MANDY VII - MILAGRE - PARTE ÚNICA

MILAGRE – 02/06/2000

PARTE ÚNICA

Já em casa, no quarto, Marco encostou novamente a mão na testa da filha Letícia e percebeu que a febre tinha cedido. Retirou o termômetro debaixo de seu braço e constatou que tinha realmente: trinta e seis e meio. Respirou aliviado. Cobriu a menina e acendeu o abajur. Levantou-se e foi para a porta, apagando a luz do quarto. Saiu para o corredor deixando a porta entreaberta. Amanda vinha saindo do quarto de hóspedes onde tinha colocado Lupe para dormir, separado da irmã para não perturbá-la, e se aproximou dele.

- Ela dormiu?

- Dormiu. E ele?

- Também. Demorou um pouquinho, fez muita pergunta sobre a irmã, mas sossegou.

Marco a abraçou e beijou sua testa.

- Entre mortos e feridos salvaram-se todos, hein? - ele brincou. – Que dia!

- Mas você não está se sentindo mais leve?

- Ainda não sei. A conversa ficou meio que pela metade. Meu pai não ficou satisfeito com o que eu disse ainda, nem o teu pai. Eu ainda vou ter que dar muita explicação sobre tudo isso, ele disse, acariciando as costas dela.

- Eu vou estar com você. A gente explica com calma pra eles com o tempo.

Marco respirou fundo e perguntou:

- Como é que a gente explica pra alguém... que está doente dessa coisa que eu tenho?

Amanda afastou o rosto do peito dele e o olhou nos olhos.

- Não fale assim nunca mais. Você só está doente. Não está morrendo.

Marco olhou também nos olhos dela e ficou em silêncio. Amanda o abraçou forte e começou a chorar.

- Eu não vou viver sem você, Marco. Não posso.

- Eu nunca vou me afastar de você. Vai ser mais fácil do que você imagina... porque eu vou estar sempre junto de você. De vocês quatro.

Eles foram para o quarto.

No início de dezembro, quando as crianças entraram em férias, Marco e Amanda ficaram por duas semanas em casa com os gêmeos e Rita emprestou seus dois assistentes que lhes deram uma força na agência.

Marco e Amanda receberam a família em sua casa para o reveillon, já que o Natal tinha sido passado na casa de José Rotemberg e Rita.

Marco queria ver a virada do século junto com os filhos em sua casa e assim foi feito. O ano 2000 chegou e, ao contrário do que muitos pensavam, o mundo não acabou!

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Com a ajuda de Guilherme e do doutor Schuster, Marco seguiu sua vida com a mesma energia e disposição de sempre. O tratamento estava ajudando muito para que ele não sentisse tanto desconforto e o aneurisma em sua cabeça, que não podia ser operado, deu uma trégua. A vida parecia estar voltando ao normal lentamente e com alegria.

O casal viajou a Minas Gerais no carnaval com José, Rita e os filhos, para reverem e conhecerem a antiga casa deles que já era habitada por outras pessoas.

Ao voltarem para São Paulo, Amanda fez um novo ultrassom com Arnaldo e descobriu que ia ter um menino, como Marco previu. Ele cedeu à vontade de Mariana e decidiu que o garoto ia realmente se chamar Marco Antônio Ramalho Júnior. O bebê nasceria em julho daquele ano.

No final de maio, Rita, Laila e Amanda começaram a fazer os preparativos para a festa de trigésimo aniversário de Marco. Ele não era a favor disso, mas percebeu que não conseguiria vencer três mulheres determinadas como sua mãe, sua mulher e sua prima: três mulheres de sobrenome Ramalho. Deixou rolar.

A festa seria na casa dos pais dele, no sábado, dia 03, pois dia 02 de junho cairia numa sexta-feira e todos estariam trabalhando.

Na quinta-feira, primeiro de junho de dois mil, já com oito meses de gravidez, Amanda penteava os cabelos diante da penteadeira e esperava por Marco que tinha ido colocar os filhos para dormir. Ele entrou no quarto e deitou-se na cama. Ficou olhando para ela, recostado no travesseiro.

Ela olhou para ele pelo reflexo no espelho e sorriu:

- Cansado?

Ele não respondeu. Só continuou olhando para ela. Amanda colocou o pente sobre a penteadeira e olhou de frente para ele.

- O gato comeu sua língua, papai?

- Deita aqui, mãe... ele disse, batendo com a palma da mão no colchão ao lado dele.

Ela sorriu, foi apagar a luz do quarto e ele acendeu o abajur de estrelas, que nunca tinha deixado de estar com eles.

Amanda se deitou ao lado dele e escorregou para baixo das cobertas, cobrindo-se e à enorme barriga.

Marco encostou a mão no rosto dela e lhe deu um beijo longo e doce e sua mão deslizou sobre a barriga dela por baixo do cobertor e pousou ali.

- Cuida bem da sua mãe... falou para o filho dentro dela.

- Do que você está falando, Marco? Ele nem nasceu ainda, ela disse com um sorriso. – Tem mais um mês pra isso acontecer, namorado.

Marco olhou em seus olhos e a beijou novamente.

- Eu te amo... Nunca esqueça disso.

- Também te amo, mas porque isso agora? Eu não estou gostando do jeito que você está falando...

- Você vai entender, quando acordar. Dorme.

Ele a envolveu nos braços e puxou o cobertor para cobrir os dois, aninhando-a nos braços como se fosse uma criança sendo ninada. Ela adormeceu logo e ele também.

Na manhã seguinte, Amanda abriu os olhos e percebeu a luz que entrava timidamente pela janela. Olhou para o marido, que a encara com os olhos marejados, embora sorrisse sutilmente. Entre eles, uma folha pousada no encontro dos travesseiros.

- Bom dia, namorado...

- Bom dia, namorada.

Ela apanhou a folha de papel e perguntou:

- O que é isso?

- É o resultado da última Ressonância Magnética que eu fiz.

Ela olha para o papel, emocionada e pergunta, ainda com o papel dobrado na mão:

- E...?

- Leia... por favor.

Amanda abriu o exame e começou a ler. Não demorou muito para as lágrimas escorrerem por sua face.

- Isso é mesmo verdade?

- O que você acha?

- Aqui diz... que não foi detectada mais nenhuma anomalia... no seu cérebro. Que você não tem mais nada! Marco... o aneurisma sumiu... totalmente!

- O Guilherme ficou de me comunicar o resultado. Ele acabou de ir embora, veio me trazer pessoalmente o exame. Ficou muito excitado quando descobriu e não resistiu. Tinha que me dizer pessoalmente.

- Te achei tão estranho antes de dormir... As coisas que você disse pro nosso bebê que ainda nem nasceu...

- Eu tinha que dizer pra ele cuidar de você. Ontem eu achei... que não ia acordar hoje.

- Mas acordou!

- Pois é... E ele cuidou de mim. Ele estava cuidando de mim o tempo todo.

- E vai cuidar sempre. Hoje, amanhã e depois... Depois...

Amanda o beijava após cada palavra.

- Aliás... Feliz Aniversário!

- Obrigado, amor. Espero que a festinha que você, minha mãe e a Rita aprontaram a minha revelia valha a pena. Eu quero tomar muito refrigerante e comer muito bolo hoje. Não se faz trinta anos todo dia.

- Não tenha dúvidas disso, ela disse rindo.

Os dois beijaram-se apaixonadamente.

BOM DIA A TODOS!

DEUS ABENÇOE E PROTEJA TODOS NÓS

SAÚDE E PAZ

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Velucy
Enviado por Velucy em 24/04/2021
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