A cidade do terror, prefácio e introdução: O monolito
A CIDADE DO TERROR
Miguel Carqueija
(Iniciamos aqui a publicação de minha novela de ficção científica e fantasia "A cidade do terror", uma aventura passada daqui a mil anos e que representa uma fanfic cruzada, pois passa-se no universo ficcional de Sailor Moon (Naoko Takeushi, Japão) e também no do Necronomicon (H.P. Lovecraft, Estados Unidos). A história portanto coincide com o reinado de Sailor Moon na Tóquio de Cristal, como a Rainha da Serenidade. Quanto ao Necronomicon - o Livro dos Nomes Mortos - é considerado a base de acesso dos seguidores dos Grandes Antigos - demônios ancestrais que no passado remoto teriam dominado a Terra, e que desejam retornar - contendo rituais satânicos que, supostamente, chamariam tais seres do caos de volta ao nosso mundo. Embora na saga de Sailor Moon apareçam muitas entidades maléficas que parecem afins dos Grandes Antigos lovecraftianos (Cthulhu, Yog-Sothot e outros) existe um grande diferencial. Na obra de Lovecraft ocorre um evidente fatalismo, o mal é invencível, o universo é mau e a humanidade é uma exceção e completamente indefesa. Tanto, que os personagens humanos que descobrem a existência dessas entidades se desesperam. Já na obra de Takeushi, seres com poderes espirituais luminosos - as "sailors" ou navegantes planetárias - podem enfrentar as entidades das trevas.
Vejamos então o que acontece neste Rio de Janeiro do futuro - a cidade do terror do título - e a saga das Centelhas, as garotas escolhidas para dar solução à Questão do Futuro - isto é, se a Terra ficará com a Luz ou com as Trevas.)
PREFÁCIO
Álvaro Domingues
Quatro garotas entram às escondidas num museu e algo as modifica para sempre. Cada uma delas terá um grande papel a desempenhar, numa ação de amplitudes cosmológicas, mas que começa no Rio de Janeiro.
Mas é um Rio de Janeiro distópico e violento, com um governo corrupto que compõe o cenário de A Cidade do Terror, de Miguel Carqueija. Parece um cenário familiar de quem conhece o Rio (e outras grandes cidades) apenas pela crônica policial e o noticiário político. Mas Carqueija situa sua história num futuro inespecífico, mas um tanto distante de nossa realidade atual. E com algo diferente: uma esperança.
Tal como nos livros e filmes policiais noir, onde a esperança não está nas autoridades constituídas mas no detetive particular durão, ou nas histórias de super-heróis dos anos 30, em que um ser com superpoderes consegue atuar onde a polícia parece ser incapaz, em A Cidade do Terror há uma esperança, a Centelha Negra, que lutará incansavelmente contra o crime organizado, que age impunemente sob as vistas grossas de um prefeito corrupto. Mais do que isso, percebe-se desde as primeiras páginas que há um inimigo maior, o Espectro, que tem uma intenção maléfica que transcende a mera ganância por poder e dinheiro.
Este é o cenário em que habita a Centelha Negra (que não ficará sozinha em sua luta). Nesta noveleta, Carqueija explora suas duas maiores influências na composição de sua literatura: os mangás, sobretudo Sailor Moon, e Lovecraft. Parece uma fusão impossível, mas Carqueija soube amalgamar os dois universos muito bem.
As moças, com suas semelhanças e diferenças são bem caracterizadas, como também o vilão e os personagens de apoio, ajudando no fluir da história. O texto é conduzido com a maestria de quem sabe contar uma boa história, com boas cenas de ação e um espetacular final.
Um atributo importante é que as moças, apesar de serem heroínas, são aproximadas de pessoas comuns quando são mostradas em seus problemas e até nas dúvidas sobre seu papel e o ato de sacrifício que têm de fazer em relação às suas vidas pessoais para cumprir um destino que parece maior que elas mesmas.
Independentemente de outras considerações, uma boa leitura que gera uma boa diversão.
(Álvaro Alípio Lopes Domingues é escritor, poeta e resenhista, tendo colaborado desde 2006 no “site” Homem Nerd e publica atualmente no Blogue do Pai Nerd (http://blogdopainerd.blogspot.com/). Também escreve no blogue Sombras e Sonhos (sombrasesonhos.zip.net).
A CIDADE DO TERROR
Miguel Carqueija
INTRODUÇÃO
O MONOLITO
Meia-noite no Museu Espacial da Barra da Tijuca.
