o alemão entregando-o ao comandante francês.

-Agradeço em nome do povo revolucionário francês, pois é comandante da nossa guarda e desertou. Um traidor e será guilhotinado! – respondeu La Fayette, olhando fixamente para Godofredo. Exultante, disse:

-Você nos enganou e traiu, causou destruição em nossos quartéis, e agora pagará por tudo o que fez. A guilhotina te espera! – ordenando a um soldado que o amarrasse a um animal para seguir a pé para Estrasburgo. La Fayette feliz, repetia sorrindo:

-A guilhotina te espera! – indo a trote leve com sua comitiva de quatro militares para o quartel na cidade fronteiriça francesa. Godofredo ia a pé amarrado ao cavalo do comandante revolucionário.

Cons. seguia com a família Krumin-Lep para Baden-Baden. Iam na carruagem roubada que atravessaram para Kehl. O barão estranhou a partida sem aguardar a chegada de Godofredo, seu parente do futuro, perguntando a Cons. :

-Godofredo não viria aqui para irmos juntos? Aconteceu alguma coisa?

Cons. demorou em responder, pois não poderia falar a verdade, a pedido de Godofredo. Pensou e disse:

-Ele me pediu para ir com vocês, pois aconteceu um imprevisto e não pôde vir.

-Imprevisto?

-Sim! Houve um problema com Juliette. Mas o importante agora é seguirmos até Baden-Baden. Lá, saberá o que aconteceu.

La Fayette chegou à Estrasburgo. Entrou calmamente com Godofredo amarrado para mostrar o seu troféu aos habitantes da cidade. Algumas pessoas que passavam na rua ou estavam em suas casas, pararam para ver o desfile triunfal do general. Uma multidão começou a se formar atrás do cortejo, acompanhando-o. La Fayette sorria. Sussurros começaram, tais como:

-É o fantasma de Linthelles? Vais ser guilhotinado?

O comandante revolucionário seguiu até a praça central da cidade, na qual estavam a prefeitura e a catedral. Subiu as escadarias até o ultimo patamar da igreja, sendo Godofredo arrastado até lá. Disse bem alto e forte para a população, apontando para o prisioneiro:

-Aqui está é um desertor das forçar revolucionárias, que ajudou a duas famílias nobres cruzarem para a Alemanha. Ele causou todos aqueles problemas nas nossas cidades e quartéis que ouviram falar.

-Ele é um bruxo! Vamos queimá-lo vivo! Herege! – foi ouvido na multidão. Godofredo, temeroso, escutava e pensava em seu destino.

-Amanhã logo cedo, este traidor será guilhotinado nesta praça. Viva a Revolução! – gritou o comandante francês, ao qual foi respondido pela multidão.

Os aparelhos de monitoramento começaram a disparar no quarto da UTI. Janice, com seus equipamentos para contato ao lado dele, vendo novamente a mudança da condição do marido, ficou aflita. O responsável pela junta que acompanhava o estado de Godofredo ficou observando os monitores. Janice, preocupada, disse ao médico:

-Doutor, poderíamos tentar novo contato com ele, nesta situação de emergência e ver o que acontece. O que o senhor acha?

-Não sei! Vamos aumentar um pouco a sedação e ver se ele se tranquiliza. Depois, acho que poderíamos fazer novo teste.

O médico pediu ao anestesista que aumentasse o anestésico, fazendo com que reduzisse gradativamente a pulsação de Godofredo. Os aparelhos normalizaram. Esperaram algum tempo. O médico autorizou o teste.

Janice, nervosa, iniciou o sistema interligado ao “Santos Dumont” – o supercomputador da Petrobras em Teresópolis, esperando o programa começar. Colocaram o capacete com os eletrodos na cabeça de Godofredo. Janice mobilizou as pessoas envolvidas para acompanhar a nova tentativa . Aguardavam também ansiosos.

Godofredo foi acorrentado junto à balaustrada que contornava a praça da igreja. A multidão o achincalhava, cuspia e chutava. Os soldados deixavam parcimoniosamente que a população, exaltada, o agredisse. Os trabalhos para a montagem da guilhotina se iniciaram imediatamente. Ele acompanharia o seu cadafalso.

Estava exausto e começou a se desligar de tudo e de todos, entrando em sono profundo. Os efeitos dos analgésicos aplicados para que estabilizasse, surtiam efeito.

