Neblina e a Ninja capítulo 13: Assalto à Torre

 

CAPÍTULO 13

 

 

ASSALTO À TORRE

 

(No capítulo anterior Neblina completou a inspeção da Torre Energética, da qual depende a vida na cidade subterrânea de Nova Brasília, num mundo futuro onde a vida à superfície da Terra ficou impossível. Neblina detectou várias falhas na segurança da torre. Infelizmente, seus piores receios se concretizam em seguida...)

 

 

Passaram-se alguns dias. Estar-se-ia na primavera — se de fato subsistissem estações verdadeiras abaixo da superfície. Na verdade nem a natureza era mais “natural”: misturavam-se saamonas, óleos, tulipeiros, baobás e masdeválias em bosques e jardins estranhíssimos. Os tempos heroicos da fuga para o interior da Terra tinham sido necessariamente confusos...

Como quer que seja, aliviada pelo regulador térmico de seu uniforme (aparentemente muito quente) Neblina, passeando pelo centro de Nova Brasília, entrou na Igreja de São Carlos Borromeu para rezar e meditar um pouco. O templo, de estilo nivaldiano, estava quase deserto e na penumbra. Neblina caminhou pelo corredor da nave central, sentindo, naquele momento, todo o seu isolamento do resto da humanidade. Algo que ela não queria levar em consideração. Tinha uma missão a cumprir, missão quase incompatível com uma vida social...

Diante do sacrário meditou sobre a luta de São Carlos Borromeu, Arcebispo de Milão, contra a peste que dizimou a população de sua diocese nos idos de 1576. Ela, Neblina, não se julgava comparável a Carlos Borromeu, mas sabia estar enfrentando outra espécie de peste...

Curiosamente a quadrilha parecia contida. Algumas tentativas de rastreamento extra-muros resultaram na constatação de que, agora, os Bandidos Negros habitavam em acampamentos móveis e não paravam de correr, como Cavalo Louco na última perseguição que lhe movera o exército norte-americano. Poderiam estar prestes a deixar as imediações de Nova Brasília, dispersando-se pelo resto do país? Ou seria aquela a bonança que antecede a pior parte da tempestade?

Ao se retirar do templo não percebeu os comentários de duas mulheres que, de um dos bancos, a observavam:

— Devia ser proibido uma mulher entrar assim na igreja...

— Vestida desse jeito. Se ela se mascara é porque tem algo a esconder, não acha?

— E isso de querer agir como se fosse homem, fazer o trabalho da polícia...

— Para mim ela precisava é de uma boa sova... o mundo está mesmo virado. Deixarem essa tipa entrar em qualquer lugar... fazer o que quiser...

— Ela é muito perigosa. Alguém devia cortar as asas dela.

Neblina não desconfiava dos comentários das zelotes mas não lhes teria dado importância. Ao sair na escadaria (que tinha ao lado uma escada rolante própria para idosos e deficientes) observou bem os arredores. Não custava nada ser prudente, ainda que sua capa energética lhe conferisse quase o poder da invulnerabilidade.

Súbito de uma esquina surgiu um Pontual escuro e precedido de dois batedores. Um carro que Neblina conhecia. Poderia ser uma armadilha, porém a mascarada tinha um meio de verificar. Tocou um botão de seu relógio de pulso:

— É você?

— Claro que sou eu. Não pareço nem um pouco com a Ninja. Você me verá!

O carro parou na base da escadaria e por um breve instante o rosto encapuzado de “Z” apareceu pela porta entreaberta:

— Precisamos de você! Venha!

Neblina cumprimentou os batedores, a quem conhecia, e entrou no carro blindado de seu amigo.

— Que aconteceu?

— Os Bandidos Negros acabam de tomar de assalto a Torre Energética.

— O que?

— Isso mesmo.

— Ou você está brincando comigo, ou então...

— Eu nunca brinco, Ana.

— Sei disso. Mas como...

— Mas há outra coisa. O repórter Alcântara Buzardo — lembra dele? — foi preso pelo Inspetor Madeira.

— Então surgiram provas...

— Gravíssimas. Madeira e Adolfo fizeram um bom trabalho dessa vez. Acho que até o Adolfo já está mudando em relação a você. De qualquer forma o Madeira fez uma investigação secreta e pôs as mãos em documentos — inclusive cheques de fantasmas — que provam o envolvimento de Buzardo com Sonia Camarinha e Nicolau Bizâncio. Foi provada uma ligação com esse último em negócios na França, aparentemente antes que o Nicolau entrasse para a quadrilha da Ninja.

— Está bem, me conta o resto depois. Eu quero saber o que está havendo na torre...

Estavam ambos no banco de trás, e uma mulher de meia-idade dirigia o veículo. “Z”, porém, ainda tinha outro detalhe a revelar:

— Só mais uma coisa: aquele lutador, Búfalo Pardo, também foi preso.

— Do tal desafio que o Buzardo fez?

— Exato. Aquilo não foi mera coincidência. Eu disse ao Madeira e ao Adolfo que investigassem esse cara também!

— Está aí uma coisa que eu negligenciei. Mas e a torre, Z? E a torre?

— Chegaremos logo lá. Vânia, vá depressa mas com cuidado. Não podemos ter problemas!

— Claro, Z. Não se preocupe.

Neblina impacientou-se: — Eu sei que chegaremos logo, Z. Mas como foi isso?

— Um ataque sincronizado, pelos subterrâneos e pelo nível do chão; utilizaram dois caminhões com guindastes blindados e uma grande quantidade de bombas anestésicas. Foi um ataque maciço, uma operação de guerra. Incrível mesmo. Mas ainda não sei mais detalhes...

— Muitos mortos entre os nossos?

— Ah, sem dúvida.

Neblina cerrou os punhos. Alguns defeitos tinham prejudicado nos últimos dias sua monitoração térmica; do contrário provavelmente ela poderia ter previsto alguma coisa.

— Z... por que não cuidaram dos subterrâneos? O caso da tv...

— A negligência, a arrogância e a incompetência fazem parte do nosso organismo policial. Além disso esse Adolfo é uma besta cúbica.

 

(A situação em Nova Brasília chegou a um estado crítico onde o crime organizado está prestes a assumir as rédeas da situação. O Estado passará a ser o marginal, ou será possível deter a quadrilha da Ninja? E que fará Neblina para conter a sua mortal inimiga? Não perca o próximo episódio: "A Ninja em ação")

 

 

 

Miguel Carqueija
Enviado por Miguel Carqueija em 04/09/2023
Reeditado em 04/09/2023
Código do texto: T7877363
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