Sangue Novo

Cap. 1

 

O sol queimava no Sertão e na proteção da sombra de um umbuzeiro, nacos de melancia eram devorados por aquele jovem, em meio a roça, saciando sua fome e matando sua sede.

Do outro lado do mapa, o sol irradiava forte, diante do céu azul, a beira-mar uma jarra de suco de melancia gelado era apreciada aos goles sedentos daquela jovem exposta ao calor a bronzear a pele.

A coincidência é um redemoinho de vento, que leva e traz surpresas e mistérios.

Manfred, vivia no campo. Trabalhava sol a pino na lavoura de feijão do seu avô. À noite gastava seu dinheiro de rapaz trabalhador no bar. Estudou pouco, mas conhecedor da “pedagogia” da vida bruta. sabia como poucos extrair poesia daquela terra ressequida. Sonhava em um dia conhecer o mar e trabalhar numa fábrica de fertilizante na capital igual ao seu padrinho que saiu na roça à ascensão social.

 

Cap. 2

 

Estela morava na capital. Universitária, estudante de Medicina, criada pelos avós maternos, desde que os pais morreram num acidente trágico de avião, durante a semana empenhava aos estudos, aos fins de semana; praia e balada. Boemia e dinheiro não lhe faltavam. Neta e única herdeira de um rico empresário, prestes a sucedê-lo após formatura. Adorava o sol da praia, bronzeamento à pele branca e academia era sua rotina. Vaidosa ao extremo, nada se apegava e nem a ninguém, contudo havia poesia naquela jovem rica; o desejo em conhecer seu avô paterno no sertão que jamais conhecera e privaram-lhe de contatos.

Pressentiu que algo iria mudar. Como um revoar de pássaros selvagens, que cruza o céu em harmonia, velocidade, sintonia e liberdade, assim queria que sua vida tivesse esse encantamento, sentia que algo lhe faltava... Respostas que só ela e o tempo seriam capazes a solucioná-los.

 

Cap. 3

 

Seu João Maneca tinha uma pequena quitanda no interior do estado. Aposentadoria rural, mal dava pra se sustentar ainda tinha de ajudar agregados ao entorno. Vendia frutas, verduras, cereais, ovos, fumo, temperos e outras iguarias que produzia em sua propriedade. Era uma renda a mais para aquela vida pacata de homem do campo.

Um idoso religioso e de muita confiança na comunidade. Aos sábados ia a feira livre vender sua mercadoria mais valiosa e disputada; as melancias sem sementes. Cultivada a há décadas na sua roça, graças a uma família de japonês que seu Maneca deu abrigo quando jovem recém-casado. Em retribuição, os orientais lhes ensinaram o plantio e cultivo desse fruto. Passou cultivar e revender na região sendo o único conhecedor dessa técnica agrícola. Aos domingos fervorosamente ia à igreja conversar com Deus.

 

Cap. 4

 

Em uma aula de Anatomia, no laboratório da universidade, Estela tem um mal súbito e foi socorrida pelos colegas de classe. Depois de algum tempo em observação no ambulatório da instituição acadêmica, logo se recompôs retornando as aulas, mas se queixando de dores dos ossos cavos abdominais e uma leve falta de ar. Decidiu ir embora mais cedo. O motorista particular do seu avô viera lhe buscar. Resolveu não ir ao hospital, afinal era uma quase médica para assim se automedicar, caso precisasse. Os dias passavam e as dores não passaram. Por fim pediu para seus avós a levarem ao médico da família; o Dr. Tomás.

Alguns exames foram feitos e um resultado, o da RM e mielograma, causou aflição na jovem e desespero nos seus avós; diagnóstico de LMA – Leucemia Mieloide Aguda - ainda no início, mas já apresentando sintomas tipicamente de agressividade dessa moléstia.

 

Cap. 5

 

Em um laboratório conceituado situado numa cidade litorânea de grande polo industrial farmacêutico, uma equipe de cientistas desenvolveu um medicamento poderoso no combate ao câncer. Desenvolvido através da polpa, casca e semente da melancia, Fruta rica em licopeno, que extraído um antioxidante ajuda no tratamento à doença. Alguns voluntários comedidos da doença se inscreveram para ao uso experimental do medicamento. Foi quando uma amiga da jovem Estela, também estudante de medicina, a cadastrou no sistema e prontamente houve uma resposta em que havia autorização do hospital de referência a pesquisa e tratamento para que a Estela realizasse seu tratamento experimental imediatamente. Em princípio ela resistiu, mas foi convencida pelos seus avós.

