A MOÇADA DA PERCEPÇÃO BLUE (REVELA AÇÕES) — LV—
A MOÇADA DA PERCEPÇÃO BLUE
(REVELA AÇÕES) — LV—
QUEM PODERIA salvar a alma do jovem futuro, se seu corpo físico não parava de se degenerar em mãos paternas??? Quem poderia salvar o futuro daquelas crianças, a adolescência das crias paridas pelo centrão carnal fundido e fodido de Paizão Coisinha e Mãezona??? Quem ousaria desativar a bomba do abuso sexual adaptada aos fundilhos, em seus rabos infantis, sobre o carrapato pânico e debilitante da formação traumática de um casal de ânimo apodrecido moralmente, animado unicamente por seus medos???
MÃEZONA COMEÇAVA a surtar quando ouvia falar em Psicologia ou Psicanálise: Sigmund Freud para ela era anátema. Se o sujeito era judeu, para ela não podia prestar. Olhar para aquela mulher já era infeccionar-se com seu capital de bagatelas. Lembro-me dela tecendo nó e nós nos fios de pequenos pedaços de pano. A concentração dela era tão formidável ao manipular cada nó, um atrás do outro, que ela nem se dava conta que poderia estar sendo observada.
ERA COMO SE ela estivesse juntando o tutano, a substância, o cerne pensante e sensitivo de uma pessoa e se garantindo de que essa pessoa estivesse para sempre acorrentada naqueles nós-nós. Era eu, meus irmãos e irmãs, que ela estava algemando??? Excessivamente concentrada e ao mesmo tempo emocionalmente dedicada a atá-los em tal estado de abstração exagerado, que eu diria que ela estava mesmo em outra dimensão. Fazia parte de sua mágica sobrepor-se à dimensão, para ela incompreensível e irredimível, da própria realidade que criara para ela, o marido, a filiação.
COMO AQUELA mulher, que eu deveria chamar de mãe, era desesperadamente covarde, medrosa, receosa, molenga. Ordinária mesmo. Por que se proibia de ler a literatura enquanto possibilidade de desenvolvimento mental??? De ampliação de sua percepção demasiadamente embotada??? Minha psicóloga dizia que, pelo perfil traçado dela, tudo que ela queria ao se casar, tinha sido obter um lugar para comer, dormir e fazer suas necessidades básicas. Ela não sabia fazer outra coisa. Que não fosse sobreviver.
QUANDO NOS sentávamos à mesa atendendo o chamado do almoço, lá estava ela, comendo furiosamente, como se estivesse sem comer há muito tempo. Sua ansiedade por comida não era nada boa de se ver. Tudo nela estava intrinsicamente veiculado às carências e à dor. A dor da vergonha de não poder compreender-se. De não poder se olhar no espelho de suas verdades, dos abusos sofridos e nunca verbalizados. O medo de ser ela mesma para depois de se ver no espelho de suas aflições, poder compreender-se e se renovar enquanto pessoa: tornar-se um ser humano.
EU GOSTARIA de me comover e chorar ao escrever estas linhas. Mas ela não se permitiria jamais que alguém, quem quer que fosse, permitisse vê-la e com ela se comovesse. Seria humilhação para ela. Ela, que se queria uma deusa empoderada a dirigir e digerir a vida dos filhos. Ela se desprezava com tamanha intensidade (sem saber disso) que não poderia contemplar-se no espelho de uma reflexão sobre si mesma. Ao se refugiar no universo paralelo de sua subjetividade vodu, da manufatura de seus bonecos e bonecas, das representações de como ela queria que coubessem nas mãos, seus filhos...
SEUS FILHOS crescidos, que ela não compreendia o que faziam próximos a ela. Ela os queria pequenos, do tamanho de suas bonecas e bonecos. Se deles se entediasse, poderia pô-los no bolso ou na bolsa e esquecer que existiam, tamanha era a incompreensão que tinha de cada um deles. De mim, sobretudo, notadamente. Ela fazia questão fechada em nem sequer tentar me compreender, me respeitar, me dá um abraço. O Sertão rosiano dentro dela era algo aterrador. O horror de se penetrar e conhecer, era algo palpável. Dava para ver seu interior se recusando a se reconhecer.
SEUIS TRAUMAS intensificavam de tal modo suas memórias, que ela preferia nem de longe considerar-se alguém que desse o fora deles. Era uma criatura esmagada por sua própria terra interior devastada por eventos que, na infância, com certeza, haviam marcado profundamente seus critérios de avaliação dela, dos outros, do mundo exterior.
ELA SE ESFORÇAVA sempre por me desacreditar perante a ralé familiar, com apoio incondicional de seus outros filhos, filhas e de Paizão Coisinha. Um deles se destacava no se aproximar e se sentar no colo de Paizão em meio à rede de tucum armada na sala de estar. Era o quarto ou quinto filho por ordem de nascimento. Primeiro enviado para um seminário no Ceará. Depois para a formação aquartelada numa academia de polícia. Queria-se privilegiado pelos orgasmos de Paizão no fundilho.
