Estação felicidade Capítulo 2

- Ela desmaiou? - Belinha desconversou.

Selena abriu os olhos.

- Você está bem?

- Estou. Foi só uma tontura. A luz...

- Que luz, filha?

- A luz da pedra. Sumiu.

Eles olharam para Belinha.

- A pedra? É na pedra? - Belinha sorriu.

- O que está dizendo, garotinha? Você não devia andar pelo mato assim sozinha.

- Desculpe-me, seu Adamastor! Foi a curiosidade que falou mais alto.

- Você pode encontrar uma cobra. Já pensou nisso, pequena?

- Eu estava certa. Os magos existem e vivem nessa pedra. E você é uma maga, Selena! - Belinha declarou, confiante no que dizia.

Tio Adamastor e Selena se entreolharam, boquiabertos. Era o fim do segredo da jovem?

***

Alef entrou na mansão esbaforido. Godofredo, seu mordomo, veio ao seu encontro.

- Me abrace, Godofredo!

- Senhor Alef, o que houve? Parece pálido. Está branco como uma folha de papel. Sente-se um pouco. Vou buscar um copo de água com açucar.

- Não! - Alef pegou na mão do mordomo. - Não me deixe sozinho. Eu ... acho que estou precisando de colo.

Godofredo aconchegou-o ao seu peito.

- Mas o que é isso? O meu príncipe, sempre tão altivo e dono de si, agindo como uma criança indefesa? Me fala! O que foi que lhe fizeram?

Alef olhou-o. Tirou o papel do bolso e entregou-o.

- Que brincadeira é essa, senhor Alef?

- Eu recebi isso hoje. A saudade de papai bateu forte.

- Mas isso é uma afronta! Como alguém pode fazer isso? Brincar com os sentimentos de alguém, usando um ente que já se foi? Como ousam usar o nome do nosso rei Arthur, para atormentar o senhor, seu príncipe herdeiro? isso é coisa de bandido!

- Ora, mordomo! Não me venha com seus delírios policiais! Alguém quer gozar com a minha cara. Ah, mas quando eu descobrir o autor desse bilhete, ele será expulso dessa cidade para sempre! - Alef bradou.

- O senhor precisa tomar cuidado.

- Eu sei me defender.

- O senhor é um príncipe, criado com decência, no meio de gente de estirpe. Isso é coisa de gente baixa e sem a menor classe.

- Sirva-me um champanhe! Eu vou dar um mergulho na piscina. Preciso esfriar a cabeça.

***

Na rua de baixo, rua humilde, de casas humildes, Lena puxava a orelha de seu filho Rick.

- Ai, ai!

- Eu devia te dar uma surra. - Ela o fez sentar no sofá. - Como pôde quebrar a vidraça da pensão? Sorte que dona Marieta tem apreço por mim. Caso contrário, poderia complicar muito nossa vida. Você não sabe que isso é coisa de bandido?

Rick sorriu. Lena deu-lhe um safanão.

- Você não está na favela! Eu não quero que seja como os garotos de lá. Agora me fala! Onde você arranjou aquele estilingue? Mas fale a verdade, ou ficará um mês sem sair de casa.

- Um mês?

- Estou falando sério.

- É do Pepeu!

- O Pepeu?

- E foi ele quem deu a idéia de quebrar a vidraça.

Lena agarrou a orelha dele novamente.

- Eu vou perguntar pra ele. Se você estiver mentindo, irá se ver comigo. Agora vá tomar banho, e esfregue-se bem, porque eu ando com a leve impressão de que você anda me enganando a esse respeito. - Ela abanou o nariz.

- Ih! - Ele saiu, contrariado.

- Meu Deus! Não permita que ele siga os passos do pai. - Ela pediu, olhando para o alto.

***

No casebre, Selena contou para Belinha sua história.

- Eu sofri muito preconceito. As pessoas não me aceitavam como uma pessoa normal. Me chamavam de Selena, a estranha!

- Eu te aceito e fico feliz em conhecer uma ... maga. - Belinha pegou na mão dela.

- Você é uma gracinha!

- Então, você acredita na existência dos magos no passado? Você não é como os outros, que veêm a história como uma lenda, como a do lobisomem? - Tio adamastor perguntou, admirado.

- Eu sempre acreditei. Olhe aqui! - ela mostrou o livro. - Eu sei de tudo. O amor do mago Tasman pela humana Natasha, a ambição dos dois pela busca do ouro na floresta, a busca pelo poder, que fez com que o mago fizesse mágico alguns objetos, fortificando seus dotes de mago...e a tragédia causada por tudo isso. Eu li toda história, atenta a cada detalhe.

Tio Adamastor e Selena ficaram pasmos.

- Só o ouro ninguém sabe onde foi parar.

- Acredita-se que os magos esconderam, antes de sumirem, para que a ambição dos homens não causasse ainda mais sofrimentos. - Tio Adamastor explicou. - Os humanos colocam as riquezas acima do amor ao próximo. Isso é nocivo para o planeta.

Belinha olhou para Selena.

- E você acabou ficando conosco, no mundo real?

- Eu era uma bebê. Meus pais adotivos me encontraram em um cesto, na beira do riacho.

- E o senhor, tio Adamastor? Conheceu os magos?

- Eu vivi aqui por muito tempo. Ah, quantas vezes fui curado com as ervas e poções que eles faziam! A harmonia existia entre eles e os humanos. Tudo isso se quebrou. A magia, criada para o amor, foi usada para satisfazer o egoísmo e a cobiça de mago Tasman e sua amada Natasha, humana bela como uma flor, mas venenosa e astuta como uma serpente.

