A MOÇADA DA PERCEPÇÃO BLUE (REVELA AÇÕES) — XXII —

(REVELA AÇÕES) — XXII —

PAIZÃO HAVIA despertado para a falta de caráter de Coisinha Júnior. Este, cuidava de receber e distribuir o salário de aposentado dele. Antes, essa responsabilidade estava em mãos de Dulce It, “A Coisa”, a irmã mais intensamente perturbada de toda a família. Ela se mantinha como que um androide, de olhos sempre arregalados e a atenção fixa num lugar em que apenas ela tinha acesso. Possivelmente guiada por uma fixação em Paizão que sabia como manter a mente dela sob absoluto controle. Haviam tirado dela a tarefa de cuidar do salário de aposentado de Paizão, porque ela estava canalizando quase todo o recurso salarial dele para despesas de sua própria família.

A MUDANÇA DE “A Coisa” para Coisinha Júnior na administração dos recursos salariais do Velho Pai, em nada mudou. Coisinha Júnior se apossava do salário de Paizão para mobiliar a casa que havia ganho dele, construída num terreno com recursos dele, Paizão, e investia em seu próprio benefício os recursos salariais de Paizão aposentado. Era difícil ver e não fazer nada para impedir que Coisinha Jr. se apossasse tão descaradamente de tudo que restava ao Velho Pai: o salário.

COISINHA JÚNIOR havia chantageado emocionalmente a ambos, pai e mãe, com a desculpa de que estava propenso a cometer suicídio, porque não sabia o que fazer da própria vida desperdiçada, sem rumo. Ele contava uma história muito estranha e cheia de furos. Havia se apaixonado por uma mulher que ele denominava “Cubana”. Mais não dizia nada sobre ela que não fosse a acusação de que a mesma havia acabado com a vida dele, abandonando-o de repente e o conduzido a um estado emocional deplorável.

ANTES DISSO, havia recorrido a outro irmão que havia se estabelecido na capital federal e trabalhava de assessor legislativo de um senador da República. Morou com esse irmão e, de repente mudou para a casa dos pais onde eu estava de hóspede. Eu buscava não ter contato nenhum com ele, por saber que Coisinha Júnior tinha uma vida bastante esquisita, com amizades de um pessoal marginal do qual se dizia amigo, mas vivia a reclamar, escandalosamente, de um ou de outro evento em que fora, por algum deles, passado para trás em quantias emprestadas de pequenas montas do dinheiro que roubava de Paizão.

HAVIA UM VIZINHO, que morava no meio da quadra. Ele tinha problemas policiais: preso por furto, tráfico e porte de arma. Era amigo prezado por ele, Coisinha Júnior. A justificativa é que haviam sido colegas de infância e, portanto, na lógica de Coisinha Júnior, era uma amizade que ele não poderia evitar, desde que consagrada pelo tempo.

OUTRO CONVIZINHO, filho de uma costureira, reclamava das cenas de ciúmes que Coisinha Júnior fazia quando este mesmo amigo dele estava a conversar ou trocar ideias, ou falar ao telefone com outras pessoas. Coisinha Júnior me censurava por pagar ao vizinho a prestação de serviços quando havia falha no PC de meu uso. Ele dizia que eu sabia que ele estava brigado com o Fulano, e mesmo assim ignorava isso:

— Você sabe que eu não me dou bem com Fulano, mas chama ele para ajustar problemas no PC. Isso é provocação. Eu respondia:

— Seus problemas são seus. Não tenho nada com eles. Não sei nem quero saber se Fulano é ou não seu amigo ou inimigo. Pago por serviços prestados porque preciso trabalhar no PC, se não tiver funcionando bem, como vou fazer???

MÃEZONA SEMPRE alimentava as paranoias e histerismo comportamentais de Coisinha Júnior. Talvez com remorsos por ter feito discursos insultando-o e retaliando nele todo o ódio que vituperava contra o marido, quando esse frequentava a casa da amante. Coisinha Júnior era apenas um feto que ainda estava na barriga dela, mas ela não o poupava de censurar sua existência, freneticamente, mesmo antes de seu nascimento.

NO PROTAGONISMO invisível por detrás do comportamento imprudente, pateta e ventoinha de Coisinha, estava a presença robusta da influência materna. Mãezona alimentava a falta de personalidade e de caráter dele, como se estivesse a fazer algo em seu favor. De ser Mãe ela nada tinha aprendido, mesmo depois de ter gestado 25 embriões, quinze dos quais abortos, e os dez que haviam conseguido sobreviver às gestações.

ELA SEMPRE seria uma criatura bronca relativamente à educação filial. Quando eu, com a devida afabilidade buscava fazê-la compreender que estava dando força a quem precisava contrariar por agir de várias formas inaceitáveis e trapalhonas, em relação a várias pessoas, ela dizia:

— Seu irmão precisa de meu apoio, não de ser por mim contrariado.

— Você não vê que ele está muito doente??? Ele precisa de um psiquiatra, ou de um psicólogo. Eu conheço uma psicóloga muito competente. Irmã da Fulana, minha namorada que você conhece. Por que não o indicar para um tratamento???

— Ele jamais aceitaria. Ele se julga a pessoa mais normal do mundo, respondeu ela.

— Você sabe que ele não é. Por que não tenta convencê-lo???

— Eu não, não quero que ele se volte contra mim. Ela, réu confessa de seus medos. Réu confessa de muitas culpas.

ERA ASSIM QUE Mãezona encarava os problemas: fugindo imediatamente deles. Saindo da possibilidade de uma solução. E Coisinha Júnior deitava e rolava sobre a fragilidade emocional, mental e a poltronaria dela com relação à criação, não apenas dele, mas, em minha avaliação, de qualquer outro de seus filhos.

ELA NÃO VIA meus esforços em buscar que ela fizesse a coisa mais certa com relação, não apenas a essa, mas a uma grande quantidade de outros incidentes familiares e acontecimentos provocados por sua supremacista e fanática influência familiar. Ela se queria superior, dizia-se descendente de alemão por parte de alguém da família. Orgulhava-se de seu sobrenome alemão. Depreciava sempre dos familiares do marido.

ELA JÁ HAVIA desbancado o marido da chefia familiar. Chefia que ele exercia em marés de violência covarde passadas, unicamente para me espancar. Surrar e me ferir, física e moralmente, era para ele uma mostra de masculinidade para toda a família. E uma mostra do que aconteceria a qualquer deles que, igual a mim, o afrontasse. Eu, que então não passava de um franzino garoto pressionado por ela a me humilhar e aceitar os espancamentos de Paizão como se fossem atitudes merecidas, não via a hora de sair da proximidade daquele bando de alucinados que aceitavam o massacre sobre mim como se fosse a coisa mais certa do mundo. Quietos, discretos, fechados em si, os irmãos medrosos e covardes, estavam na zona de conforto deles. E dela não queriam, não podiam sair.

DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 24/05/2022
Reeditado em 16/10/2022
Código do texto: T7522604
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