Neblina e a Ninja, capítulo 2 - Rainha do terror

CAPÍTULO 2

 

 

RAINHA DO TERROR

 

 

No dia seguinte os jornais estampavam em manchetes o brutal assassínio do embaixador da Romênia porém Madeira, com o apoio do Secretário de Segurança, boicotara a informação sobre os Bandidos Negros e a ameaça da Ninja. Canais secretos de comunicação estavam sendo utilizados para obter das autoridades romenas o máximo de informes sobre o assunto.

Na sala do Secretário Adolfo, Neblina não escondia a sua irritação.

— Vocês não podem escamotear a verdade ao povo. Estão todos sob ameaça e nem sabem disso. E têm o direito de saber.

Adolfo disse: — Isso é indeferível. Além disso você está exorbitando, menina. A autorização que você tem é para colaborar com as investigações. Você não é a dona do caso e não manda na polícia, é apenas uma assessora.

— Está bem. Eu sei que não mando. Estou apenas dando a minha opinião, e isso é um direito meu. Aponte-me apenas, secretário, a razão para não revelar a verdade ao povo.

— Não criar pânico. É óbvio.

Neblina não desistiu de ser assertora da sua opinião:

— Pânico haverá mais ainda se uma onda de crimes varrer Nova Brasília sem que a população tenha idéia do que está acontecendo.

Adolfo deu um soco na mesa. De pé à sua frente, Neblina permaneceu impassível.

— Não haverá onda de crimes! — o secretário rugiu as palavras. — A polícia está toda de sobreaviso!

— Além disso, Senhor Secretário, o próprio Corpo de Bombeiros está mobilizado — lembrou Madeira.

— E além disso eu pergunto: quem afinal é essa Ninja que tanto pânico pode causar? É tão poderosa assim?

Neblina foi taxativa:

— Eu já tentei explicar. Sybilla é uma mulher perigosíssima, perita em artes ninja, que aprendeu no Oriente, formou a sua quadrilha com a pior escória que é possível imaginar. Foi necessária uma operação militar em larga escala para desalojá-los da Romênia e simplesmente escolheram o Brasil para seu reduto. Vocês sabem que as quadrilhas de piratas querem antes de mais nada os cristais de energia. E nós não temos a Torre Complementar, porque a prefeitura alega...

— Essa questão política não deve ser levantada. De qualquer forma a Torre Energética está em segurança. E eu não creio que ninja nenhuma...

O visofone tocou. Acendeu-se a luz vermelha: chamada preferencial.

Adolfo apertou um botão de sua escrivaninha. Apareceu o rosto (?) de “Z”, do Ministério da Justiça.

— Secretário! — balbuciou Adolfo. Ninguém sabia exatamente quem era “Z”. Ele só aparecia na penumbra e com o rosto oculto por chapelão e gola erguida.

— Neblina está aí? Secretário Adolfo, Inspetor Madeira, Inspetor Fagundes, prazer em vê-los! Vocês já têm alguma pista da Ninja?

— Por enquanto não, senhor. Estamos tentando... — começou a explicar o Inspetor Fagundes.

“Z” cortou a explicação com um gesto.

— Esqueça. Ela acaba de atacar.

Madeira sobressaltou-se: — Como? Ela atacou onde?

— Na Habitópolis B, com vítima fatal. Uma fita do que aconteceu há 45 minutos já me foi enviada. Eu a exibirei para vocês.

Neblina intrometeu-se:

— “Z”, eu estava dizendo a estes senhores que nós não podemos ocultar ao povo a ameaça que sobre ele pesa...

— Ocultar? Nem pensar! Ainda mais depois do que vocês verão! Eu já estou enviando cópia da fita à imprensa. Toda a sociedade brasileira está sob ameaça e não admitirei segredos. Espero que vocês estejam facilitando as coisas para Neblina, Sr. Secretário de Segurança. Ela é uma pessoa inteligentíssima e sua colaboração será fundamental. Para isso, para aproveitar os talentos de gente assim, com Q.I. de 250 ou mais, existe o Estatuto dos Superdotados. Eu me fiz entender?

— Perfeitamente, senhor.

Enquanto os olhares dos presentes revelavam despeito e frustração, Neblina, fingindo-se distraída, contemplava o canteiro com plantas diversifloras...

 

 

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O vídeo mostrava uma cena espantosa, passada num terraço.

Diversas pessoas ali se encontravam, aterrorizadas, sob a mira de armas pesadas; meia dúzia de indivíduos mascarados, de uniforme negro, com um grande BN cosido ao peito, mantinham os moradores sob vigilância, inclusive empurrando-os com brutalidade.

Uma mulher de belas formas, porém corpulenta, com cerca de 1,80m, metralhadora a tiracolo, e um grande “S” vermelho no peito, encimando as letras “BN”, menores, e de pantalonas verdes, dirigia-se raivosa aos prisioneiros e à câmera.

— O que vocês estão vendo – dizia ela – é o meu ultimato à sociedade de Nova Brasília. De agora em diante, o governo do Brasil já não manda nesta cidade. Eu, Sybilla, a Ninja, com os meus Bandidos Negros, nós mandamos agora em Nova Brasília. E, futuramente, todo o Brasil nos obedecerá.

Era possível entender Sybilla perfeitamente, tendo em vista as semelhanças entre o rumeno e o português, e a tentativa da Ninja de falar o idioma do Brasil. Correndo o olhar pelos prisioneiros, Sybilla fixou-se num deles e prosseguiu:

— Para que vocês vejam que não estou brincando, farei uma demonstração. Esse de bigode aí, façam-no avançar!

Um homem de 45 anos presumíveis, mãos rudes de trabalhador, foi empurrado, perplexo e amedrontado, para diante da Ninja.

Seguiu-se uma cena terrível.

Adiantando-se, sem nenhuma preliminar, a mulher lançou a mão direita, com quatro dedos em riste, sobre o peito do infeliz. Este vacilou, como se atingido por um raio, e fez uma tentativa de reação, enquanto uma mulher era contida à força por um dos bandidos. A Ninja, com extrema velocidade, prosseguiu no ataque, golpeando o pescoço e, num golpe de mão fechada, o plexo solar de sua vítima; quando ele caiu para a frente, ela acertou uma cutelada em sua nuca.

O homem estrebuchou no chão, com o sangue a sair pela boca, e imobilizou-se, enquanto a mulher que tentara avançar, cada vez mais desesperada, gritava: — Arnoldo! Arnoldo! Oh, meu Deus!

-— Soltem-na — disse a Ninja.

Ela correu e abraçou-se ao corpo do cidadão caído. Depois olhou para a chefe da gang:

— Ele está morto! Você matou meu marido! Por que? Por que você fez isso? Que mal ele lhe fez?

Correu para a Ninja, tentando agredi-la, mas foi violentamente repelida, caindo ao chão em prantos.

Sybilla voltou-se para a câmera, cínica e terrível:

-— Não se preocupem. Ninguém mais morrerá; outras mortes seriam inúteis. O que vocês viram foi uma demonstração do meu poder. Vocês acabaram de ver o que a Ninja é capaz de fazer — só com as mãos. Meus auxiliares, homens e mulheres, também lutam muito bem, e possuem armas excelentes. Portanto, todos terão de me obedecer, ou instalarei o Reinado do Terror. Quem me desafiar morrerá. Isso vale também para a polícia. Quem manda aqui agora sou eu. E ninguém – entendam, ninguém — ousará me desobedecer.

 

 

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Miguel Carqueija
Enviado por Miguel Carqueija em 03/07/2023
Código do texto: T7828692
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