EU ERA UMA criança sobrevivendo num clima familiar de extrema hostilidade. Hostilidade quando não de ameaças e espancamentos, a hostilidade calada, silenciosa de uma família na qual eu estava sobrando porque Mãezona e seu marido, faziam questão de mostrar a todos que eu não era normal. Ainda hoje (estou com 74 primaveras) a sociedade gayzista faz questão de mostrar hostilidade à minha condição existencial de não pertencer a essa grei. O rebanho gay hostiliza quem não faz parte dele. Eles reconhecem, vai saber, uma pessoa pelo odor, talvez, pela expressão corporal, pelos maneirismos nos gestos, nas falas, pelo olhar que não condiz com suas expectativas.
A SOCIEDADE brasileira hostiliza, em todos os cantos e recantos, quem não pertença a essa confraria, a esse rebanho, a essa agremiação, a essa irmandade, a essa sociedade secreta. Por outro lado, o machismo é um sintoma de que o indivíduo está a viver e a suportar a síndrome, como diria o Fernando Gabeira, do “Crepúsculo do Macho”. Eu testemunho essa verdade em todos os lugares:
NO CAIXA DO banco, seja masculino ou feminino na aparência, seja aonde for, há a presença calada, insuspeita, do preconceito contra quem não se mostrar pertencente à grei adamada. Um exemplo dentre centenas??? Vejamos: depois de três anos usando uma prótese dentária que foi paga em mais de 33 mil reais, somando-se a extração dos dentes remanescentes, dirigi-me ao consultório dentário da Agami odontologia, na Praça Oswaldo Cruz, 5° andar.
ANTERIORMENTE, durante as sessões de extração e preparo bucal para a instalação da prótese, o dentista, um sujeito robusto que, inicialmente me atendeu, não parava de me contar suas histórias (assédio) enquanto atendia às solicitações do procedimento bucal terapêutico. Dizia isso e aquilo, falava sem parar, parecia excitado. Por vezes chamava um assistente e ficavam ambos conversando, enquanto dava continuidade aos procedimentos odontológicos.
EU SUPORTAVA calado o assédio ininterrupto do sujeito. Estava na condição de seu paciente. Antes desse atendimento do odontólogo, não sabia quem me atenderia em um dos consultórios dentários do lugar, na Paulista com 13 de maio. Não conhecia anteriormente ninguém. Minha mulher me indicou o lugar onde também ela havia frequentado em tratamento dentário anteriormente.
O DENTISTA contava de seus interesses particulares, de sua insistente frequência num tal clube de Jazz na Angélica. Eu, sem saber como proceder, de que maneira, com educação, mandá-lo tomar no cu ou ir à puta que pariu, antes de uma sessão dentária posterior, comprei um CD de famosa cantora americana, não lembro ao certo se Sarah Vaughan, Nina Simone, Ella Fitzgerald ou Billie Holiday. Pedi a mulher que me atendeu na loja de discos, que embrulhasse para presente.
NO DIA SEGUINTE falei com a atendente na sala de espera do consultório, que entregasse ao sujeito o presente, desde que ele não parava de me assediar dizendo que gostava de Jazz. A mulher passou ao gayzão o Cd. Passado um tempo o obcecado assediador, sem graça, mas sempre parecendo agitado, me agradeceu o brinde. Desde aquele dia, substituiu o atendimento que ele fazia por outra dentista. Desta vez mulher.
RESUMINDO: TRÊS anos depois me dirigi ao lugar para promover a limpeza das próteses superior e inferior. O dentista, um veadinho (não digo isto com preconceito, apenas atesto o que vi) que me atendeu, também exageradamente agitado, parecia mesmo drogado, talvez de cocaína, desatarraxou os pequenos parafusos da prótese superior, e saiu com ela da sala. Ao voltar e concluir o procedimento de limpeza, ele se mostrou preocupado com o pagamento dizendo-me:
— “SÃO SEISCENTOS reais, você paga à secretária atendente na sala de espera”. Após efetuar o pagamento, em seguida saí. Poucos dias depois o dente do lado superior direito correspondente ao canino, caiu. Evidenciou-se a pirataria do dentista. Em minha avaliação, ele propositalmente criou condições de o dente cair. Durante três anos ele permaneceu no lugar, antes que eu fosse providenciar uma suposta limpeza da prótese. Eu havia pagado para ele danificar uma prótese dentária equivalente a mais de 33 mil reais (a superior, a inferior e as extrações). Se eu voltasse ao consultório, não seria para fazer reclamação, mas para promover um barraco, uma via de fatos que poderia terminar mal. Muito mal: um evento policial, talvez com vítima fatal.
O BRASIL É UM país com leis por vezes aparentes. É um país moralmente infeccioso. A pandemia da viadagem não tem vacina nem cura. Está presente nos restaurantes, nos shoppings, nos bares, nos hospitais, nas programações televisivas, nas polícias, lojas e boutiques, nas editoras, nas FFAA, nos consultórios médicos, lupanares odontológicos, nas salas de aula de escolas e faculdades, no interior das comunidades e agremiações esportivas, nas galeras dos estádios, no Congresso, no Palácio do Planalto aqui, ali e em todos os lugares. Em baiucas familiares: nas ruas, igrejas e templos particulares.