 

Cap. 6

 

Dr. Tomás visitava diariamente sua paciente e acompanhava a evolução clínica mediante esse novo tratamento que ela fora submetida. Examinava todos os exames, as quimioterapias e os medicamentos aplicados em escala moderada. Trazia novidades da sua anamnese, informava aos avós a conduta médica e o processo que a jovem teria que enfrentar. Um médico sexagenário com enorme experiência em medicina hemato-oncológico no SUS e hospitais privados. Conheceu o avô da Estela ainda na adolescência. Estudaram no mesmo colégio, faziam natação no mesmo clube e tocavam os Beatles nos barzinhos da vida.

O médico nascido de família abastada especializou-se em oncologia na Europa. Quando retornou ao Brasil, procurou seu velho amigo para patrociná-lo na aquisição de um imóvel e transformá-lo em um hospital referência aos estudos de pesquisa e tratamento de pacientes com doenças no sangue. Coincidência a parte, o mesmo tratamento, décadas mais tarde, que teria a neta do seu melhor amigo.

 

Cap. 7

 

Manfred resolveu visitar seu tio padrinho na capital. Quis proporcionar-lhe uma surpresa e de pronto realizar seu sonho em conhecer o mar e a vida noturna que tanto ouvia falar.

Comprou uma passagem e foi direto a Salvador. Lá se perdeu, foi roubado, agredido e internado como indigente. No hospital público extraíram-lhe um rim. Após duas semanas teve alta hospitalar e decidiu retornar à sua cidade frustrado pelo não encontro com o seu padrinho rico, decepcionado pela ingenuidade em ter sido enganado e fragilizado pela sua saúde debilitada.

Prometeu a si mesmo jamais retornar aquele lugar, viver e morrer na roça, um orgulho que só o sertanejo pode ter.

 

Cap. 8

 

O estado de saúde da jovem Estela piorava. Os exames mostravam uma infecção pulmonar e requeria cuidados intensivos da UTI. Os remédios experimentais diminuíram seus leucócitos, alterando a produção dos glóbulos brancos na medula óssea. Numa transfusão sanguínea adquiriu uma bactéria que se alojou no pulmão causando cuidados específicos. A família apreensiva ao ver a jovem debilitada solicitou ao Dr. Tomás alternativas para a melhora e cura da sua neta. A resposta veio de imediato: somente um transplante de medula óssea.

A corrida foi grande entre familiares, amigos, colegas de faculdade e até bancos de doação de medula pela compatibilidade e a continuidade dos medicamentos diferenciados, agora extraído de um tipo de matéria prima, melancia oriental, encontrada apenas numa região do Médio São Francisco, no Sertão baiano.

 

Cap. 9

 

O tal velho Sr Maneca começou a receber visitas de órgãos ligados a saúde e meio-ambiente.

As propostas de compras dos seus produtos aumentaram consideravelmente, à medida em que as exigências da vigilância sanitária também. Suas melancias eram o carro-chefe e aquele agricultor de bom trato sabia negociar a finco seus produtos no que tangia custos e benefícios.

Um dia um médico da capital o procurou e fez uma oferta irrecusável, compraria toda a safra daquele ano de melancia oriental por um preço muito acima do mercado.

Contrato assinado. Satisfação ambas as partes. De quinze em quinze dias um caminhão viria buscar a mercadoria, que seria enviada ao Laboratório N&B, no litoral do estado.

A roça virou sítio. O sertão virou produção. A quitanda virou empreendimento. A Pobreza virou prosperidade.

A felicidade passou a reinar naquele povoado. Se tinha trabalho havia dinheiro e a fé do sertanejo mais fortalecida do que nunca.

 

Cap. 10

 

O tempo passou e um desejo estranho em Manfred começou apertar. Ele havia conhecido uma moça no tempo em que estava internado na capital. Uma jovem, técnica de enfermagem que cuidou dele com muito zelo e carinho. A única lembrança agradável que ele tinha daquela viagem desastrosa. Pode-se dizer que, ali ele conheceu o amor.

Sua condição de vida melhorou consideravelmente. Um homem com dinheiro, não sonha; realiza. Não se esconde; se apresenta. Não é intimidado; é exaltado. Não vive pra morrer; mas sim vive pra renascer.

