A AMPULHETA QUEBRADA, capítulo 5: Acusação
CAPÍTULO 5
ACUSAÇÃO
Quando iam sair houve uma nova surpresa. O Inspetor Ardósio apareceu no corredor, com mais dois policiais, e barrou-lhes o caminho.
— Sinto muito, mas precisamos esclarecer algumas coisas.
— Como assim? Pois se íamos justamente procurar pelo senhor — respondeu Lotar.
O policial ignorou a observação.
— Esta senhora... houve uma grave acusação contra ela, e pediram que seja presa imediatamente.
— Esta senhora como assim? — explodiu Ariel. — Então você não me conhece?
— A senhora nada ganha em ficar nervosa — respondeu o oficial.
— Mas quem está nervosa?
— Inspetor, do que se trata afinal? — indagou Lotar.
— Bem... houve uma acusação de ser ela a assassina...
— Chegou tarde, inspetor. Eu já sei quem matou nosso amigo mágico.
— O que?
— Sim, já sei.
— Então fale, por favor.
— Não tão cedo. Quero saber que história é essa de prisão, porque quem matou Ártemis não foi Ariel, com toda certeza.
— Não posso prende-la sem uma ordem judicial, mas o presidente da Irmandade está providenciando...
— Aquele canalha? — foi a vez de Orpanto falar.
— Senhor... não deveria falar assim...
— Inspetor Ardósio, que fundamento tem uma acusação tão esdrúxula?
— Surgiram testemunhas...
— O senhor não pode prende-la, Inspetor.
— E por que não, senhor Lotar? Desde que haja uma ordem judicial...
— Inspetor, o senhor não pode prender uma princesa elfa; isso poderia custar o seu cargo.
— Princesa? Do que está falando?
— Eu sou uma princesa das terras élficas e isso está nos meus documentos — e Ariel foi taxativa. — Para me prender teria de ter autorização do consulado élfico. E isso não seria fácil, garanto a você.
— Mas... Mas... por que nunca disse ser uma princesa?
— Não sou vaidosa e não preciso andar por aí com uma tabuleta dizendo: “Eu sou uma princesa elfa”.
— Ardósio — disse um policial jovem que acompanhava o inspetor — eu estou me lixando para essas coisas. Se o senhor autorizar eu algemo essa sirigaita e enfio ela no camburão...
— Cala a boca, Aristeu! Você é tão ignorante assim da diplomacia?
— Aristeu? Ótimo — disse Lotar. — Inspetor, seu auxiliar mal-humorado vai responder processo por injúria. Agora em que se baseia Lux Everanto para levantar acusação tão esdrúxula?
— Exdrúxula? Escutei o que o senhor disse!
O mencionado acabara de chegar.
— Excelência... pensei que o senhor tinha ido buscar a ordem...
— Esqueça, inspetor. Fui informado da imunidade de que esta elfa goza. Vai demorar um pouco mais, porém ela será devidamente presa.
Ariel esforçava-se para se conter:
— Eu posso saber porque o senhor está me acusando?
— Muito simples. Obtive testemunhas que a viram...
— Está bem. Se existem estão mentindo. Quem são?
— São três anões, auxiliares do Rei...
Mas ele nem conseguiu falar o nome do rei anão, porque Ariel pulou de raiva;
— Anões? Testemunhando contra uma elfa? Está de brincadeira?
— O que a senhora quer dizer com isso?
— Anões não gostam de elfos e vice-versa. Agora mesmo é que o senhor não consegue autorização do consulado.
— Veremos! Vocês vão saber a força da Irmandade!
— É óbvio que o senhor tem predisposição contra Ariel — interveio Orpanto.
— Não pedi sua opinião!
— Bom, chega — disse Lotar, agastado. — Proponho que se faça uma reunião imediata e eu vou revelar quem matou o nosso amigo. E garanto que não é pessoa verde e nem de orelha grande!
— Está falando sério? — indagou o inspetor.
— É claro que estou. Inspetor Ardósio, por favor, arranje uma sala com lugar para todos nós sentarmos, e que tenha uma mesa. Eu sei muito bem quem matou Ártemis e, claro, acredito que a Irmandade deseja saber a verdade.
— Nada disso! — exclamou Lux Everanto, com arrogância. — Eu me oponho porque o senhor é apenas um reles detetive particular e portanto eu proíbo...
Foi nesse ponto que o Inspetor Ardósio se queimou:
— Mestre Luz, desculpe mas já chega. Quem está conduzindo a investigação sou eu e como o que eu quero é a verdade não me interessam picuinhas...
— Picuinhas? O que quer dizer com isso?
— O senhor não gostar de elfas e não gostar de detetives particulares. Eu vou escutar o que o Senhor Lotar quer dizer, pois ele pode ter alguma informação realmente útil. Afinal, ele tem um currículo respeitável. E acho que o senhor deve escutar também.
— Está bem, inspetor. Eu escutarei mas, se isto configurar qualquer obstrução da justiça, pesará contra o senhor.
— Não vai pesar mais do que a minha idade. Vamos na sala de jogos, lá tem mesa à vontade.
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