A MOÇADA DA PERCEPÇÃO BLUE (REVELA AÇÕES) — XVIII —
A MOÇADA DA PERCEPÇÃO BLUE
(REVELA AÇÕES) — XVIII —
NINGUÉM NASCE HOMEM, torna-se homem. Simone de Beauvoir em seu livro O Segundo Sexo escreveu: “ninguém nasce mulher, torna-se mulher”. Neste livro Simone desafia as mulheres a contestar a soberania do macho. Mas talvez ela estivesse a ignorar que essa propalada soberania nunca existiu. Desde os tempos perdidos do Paraíso Perdido, Eva, em conluio com a Serpente, enganou Adão e contribuiu, ela, para que fossem expulsos do lugar em que viviam. Onde está a soberania do homem, desde os tempos do Gênese???
A VERDADE QUE TODOS parecem não querer encarar é que as mulheres foram sodomizadas desde sempre. Eva não tinha condições de formar juízos sobre nada e coisa nenhuma. Para conseguir compreender o mundo em que estava, para o qual fora criada como fêmea paradigma da espécie primata Homo sapiens, ela precisava viver e conviver com seus pares. E seu par era, no início, unicamente Adão. E Adão eram, tudo indica nos textos ditos sagrados, um bobão.
AS CRIANÇAS NÃO ERAM respeitadas na Grécia antiga, nem nas escolas, até o século XVIII. A pedofilia reinava inconteste em ambas. A cultura pedófila era simplesmente aceita enquanto normal. A pedofilia não era censurada. Sem condição de formação de juízos do que é certo ou não, como poderiam pais e filhos, saídos da cultura sem formação didática ou orientação pedagógica, criar uma cultura do saber que fantasias sobre assassinato e sodomização infantil eram erradas???
ADÃO E EVA ERAM UM casal de híbridos do DNA (ADN) das espécies de hominídeas que os antecederam. Suas moléculas selecionadas, continham instruções genéticas de desenvolvimento das funções de todos os seres vivos, e de alguns vírus. O ácido desoxirribonucleico armazena informação genética, controla e orienta a atividade celular que produz RNA, ou ácido nucleico. Este, por sua vez, sintetiza as proteínas das células de acordo com informes contidos no DNA.
AS NOÇÕES CIENTÍFICAS não faziam parte do repertório cultural de Paizão Coisinha e de sua mulher, saída de uma caverna suburbana onde habitava com seus parentes igualmente ignorantes e necessitados. Ela sequer havia terminado o segundo ginasial. Sem nenhum preparo para compreender a tecnologia envolvida na gestação de filhos dos quais era emprenhada todos os anos. Mas, cada gestação lhe dava a sensação de poder. Poder de gerar crianças para Jesus criar. Como se elas não precisassem de recursos financeiros e econômicos para se criarem com alguma mínima dignidade.
NA CABEÇA DAQUELA ginasiana que mal havia aprendido a ler, quase que iletrada, ignara, deseducada e bronca, ela poderia, a partir de sua vontade, dirigir a vida dos filhos que paria em direção a rumos que quisesse. Afinal, ela não os havia gestado??? Então, segundo sua avaliação xucra, poderia ela dirigir a vida deles na direção que quisesse. Torná-los ricos para dá-lhe uma vida em conformidade com suas imensas necessidades.
HAVIA CHEGADO O dia dela e do marido viajarem para o almejado Rio de Janeiro. Paizão havia cursado uma faculdade de odontologia, mas se dizia contrariado. Na realidade de suas aspirações, queria mesmo era ter cursado medicina. Mas, segundo ele, a mãe o havia impedido. Minha avó paterna era uma velhinha de estatura quase que anã, gordinha e totalmente perdida em ruminações de uma memória caduca e enviesada. Era uma velhinha gagá, contrafeita, torta, parecia perdida em memórias que só ela mesma poderia saber ruminar. Como aquela mulher poderia ter-lhe impedido de algo???
MEU AVÔ PATERNO tinha a aparência de um homem passivamente assombrado, intimidado por fantasmas do passado. Muito magro, tudo o que ambos conseguiram na vida estava naquele apartamento ou “apertamento” de um quarto, sala e cozinha minúsculos, na rua doutor Satamini, n° 20, apartamento 101, no bairro da Tijuca. Quando morreram, o apartamento foi vendido e o dinheirinho da venda distribuído entre os filhos. Estes, não consideraram a situação de penúria familiar de Paizão, em contraposição da situação social privilegiada de seus respectivos filhos.
CERTA VEZ, AO preencher um documento escolar, escrevi o nome dela com o sobrenome de Paizão. Ela ficou muito, muito aborrecida, como se eu tivesse cometido contra ela um grande agravo:
— Nunca mais escreva o sobrenome de seu pai em meu nome. Deus me livre de ter pertencido a essa família dele. Não há ninguém nela que tenha minha simpatia. São um bando de loucos, uns mais, outros menos. Até parte com o cão eles têm. Um parente de teu pai... E aí começou a contar algumas estórias escabrosas de feitos da família do marido de arrepiar.
NO ENTANTO, NA FRENTE da mulher do tio Hercínico, era toda amistosa. Conversavam horas trocando as mais diversas figurinhas sobre a vida pregressa de pessoas do mútuo conhecimento. Afinal, na cidade de Niterói, Rio de Janeiro, é que se iam hospedar em casa do marido de uma irmã de Paizão. Algum tempo depois, quando mantive contato próximo, ao ser hóspede da casa deles, essa tia, de nome Gracinha, falou a mesma coisa da mulher de Paizão Coisinha: que a família dela não simpatizava com ela, então namorada dele, por saber que tinham afinidades com coisas do capeta.