A Cidade do Terror capítulo 3: Repercussões na imprensa

 

CAPÍTULO 3

 

 

REPERCUSSÕES NA IMPRENSA

 

(No episódio anterior vimos como a misteriosa Centelha Negra salvou a cantora cigana Gipsy Green de uma tentativa de sequestro, e estranhamente as duas sofreram uma perseguição e alvejamento por parte de dois helicópteros da polícia. Para terminar de salvar Gipsy Green a Centelha Negra viu-se obrigada a derrubar os dois helicópteros e mais o dos sequestradores. Mas, por qual razão quiseram raptar a cantora?)

 

 

“ASSASSINA: A CENTELHA NEGRA PROVOCA MORTE E DESTRUIÇÃO NO RIO DE

JANEIRO”

 

Em letras menores, dizia-se: “Gipsy Green afirma ter sido salva pela misteriosa mascarada”.

Eram manchetes do Diário da Prefeitura. A foto do Prefeito Caetano Coutinho ali estava, bem como o mini-editorial assinado pelo alcaide do Rio de Janeiro:

 

UMA SITUAÇÃO INTOLERÁVEL

 

Ninguém pode tomar a lei em suas mãos. Nos últimos e lamentáveis incidentes que ensombreceram a apresentação da bela cantora Gipsy Green, ressalta essa sinistra figura que se auto-intitula ridiculamente a “Centelha Negra”. Desta vez, utilizando suas armas secretas, ela derrubou dois helicópteros da Milícia, o que resultou na morte de três agentes policiais, e no enlutamento de suas famílias. Ao tentar, com a sua quadrilha, o seqüestro da artista, a meliante em questão – que, pela agilidade que demonstra, é pessoa bastante jovem – demonstrou ter iniciado a segunda fase da sua campanha de terror. O que há por trás disso? Um complô para desestabilizar a autoridade constituída? Note-se, a princípio a Centelha Negra se apresentava como uma paladina da justiça. Hoje, porém, a sua verdadeira face de malfeitora se revelou, por trás de sua máscara infame. Dei ordem às Milícias para que a capturem viva ou morta. Seremos nós ou ela, pois o Rio não pode ficar à mercê do crime.”

 

 

— Miserável — disse ela, e dedos finos e ágeis escanearam a matéria. Depois puseram-se a teclar no terminal, ajustando em 3-D e a cores a face do Prefeito Caetano Coutinho. Era um homem de bochechas largas, sacos em baixo das pálpebras inferiores, olhos intensamente verdes. Possuía algumas rugas verticais e seus cabelos, ligeiramente grisalhos, eram bem curtos. O nariz era mais largo que a média, e a batata do queixo mais saliente. O pescoço era sólido.

— A quem interessa a sua postura, prefeito? - monologava ela, enquanto alargava a tela, fazendo-a dobrar de comprimento. — Vamos ver se uma ideiazinha minha faz sentido.

No lado direito da tela — a foto do prefeito derivara para a esquerda — surgiu uma figura sinistra, embuçada. Era como a cabeça de uma múmia, porém coberta de forma bem mais elegante. Um capuz preto lustroso, aparentemente de couro sintético, que deixava à vista dois olhos azuis penetrantes, a ponta de um nariz grosso e lábios apertados.

A foto do Espectro, ou melhor, o seu retrato falado.

Ela abriu o aplicativo “objetos” e fez aparecer na mini-tela superior duas lentes de contato azuis, regulou o tamanho das mesmas e direcionou-as para os olhos de Coutinho. Em seguida digitou centralização para as duas imagens, que assim convergiram até se superporem.

Um ajuste notável.

— A-há! — exclamou ela, feliz.

Esfregou as delicadas mãos de adolescente e acrescentou:

— Não preciso mais procurá-lo, Espectro. Eu já o encontrei.

 

 

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Virgil Limusine aceitou um aperitivo e fitou sua anfitriã, que afagava um belo “setter” irlandês deitado no sofá, perto dela:

— Pelo que eu entendi, o Secretário de Segurança chegou a ameaçá-la?