O sistema estava pronto, capacete na cabeça de Godofredo e Janice inquieta para iniciar a nova tentativa de contato. Teclou “enter”, o programa iniciou, e na tela de vídeo no quarto de Godofredo, apareceu uma escuridão profunda. Todos ,ansiosos, viam a imagem negra. Janice chamou Godofredo pelo microfone do laptop:

-Oi meu amor querido! – ouviu-se a fala dela ecoando pelo quarto.

Godofredo, em sono profundo, ouviu a voz da esposa em seu cérebro, e a viu em seu sonho. Tentou responder. Sua voz saiu disforme:

-Janice? – a voz de Godofredo também ecoou pelo cômodo. A imagem continuava negra.

Emocionada, como todos os demais no quarto, pelo contato sonoro efetivo com seu marido, chorando respondeu:

-Sim, sou eu! Não é um sonho. Desenvolvemos um sistema computacional que está possibilitando nossa conversa, meu amor.

Godofredo, ainda atordoado e não sabendo definir se era sonho com sua mulher lhe falando, acordou assustado. Abriu os olhos e já era dia. À sua frente, o cadafalso com a guilhotina montada arrepiou-o todo.

No quarto da UTI, a imagem que aparecia na tela era justamente a que ele via. Assustaram com a guilhotina. Também, perceberam pelas vestimentas das pessoas, as casas, cavalos, carroças e o entorno dele, mostrando que estava em outra época. Ouviram uma voz dando uma ordem. A imagem mudou de posição como uma câmera, mostrando um senhor com roupas antigas de militar, usando chapéu igual ao de Napoleão, calças justas e botas de cano alto, falar em francês para Godofredo:

- “Bonjour mon ami, ton jour est venu!” – logo traduzido pelo programa : bom dia meu amigo, seu dia chegou!

Um soldado veio e soltou as correntes. Godofredo foi levantado, sua gola da camisa rasgada e levado para a guilhotina. Aflitos, os presentes no quarto acompanhavam mudos as cenas. Janice não acreditava no que via. Os instrumentos começaram a apitar, as curvas dos batimentos cardíacos aumentaram significativamente, a respiração acelerou. Ele ia ser guilhotinado. Janice desesperada gritou:

-Acorde meu amor, por favor!

Godofredo ouviu o pedido da mulher, mas sabia que não dependia dele, pois não tinha o controle do seu corpo.

Levado pelos guardas até a guilhotina, com sua lamina alçada e pronta, aguardou. La Fayette pediu que fizessem um teste: colocaram uma melancia e soltaram o equipamento mortífero. Ele caiu zunindo velozmente pelo trilho, dividindo a fruta em duas partes de em um só golpe!

Godofredo foi ajoelhado e colocado no suporte de madeira com meias circunferência cortadas para apoio dos braços e da cabeça, e imobilizado com a parte superior com as mesmas aberturas, como uma canga de boi. A imagem que aparecia no vídeo era horripilante: um cesto de vime todo avermelhado por dentro com os restos de sangue das cabeças guilhotinadas.

Janice berrou novamente:

-Acorde, por favor!

O militar francês começou a falar para a população, que ali estava um desertor e traidor da revolução francesa e que seria feita justiça, gritando Viva a Revolução, respondido em uníssono pela multidão.

Godofredo pensou em como poderia sair daquela situação, pois se morresse guilhotinado, morreria na vida real. A guilhotina foi levantada e estava pronta para ser acionada pelo carrasco. O povo gritava traidor, herege e muitas outras ofensas, com o militar francês rindo. Sua execução, seria questão de segundos!

La Fayette pediu silêncio à população. Sádico, disse à multidão que contassem com ele até dez, quando o carrasco acionaria a guilhotina.

A pulsação de Godofredo estava aceleradíssima, todos os equipamentos apitavam freneticamente na sala muda e angustiada. Janice chorava. A contagem começou:

- Dez, nove, oito, sete, seis, cinco, quatro, três, dois, um.

A imagem e o som sumiram da tela, ficando novamente negra. Os aparelhos de monitoramento se acalmaram. Godofredo voltou a respirar imperceptivelmente. Janice e os demais na sala deram um enorme suspiro. Ele estava vivo!

Mas, não se sabia em que local do seu cérebro vagava e que novas situações ele enfrentaria.

Nota do Autor:

Obra ficcional e qualquer semelhança é mera coincidência.

Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 25/10/2023
Reeditado em 25/10/2023
Código do texto: T7916762
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