Pequena Novela Em Sete Capítulos V.
Presos No Elevador.
O que restava da semana se escorrera sem maiores eventualidades. E essa correnteza, pode se dizer desta forma, transpôs o mesmo ritmo à semana seguinte. Paulo, por mais que adimitisse para si mesmo que estava com vontade de conversar com Vitória, mais que isso, vê-la, não agia em prol disso. Estava às voltas com o trabalho e não queria aparecer sem que levasse consigo um motivo para estar com ela. O calor dos dias em que haviam estado juntos ainda queimava nele, como uma espécie de resposta aos dias comuns, que eram frios e nulos. Ele, normalmente, não fazia muito uso das horas que lhe sobravam. Há muito se tinha dado a algum hobbie ou algo da espécie. Porém, ele não se ajustava muito bem à condição de que Vitória lhe fazia falta exatamente por ter estado com ele por horas consideráveis. Era a falta de contato, ele assumia, no seu íntimo. É de natureza que o espírito sinta falta de algo que o tenha feito bem. Iria ligar para ela. Saber das coisas. Antes quase não se falavam. Eram bons amigos. No entanto, consideravam-se amigos de peito. Que estava sempre um no peito do outro. Protegidos.
Largava-se por longas horas a estabelecer uma comunicação entre corpo e mente. Uma manobra aqui, outra ali. Gostava quando via algo que precisava consertar. Às vezes melhorava algo já feito. Isto, quando não saía do apartamento. Quando se arriscava por aí, às vezes tomava um café, ia a uma loja de artigos esportivos, a uma livraria. E foi no trabalho, numa manhã de quarta-feira, que uma proposta feita por um colega o resgatou da indiferença. Esse colega, que chamava-se Aírton, queria conciliar as férias com as da esposa, dali a três meses. E, sabedor que Paulo era quem tiraria nesse mês, sugeriu que trocassem as datas e Paulo poderia tirar no mês seguinte. Paulo se empolgou, a princípio. Pois não havia programado nada para as férias até então. Disse ao colega que fosse conferir com o supervisor se a troca seria possível, visto que o mês caminhava já pela metade. Enquanto esperava o retorno, trabalhou aquele dia com novas expectativas. Não sabia exatamente pelo quê. Mas sentia-se bem. Sentia-se diferente. Quando foi a tarde, pouco antes dele ir embora, o colega veio dizendo que conseguira mudar as férias deles.
Paulo queria contar a novidade para Vitória, talvez fosse a notícia base para uma conversa. Estava sentindo falta da atenção dela. Porém, não conseguia concluir a ligação. Chegou a supor que ela tivesse trocado de número. Tentou por mais inúmeras vezes, sem resultado. Não iria ao apartamento dela sem avisar, tampouco no hospital, o que seria incabível. Acomodou-se em casa. Deixou-se ficar sossegado, àquele resto de dia.
Ele estava deitado, peito para cima, olhos mirando o vão do teto. O telefone tocou. Viu que era Spam. Ia desligar a chamada, mas uma intuição o fez atender.
- Alô!
- Oi, como vai?
- Vitória!
Ele ergueu o corpo, foi em direção à cozinha, resgatado mais uma vez.
- Eu estou bem - disse ele. - E você?
- Eu estou bem. Venho te ligando desde ontem. Você não atendia.
Ele abriu a geladeira e encheu um copo com água. Tomou um gole e perguntou;
- Com números diferentes? Pois nenhuma ligação que recebi mostrava ser sua.
- Perdi meu telefone no metrô. Eu estava subindo no trem e ele caiu da minha mão.
- Se soubesse que era você teria atendido. Hoje algo me disse para atender.
- Pois é. Eu estou tão ocupada como nunca estive. Estou dobrando turno todo dia esta semana. Só chego em casa e durmo. Deixei de fazer muitas coisas.
- Eu não ter atendido te deixou na mão? Você precisava de algo?
- Não. Queria só bater papo. Nada demais.
- Pois então saiba que isso que me deixa mais feliz. Pois você querer conversar comigo no tempo que lhe sobra é algo que valorizo.
- Gosto de conversar com você. Me traz uma paz. E este stresses está me deixando doida.
- Eu tentei te ligar também. Mas só agora entendo por que não estava sendo possível falar com você.
- Você não imagina como tem sido difícil. Tão difícil que eu não estou tendo tempo de comprar outro telefone e nem de ir à operadora de telefonia levar um telefone velho para cadastrar o meu número. Literalmente estou sem tempo. Tenho tentado te ligar de orelhão. E encontrar orelhão é triste. Hoje é que tirei folga depois de dobrar turno a semana toda.
- Podemos marcar alguma coisa.
Ao dar esta investida, esperou por uns segundos a resposta de Vitória. Ela disse que podia ser.
- Tem um café aqui perto de onde estou. Aproveitei a folga e vim ao centro resolver minhas coisinhas.
Paulo guardou o endereço e foi de encontro a ela. Ficou esperando no lugar marcado. Deixou-se ficar sentado em um banco à porta de uma galeria. Não demorou avistá-la. Ela vinha andando tranquilamente, com umas sacolas e uma bolsa a tiracolo. Soprou um suspiro de alívio ao ter-se diante dele.
- Como esse entrar e sair de lojas cansa! - ela dizia isso dando um leve sorriso que deixava parcialmente os dentes a mostra. Um sorriso um tanto expressivo.
Paulo não disse nada. Apenas devolveu um sorriso um pouco mais recuado. Seguiram pela rua e entraram em uma galeria logo adiante. Uma galeria grande, bem maior que outra, em frente à qual ele estivera a espera dela. Entraram. Ele ia se guiando por ela.
- Tenho que ir lá em cima - ela disse. - preciso resolver mais uma coisa. Depois podemos ir ao shopping tomar um café.
Seguiram pelo térreo até o elevador. Entraram. Ela apertou o botão do quarto andar, porém, antes de alcançar o terceiro andar, o elevador parou. Exatamente entre o o segundo e o terceiro andares. A princípio, reagiram naturalmente, ao entenderem que tivesse sido um solavanco de percurso. Mas ao sentirem que o elevador estava parado no vão do poço, entre os dois andares, começaram a se entreolhar. Vitória chamou pelo botão de emergência. Paulo disse que ficasse calma. Que logo tudo se resolveria e logo estariam fora dali.
...continua...