Num dos andares superiores, no silêncio e na solidão, mexeu-se um alçapão na parede branca de um dos corredores. A tampa foi empurrada de dentro para fora e uma garota moreninha mostrou o seu rosto de anjo.
— A barra está limpa por enquanto, garotas! Está tudo bem aí atrás?
— É claro, Eliana! Só que o duto do incinerador... pela madrugada!
— Não se queixe, Cindy. Podia ter sido pior. Se tivéssemos vindo pelo esgoto...
— Tá! Deixa a gente passar!
— Primeiro deixem seus sapatos aí.
— Por que isso? – quis saber Rosa.
— É evidente! Quanto menos barulho a gente fizer melhor. Há vigias noturnos...
Eliana, Rosa, Cindy e Celeste tiraram seus calçados, deixando-os no tubo, e saíram para o corredor iluminado à noite por luz mortiça. Todas as quatro usavam máscaras.
— Silêncio e me sigam! — sussurrou Eliana que, de shortinho como as demais, ostentava pernas perfeitas. As quatro seguiram em fila indiana até uma escada em caracol que descia.
— Até aqui tudo bem... sorte que aqui é enorme. Eles devem estar no lanche!
— Não me fale em lanche! — queixou-se Celeste. — Eu sou magra mas sou boa boca! E já faz tempo que não como.
— Caluda!
— Estamos perto? — perguntou Rosa.
— Mais um piso... cuidado, pisem na ponta dos pés! Rápidas!
Seguiram ligeiras pela penumbra de um corredor cheio de portas largas encimadas por tabuletas embutidas. Um corredor ligeiramente curvo e interminável... cheio de vigias eletrônicos.
— As nossas impressões! — lembrou-se Cindy. — De que adiantam as luvas, se vamos descalças?
— Porque nem saberão que estivemos aqui, é por isso! A não ser que resolvam examinar quilômetros de filmes, sem que tenha havido alarma. Se é que nós vamos aparecer nos filmes processados! E além disso, não estamos cometendo crime nenhum!
— Você nos meteu nisso, Eliana. Portanto, se houver encrenca, você nos tira dela.
— OK, Rosa. É aqui!
Eliana introduziu a chave eletrônica que clonara do pai, diretor do museu, sem que ele soubesse. Penetraram numa sala de 25 metros quadrados, ao fundo da qual, em suportes de magiplast, achava-se uma espécie de chapa translúcida, um monolito de cristal impressionante, com uns dois metros de altura por 1,20m de largura; e uma espessura de 18 centímetros.
As quatro se aproximaram, tendo a porta sido fechada por Eliana. Lá não havia nenhuma câmera.
Celeste, incomodada pela fome, olhava em volta, numa procura inútil de algum lanche esquecido. Rosa olhava desconfiada e temerosa para o objeto. Cindy parecia curiosa. Eliana, ciente de sua liderança, aproximou-se mais do monolito:
— Lembrem-se, amigas, do que eu lhes falei. Se meu pai, que sequestrou do mundo esse objeto, estiver com a razão, há uma revelação esperando cada uma de nós. Vamos conhecer nossas verdadeiras vocações. Estão prontas?
— Vamos — disse Cindy.
Rosa lembrou: — Esperem! E se for perigoso?
— Sim... parece um mar... um mar de bronze, sei lá... — murmurou Celeste.
— Oh, parem, suas medrosas! Vamos lá!
Deram-se as mãos e aproximaram-se mais do objeto, até tocarem-no com as mãos. Eliana teve a idéia de encostar também um dos pés na base do cristal translúcido, no que as outras a imitaram. Olharam atentamente para a superfície do monolito, onde dançavam e ziguezagueavam luminescências espectrais...
Os filamentos coloridos e luminosos que serpenteavam, naquele mar cinematográfico, foram-se intensificando e subitamente, diante dos olhos extasiados das gurias, um oceano de luz suave derramou-se do artefato sobre elas, envolvendo-as e inundando-as, subjugando-as num abismo de luz fantasmagórica...
(imagem pinterest)
O que terá acontecido naquele dia? Tempos depois Rosa, Eliana, Celeste e Cindy se reúnem para assistir o "show" da cantora cigana Gipsy Green e discutir sobre as mudanças em suas vidas e até em suas personalidades. A seguir, o capítulo 1 de "A cidade do terror":
A CEIA DAS ILUMINADAS