A MOÇADA DA PERCEPÇÃO BLUE (REVELA AÇÕES) — LXII—
A MOÇADA DA PERCEPÇÃO BLUE
(REVELA AÇÕES) — LXII—
EU ESTAVA FRENTE ao noticiário vespertino da Globo quando o garotinho, filho do então tenente PM, o Fulano que mais gostava, quando criança, do colo de Paizão, aproximou-se de mim e ficou a repetir:
— “Deglaçado, desglasxado, desgraxado...”. Eu logo compreendi. A criança estava a repetir o que o pai ordenou que me dissesse. A mãe do garoto ouviu a lenga-lenga do filho e chegou até a sala repreendendo-o:
— Menino, pare com isso. Ela reprimia o filho com voz alterada, e estava prestes, talvez, a dá-lhe uns tapas. Eu intervi, dizendo.
— Não é nada, não é nada, é só uma criança, não precisa bater nele. Ela respondeu:
— Foi com certeza o pai dele que o levou ele a fazer isso. Virando-se para mim disse:
— Desculpe, essa criança não teria tomado essa iniciativa se não fosse de mando do pai. Desculpe. E pegando o garotinho pela mão conduziu-o até a cozinha. Mãezona tinha ouvido tudo. Ela estava em companhia da mãe do garoto, mas fez-se de ouvido mouco. Mãezona nunca reprimia ninguém que tomasse a iniciativa de, de alguma forma, dirigir-me agressões.
MÃEZONA CHEGOU do meu lado, como se não tivesse acompanhado o palavreado do neto, dizendo, como se surpresa:
— O que foi, que aconteceu??? Respondi, mesmo sabendo que ela tinha ouvido tudo. Afinal, dela não escapava nada do que acontecia na casa, mesmo que não estivesse presente. Respondi, para não encompridar a conversa:
— Não foi nada não, coisa de criança.
O FEDELHO NEM sabia articular direito as palavras. Ele queria dizer “desgraçado”. Tal como seu pai havia dito que ele dissesse. O tenente PM, que, quando criança tinha, talvez, promovido mais orgasmos em seu bumbum do que a própria mulher de paizão nela, estava fazendo o jogo das agressões rituais à minha pessoa. A mim, o “bode expiatório” da família. O filho primeiro que deveria contentar-se em “se sacrificar pelos irmãos menores”. Era dessa forma que ela direcionava cada um e todos os irmãos em meu desfavor. Afinal, eles eram pessoas, filhos e filhas facilmente influenciáveis.
A MÃE DA ZONA familiar pouco se importava o quando doía em mim estar sistematicamente sendo boicotado por ela. Seu tinha em mente que ela me polarizava contra meus irmãos e irmãs porque tinha necessidade de manter a autoridade familiar dela e do marido. Que eu era, por minha simples existência, o fator desagregador familiar. A ela e ao marido não importava minimamente o quanto essa estratégia familiar mórbida me humilhava e oprimia.
A FARDA DO TENENTE exercia grande influência sobre ela. Ela tinha medo da autoridade que o traje militar representava. Ela tinha o soldadinho na palma da mão, mas o uniforme era para ela um fator de respeito e temor. Afinal, não tinha sido o ditador alemão da década de 30/40, o militar responsável pela liderança da Alemanha nazista??? O déspota que representava os grandes heróis do passado ariano da super raça à qual ela também acreditava que pertencia??? Seu sobrenome alemão lhe dizia que sim.
O TENENTE CUMPRIA obrigação diária na unidade militar conhecida por força de segurança do Palácio do Governo. Ele tinha excessivo respeito, eu diria mesmo, excessiva admiração por um governador que estava enredado por muitos deslizes de conduta nos esquemas denunciados de corrupção governamental. Mas, o tenente não poupava argumentos em favor do governante. Afinal, ele estava a cumprir o papel dele. Fazia parte da casa militar do Palácio de Karnak.
ESSE MEU IRMÃO, nesses parágrafos chamado Fulano, estava vivendo as sequelas do período de submissão às relações doentias de Paizão com seus filhos menores de idade. Acredito: ainda hoje, décadas e décadas após esses eventos mórbidos, todos os seus filhos, conscientes ou inconscientemente, estão sob a guarita enfermiça, patológica, sequelas das investidas de Paizão Coisinha em seus bumbuns infantis.
EU ME DIRECIONEI, certa vez, quando geria uma agência de publicidade e propaganda que mantinha com um sócio, até a casa militar do Palácio do Governo, para solicitar dele que facilitasse meu acesso ao Gabinete do Governador. O objetivo estava em mostrar uma campanha de publicidade envolvendo várias mídias de propaganda, campanha essa que promoveria para todos os demais estados brasileiros, o Parque Nacional Serra da Capivara, unidade de conservação da natureza que ocupa sítios nos municípios de São Raimundo Nonato, Brejo do Piauí, João Costa e Coronel José Dias.
O PARQUE NACIONAL da Serra da Capivara é a maior e mais antiga concentração de sítios pré-históricos da América. Mas, havia um empecilho: no Piauí tudo e todas as coisas são por demais controlados pelos filhinhos de papai. Os filhos e filhas de políticos que roubam as ideias de quem quer que seja que as apresente à uma das muitas secretarias de governo. Eu nunca vi com simpatia uma aproximação com essas pessoas e seus interesses pessoais que extrapolavam de dentro delas em seus olhares, em suas falas, em seus gestos. Faltava nelas certa simpatia pelas ideias. Talvez porque nunca tivessem nenhuma.
SEMPRE TIVE dificuldade em lidar com essa gente fina que trabalha nas burocracias governamentais, protegida pelo nepotismo. Os filhos de pais, parentes e outros conhecidos políticos. Essa gente fina, a começar das pernas, que não possui cultura, exceto aquela, da disposição de roubar covardemente a quem quer que seja que não se afine com suas afinidades eletivas. Nepotismo que explora a atração e a fusão de corpos por quem se afirma disposto a se envolver com suas carências e interesses financeiros, emocionais e econômicos. Eu nunca tive nem nunca terei tal disposição.