Neblina e a Ninja capítulo 14: A Ninja em ação
CAPÍTULO 14
A NINJA EM AÇÃO
(Inesperadamente o pior aconteceu: as instalações térreas da Torre Energética, contra todas as previsões da Polícia, foram expugnadas pela quadrilha dos Bandidos Negros, e agora os cristais de energia do alto da Torre correm perigo. Está em curso verdadeira operação de guerra no centro de Nova Brasília e Neblina está lá, junto com "Z", vendo o que pode ser feito. Mas, onde está a Ninja?)
Havia um vasto espaço aberto em torno da torre e seu círculo de proteção. Naquele momento era uma praça de guerra, com a polícia em peso e o Corpo de Voluntários sustentando um cerco em regra. Disparos e mais disparos de geléia paralisante eram arrojados sobre as brechas abertas na muralha de proteção. Arrebentada, simplesmente, por armas paramilitares.
Neblina aproximou-se de Madeira, que discutia detalhes logísticos com Fagundes e Adolfo, e tocou-lhe o braço:
- Inspetor, inspetor...
Madeira cumprimentou-a mecanicamente e os outros, por demais excitados, nem isso fizeram.
- Inspetor, como estamos de baixas?
- Dizimaram a guarnição da Guarda Nacional que se encontrava lá dentro. Os cães também. Agora eles estão entrincheirados na base da torre, mas não podem subir para alcançar os cristais.
- E por que não?
- Porque a turma que está lá em cima desativou o elevador e bloqueou a escada com o fecho eletromagnético. Eles não têm como subir.
Adolfo, achando certamente que não se devia perder tempo dando informações a Neblina, começou a dizer, impaciente: “Escute...”, mas parou ao enxergar “Z”, que se postou ao lado da vigilante.
“Z” e Adolfo se entreolharam. Os dois homens se detestavam, mas aquela hora era de união:
- Secretário Adolfo, acabei de saber que o Dr. Quentin Stocker foi assassinado.
- Jogaram o seu corpo para fora, sim. Já contamos quinze baixas entre os nossos.
Neblina observou: — Meu Deus, vocês estão pensando que vencem essa parada disparando geleia?
Mas o tumulto era grande e ninguém quis ouvi-la desta vez. Lá de dentro os Bandidos Negros respondiam ao fogo com armas pesadas, inclusive lança-granadas. A praça estava repleta de barricadas. Neblina e os demais estavam longe da frente de combate, mas podiam constatar as muitas baixas já ocorridas.
Neblina sentiu que alguém tocava o seu ombro.
— Robson!
— Então, querida? Que acha desse busílis?
— Diga... quem está lá em cima?
— O João, o Quintino e o Galvino.
— João?
— O Barracuda.
— E como é que o seu tio pretende desalojar esses monstros?
— Em último caso, pela fome.
Neblina ia responder, mas a voz de Madeira fez-se ouvir: “Robson, venha cá!”
“Z” tocou o braço de Ana.
— Não há muito que possamos fazer. Eles jamais conseguirão subir e terminarão ficando sem munição. Afinal de contas, estão cercados.
— Não precisarão subir pela torre, Z. Olhe lá para cima.
— O que?
A imensa cúpula era transparente, como o mais puro cristal, naquele trecho central da cidade, de onde se podia avistar o ar livre. Além do vidro atravessado pela imensa torre, um veículo voador se aproximava rapidamente do passeio externo da cobertura. Um veículo em forma de panqueca, escuro e sinistro.
Isabela enganchou seu braço no de Neblina, e falou como num transe de horror:
— Neblina... isto não pode ser verdade...
— Você acha que Tomasino liberou veículos aéreos?
— Certamente que não! Aquilo só pode ser... só pode...
— A Ninja, Isabela. Sejamos realistas.
“Z” afastou-se em busca do governante provisório, Adib Tomasino, cuja presença no local estava sendo reclamada. Binóculos foram assestados para cima, para ver o que fosse possível.
Logo um drama se desenrolava nas alturas.
O panquecóptero pousou no passeio externo da cobertura. Dele emergiu a impressionante figura da Ninja, com seu 1,82 m e seu uniforme de Bandida Negra. Com impressionante sangue frio Sybilla jogou-se sobre o vidro de obturação automática da cobertura, atravessando-o; quase imediatamente a vidraça cicatrizou atrás dela. Três homens espantados voltaram-se dos painéis, onde acompanhavam o desenrolar dos acontecimentos. Aparentemente ninguém se lembrara, naqueles últimos segundos, de avisá-los da iminente abordagem.
Todos porém estavam armados e a Ninja não ostentava arma alguma.
Largando um frequencímetro, Barracuda encarou Sybilla:
— Então você é a famosa Ninja? Veio aqui se entregar?
— Essa palavra não existe no meu vocabulário, gorila.
— Exista ou não exista você está presa, filha da mãe!
