Neblina e a Ninja capítulo 16: Neblina contra a Ninja: o duelo final no alto da torre
CAPÍTULO 16
(No capítulo anterior, utilizando um veículo aéreo secreto de sua invenção, Neblina conseguiu chegar ao topo da Torre Energética no momento em que a Ninja conseguia desligar a caixa de cristais da mesa onde se encontrava presa a diversas ligações de metal. A hora do confronto entre as duas adversárias chegou.)
NEBLINA CONTRA A NINJA: O DUELO FINAL NO ALTO DA TORRE
O piso não fazia ruído, pois os passos eram lentos e sinistros.
A poucos passos da mesa dos cristais a garota de capa e máscara estacou ao mesmo tempo que sua inimiga mortal. As duas se encararam e se estudaram. A Ninja era cerca de um palmo mais alta que Neblina e certamente possuía mais corpulência. Durante um terrível momento Neblina, com seus grandes e impenetráveis olhos azuis surgindo em meio à máscara, fitou a marimacho à sua frente.
Olhos que traduziam uma determinação sem limites.
O olhar da Ninja mostrava apenas descrença e ferocidade.
A paralisação das adversárias, porém, durou pouco. Rompendo o encanto, a Ninja soltou um grito de guerra e atacou com as mãos abertas. Neblina moveu-se imediatamente, aparando os golpes e desviando-se dos seguintes. Sybilla avançou, mantendo a iniciativa do ataque. Ana recuou, esgrimindo com os braços; não conseguindo uma brecha a Ninja pulou inesperadamente. Aparentemente, porém, Neblina esperava por esse movimento e com a precisão de uma bailarina moveu-se para o lado e golpeou com o pé direito. Atingida na coxa a Ninja perdeu o equilíbrio e viu-se no chão, surpreendida, enquanto Neblina recuava estrategicamente. Era muito cedo e a Ninja estava incólume em seu poder.
Sybilla ergueu-se como se fosse de borracha e deu um salto de ninjutsu sobre Neblina. Esta conseguiu se desviar, movendo-se com grande rapidez. Aterrissando no chão, onde permaneceu apenas uma fração de segundo, a Ninja deu outro e mais incrível salto sobre a vigilante, que se desviou mas não de todo e, atingida de raspão nas costelas, desequilibrou-se e caiu. Quando a Ninja se virou Neblina, levantando-se com facilidade, contra-atacou com decisão antes que Sybilla recuperasse o centro de equilíbrio, acertando-lhe uma cutelada de mão esquerda no peito e ombro. Ao tentar manter o ataque Neblina recebeu o contragolpe no rosto. Mãos agarraram mutuamente braços e cotovelos e, no corpo-a-corpo, as duas mulheres rolaram pelo chão, seguidamente, enquanto o uniforme de Sybilla ia ficando manchado com o sangue que escorria dos lábios de Neblina. Finalmente elas se soltaram e, afastando-se ligeiramente entre si, encararam-se novamente. Então, com o ímpeto de um trem de carga, a Ninja avançou e encurralou a mascarada de encontro à parede da copa. Furiosa, a Ninja pressionou com o próprio corpo para manter Neblina sufocada junto à parede e agarrou a máscara da moça, primeiro com a mão direita, depois com a esquerda. Neblina agarrou-lhe os pulsos e teve início uma luta terrível: aprisionada naquele ponto, com o suor a lhe escorrer do rosto, Neblina fitava os olhos selvagens de sua inimiga que, com força brutal, lutava para desmascará-la. Ofegavam as duas e Neblina sustentava uma luta titânica. Dir-se-ia que desmascará-la equivaleria a derrotá-la. Os dedos de Neblina, por baixo das luvas, estavam brancos, tal o esforço que fazia para conter a adversária.
Subitamente Neblina ergueu o pé esquerdo e desceu o calcanhar violentamente sobre os artelhos do pé direito da Ninja. Esta gemeu de dor, diminuiu a pressão e foi empurrada por Neblina que aproveitou para aplicar um antiquado soco no queixo da assassina. Conseguindo fazê-la recuar, Neblina afastou-se da parede e endireitou rapidamente a máscara, procurando ao mesmo tempo recuperar o fôlego.
Sybilla encarou-a com ódio e fez nova carga, já ligeiramente menos rápida. Desta vez Neblina contra-atacou de forma fulminante, abrindo os braços em leque; ossos se chocaram e a mascarada abaixou-se com precisão para evitar uma pernada no pescoço e jogou o seu punho esquerdo numa brecha momentânea apanhando o plexo solar da Ninja. Sybilla recuou com a expressão transtornada de dor. Buscando tomar a iniciativa da luta Ana pulou sobre a Ninja mas sentiu-se arrojada ao solo pela força extraordinária daquela mulher. Os segundos que se seguiram foram um pesadelo para Neblina, que recebeu uma saraivada de chutes dolorosíssimos. Ela moveu-se pelo chão tentando fugir à violência do ataque mas a Ninja não dava tréguas, procurando provocar ferimentos internos na garota. Finalmente, depois de receber quase dez pontapés, escapando a fraturas de costela pela resistência da roupa e da capa, Neblina conseguiu agarrar aquele tornozelo e puxar com toda a força que lhe restava. A oponente caiu e Neblina, arrastando-se para longe, conseguiu se reerguer, com rasgões na roupa, principalmente nos braços, por onde aparecia sangue.
