BRUNILDA, UMA DAS VALQUÍRIAS DA MITOLOGIA NÓRDICA — ROBERT ENGELS (1919)
BRUNILDA, UMA DAS VALQUÍRIAS DA MITOLOGIA NÓRDICA — ROBERT ENGELS (1919)
É PRECISO NÃO subestimar a influência sobre ela, Mãezona, exercida por uma criatura conhecida por “doutora Rozen” mulher do doutor Franca, moradores da mansão em frente à humilde casa de esquina em que passamos, os membros da família, a habitar quando saídos da velha habitação na Rua Senador Teodoro Pacheco. Elas se viam com alguma frequência, esgueirando-se da presença de outras pessoas. Quando alguém de seus encontros furtivos se aproximava delas, a doutora vazava de volta para sua mansão.
A CASA FICAVA no bairro Ilhotas. Em certas horas do dia, devido ao calor do sol escaldante, ninguém saía de suas casas, entre doze meio-dia e quinze horas, principalmente. Era nesses momentos que ambas costumavam ter conversas furtivas. Quer no calçadão da mansão, quer no interior do pequeno jardim de entrada da casa de Paizão. O que elas conversavam ficava entre as duas. Desconfio que a doutora Rozen fazia a cabeça de Mãezona com teorias da “Nova Era”. Ela começou a ler livros possivelmente indicados por ela, Rozen:
A TERCEIRA VISÃO, A Caverna dos Antigos, Entre os Monges do Tibet, Além das Dezenas... A ampliar essa influência esotérica, os livros de Madame Blavatsky: Ísis Sem Véu, A Doutrina Secreta, O Ocultismo Prático, O Livro Perdido de Dzyan, do mestre hindu Arya Asanga. As influências daquelas conversas entre a ex-enfermeira de campos de concentração nazis, conhecida por doutora Rozen, segundo a própria Mãezona me confidenciou certa vez, estava exercendo influência sobre ela e o maridão Coisinha.
MÃEZONA TALVEZ tenha absorvido tanto das conversas, que talvez se julgasse, já que era descendente de alemães, uma reencarnação de Brunilda, uma das Valquírias. Talvez, sob a influência das conversas com a doutora Rozen, se julgasse mensageira de Odin, rei e deus da guerra que escolhia os heróis mortos em combate e os conduzia a Valhala, paraíso perdido na Terra, ao qual tinha acesso, em outra dimensão, Odin.
SEGUNDO A LENDA escandinava, até mesmo os mais valentes guerreiros poderiam se perder nos labirintos sob a névoa e as armadilhas que os impediam de chegar até Sigrun, a mais empoderada das Valquírias. Suas habilidades eram mais danosas do que as de todas as demais guerreiras que, na lenda mais antiga, eram virgens que cavalgavam o lombo de cavalos, javalis e lobos, armadas de lanças para a proteção de Odin, supremo poderoso chefão do reino de Asgard.
UMA VALQUÍRIA se quer habitante do mundo dos mortos. Ela não lida com seres vivos. A Valquíria Brunilda, personagem da “Canção dos Nibelungos”, presente no ciclo de óperas “Anel dos Nibelungos” de Richard Wagner, é um ser mítico. Wagner, aquele mesmo compositor citado por Mãezona enquanto exemplar de artista. Artistas, no dizer dela, são pessoas malucas e cheias de peculiaridades esquisitas, atribuídas à condição de seus talentos. O lexema Valquíria significa “escolher os mortos”. Os humanos comuns, e os demais habitantes desta dimensão em que habitamos, são todos presuntos inexpressivos, debilitados partícipes de uma dimensão do existir apenas aparente e insignificante para a mitologia nórdica. Ela, Mãezona, parecia ter uma das habilidades que caracterizam as “guerreiras de Odin”: a habilidade de invocação.
EU ME PERGUNTO se o livro de Ira Levin, “Os Meninos do Brasil”, adaptado para o cinema por Franklin Schaffner, não é apenas uma obra de ficção. Sabemos que a clonagem humana é uma avançada conquista da tecnologia molecular. E que o médico Joseph Mengele criou em suas experiências nos campos de concentração nazis, crianças-clones, com caracteres da “raça ariana”. Crianças essas, clones de Hitler. Mengele, conhecido como “O Anjo da Morte” perpetrou um sem-número de experiências com gêmeos judeus aprisionados no campo de matança de Auschwitz.
MENGELE, ENVOLVIDO no programa de experimentos na produção de uma “genética ariana”, tinha a atribuição de criar clones da “raça superior” ariana. Uma série de experiências de brutalização de crianças. Muitas das quais morreram em consequência das cirurgias e ferimentos infectados. Tanto no interior dos campos de matança, tanto quanto, posteriormente ao término da IIª Grande Guerra.
SABE-SE QUE “O ANJO da morte” injetou clorofórmio diretamente no coração de catorze pares de gêmeos, matando-os incontinente. Ato contínuo, deu início à dissecação de seus corpos, fazendo anotações sobre cada naco de carne e de músculos retirados de seus corpos. Em outro de seus experimentos teratológicos, costurou um par de gêmeos ciganos. Quando, posteriormente removeu os pontos em outra cirurgia, um deles morreu com o corpo gangrenado. O gêmeo sobrevivente prestou este depoimento:
— “Dr. Mengele estava mais interessado em Tibi — (irmão mais velho dos gêmeos) — talvez porque ele fosse o gêmeo mais velho. Mengele fez várias operações em Tibi. Uma cirurgia em sua espinha deixou meu irmão paralisado. Ele não pode andar mais. Então ele tirou seus órgãos sexuais. Após a quarta intervenção cirúrgica, não vi mais o Tibi. Nem posso dizer-lhes o quanto mal me senti. Eles haviam tirado o meu pai, minha mãe, meus dois irmãos mais velhos, e agora, meu irmão gêmeo”.
SE VOCÊ ACREDITA QUE demônios não existem, é porque suas ações e intenções já se confundem com as deles. Você não pode vê-los com seus traumas, recalques, ressentimentos e complexos, porque já se tornou parte integrante da intencionalidade deles. Mãezona tinha um repertório imenso de músicas infantis e de ninar. Ela se deliciava como encanto que surgia quando sua voz maviosa as cantava. E encantava. A emoção surgia de um lugar de grande profundidade emocional. Quem ouvia, encantava-se. Como se ela fosse uma sereia daquelas narradas no poema de Homero quando se dirigia pelo mar em direção a Ítaca, no mar Jônico. Mãezona Brunilda, que desastre familiar promovia na vigência do século XX/XXI. Com a conivência de seus familiares. Exceto eu.