Primeiro e unico.
Capitulo um.
Quando nascemos recebemos uma palmada do doutor, para chorarmos e mostrar que estamos vivos. Isso é algo cientifico, significa que quando há dor existe vida, ou seja, se estamos com dor é por que nossa vida continua pulsando em nosso peito. O que é estranho por que neste exato momento estou com tanta dor que não quero viver, é a pior dor de todas. Dor de amor ou síndrome do coração partido. Mas para que vocês entendam precisamos voltar no tempo para o ano de 2009. O ano em que percebi quem ou o que eu sou.
Eu tinha apenas dezesseis anos quando a vi pela primeira vez, correndo em frente a minha casa. Na época eu estava perturbada com tantas coisas. Eu quando criança era estranha, não gostava de brincar com bonecas, e odiava vestido e nem gostava de ouvir a palavra maquiagem, eu tinha pavor. Meus gostos sempre diferiram dos gostos das meninas normais, eu detestava rosa, em minha opinião ser menina não estava ligada a usar uma determinada cor, eu sempre gostei do colorido. Quando fiz dezesseis anos fui chamada para entrar no time de futsal da cidade, meu melhor momento em toda a minha vida, pois conheci pessoas maravilhosas, mas depois do meu primeiro treino descobri algo terrível para mim na época. Eu estava sentindo atração por uma garota do time e isso nunca tinha acontecido. Eu já tinha ouvido sobre isso na igreja, era pecado e era algo sujo e uma passagem direta para o inferno. Eu não contei para ninguém, mas naquela noite eu não consegui dormir, e no próximo treino eu não apareci. Eu estava assustada com aquilo, então a capita do time teve que ir a minha casa saber o que havia de errado comigo.
— Bianca, tem uma amiga sua aqui fora. — disse minha mãe, ela estava de saída para o trabalho.
— Mande a entrar, eu estou me vestindo.
Ela entrou em silêncio e deitou se na minha cama, eu estava no banheiro quando entrei no quarto dei de cara com ela, e meu coração acelerou o suficiente para eu perder o ar.
— Você esta bem?-disse ela assustada, ela era um pouco mais alta que eu e tinha cabelos cacheados ruivos, sua pele era branca e seus olhos verdes, usava um aparelho nos dentes. Ela tinha cara de brava.
— Estou bem.
— E por que você não está indo aos treinos?
— Muito dever de casa para fazer, estou sem tempo.
— Você esta mentindo.
— Como assim?
— Você é uma nerd, não deixaria o dever atrasar.
Ela estava certa, eu odiava deixar atividade acumular, então decidi contar um pouco da verdade, que eu estava sentindo coisas estranhas por uma companheira de time e não achava isso bom, por que o pastor disse ser errado e que eu iria para o inferno? Ela deu risada e me disse o seguinte.
— Esse pastor é louco, sentir isso não é ruim não, só é pesado para carregar. Nascemos com certo gênero sexual que chamamos de feminino e masculino. E isso não muda nunca, esse sentimento que você esta sentindo pode ser coisa de momento ou não, o mundo vai te condenar por sentir isso. Mas deus não fará isso não, desde que você seja uma boa pessoa, ele vai te amar do jeito que você é, e não pelo que você tem ou faz da sua vida.
— Mas isso é errado e vai contra a natureza, não é certo e eu não quero sentir isso.
Ela me olhou e riu novamente, parecia que eu estava contando uma piada, eu me aborreci e a empurrei da cama para o chão.
— Você rir de tudo, eu estou falando sobre a minha vida!
— Calma, as coisas não são assim, Bianca. Você não pode decidir se é gay ou não. Infelizmente não temos escolha. Somos o que somos e ponto final, aliás não é tão ruim assim ser gay ou lésbica. Somos guerreiros e lutamos todos os dias para termos uma vida normal ou pelo menos parecida com uma.
De tudo que ela disse, eu só pude ouvir o ‘nos’, então ela também era como eu.
— Você também gosta de meninas?
— Sim, gosto de meninas, tem algo contra?
— Não, eu não tenho, mas isso é errado.
Ela respirou profundamente e me puxou para perto dela, e me deu meu primeiro beijo. E eu sem nem saber como, correspondi com o mesmo beijo de volta. Ela parou e me olhou nos olhos e foi logo dizendo.
— pronto agora você beijou uma mulher, acabou de assinar sua passagem para o inferno.
— Não existe isso de passagem, sua louca.
— Não existe inferno pior do que ser uma coisa e querer ser outra Bianca, você é lésbica e isso não tem cura nem escolha. Você simplesmente nasceu assim.
Essas palavras ficaram na minha mente, eu fiquei pensando nas coisas que podiam me atrapalhar no decorrer da minha vida por ser assim. Primeiro eu não poderia ter filhos, ou seja, minha mãe não teria netos. Segundo, minha mãe iria me aceitar? Ou ela simplesmente iria me ignorar como sempre. Eram muitas dúvidas e entre esses meus pensamentos estava aquele beijo e a sensação de prazer e desejo que tive naquele momento.
Então decidi deixar as coisas acontecerem conforme o destino comandasse, eu iria aceitar, eu fui para a escola na segunda-feira. A escola era o meu refúgio, lá eu tinha amigos e meu cargo de melhor aluna. Faltava um ano para chegar ao ensino médio e eu não via a hora de chegar lá, naquela manhã eu tinha três aulas e eu nem sabia, mas meu dia não ia ser fácil.
— Ei, bia preciso falar uma coisa com você.
— Não pode esperar?
— Não mesmo, vem logo.