ALIMENTO FRUGAL — PICASSO (1913)
ALIMENTO FRUGAL — PICASSO (1913)
NÃO É FÁCIL compreender a complexidade da simples realidade do mundo. O mundo brasileiro não é uma exceção. A cultura nacional está inserida no espaço globalizado da influência supremacista. Machista. Branca. Protestante. Rica. Do olho azul. Os supremacistas brancos foram abortados da crença na falsa ideia da superioridade natural do homem originário de países caucasianos. São empanturrados de ideias racistas e se creem um grupo privilegiado, descendente da raça de deuses nórdicos.
MÃEZONA SE orgulhava de ser deles, germânicos, descendente. Carregava um sobrenome de origem alemã. Ela realmente tinha o poder de enganar como se estivesse a afirmar verdades. Eu, filho primeiro, primogênito, estava numa sinuca de bico. Ela havia parido dez filhos que sobreviveram às gestações dos que foram abortados, segundo ela dizia, no total de vinte e cinco. Mãezona tinha realmente o poder decorrente da gestação. Ficar grávida para ela era uma oportunidade de fuga. Ela fugia da realidade e entrava no mundo paralelo, mitológico, da criatura com autoridade soberana, imperiosa, que estava criando um mundo dela no nicho ou ninho familiar.
ELA JÁ HAVIA subjugado o marido a seus propósitos: ter um lugar para engravidar, parir, alimentar-se e fazer suas necessidades básicas. Era tudo que ela precisava para exercer um reinado familial. Ao escravizar o cônjuge com trabalho escravo das necessidades de alimentar, fornecer vestimentas, escola e sobrevivência para crianças que se tornariam adolescentes exigentes de seus direitos à educação, ela fornecia lenha para queimar seu universo subjetivo. Suas fantasias supremacistas afloravam.
A CASA EM QUE habitávamos, após a mudança da região central da cidade, numa das esquinas de uma quadra do conjunto habitacional do Iapc, no bairro Ilhotas, ficava de frente para o portão de entrada da residência de um migrante refugiado do regime nazista, conhecido por doutor Franca. Casado ou amigado com uma enfermeira de campo de concentração da Alemanha nazista. A residência dele ocupava um grande quadrado que correspondia à área de dezesseis casas do mencionado conjunto.
NÃO POUCAS vezes surpreendi Mãezona a conversar, sempre furtivamente, com a doutora Rosen, no pequeno jardim de nossa casa. Quando elas pressentiam minha presença, logo a dita doutora, que era na realidade enfermeira, se ausentava em direção ao portão de entrada de sua residência. Mãezona mostrava-se irritada, porque minha presença havia cortado o papo entre elas. Uma conversação que ela por demais prezava. E que por vezes continuava além do portão da casa dela, Rozen.
A FAMÍLIA Franca/Rosen tinha um grande poder aquisitivo. Fundaram um amplo hospital/maternidade de nome “Casa Mater.” no bairro Piçarra. Os poderosos do mundo sempre se entendem. Há uma vultosa conveniência de interesses financiados pelo Estado em coligações com a iniciativa privada. Governos, políticos e empresários sempre deram um jeito de se amancebarem. Dessas associações, mais das vezes com vezo nazifascista, se criam representações de lobistas, que manipulam negociações nas instâncias dos poderes, de dentro da esfera pública.
NO PIAUÍ O quarto poder, a Imprensa, está totalmente submissa a essas poderosas Da oligarquia do dinheiro falso, que fez fortunas particulares, ou de ativos financeiros lavados e lavrados no tráfico de drogas. com tentáculos que são também internacionais. Veja-se as transferências dos Neymar das chuteiras do lavar dinheiro.
A CAPITAL do Estado, assim como o Estado todo, teme tornar conhecidas essas associações de ricaços do tráfico de drogas e da poderosa conexão entre “famiglias” europeias que se estabeleceram no nordeste brasileiro e exercem comando, comunicação e controle da sociedade em conluio com as polícias e as FFAA. Não há nesse Estado liberdade de expressão. Exceto aparente. Jornalistas que tentam denunciar os conchavos entre os poderes vigentes, e seus crimes de homicídio, são simplesmente eliminados.
OS RESPONSÁVEIS pela educação e a cultura local, mantêm em rédea curta os que ainda permanecem na tentativa de estabelecerem alguma forma de crítica à necessitada cultura local. A sociedade vive o compromisso de estar sob a comunicação, comando e controle dos poderes armados de ameaças àqueles que ousem atuar fora dos limites estabelecidos pela cruel dominação social, que estabelece as fronteiras da intolerância à qualquer mínima manifestação da quase inexistente inteligência local.
EU AINDA HOJE me pergunto por que Mãezona, quando entrava no portão da casa da família Franca/Rosen se ocupava em dissimular sua saída em direção à mansão da doutora Rosen para conversar com ela no amplo jardim da residência. Era como se estivessem a tratar de coisas de domínio particular, que deveriam permanecer acobertadas.
MÃEZONA, EM momentos raros de verdade, se permitia dizer que a doutora havia sido enfermeira em determinado campo de concentração nazi durante a IIª Grande Guerra. E afirmava que o marido dela havia enriquecido na produção e distribuição de dinheiro falso, com a conivência das autoridades locais dos três poderes que são quatro: incluindo-se a imprensa marrom local. Uma imprensa que apenas simula ser livre.
É POSSÍVEL que ela haja mencionado o compositor alemão Wagner, autor de obras musicais de excelência incontestável — (A Cavalgada das Valquírias, Tristão e Isolda, O Anel do Nibelungo, Parsifal, Crepúsculo dos Deuses, Abertura Fausto, entre outras) — por ele ser alemão ela o tinha como referência principal no seu discurso ante literário que fazia a mim, quando lhe mostrava meus manuscritos animados pela influência das histórias em quadrinhos (HQs).
ELA QUERIA asseverar-se de que eu não teria, no futuro, como desenvolver alguma habilidade literária que pudesse constranger a memória dela, seu gosto pela dominação familiar a partir da crença de que ela pertencia à descendência de uma raça supremacista, os descendentes da raça supremacista de Odin, alemães, aos quais ela, orgulhosa, supostamente pertencia:
A IDEOLOGIA da supremacia branca, da suposta superioridade natural do homem branco. Ideologia que alimenta ideias racistas contra os mais diversos grupos étnicos que hoje são sistematicamente combativos: negros, homossexuais, indígenas, pobres, professores, artistas... Supremacistas em grupos que depredam a Amazônia, os recursos naturais do planeta, tipo a governança do Bozo na presidência desastrada dos recursos naturais no Brasil.
— A menção a essa gravura em placa de zinco anteriormente usada por Joan Gonzalez, se deve ao teor melancólico dela. Este trabalho registra o final de seu "Período Azul". "Os Dois Acrobatas" se tonam o núcleo central de seu "Período Rosa", após o pintor ter presenciado uma performance deles na "Esplanade des Invalides" em 1903. Picasso presenteou a gravura ao poeta italiano Ricciotto Canudo que havia visitado Paris em 1904.