Nos poucos segundos de que dispunha Neblina procurou analisar a situação. A Ninja, embora algo cansada, parecia praticamente intacta, afora algumas escoriações e danos nas roupas; ela própria, entretanto, estava já cheia de ferimentos e perdendo sangue. E a ferocidade da inimiga não diminuíra.
Tinham-se reaproximado da mesa dos cristais. Sybilla tentou um salto nínjico, de pés para a frente, mas a incrível agilidade de Neblina evitou o choque; pulando quase para trás, ela subiu na mesa; quando a Ninja retornou à posição ereta Ana se lançou em vôo certeiro, acertou com o pé direito o peito da outra e arrojou-a ao chão. Antes que Sybilla se recuperasse Ana já estava sobre ela, com a obstinação de quebrar a resistência da fera. E mais uma vez rolaram pelo chão. Com uma força surpreendente para o seu tamanho e peso, Neblina tentava manter a ofensiva. Sentiu porém que a Ninja buscava conduzir o combate na direção do vidro. A lembrança do destino de Barracuda e seus dois companheiros veio à mente da garota e então, com o organismo repleto de adrenalina, a mascarada acocorou-se, repeliu a adversária e pulou para trás, decidida a manter a luta longe do abismo.
Estavam agora perto dos painéis, ora em pane. A Ninja avançou, tentando uma série de golpes rápidos e de efeito mortal se aplicados nos locais certos. Mas Neblina conhecia de antemão a anatomia do corpo humano e a rapidez de seu raciocínio era tal que a sua defesa tornava-se quase intransponível. Só a força bruta poderia penetrar as defesas da vigilante e, percebendo isso, a Ninja atacou com todo o seu poder, forçou o recuo da garota e, indiferente às pancadas que recebeu, cravou as mãos nos ombros de Ana e tentou lançá-la para trás, bater com a sua cabeça no metal dos painéis. Neblina sentiu que suas costas chocavam no metal e, aflita por livrar-se da situação, jogou os dedos da mão esquerda em lança contra o seio direito de Sybilla, pois não dava para atingir o seu pescoço. A pressão diminuiu uma fração apenas mas Neblina, num assomo de energia, enxergou uma brecha que só duraria uma divisão do segundo: o caminho livre para o nariz da Ninja.
A força da pancada foi tal que a Ninja por um instante ficou separada do solo, girou o corpo e tombou pesadamente de bruços no piso frio da cobertura. Com as mãos apoiando-se no chão, ergueu a parte superior do corpo; e o sangue jorrou de seu nariz. Neblina, parada a alguma distância, observava atentamente. A Ninja, sem deixar de vigiar os movimentos da mascarada, manipulou o nariz, que rangia. Estava quebrado, e a hemorragia era forte.
Neblina, gelidamente, puxou o lenço do bolso e jogou-o na mão da Ninja. Esta segurou o lenço, olhou para Neblina e, sem melhor opção, usou o objeto para apertar o nariz e tentar conter o derramamento. Então, com um olhar cheio de rancor, atirou longe o lenço já vermelho, ergueu-se e atacou mais uma vez.
Desta vez, embora atacasse com fúria, fez algo totalmente inesperado. Ana estava pronta para enfrentá-la, mas Sybilla interrompeu o ataque pulando enviesadamente, passando para trás de Neblina e, quando esta se voltou, a outra tornou a pular, em manobra de envolvimento, agarrou a capa da adversária e firmou os pés no chão. Quando Ana compreendeu a intenção da Nina, era tarde demais. A chefe pirata rodou com o corpo, segurando a capa; desequilibrada, Neblina era agora um fantoche nas mãos da Ninja. Sybilla girou e girou e, quando obteve o impulso que pareceu suficiente, largou a capa e Neblina foi arremessada a distância, contundindo-se seriamente no piso.
A Ninja sorriu, julgando estar com a vitória nas mãos, e voltou à carga. Chamando a si toda a energia que lhe restava Neblina pôs-se de pé, esquivou-se de um “coice coreano” e jogou a mão direita espalmada com tanta rapidez que nem a Ninja pôde escapar. Atingida desta vez de baixo para cima no queixo, a líder dos Bandidos Negros tombou pesadamente de costas. Ainda uma vez ela se levantou e atacou – e Neblina repetiu a dose, com decisão. Sybilla quedou-se outra vez, quase no mesmo lugar; esforçou-se para se recuperar, mas só conseguiu elevar um pouco a cabeça; seus olhos se toldaram e ela deixou pender o rosto no chão frio, sem sentidos.
Ana deu um longo suspiro de alívio, fitou sua inimiga vencida e esfregou lentamente os punhos doloridos.
Neblina, com sua grande bravura e conhecimento de luta corporal, vencera a parada.
