Pequena Novela Em Sete Capítulos IV.
A Quarta Ligação.
- Oi, Paulo. Pensei que fosse me ligar mais cedo. Agora estou iniciando o plantão. Podemos conversar durante o meu intervalo.
- Entendo. Mas pelo menos me conta como conseguiu a fotografia do senhor Malvino. E por que a enviou para mim.
- Podemos conversar pessoalmente? Eu farei uma pausa no trabalho lá pelas dez horas. Se você puder vir ao hospital. Quero te ver.
Paulo não hesitou e confirmou o encontro. Ocupou-se em casa para não contar as horas. Os encontros com Vitória se vinham ocorrendo desde o começo da semana, porquanto já sentia-se a vontade com a ansiedade de vê-la. A ansiedade não o incomodava. Era algo retrospectivo. E nem bem davam nove e meia da noite, ele ligava o carro. Embrenhou-se pelo centro da cidade, indo achar-se mais uma vez naquele grande hospital.
Encontrou-a na mesma ala aonde havia estado com ela duas noites atrás. Ela veio até ele. Estava arguta, o que ele notou pelo jeito solto dela de andar e pela face lúcida.
- Espero que não esteja aborrecido de ter de vir até aqui - ela foi dizendo. - Deveria está em casa descansando.
- Não se preocupe. É até bom sair um pouco. Ver a cidade à noite. Principalmente porque voltei a dirigir.
- Eu te mandei aquela fotografia porque fiquei cismada quando me contou aquela história. Eu queria saber se tratava-se do tal senhor. Mas você já me confirmou isso.
- Onde conseguiu?
- Pois então... Quando você me contou aquela história, eu fiquei cismada. Acho que meio cismada e meio curiosa. Então procurei o registro de entrada do meu paciente. Nem sei por que fiz isso, mas foi como se algo dentro de mim pedisse para eu fazer. Encontrei a fotografia no registro dele e depois olhei o prontuário.
- Fiquei assustado quando recebi. Antes de abrir pensei que fosse alguma mensagem de bom dia. Foi meio forte olhar a imagem dele. Pois ela me remeteu a lembranças desagradáveis em relação a ele, exclusivamente a ele.
Vitória, baixou por um breve momento a cabeça. Como que em continência ao comentário de Paulo. Depois ela foi dizendo;
- Sabia que ele poderia ter saído com vida daqui?
Paulo olhou-a, desentendido e atônito. Deixou que continuasse. Ela então emendou:
- Eu vi o prontuário dele. Eu o tinha recebido e fui eu quem começou a acompanhá-lo. Na última visita ao leito dele, eu disse às enfermeiras que tomassem algumas precauções e dei sérias recomendações, principalmente sobre os corticóides, e disse que ele não aguentaria muito bem a biópsia, que era para não fazer. Não vou entrar muito em detalhes, não cabe falar. Mas o fato é que eu deveria tê-lo acompanhado pelo menos por mais uns dias. O que não ocorreu. Pois me pediram para trocar de turno. Mesmo o outro médico refazendo os exames e dando seguimento ao tratamento dele, eu deveria estar por perto acompanhando. Coisa que eu não fiz. Ele então teve sérias complicações que acredito eu poderiam ter sido evitadas se fosse eu que estivesse com ele initerrupatamente.
Vitória segurou as mãos de Paulo. Ele respondeu com sorriso meigo e disse:
- Se você está preocupada porque se sente culpada, não devia. Infelizmente ele não foi feliz com o tratamento. Mas não convém você se sentir culpada. Isso não é justo. Você estava tratando dele. Em nenhum momento negou atenção a ele. Então não faça isso.
Ele deu um sorriso, dizendo:
- Tem razão. Eu queria te contar isso. E, mais do que isso, queria a sua presença. Ela me faz tão bem. Tem sido tão bom te ver esses últimos dias. Está sendo uma semana cheia de coisas. Mal começou. Mas, em fim... Espero que não tenha sido atrevida em descobrir que o homem a quem estava tratando era o seu inimigo. Fiquei curiosa, só isso.
- Não se preocupe. Mas tem uma coisa. Não sei se é prudente falar...
- O quē?
- Se a maldição que ele me jogou naquele dia tiver me atingido mesmo... Espero que saia agora. É forte eu falar isso. Mas por cinco anos eu venho acreditando nela.
Dessa vez Vitória não encontrou o que falar. Ficaram ainda a conversar por um tempo. Até que Vitória voltou ao trabalho e ele, para casa.
continua...