Partiu para a capital, na madrugada, sozinho, em seu carro, na certeza que dessa vez seria diferente. O endereço que levava consigo era o do hospital.

 

Cap. 11

 

Um carro em alta velocidade cruzou o sinal vermelho no centro da capital, perdeu a direção e colidiu com outro automóvel estacionado próximo a uma banca de jornal. O condutor do veículo desceu atordoado pelo impacto. Outro condutor saiu do carro estacionado com o rosto sangrando. Pessoas saíram das lojas para ver o ocorrido. Alguém prestou socorro ao idoso motorista que dizia somente o nome do hospital para qual estava indo. Outros ofereceram ajuda ao jovem condutor também ferido. O resgate foi acionado. Os homens são levados na ambulância a um P. S. Mais próximo. Já lá no pronto socorro os dois condutores conversavam-se em acionar seguradora, Fazer B .O. e sobre ressarcimento. Feitos os primeiros socorros, constatou luxação de úmero do idoso e escoriações na cabeça e membros superiores do jovem, mas sem riscos maiores, tendo altas médicas logo a seguir. Nesse ínterim o idoso explicou o motivo do acidente ao jovem. Comovido com a história daquele senhor decidiu ajudá-lo, indo doar sangue à neta daquele simpático senhor.

 

Cap. 12

 

Estela havia saído da UTI. Houve uma melhora significativa nas últimas 24 horas. Os remédios experimentais passaram a surtir efeito em seu organismo, mas o transplante ainda seria o único tratamento pra curá-la. Sabendo que aquela bela moça estava precisando de doação de sangue e medula óssea compatível, conforme havia prometido ao senhor que o colidiu, o jovem Manfred, resolveu doar sangue e plaquetas no Banco de Sangue no mesmo dia.

Havia ligado para a técnica de enfermagem e solicitou um encontro para agradecê-la pessoalmente todo acolhimento e cuidados prestados há tempos, numa situação de rara infelicidade, mas que ao conhecer a jovem Gisela, de todos os seus pecados se arrependeu.

Estava hospedado numa pousada singela, a espera do conserto do seu carro, quando duas ligações em seu celular aconteceram simultaneamente; Gisela, a técnica de enfermagem, confirmando o encontro para aquela noite e um tal de Dr Tomás, do Hospital Vida, solicitando sua visita para a amanhã seguinte às 9h00, no ambulatório 5° Andar - Sala 510. Um táxi lhe estaria esperando na porta da pousada para levá-lo com todo conforto possível.

 

Cap. 13

 

A produção e venda de melancia oriental estava em todo vapor. O Laboratório N&B cada vez mais utilizava dessa matéria prima para acelerar a produção do medicamento testado e aprovado pela ANVISA para comercialização doméstica em hospitais credenciados ao tratamento de câncer.

A Notícia ganhou o mundo acadêmico da medicina. Enfim, um novo medicamento capaz de melhorar significativamente às doenças cancerígenas de sangue. Foi patenteado com certificações internacionais e, na condição de renomado laboratório fez parcerias para aquisição de mais investimentos para a fabricação daquele milagroso medicamento a base de melancia oriental, made in Brazil.

 

Cap. 14

 

Seu Maneca estava realizado financeiramente, entretanto havia em seu rosto enrugado pelo sol, uma tristeza que ele ocultou por anos afinco; que foi a morte da sua filha mais nova. Uma jovem feliz, apaixonada, estava prestes a lhe dar uma neta, era o orgulho da família. Seu Maneca sentia muita saudade da filha, custava entender os designíos de Deus. Outra tragédia sucedeu-lhe anos depois, com o outro filho, o primogênito. Uma briga de bar por causa da ex-companheira e uma facada ceifou a vida do Junior, o filho mais velho do seu Maneca, deixando uma pequena criança órfã para ser criado pelos avós. Após o ocorrido a genitora o abandonou ainda bebê. A esposa do seu Maneca, companheira de uma vida, adoeceu e logo depois da morte dos seus filhos. Aquele acidente trágico de avião com a filha e o assassinato do outro filho abateu-lhe um grande desgosto no idoso casal, vindo a matriarca da família ao falecimento precoce. Seu Maneca, viúvo, morava com seu neto Manfred, no qual dedicou todo seu amor e ensinamento rural. Porém havia ainda, esperança naquele coração cansado em conhecer sua neta, filha da sua filha, que o destino compilou em afastá-lo desde então.

