A Saga de Godofredo Parte II – O Retorno

20.08.23

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Godofredo continuava nas reminiscências da sua vida, passando por todas as lembranças na memória de seu cérebro, até chegar ao fatídico acidente que o deixou em coma. Reavivou a cena. A massa escura de neurônios em que se transformou iluminou-se fortemente. Viu todo ele em câmera lenta.

Saiu cedo de casa com sua motocicleta naquele domingo ensolarado e quente, sem capacete, para ir até a padaria duas quadras distante. Seguiu tranquilo até o cruzamento com rua de tráfego um pouco mais intenso e de mão única. Foi mantendo a velocidade, cerca de 30 quilômetros por hora, e sem parar, atravessou-a olhando somente para o lado do fluxo de veículos. Subitamente, do lado contrário, veio um carro em alta velocidade, colidindo violentamente com a lateral da sua moto arremessando-o longe. Ele bateu com a cabeça na guia, desacordando. Sua memória ficou escura, totalmente negra. Na cena viu a placa do carro: YJ 2318. Não viu a marca.

Na escuridão do seu cérebro percebeu que em um dos tramo de neurônios, uma intensa luz se acendia e apagava intermitente. Seguiu curioso até lá através das vias neuronais como um impulso elétrico.

Era a imagem congelada da volta de Girard com os prisioneiros pelas ruas de Linthelles. O momento em que ele apagou e sumiu.

-Tenho que voltar para lá e ajudar meus antepassados franceses – pensou.

Mergulhou na imagem, que se manteve quase estática, com os movimentos muito lentos, quase imperceptíveis dos cavalos, de Girard e dos prisioneiros.

Ele começou a se transformar novamente em humano, reintegrando-se os milhões, ou bilhões de partículas em que se desintegrou. Voltou à cena daquela época. Cons. também retornou com ele.

Guillaume olhou para Godofredo espantado, perguntando-lhe:

-Aconteceu alguma coisa Geoffrey? Está pálido e estático como uma estátua faz algum tempo. Tentei falar com você, mas não me respondeu.

-Não! Não aconteceu nada, só pensando em como despistarmos Girard para irmos nos reunir com a sua família. E tem o comandante Milet que deve estar sabendo das nossas ações, não é Cons.?

Cons. com sua silhueta rotunda, barriga e glúteos salientes em sua roupa justa de “sans-culottes”, óculos metálicos de aros redondos, cara de fuinha, olhos pequenos e fundos, respondeu com sua voz fina e estridente, quase feminina:

-Sim, ele sabe que iremos encontrá-los. Aguarda a nossa partida.

-Vamos ver com Girard o que aconteceu e interrogar os prisioneiros – concluiu Godofredo.

Girard chegou com os Hussardos de Milet presos, descendo do cavalo e apresentando-se a Geoffrey:

-Viva a Revolução! Aqui estão os soldados leais ao rei e que dizem ser Hussardos comandados por um tal Milet, a mando de Lafayette para nos capturar.

-Viva capitão Girard! Felicitações pela prisão. Vamos interrogar os prisioneiros para saber quem são e quais suas intenções – respondeu Geoffrey.

-Comandante Geoffrey, temos prisioneiros feridos, alguns com certa gravidade, perdendo muito sangue – completou Girard.

-Separe os com risco de morte para serem tratados. Há entre eles algum oficial responsável?

-Sim, este cabo ferido senhor – apontando para Plutot.

-Cuide dele e só o interrogaremos. Trate os demais e os prendam nas celas.

Geoffrey pediu para Cons. ir invisível até o local em que estava Milet, saber o que pretendia o comandante Hussardo, pois deve ter chegado a ele a notícia da prisão de Plutot e seus comandados.

Leonard, espião de Milet, viu a chegada de Girard com seus colegas Hussardos à Linthelles, reportando-se ao chefe sobre a prisão.

-Estão presos. Isso é ruim para nós. Estamos em menor efetivo e não podemos nos arriscar a um ataque surpresa. Precisaremos de reforços. Soldado Vincent, venha aqui – ordenou Milet.

Cons. instantaneamente voltou para informar Godoffredo do pedido de reforços a Lafayette .

Guillaume disse então aos dois:

-E minha família? Eles partiriam ontem à noite, não? Será que estão bem?

-Sim precisamos ver qual a situação deles. Cons. veja em qual localidade acamparam. Depois volte para interrompermos a ida de alguém pedir ajuda a Lafayette – pediu Godofredo.

Jean Pierre, “Le Sabujo” como era conhecido na tropa de Milet, acompanhou naquela noite a viagem da família Montford até a mata próxima à Saint – Dizier. Acamparam em um bosque de coníferas à beira do rio Marne. Estavam preocupados, sem notícias de Guillaume e Godofredo. Cons. sumira.

-Será que aconteceu alguma coisa com eles? –Juliette perguntou ao pai preocupada.

Então Cons. apareceu subitamente, acalmando-os.

-Algum problema? – perguntou o Barão a Cons.

-Não, está tudo sob controle. Há um espião aqui seguindo vocês – falou baixo ao ouvido do Barão a ultima frase. Este arregalou os olhos.

-Descansem para seguirmos viagem ao escurecer – completou Cons. caminhando pela floresta até se tornar invisível novamente e ir encontrar Jean Pierre.

“Le Sabujo” descansava sobre os arreios do seu cavalo pastando amarrado a uma árvore do bosque. Cons. invisível chegou e viu o cabo dormindo a sono solto. Foi até o animal levando-o com cuidado a um local em que pudesse montá-lo. Cavalgou cerca de cinco quilômetros até uma mata e amarrou o cavalo em uma cerca de uma propriedade próxima, deixando-o escondido e com condições de pastar. Depois, instantaneamente voltou a Godofredo informando os acontecimentos.

-Ótimo, estão em Saint-Dizier! Agora siga o soldado de Milet e o impeça de chegar a Lafayette. Não pode em hipótese alguma se encontrar com o General, entendido!

-Sim! E quanto a Milet, ele vai estar só com três soldados, poderíamos prendê-los não? – sugeriu Cons.

-Sim, é o que faremos. Boa sorte – respondeu Godofredo!

Nota do Autor:

Obra ficcional, qualquer semelhança é mera coincidência.

Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 20/08/2023
Reeditado em 20/08/2023
Código do texto: T7866178
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