Paris e lembranças.

Sobrevoo Paris às primeiras horas da manhã. Um voo nostálgico e cheio de recordações.

Quantas vezes fiz este mesmo voo. Quantas vezes olhei Paris e vi o meu sonho realizado.

Hoje olhando a Torre Eiffel e o rio Sena correndo quase ao seu lado vejo que a vida e os sonhos de muitos estão acontecendo, como um dia foram os meus que aconteceram.

Olho a torre brilhando aos raios tímidos do sol nascente e vejo a vida começar a fluir pela bela cidade. Em suas artérias os carros começarão a desenfreada correria do dia a dia, rumo aos seus próprios objetivos. Pessoas atribuladas correrão em vários meios de transporte para vários locais, e muitos nem se darão conta de quanto a vida é transitória, apenas correrão em busca de seus objetivos. Não aproveitarão a beleza que tem a seu dispor. Tão perto e tão palpável.

Olho o rio, fluindo constantemente em seu curso normal como se o mundo não estivesse correndo a sua volta. Levemente suas água correm na mesma direção a tantos séculos que sua normalidade se tronou normal a todos por todo esse tempo. Com tantos barcos, dos mais variados tipos, em seu leito, ancorados ou navegando. Com tantas pontes fazendo a ligação tão necessária aos habitantes dessa maravilhosa cidade.

Ah, pessoas prestem atenção à vida. Vivam!! Enquanto podem.

Olho a cidade, o tanto que minha vista abarca dela, e vejo como cresceu nesses 50 anos que a conheço. Como mudou do tempo que vivi aqui. Tempo tão bom. Corrido como o de alguns lá embaixo agora, mas tão bom, produtivo, instrutivo, iluminador, cheio de companheirismo, de amigos verdadeiros, muito verdadeiros.

O voo será curto, mas minha mente flui muito rapidamente retornando ao tempo que vivi aqui.

Meus olhos nublam pelas lágrimas que tento deter a tanto tempo. Tenho a todo custo que manter a fortaleza que não estou sentindo nesse momento, no entanto tão necessária. Olhos enevoados relembram momentos tão bons, tão difíceis, tão tristes, tão meus, tão nossos. Ah, tão nossos. Minha mente está trabalhando a velocidade da luz. O pensamento é uma força muito potente e forte.

Deixo as lágrimas caírem. Elas descem dos meus olhos em abundância, vertendo pela face como rios que correm em busca do mar onde desaguarão. Fluem como rastros de estrelas iluminando a continua escuridão que se aproxima de mim. Queimam minha face como rios de lava quente, trazendo minha historia junto delas. São minhas e as deixo fluir. Com elas libero um pouco da tensão que tenho vivido esses últimos meses. Mais nesse último aqui em Paris. É um momento rápido a explosão das lágrimas, tenho que me recompor e deixar os olhos mais tranquilos. Há anos sempre me recomponho.

Vou vê-lo, fiquei algumas fora por motivos de trabalho que nunca pára e também resolver questões burocráticas necessárias. Já avisto o heliporto. Pego meu espelhinho na bolsa, verifico os olhos, as faces, me olho. Coloco a face da resoluta e competente mulher que divide a vida com ele desde os 16 anos, oficialmente desde os 26 anos. Sou além da esposa a sócia em um empreendimento que criei baseada em uma propriedade dele e ele comprou a idéia. Foi difícil no inicio eu era menor de idade, mas extremamente competente. Lideramos o empreendimento até hoje. Nossos herdeiros estão à frente nesse momento, e foram preparados para isso por anos.

Salto do helicóptero com a ajuda do meu segurança, meu cuidador como o chamo. Ele caminha ao meu lado e mais dois seguranças vão à frente.

Pra que tanto, você perguntará. Eu respondo: Há 36 anos me casei com meu sócio na empresa. Sou descendente da nobreza, o que descobri eu já era adulta. Ele, meu marido, meu amado desde os 16 anos, é um Príncipe árabe e eu como sua esposa sou uma Princesa. Louco? Muito devo dizer. Fui criada, educada como pessoa comum, que lutava pela vida e pela conquista de seus objetivos. Por isso demoramos 10 longos anos para ceder definitivamente ao amor que nutríamos um pelo outro. São 50 anos de amor.

Sibeli Figueiredo.

03/03/2021

Baseado em um amor impossível.

De quem? Por quem? Resposta: Paris.