 

Cap.15

 

Estavam reunidos o Dr. Tomás e toda sua equipe médica na sala 510. Junto a ele estava o Ilustríssimo Sr. Renaud Smith e sua esposa, Sra. Agatha Smith. A secretária avisou-lhes que o convidado está subindo pelo elevador particular da diretoria clínica. Havia uma ansiedade por parte daquele casal de idosos e uma atenção comedida da equipe médica também. O jovem Manfred chegou e logo reconheceu o Sr. Smith abraçando-o e sem muitas delongas perguntou o porquê da sua presença em meio tantos médicos. Tinha receio de médicos, desde aquela internação onde extraíram seu rim direito por motivos ainda desconhecido. Encontrou-se ali meio perturbado. Porém tudo foi esclarecido naquela ocasião pelo Dr Tomás. Sua doação de medula óssea havia compatibilidade com a medula doente da jovem Estela. E o hospital gostaria de propor um teste laboratorial que confirmasse 100% de segurança compatível entre doador e receptor. Uma vez realizado e confirmado o TMO seria imediatamente iniciado. Os avós da moça, tensos, mas esperançosos propuseram recompensa. O que foi rejeitada pelo rapaz. Concordou em colaborar com o tratamento, mas com duas condições; que a jovem Estela tivesse os cuidados exclusivos de uma técnica de enfermagem durante e depois do transplante, com salário justo à excelente profissional que ele conheceu em outro hospital. a outra condição foi que ele, pudesse ficar hospedado por perto para assim visitá-las quando necessário. Acordo estabelecido. Um flat foi destinado ao Manfred e o tratamento iniciado no dia seguinte.

 

Cap. 16

 

Os amigos e colegas de faculdade festejaram o TMO da jovem Estela. Realizado em três etapas, com sucesso. As primeiras semanas pós-transplante foram delicadas; as dores abdominais, queda de cabelos, fraqueza e mal-estar fazia parte do tratamento. O uso de fortes antibióticos, a super quimio, os cuidados com higiene pessoal, alimentação especial e o uso de máscaras M95 constantemente acelerava a “pega” da medula, a evolução ao tratamento e os dias de confinamento prestes ao fim.

Não haveria festa devido à baixa imunidade da transplantada durante os três primeiros meses. Apenas os profissionais e familiares tinha permissão médica de contato com a paciente. A alta médica estava iria acontecer para que sua vida outrora interrompida, pudesse ser devolvida.

 

Cap. 17

 

Dr Tomás estava intrigado com tamanha compatibilidade entre sua paciente e aquele jovem do interior e decidiu investigar a vida do jovem Manfred. Ficou sabendo que ele morava na mesma cidade que havia produção de melancia oriental, fruta sagrada que ele, o médico, financiava a pesquisa do medicamento famoso do combate ao câncer.

Que seu avô era o único produtor daquela região e maior fornecedor da matéria prima ao Laboratório N&B, no qual ele era socio. Mais espantoso é que família resumia entre ele e seu avô. Que havia um padrinho rico que morava em Salvador e desde criança jamais havia visto. Que seu pai era irmão de uma jovem advogada morta tragicamente há anos numa viagem aos Estados Unidos. E por fim, que havia laços de parentesco comprovada pela genética entre aqueles jovens de mundos tão distintos, mas de um elo tão interligado que nem a literatura científica seria capaz de teorizá-lo.

 

Cap. 18

 

Manfred foi informado sobre seu parentesco com a menina Estela. Se encontraram quando ela já liberada para visitas e ali houve uma forte emoção; um abraço forte, o choro de ambos, a saudade dos pais e contemplação da família. Ficaram sabendo por amigos influentes que o padrinho de Manfred havia sido preso por tráfico de drogas, um fora da lei que não merecia mais interesse daquela família em procurá-lo, Os Smiths agradecidos e ao mesmo tempo ressentidos diante de tanto tempo perdido com privações banais e o orgulho burguês que fez a neta se distanciar das suas origens maternas desde que seus pais faleceram. Mas Estela sabia que, lá no âmago havia algo a ser revelado, por mais que aquilo viesse lhe causar sentimentos nunca antes sentido. O destino os aproximaram.

