A MOÇADA DA PERCEPÇÃO BLUE (REVELA AÇÕES) — XIII —
A MOÇADA DA PERCEPÇÃO BLUE (REVELA AÇÕES) — XIII —
EU ESTAVA SEM NENHUM controle sobre minha própria vontade. Não me haviam consultado sobre se eu queria ou não ter sido comercializado por eles para quem quer que seja, Maçonaria ou outra qualquer instituição, secreta ou não. Não me perguntaram se eu queria ser o “cordeiro do sacrifício” da família. Era como se eu fosse uma coisa e eles pudessem mudar-me de lugar ou de função ao bel prazer.
QUE PODERIA EU FAZER para defender meus direitos de viver segundo minhas escolhas??? A mulher a qual eu deveria chamar de mãe levou-me, como havia dito, até a Cooperativa próxima de onde morávamos. A Cooperativa tinha uma sequência de quadros que mostravam dois burros atados por uma corda. Eles se seguem em direções opostas, cada um visando uma moita de capim. Não conseguem avançar em direção a elas para matar a fome.
OS BURROS VOLTAM-SE um em frente um ao outro e parecem compreender que precisam dirigirem-se simultaneamente, primeiro à uma, depois à outra touceira de capim, ambos numa mesma direção. O cartaz com a sequência de quadros estava encimado por um título: “Cooperação: — Até os burros compreendem”. Ou seja: quando o burro da esquerda se une ao da direita, nenhum dos dois passa fome.
ELA DEPOSITOU MINHAS economias e passou-se um tempo sem que se falasse mais nisso. Eu estava tranquilo porque, se o dinheiro do comércio de revistinhas e outros continuasse prosperando, rendendo juros, eu estaria com as mensalidades de minha faculdade garantidas futuramente. Eu continuei depositando as economias na caderneta de poupança da Cooperativa. Um dia ela me chama para dizer:
— Meu filho, seu pai estão passando por dificuldades e seus irmãos estão precisando comprar roupas e sapatos que já estão gastos. Ele mal está conseguindo no consultório, dinheiro para manter as compras no mercado. Você precisa ajudar seus irmãos, seu pai nas despesas da casa. Evidente que queria garantir o futuro de meus estudos. Ela, perversamente, me convencia a dispor de meu dinheiro para garantir a sobrevivência dos filhos deles. Como se eu fosse o pai deles e tivesse essa obrigação.
MEU AMIGO ZUCA continuou a fazer incursões na sala proibida do Colégio do professor Juracir nos finais de semana em que o vigia não estava presente. Nós, os meninos travessos, só sabíamos se o vigia estava ou não presente quando pulávamos as grades de ferro do Tribunal Regional Eleitoral e, após subir as escadas de um dos pátios, nos ajudávamos a descer em direção contrária à entrada do TER que permitia acesso ao interior do colégio.
O PROFESSOR JURACIR continuou a depositar o envelope com parte do dinheiro de matrículas e mensalidades, que certamente depositaria em banco na 2ª feira. Zuca continuava a me abastecer de grana que eu usava para negociar HQs, álbuns, figurinhas, e demais “artigos do dia” que se fizessem presentes. Continuei a abastecer a caderneta de poupança e a mãe continuou a me roubar o dinheiro depositado com alegações as mais diversas. Certa vez disse que eu estava sendo roubado. Que não era certo eu nunca conseguir manter as economias para meus futuros estudos. Ela, raivosa, me mandava calar a boca e dizia:
— “Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão”.
— Mas eu não roubei nada, disse, quem me deu o dinheiro foi o Zuca.
— Mas você aceitou, é quase a mesma coisa.
— E quem vai financiar meus estudos??? Nessa cidade só tem uma faculdade de direito.
EM PRINCÍPIO EU QUERIA estudar Astronomia. Mas, devido talvez às constantes lesões na cabeça resultado das agressões covardes de Paizão Coisinha, eu tenha decidido que dificilmente poderia concorrer com estudantes de matemática e geometria que tinham a ajuda familiar em outros centros urbanos mais desenvolvidos.
DESCONFIEI, TEMPOS DEPOIS, que as constantes remoções de minhas economias da caderneta de poupança na Cooperativa, tinham por finalidade financiar a viagem deles, pai, mãe e um casal de irmãos para o Rio de Janeiro. Eu tinha direito de ir nessa viagem, não meu segundo irmão. Mas este, contava com a simpatia de Paizão Coisinha porque era um irmão covarde, que não perdia uma ocasião de dedurar os demais irmãos para obter de Paizão a consideração que só os covardes obtêm de seus favoritos.
PAIZÃO TINHA A INTENSA determinação de me boicotar de todas as formas possíveis. Uma das razões desse boicote era o fato de eu não esconder minha desaprovação aos atos dele, um dos quais estava em sentar os filhos no colo, quando terminava o expediente no consultório, e ficar a excitar o pinto no bumbum deles, até o pijama ou a calça ficar borrado de esperma. O odor de porra se espalhava na sala, mas ele parecia ignorar que as pessoas tinham olfato e sabiam o que estava a ocorrer.
EU NÃO ACEITAVA ESSA atitude perversa de jeito algum. E conversava com eles, o segundo e o terceiro irmão, dizendo que aquilo não podia estar certo. E que se um dia eu pudesse, diria a todo mundo o que estava acontecendo naquela família que se tornara um antro de perversões covarde dele, para com meus demais irmãos. Estes, diziam a Paizão que eu estava prometendo denunciar essas condutas pedófilas. Eu não conhecia ainda essa denominação para adultos que, de alguma forma, submetem crianças às suas taras.
PAIZÃO FAZIA POUCO de minha pretensão futura em denunciar suas atitudes comportamentais, as mais descaradas e perversas, desde que causariam sequelas futuras no desempenho emocional daquelas crianças, meus irmãos e irmãs, que estavam emocional e intelectualmente sendo sabotados de modo perversamente precoce. Ele me odiava desde a mais tenra infância porque eu não aceitava as incursões de seu pinto em meu bumbum de menino com pouco tempo de idade. Meus gritos angustiados, desesperados, ao sentir que o membro de Paizão Coisinha se excitava ao roçar em meu bumbum, provocavam nele uma ira altiva e arrogante contra essa reação que visava defender-me de suas agressões de pederasta. Ele me jogava longe, no chão de cimento da sala. O que provocava inúmeras escoriações.