— É isso mesmo, Virgil, e isso é escandaloso. Ele me disse que eu poderia me dar mal se ficasse criando problemas para o prefeito. Mas o que eu posso fazer? A Centelha Negra me salvou dos raptores, é tudo o que eu sei. Se ela é uma criminosa ou não, é coisa que não me compete. E além disso havia três helicópteros, e não dois! O noticiário insiste em só falar em dois! Estão ocultando a verdade!

Virgil, que tinha um rosto fino e sério de professor, observou:

— E quanto às mortes?

— A polícia estava atirando em nós. Você entende? Eu ia morrer também, e agora estou apavorada!

— É por isso que você vai embora?

— Vou com mamãe, passar uns tempos em São Paulo, até a poeira baixar. O prefeito não quer que se saiba da truculência de sua tropa, mas dessa vez foram longe demais. A Centelha Negra salvou a minha vida e ainda querem acusá-la pelo meu seqüestro!

Virgil colocou os dedos uns diante dos outros:

— Estão acontecendo coisas sinistras no Rio, Gipsy... soube do assassinato de Frei Normando?

— Sim, eu soube. Coitado, era um velhinho tão bom... por que terão feito isso?

— Só Deus sabe — respondeu o repórter do Baluarte da Imprensa.

 

 

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“GIPSY GREEN CONTESTA VERSÃO DO PREFEITO”

 

 

“Um repórter tem a obrigação de dizer a verdade. Faz parte da ética da sua profissão. Não ocorre ao Prefeito Coutinho que, ao declarar guerra à vigilante, desvia a atenção das gangues de transviados movidos a “crack”, a cocaína ou a loucurina, e que fizeram do Rio de Janeiro a própria Cidade do Terror. E é uma vergonha que não possamos ter, entre nós, nada semelhante à ordem e à harmonia que hoje fazem de Tóquio, a Tóquio de Cristal, a cidade-modêlo do mundo. Não, o que conta aqui no Rio é a velha tradição do crime organizado.

Porque ocultar do povo que a Centelha Negra salvou Gipsy Green do sequestro? E o que houve com o terceiro helicóptero, o dos bandidos, que se chocou com o UP-15 da polícia?

A filósofa de máscara declarou, ao salvar Gipsy: “A beleza e a arte não devem ser maculadas por mãos sujas.” Entendo que isso inclui a própria Centelha Negra. Que as mãos sujas dos milicianos de Coutinho não toquem nela!

A cidade agradece, sinceramente, o respeito para com a misteriosa heroína. Graças a ela, as nossas noites estão sendo mais tranqüilas. Não graças às milícias que o povo apelidou de Macacos Negros, de forma bem pouco lisonjeira.

 

Virgil Limusine”

 

 

 

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— E agora –—disse Celeste, comentando o artigo no Baluarte, enquanto cortava uma berinjela frita. — O que vocês acham que fará o prefeito?

— Virgil está se arriscando — comentou Cindy Darling.

Rosa voltou-se de repente para Eliana:

— O que você acha disso, Centelha Negra?

Eliana fitou-a com espanto:

— Mas eu não sou a... droga!

Rosa riu-se:

— Ela tem que ser alguém, e você é a única de nós quatro que possui tantas habilidades. Aquela agilidade toda... você é uma espécie de ninja.

— A Eliana... será possível? — comentou Celeste.

Cindy nada disse. Eliana continuou negando ser a Centelha Negra.

 

No próximo episódio veremos como o Espectro, o manipulador do Necronomicon, revela em detalhes o seu maquiavélico plano de controlar a humanidade através da energia psíquica maligna e atacar a Tóquio de Cristal, reduto de Sailor Moon.

"A cidade do terror" é uma fanfic cruzada dos universos de Sailor Moon (Naoko Takeushi) e Necronomicon (H.P. Lovecraft).

Não percam a seguir:

 

CAPÍTULO 4

A REDE

 

imagem do filme "Metrópolis", de Fritz Lang (1926)