 

Cap. 19

 

Seu Maneca chegou à capital, pela primeira vez viajou de avião. Era esperado ansiosamente pelos seus netos; Manfred, que decidiu morar na capital ao lado da Gisela – a técnica de enfermagem, seu amor que tanto sonhava, enfim realizado. E a Dra. Estela, que concluiu a graduação de Medicina naquele semestre, na modalidade semipresencial. A neta que não conhecia, mas que nutria um amor inexplicável, porque, quando Ana e Pedro (filha e genro) se conheceram na UFBA, no curso de Direito, logo começaram a namorar às escondidas; a velha história do romance secreto entre o príncipe e a plebeia. A família dele não aceitaria se soubesse que ela era pobre. Ana, uma jovem sonhadora e muito dedicada aos estudos, conseguiu nota máxima no ENEM, indo estudar na capital muito jovem. Formou-se em Direito Internacional, sucesso na prova da OAB, casou-se com seu colega de faculdade; Pedro Smith. Engravidou logo em seguida e, um belo dia foi visitar seus pais no interior com o Pedro, seu marido. Já estava de sete meses de gravidez. Pediram a benção dos avós a netinha que estava por vir. Dando-lhe o nome de Estela, que significa (aquela que possui luz própria como o Sol). Daí o prazer pelo verão, praia, dia ensolarado. Da jovem Estela. O nascimento da garotinha foi cheio de amor e glamour. Seria a herdeira do clã Smith. Filha e neta querida, ficou órfã com apenas dois anos de idade. Seu Maneca não teve mais outro encontro com sua filha depois daquele dia. Não teve tempo de se despedir da filha querida e do seu genro que também passou a amar. Sua neta nunca mais viu, porque a incumbência ficou para seus avós paternos que criou a única neta com status de princesa e protecionismo de monja.

 

Cap. 20

 

No aniversário de 22 anos, Estela próximo aos seus, estava feliz pelos avós e pela união de toda a família. A presença dos seus anjos protetores; Manfred e Gisela, casados e grávida de gêmeos, todos seus amigos de faculdade, Dr. Tomás e alguns membros da equipe médica e que viraram amigos e colegas de profissão e outras pessoas de seu convívio e confiança. Uma festa patrocinada pelo Laboratório New & Blood (Sangue & Novo), que bancou o buffet, divulgação e ornamentos. A sugestão era servir comidas e bebidas ao paladar de melancia.

Combinaram ali, naquela reunião de aniversário, que todo ano haveria a festa da melancia, símbolo de docilidade, fartura, ciência, renascimento e acima de tudo união e amizade.

O tempo passou e a Dra. Estela assumiu o controle das empresas da família, conforme os avós paternos havia-lhe preparado para isso. Manfred retomou aos estudos e hoje é o diretor comercial entre a agricultura e a indústria, entre o campo e a cidade.

Dr. Tomás se aposentou, mas continuou a se encontrar com seus fiéis amigos, os Smiths e o mais novo parceiro de jogos de xadrez, o seu Maneca. Aquela turma de idosos destemidos e aventureiros passaram a fazer viagens constantemente ao redor do mundo.

Estela casou-se com seu colega de faculdade, um jovem e promissor médico oncologista herdeiro de um famoso laboratório farmacêutico de medicamentos quimioterápicos a base de melancia oriental. Mãe de dois filhos, duas vezes por semana clinicava gratuitamente pacientes com câncer, destinava trinta por cento dos lucros de suas empresas à filantropia Hospital Irmã Dulce e outras entidades pró- tratamento ao câncer. Criou um Banco de Doações de Órgãos e principalmente Medula Óssea.

À noite, dava palestra em universidades, testemunhando sua trajetória até ali como médica, empresária, mãe, mulher, cidadã, mediante um simples gesto de conscientização e solidariedade, o que lhe proporcionou Sangue Novo e nova vida.

Quanto tem uma folga leva sua família para colher melancias nas fazendas administradas por Manfred e Gisela, juntando os filhos e os primos para um ritual que eles mesmos criaram em meio à plantação da fruta vermelha. A oração de agradecimento, a fartura pelo alimento representado naquela terra, a degustação rudimentar com as mãos e por fim, o mais eloquente de todos os rituais; a guerra de melancias homenagem a boa saúde e a fecundidade.

 

 

 

FIM

 

 

Sérgio Russolini
Enviado por Sérgio Russolini em 20/02/2023
Reeditado em 08/03/2023
Código do texto: T7724016
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