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Mas não havia tempo a perder gozando os louros da vitória. Neblina apressou-se a algemar a Ninja e, por compaixão, colocou uma mecha de algodão com líquido coagulante em sua narina esquerda, ainda com forte hemorragia. A idéia de matar a criminosa passou pela mente de Neblina, mas a jovem repeliu-a. A Ninja podia ser uma assassina, mas Neblina não era.
Uma sucessão de imagens tétricas passou pela imaginação visual de Ana.
— Não podemos operar — disse o doutor. — Esta criança morrerá nas próximas horas.
— Mamãe, procure se manter aquecida! Tenho certeza que o governo resolverá o problema... (ou todos nós morreremos de frio).
— Como poderemos comer? Teremos que usar lenha para o fogo!
— Oh, meu Deus, e meus filhos? A comida está estragando!
— Sem energia, não temos como manter o hospital em funcionamento.
— Temos outros cristais, sim, mas a segunda torre energética não pôde ser completada, porque as verbas foram cortadas. Uma instalação de emergência na cúpula demoraria duas semanas para ser viabilizada, e até lá...
Neblina correu para a mesa e pôs mãos à obra. Examinou os estragos, foi até o veículo e retornou com instrumentos adequados. Utilizou também o maçarico da Ninja. Em dez minutos conseguiu remendar eficientemente a instalação, e com um contador energético Pulsar constatou, com alívio e alegria, que a energia voltava a fluir para baixo. Imaginou a reação de todos no mundo subterrâneo. Nova Brasília podia respirar outra vez.
Subitamente Neblina escutou o barulho de algemas que se partiam.
Voltou-se e enxergou a Ninja de pé, com os pulsos ensangüentados, mas livres.
Ainda por cima aquelas algemas eram feitas com material vagabundo.
Neblina pulou da mesa, onde terminava de examinar os aparelhos, e correu na direção de Sybilla. Esta, porém, não mostrou disposição de voltar a enfrentá-la; escapou-se, atravessando o vidro.
Neblina foi na carreira atrás dela, transpôs a vidraça auto-regenerativa e perseguiu a outra pela varanda. A fugitiva, porém, já não podia ser alcançada a tempo: conseguiu entrar em sua aeronave e colocou-a em funcionamento para uma rápida decolagem. Pressentindo o perigo Neblina correu a toda para o seu próprio veículo, uns trinta metros além em linha curva. As pernas de maratonista de Neblina ajudaram muito: não havia tempo a perder, pois se a Ninja conseguisse manobrar seria capaz de esmagá-la com o panquecóptero... ou alvejá-la com alguma arma.
Quando Ana, finalmente, viu-se dentro do besourinho, avistou imediatamente o avião de Sybilla, que vinha na sua direção. Neblina acionou um botão e um estranho arco-íris desenhou-se na fuselagem do aparelho. Neblina sorriu e levantou vôo. Como se adivinhasse o perigo, a Ninja desistiu de qualquer tipo de ataque e pôs-se em fuga. Neblina, com a obstinação de um cão policial, voou à sua caça. Os dois pequenos aparelhos sobrevoaram a torre e seguiram pelos ares repletos de insetos que se haviam adaptado a um mundo exposto à radiação solar. A caçada aérea prosseguia. Neblina não sabia para onde a Ninja pretendia fugir, mas desconfiava que ela poderia dispor de refúgios seguros a distância relativamente pequena. Talvez nas Guianas. Ou nas bases superficiais de piratas que se sabia existirem nas regiões do Maranhão e do Piauí (não existia Brasil subterrâneo por aquelas bandas, do mesmo jeito que os norte-americanos não ocupavam, por baixo da terra, sequer um por cento da antiga área de seu país). Neblina estava bastante preocupada com a fuga da assassina e, procurando aproveitar ao máximo as correntes atmosféricas, buscou ganhar terreno. Aos poucos o seu veículo, que possuía mais recursos, foi encurtando a distância. Neblina pensou seriamente se não deveria derrubar o panquecóptero, livrando o mundo daquele monstro. Se forçasse o aparelho a descer provavelmente teria de recomeçar a luta, com resultados duvidosos. Estava concentrada na perseguição e na análise da situação quando avistou uma enorme formação branca no horizonte.
Uma imensa nuvem “condessa de vento” aproximava-se a olhos vistos. Poucos segundos depois o panquecóptero negro mergulhou naquela massa informe e sumiu definitivamente das vistas da mascarada.
— Oh, não! — deixou Neblina escapar, decepcionada.
Sem outra opção, manobrou para descer... para retornar ao mundo subterrâneo.
(O triunfo de Neblina só não foi completo porque a Ninja, desistindo de prosseguir a luta com o nariz quebrado e em hemorragia, decidiu fugir, sem a quadrilha e sem os cristais. Neblina não conseguiu alcançá-la e agora só lhe resta juntar-se à polícia lá embaixo para acabar de vez com a resistência dos Bandidos Negros encurralados no térreo. Mas seu pensamento já voa para o dia em que, localizado o paradeiro da Ninja, ela vá atrás dela para terminar o que começou. Para Neblina, só se pode oferecer à Ninja duas opções: morte ou prisão perpétua.
Vejam brevemente o encerramento desta novela com o EPÍLOGO: CONSAGRAÇÃO)
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