- E agora eu preciso de uma certeza sobre minha origem. - Selena disse. - Estava conseguindo, quando tio Adamastor chegou e quebrou o contato com o mundo mágico.

- Selena, faz uma mágica para eu ver! - Belinha pediu.

- Isso não é bom. - Tio Adamastor avisou. - Selena não pode ficar usando seus poderes aqui. Isso pode causar um desequilíbrio entre o mundo mágico e o mundo real.

- Ah, só uma vez, vai! - Ela insistiu.

Ele sorriu. Selena se concentrou e uma rosa apareceu no cabelo de Belinha.

- Uau! O senhor deve ter visto muito disso, não?

- Muito. Foi uma coincidência eu ter ido trabalhar na chácara dos pais de Selena. Foi providência divina mesmo, para que eu a ajudasse nessa caminhada.

***

Rick escapou do banho e correu ao encontro com Pepeu. Encontrou-o embaixo de uma árvore, tomando um sorvete. Pegou-o pela gola da camiseta, fazendo o copo cair e derramar todo o seu conteúdo.

- O que é isso? Olhe o que você fez!

- Você vai dizer que o estilingue é seu.

- Meu? Mas eu não tenho estilingue.

- Você vai me obedecer, ou quer que eu mostre aquele lápis com a cola da prova de ciências? Cola que te fez ganhar o troféu de melhor aluno da sala no bimestre? - Rick sorriu.

- Você não pode fazer isso. - Pepeu pediu, assustado.

- Experimente não fazer o que eu mando pra você ver. - Rick o soltou, furioso e saiu.

Pepeu passou a mão nos cabelos.

***

- Sim, é meu! - Pepeu respondeu, na frente de lena e sua mãe.

- Onde arrumou o estilingue, filho? Você nunca brincou com essas coisas.

- Ah, mãe! Eu comprei com algumas economias. - Ele falou, desviando o olhar.

Lena entregou o objeto a mãe dele.

- Está aqui. Eu nem sei o que dizer.

- Eu é que peço desculpas. - Ela se virou para o filho. - Você vai pedir desculpas para dona Marieta, e depois, ficará uma semana de castigo.

Pepeu deixou uma lágrima cair.

***

Dois dias se passaram...

- Eu achei tudo muito estranho. O Pepeu é um bom menino! Aquele Rick é que não presta. - Dona Marieta falou, na pensão.

- Só de vocês falarem nesse nome, já me dá um certo arrepio. A áurea desse menino deve ser muito suja. - Selena falou.

- E você agora lê áurea?

Selena tossiu.

- É, modo de falar!

- Ele parece que nem banho toma. - Dona marieta falou ao ouvido dela.

- Eca! - Ela fez uma careta.

- Deve cheirar a queijo vencido! - Conrado riu.

- Que nojo!

Ele se aproximou da jovem.

- Se você quiser, a gente pode dar uma volta pela cidade, hoje a noite. A lua é bela no céu de estação felicidade.

- Hoje?

- E por que não?

- Vamos ver. - Selena refletiu e perguntou: - O que vocês acham do príncipe Alef?

Conrado deu de ombros, visivelmente incomodado. Dona Marieta interveio:

- Um príncipe de verdade! Um verdadeiro lorde, tanto na classe quanto no coração. Onde você o conheceu?

- Eu o vi de relance. É, ele é casado?

- Ih, nem fala isso! O coitado sofreu uma grande desilusão amorosa e prometeu nunca mais se apaixonar.

- Mas ... quem teve a coragem de fazê-lo sofrer tanto?

- Uma falsa, interesseira! Ele vivia um conto de fadas que não teve um final feliz. Seu pai era considerado um rei por todo mundo. Por isso, filho de rei príncipe é. - Dona Marieta sorriu. - Você me parece muito impressionada com ele, não?

- Imagine. - Ela pigarreou. - É apenas curiosidade! Me causa uma dor no peito histórias tristes de amor. Deixe-me ver as panelas.

Dona marieta se aproximou de Conrado.

- Essa aí acho que foi flechada pelo cupido. Sabe que não seria má idéia? O príncipe bem que merecia uma menina assim em seu caminho.

- Ela vai quebrar a cara. Isso sim. - Conrado saiu, despeitado.

- Ih, parece que o cupido está trabalhando bastante por aqui.

***

A noite, Selena foi passear com Conrado , para a alegria do rapaz. Passaram pela lanchonete. Eugênio e Malu namoravam, apaixonados.

- Quer um sorvete? - ele ofereceu.

- Seria uma boa idéia.

Sente-se no banco da praça. Vou comprar e já te farei companhia.

- Ótimo.

Selena caminhava, olhando a lua cheia no céu, rodeada por estrelas. Crianças jogavam bola no gramado. Ela observava-os com interesse, quando esbarrou em alguém.

- Desculpe-me. - Ela olhou e seus olhos se encontraram com os de Alef. - Eu ... me distraí.

Alef sorriu e olhou para as crianças .

- Eu também me encanto com elas. Nada melhor do que a pureza das crianças.

- Claro! - Ela conseguiu dizer.

- Principalmente quando estão limpinhas. Aquelas ali já devem estar precisando de um banho.

Selena sorriu.

- Desculpe-me pela bobagem. É que sou apaixonado pelo bom cheiro e pela limpeza.

- Eu entendo. - Ela olhou-o. - Afinal, um príncipe deve ter o olfato sensível.

- Príncipe? Você sabe quem eu sou? - Ele perguntou.

Continua...

Célinho
Enviado por Célinho em 24/04/2023
Reeditado em 11/07/2023
Código do texto: T7772115
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