A ampulheta quebrada, capítulo 3: A Irmandade da Sombra Persistente
CAPÍTULO 3
A IRMANDADE DA SOMBRA PERSISTENTE
Estavam as coisas nesse ponto quando um funcionário da casa apareceu na entrada do aposento e se dirigiu à detetive Elisberta, que se achava mais próxima da porta, e lhe sussurrou qualquer coisa. Lotar e Orpanto perceberam a distância que ela indagou: “Tem certeza que é mesmo...” e o sujeito respondeu: “Absoluta, ele tem o holograma flutuante”.
— Complicações — observou Lotar discretamente para seu colega. O detetive-inspetor Ardósio, informado do que se passava, saiu rapidamente da biblioteca.
— Vamos lá? – indagou Orpanto.
— Para que, meu amigo? Não precisamos nos mostrar sôfregos. Aguardemos aqui mesmo.
— Mas a visita...
— Certamente, um membro da Irmandade da Sombra Persistente, e boa coisa não veio fazer aqui. Mais uma razão para não nos precipitarmos. Com essa gente todo cuidado é pouco.
Ariel passou a mão em sua orelha esquerda e observou:
— Precisamos elucidar esse caso. Essa irmandade tem fama de ser vingativa. Eu aconselho a irmos atrás, eu pelo menos irei.
Lotar concordou relutantemente.
Os três personagens saíram para o corredor de lambris envernizados e azulejos nas paredes e apressaram o passo acompanhando Elisberta e Ardósio, até o grande salão de recepção, onde um personagem austero e majestoso, alto, magro e cavanhacudo, desprezando sofás e poltronas de luxo andava de um lado para o outro, as mãos nas costas. Ao ver chegarem duas pessoas e mais três, foi logo dizendo:
— Não precisava uma comitiva. Detetive-inspetor Ardósio, já nos conhecemos. Sou Lux Everanto, Grão Mestre da Venerável Irmandade da Sombra Persistente.
— Sim, Mestre Lux. Já nos conhecemos há tempos — e pelo modo como falou o policial não parecia sentir nenhum prazer em reconhecer a veracidade daquele conhecimento. Embaraçado, apresentou os demais.
— A elfa eu já conheço — e ao pronunciar o termo “elfa” o venerável grão mestre mal escondeu o tom de desprezo. De fato, muitos humanos ligados a sociedades mágicas detestavam os elfos.
— Sim — confirmou Ariel. — Já vi o senhor em companhia do Sr. Ártemis Olovino.
— Nosso Grão-mestre decano, vocês sabem. Eu serei rápido. Já sabem quem perpetrou esse crime?
— A polícia está recolhendo todos os indícios existentes — respondeu o inspetor, pouco à vontade.
— Isso não é o bastante, inspetor. A Irmandade quer que uma solução seja apresentada o quanto antes. Quem fez esta barbaridade terá de pagar e caro.
— As leis aqui são severas quanto a assassinatos, mestre.
Lux fechou o punho esquerdo.
— Quero saber também o que está por trás disso. Por que o matariam? Não acredito que tenha sido uma pessoa só.
Disse isso e olhou para a elfa, como se a visse pela primeira vez.
— Você também se chama Lux, não é mesmo?
— É o meu sobrenome — Ariel, ao responder, estava ainda menos à vontade que o policial.
O sujeito olhou firme para Ariel, como se portar um nome igual ao dele fosse algo como um crime hediondo, ainda mais vindo de uma elfa. Mas Ariel sustentou o olhar e o homem acabou se voltando para o inspetor.
— O que vocês descobriram até agora?
— Bem, na verdade...
— Descobrimos que a espada de Ártemis Olivino foi roubada e puseram uma falsa em seu lugar — interveio Elisberta, e isso não agradou muito a seu superior.
Foi quando Lotar resolveu opinar:
— Se me permitem, isso praticamente explica o móvel do crime. O objetivo deve ter sido pegarem a arma mágica.
Luz fuzilou o olhar sobre o detetive aposentado, mas na verdade concordava com ele.
— Convocarei os membros da Irmandade. Saberemos reconhecer essa espada e o ladrão e assassino, assim o creio, logo será identificado. Mesmo que seja alguém que estivesse na festa — disse escandindo as palavras e olhando para a elfa. — A Irmandade, quando ofendida, é implacável! Bem, avisarei a família e os membros... Inspetor Ardósio, comunique ao nosso escritório qualquer novidade importante no caso!
— Com certeza, senhor...
— E quanto ao senhor, Lotar, não é mesmo? Conheço a sua fama. Todavia, não atrapalhe as investigações com intervenções vaidosas. Todavia, ficaremos gratos se a sua participação no caso se revelar útil. Passem bem, senhores.
Retirou-se pisando duramente. Lotar, Ariel e Orpanto se entreolharam e o último murmurou:
— Energúmeno...
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