Sem Título
Novela em construção
I
- Filho, você sabe que amanhã de manhã cedo você tem uma entrevista de emprego, não sabe?
- Sim, mãe, eu sei. Ainda não me decidi se eu vou ou não.
- Como assim? Você tem que ir, sim. Você já se esqueceu o que eu tive que fazer para conseguir essa entrevista? O senhor Oscar está sendo tão bom com a gente. Bondade que devemos à amizade que ele tinha com seu pai e à compaixão que ele tem por mim, viúva que tem que sustentar com uma pensão pobre seu filho de trinta anos!
- Ei, calma, mãe! Não precisa ser ofensiva!
- Desculpe-me, meu amorzinho, mas tem hora que você me desespera…
- Ah, para com isso, mãe. A senhora é muito melodramática!
- Melo o quê? Você não tem vergonha de falar assim com sua mãe? Não tem vergonha de ser sustentado por uma pobre viúva?
- Não estava te ofendendo, mãe. Quis dizer que a senhora faz tempestade em copo d’água.
- E como ser diferente? Um homem de trinta anos desempregado que não procura emprego e passa o dia todo trancado nesse quarto sem fazer nada!
- Sem fazer nada? Como assim? Agora é a senhora que ofende.
- Desculpe-me, filhinho, mas a mãe fica preocupada.
- Por isso digo que a senhora é melodramática. Tenha paciência, estou procurando uma boa ocupação. Uma ocupação que atenda bem às minhas qualidades profissionais.
- Como assim? Qualidades profissionais? Você nunca trabalhou…
- Mãe, eu terminei o mestrado. Ou era o mestrado, ou era aceitar qualquer empreguinho. Não poderia abandonar minha carreira acadêmica por preocupações menores da senhora.
- Carreira acadêmica? E o que você ganhou com essa tal carreira acadêmica que não consegue arrumar um reles empreguinho? E o que significa isso de “preocupações menores”? Você tem noção da dificuldade que é sustentar um marmanjo como você com a pensão de uma viúva?
- Mãe, de novo, por que tanto ódio? Controle-se!
- Ah, filhinho, desculpe essa velha amargurada, solitária…
- Putz, vou dar uma volta, não aguento suas queixas!
Continua...