A MOÇADA DA PERCEPÇÃO BLUE (REVELA AÇÕES) — XII —
A MOÇADA DA PERCEPÇÃO BLUE
(REVELA AÇÕES) — XII —
O COLÉGIO LEO XIII funcionava em três turnos: manhã, tarde e noite. Segundo as opiniões gerais, cobrava caro, muito caro, pelas mensalidades. Eu pensava que usar aquelas sobras que o Zuca encontrara no envelope para garantir, em parte, minha educação futura, era como se fosse uma bolsa de estudos antecipada. Eu não poderia, com certeza, contar com dinheiro de Paizão Coisinha reservado para minha educação. Eu não tinha a menor simpatia daquele sujeito, meu pai, para minha pessoa. Pelo contrário.
DESDE MUITO PEQUENO eu, quando no colo dele, sentado sobre sua tralha, ao sentir a genitália de Paizão Coisinha se eriçar sob meu bumbum, eu, ainda muito criança, ficava absolutamente apavorado com as inclusões de energia maléfica que se aglomeravam num crescendo em torno de meu corpo. Eu suportava um tensionamento maléfico, como se proveniente do próprio inferno, se apoderando de meus sentidos com a finalidade de suborná-los, de se apropriar deles. De me nadificar enquanto existência física e psíquica.
EU BERRAVA DESESPERADO por socorro daquela que poderia me livrar das garras satanizadas da figura absolutamente mórbida de Paizão Coisinha. Quando ele não pressionava sua mão sobre minha boca, fazendo-me sufocar, quando via que a criança estava prestes a perder a vida por sufocamento, ele afrouxava a pressão sobre minha boca e, por vezes, sua ira me lançava frente à rede de tucum na qual estava sentado e eu caía sobre o chão de cimento úmido com escoriações no rosto e nos braços, devido ao impacto da queda. Então meus berros de desespero e de dor se multiplicavam.
ERA QUANDO, AFINAL, aparecia a figura materna a fazer de conta que estava surpresa e querendo saber o que havia ocorrido, quando ela já deveria saber que me deixar sob os cuidados de Paizão lunático, insano, resultaria nos mesmos comportamentos costumeiros. Sua mentalidade perturbada, sob influência de leituras sobre magia, sua revolta por ter sido preterido em razão dos privilégios às suas irmãs dos quais falava, toda a constelação de eventos mórbidos provenientes de sua educação, canalizavam na tentativa de me mumificar sob a pressão resultante de uma força maléfica na qual estava inserido.
PAIZÃO COISINHA ESTAVA sob comando, comunicação e controle de forças sobrenaturais com as quais convivia na ilusão de que, um dia, poderia dominá-las quando, em realidade, estava cada vez mais controlado por elas. Ele e a mulher tinham, em minha avaliação posterior, um pacto com essas forças sombrias do baixo astral. Um pacto fatal para suas limitações humanas. Uma aliança irreversível, da qual não poderiam nem pensar em tornar nulo seus efeitos sobre si mesmos e sobre seus descendentes.
TAVEZ PARA AMENIZAR essas sequelas maléficas que sobre mim se amontoavam, quando eu estava um pouco mais crescido, ela me inscreveu no catecismo da Igreja do Amparo, no qual frequentava semanalmente todos os sábados à tarde. A influência que a longo prazo exerceu sobre minha personalidade infantil essa frequência, talvez tenha salvo minha vida futura. Ou tenha sido um fator preponderante de influência benfazeja e benevolente que me permitiu seguir acreditando na vida.
PAIZÃO COISINHA ERA sim um fanático psicótico a serviço, possivelmente do Pacto Satânico do Vaticano. Seu comportamento com os filhos denotava uma espécie de fanatismo por uma sexualidade destorcida, sua pedofilia era incontrolável. E tinha a calada conivência de sua mulher. Paizão não poucas vezes servia ao serviço de coroinha nas missas da Igreja do Amparo. Monges do convento de Capuchinhos de São Benedito costumavam visita-lo à noite. Mas esses, com a finalidade de obterem alguns proventos de subsistência para suas carências alimentares. Pelo menos é o que eu supunha.
EU NUNCA ME SEDUZI por seu comportamento emocionalmente desajustado, incurial, sodomita. Sua pedofilia pode ter sido induzida pela vontade de submergir a filiação na infantilização das mentalidades que, segundo ele poderia imaginar, estariam voltadas contra ele, a mulher e a educação pervertida que ele desejava impor pela condição de crescente vulnerabilidade devido à pobreza ou carência de recursos financeiro.
NA REAL DAS VERDADES familiares, ele e a mulher estavam esgotados pelos esforços de criação familiar para os quais não estavam, nem de longe, minimamente preparados. Tanto ela quanto ele precisavam ter casado com cônjuges que os ajudassem a vencer suas deficiências de caráter e educacionais. Eles, dia a dia reforçavam essas suas deformações genéticas, de caráter, devido à educação ou formação escolar ultra carente.
O AMIGO ZUCA CERTA vez chegou para mim e disse:
— Teu pai e a tua mãe te venderam para a Maçonaria.
— Mesmo, perguntei, como é que você sabe disso???
— Eu sei por que o filho de um maçom me disse isso.
NÃO QUE EU TENHA de imediato acreditado nele. Mas, por via das dúvidas ou por dúvida das vias, no outro dia, me aproximei do sofá de madeira em que ela costumava ficar sentada boa parte do dia, quando não estava em seus afazeres domésticos, e perguntei, apreensivo:
— Mãe, é verdade isso que o Zuca disse que o pai e a senhora me venderam para a Maçonaria??? — Ela ficou concentrada, como sempre fazia quando pensava uma resposta, baixando a cabeça em direção às mãos que se entrecruzavam com os dedos, como se estivesse no esforço de se concentrar, em resposta disse:
— É para seu bem. Seu pai vendeu você para a Maçonaria, sim. Meu filho, em toda família grande tem de haver alguém que se sacrifica pela família. Tem que ter um “bode expiatório” dos pecados de todos para que os outros possam ter uma oportunidade de crescimento na vida. Esse “bode expiatório” nessa família é você. E como sempre dizia, com a convicção de quem não cansaria de repetir: ““nessa família o “bode expiatório” é você. Você deve se orgulhar de se sacrificar por seus irmãos menores””. Eu não me orgulhava não. Longe disso. Minha alma de criança a censurava à vista disso. Que poderia eu fazer, senão ler os quadrinhos, fazer voar o pensar e a imaginação!!!