Com o rosto cenhoso, a Ninja respondeu em tom cheio de desprezo:
— Você é um homem grande, Barracuda. Conheço a sua fama. É maior e mais forte do que eu. Precisará de armas e de seus dois companheiros?
Sybilla aproximou-se. Quintino e Galvino entreolharam-se e procuraram ponderar:
— João, não há necessidade...
— Acho melhor algemá-la logo...
— Que ninguém se meta! — Barracuda foi incisivo. — Então você briga com homem, não é mesmo, piranha? Isso eu quero ver. Venha!
Sybilla aproximou-se mais e deu um pulo ágil sobre Barracuda, tentando fechar as mãos em seu pescoço. Barracuda agarrou-lhe os braços e, virando-se, contornou a mesa dos cristais, em frente aos painéis de controle, mantendo a Ninja suspensa no ar; esta tentou erguer os pés numa tesoura, mas o tira antecipou-se a esse movimento e jogou-a longe, como se fosse um embrulho. A Ninja bateu no armário de madeira e se estatelou no chão.
Parecendo amedrontada ela se arrastou rapidamente até o elevador interditado e sentou-se no chão, ofegando. Barracuda aproximou-se e encarou-a:
— Viu o que é enfrentar um homem de verdade, perua?
Sybilla fez uma careta de raiva. Fuzilando áscua ela deu um súbito e inesperado pulo, sem precisar se levantar. Desta vez porém com os pés para a frente e com uma velocidade extraordinária. Seus pés atingiram o peito de Barracuda, que foi projetado no ar e bateu no corrimão da escada, onde se agarrou para não cair. Ao tentar se equilibrar a Ninja atacou de novo e da mesma maneira. Barracuda foi novamente jogado no ar, arrebentou o vidro perimetral e projetou-se no abismo...
Os outros dois policiais, que se haviam conservado lado a lado, horrorizados com aquela cena tentaram sacar suas armas. Era tarde porém: já a Ninja saltara sobre ambos, enlaçando seus pescoços e jogando-os ao chão...
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Tomasino dirigiu-se ao Ministro da Justiça, Hélio Lane:
— Onde estão nossos veículo aéreos?
— Todos os quatro estão em Nova São Paulo, e desmontados.
— Isso quer dizer...
— Sim, senhor. O Darcy tinha muito medo de traições...
— Como essa mulher pode ter conseguido...
— Senhor, deveríamos ter foguetes apontados para cima. Só que o Darcy não quis. Achava que eles poderiam atingir a torre...
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Sonia e Isabela estavam perto de Neblina quando o corpo de Barracuda foi visto atravessar o vidro panorâmico do alto da torre, esborrachando-se numa platibanda oitenta metros abaixo. A pouca distância Madeira, Adolfo e “Z” observaram a mesma coisa.
MADEIRA - Barracuda!
ADOLFO – Céus, é ele mesmo. Meu Deus!
Cordeiro agarrou o braço de Madeira:
— Essa mulher tem que morrer!
— Espere! Vejam!
Novas exclamações se ouviram quando dois outros corpos, em rápida sucessão, atravessaram o vidro, arremessados com força descomunal. O vidro logo se auto-obturou, impassível, e mais dois homens caíram para a morte.
O Inspetor Fagundes tirou o cachimbo da boca e observou:
— Isso não é uma mulher! É um demônio!
Como se percebessem a hesitação das forças legais os Bandidos Negros lançaram um ataque a noroeste, pegando os comandos de surpresa. O raide produziu várias baixas fatais entre os policiais. Informado da gravidade da situação, Madeira comentou mortalmente angustiado:
— Se ela remover os cristais, Nova Brasília ficará sem energia em duas horas. O tempo necessário para que se esgotem as baterias de emergência. A temperatura cairá, crianças, doentes e velhos vão morrer. E aí? O que acontecerá?
Deu um soco na palma da mão e acrescentou;
— E o pior é que nesse momento não há NINGUÉM que possa impedir essa mulher de alcançar o seu desígnio!
A alguma distância desta cena, Neblina, que se afastara disfarçadamente das outras pessoas, fitou parada a Torre Energética. O que poderia estar ocorrendo agora no seu interior? Uma só coisa, é claro. A Ninja estaria desaparafusando toda a estrutura metálica que segurava a caixa dos cristais, operação necessariamente demorada. Se naquele momento fosse possível observar Ana sem a máscara, flagrar-se-ia uma expressão de total determinação. Ela sabia que a sua hora decisiva havia chegado.
Discretamente Neblina acionou um botão em seu relógio de pulso.
Pôs-se a prestar atenção num bip quase inaudível. Só ela o escutava.
(A situação converge agora para o seu clímax. Com as autoridades constituídas do Brasil postas em cheque pela ação do bando da Ninja, a capital Nova Brasília corre o risco de ser inteiramente dominada pela chefe da quadrilha. O que fatalmente acontecerá se ela detiver a posse dos cristais energéticos. O inevitável confronto direto entre Neblina e a Ninja... está iminente.
No próximo episódio: AO ENCONTRO DA NINJA)
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