MANDY VII - APOSTA - PARTE 3
III – APOSTA
Teo olhou para o outro lado, tentando digerir aquela informação e Marco abriu a porta do carro e saiu dele.
- Aonde você vai? - Teo perguntou.
- Vou andar.
Teo saiu do carro também e o seguiu. Marco começou a desabotoar a camisa e tirou-a de dentro da calça.
- O que é que você tem?
- Nada, só preciso respirar um pouco.
- Você está bem?
Marco olhou para ele sem parar de andar e sorriu.
- Estou. Não se preocupe que, seu eu cair aqui, vou ter um cara grande e forte pra me segurar.
- Não brinca desse jeito, Imperador, caramba!
Marco não disse mais nada, apenas balançou a cabeça, sorriu e continuou andando. Teo andou a seu lado por algum tempo em silêncio e eles entraram no clube, onde várias pessoas já curtiam seu descanso de domingo. Muitos conversavam, andavam de bicicleta ou mesmo estavam sentados na grama, conversando, lendo ou brincando com os filhos.
Depois de algum tempo, Teo perguntou:
- Marco, como a Amanda reagiu com essa notícia?
Ele respirou fundo e respondeu:
- Lembra quando eu te disse em março de oitenta e oito que ela não ia ser só uma paquera minha? Ela é mais do que isso. Muito mais. Ela é meu anjo. Sempre foi. Se não fosse por ela, eu não estaria mais em pé, aqui. E... tem outra novidade...
- O que mais, pelo amor de Deus?
- Não, não fica preocupado. Essa é ótima. A Amanda está grávida de novo.
Teo esboçou um sorriso triste e colocou as mãos nos bolsos da calça, baixando a cabeça.
- Eu esperava um abraço. Um... “Parabéns, amigo!”, Marco falou, olhando para ele, sorrindo.
- Eu não consegui processar a primeira bomba que você soltou na minha cabeça, ainda. Eu sei que você sempre foi o cara mais otimista e mais maluco pra se meter em encrenca quando está a fim de conseguir alguma coisa, mas... como é que você pode dizer com essa calma que vai ter outro filho... se está com uma bomba na cabeça? As duas coisas não combinam, Marco. Você já... percebeu que tem uma vida na barriga da Amanda e... a morte na sua cabeça?
Marco olhou para o chão e pensou por um momento.
- Você sempre teve essa facilidade pra sintetizar as coisas. Sempre vai direto ao ponto. Pensando assim parece... irresponsabilidade minha ter deixado a Amanda engravidar numa situação tão estranha a tudo que nós dois temos passado juntos, nesses quase doze anos. Mas ela já tinha engravidado, quando a gente ficou sabendo do... problema. Portanto, meu filho veio por algum motivo, pra compensar alguma coisa. E eu não vou lamentar que ele esteja vindo... Não tem sentido, eu fazer isso, Teo. Não combina muito comigo.
Os dois chegaram próximos a um banco e Teo se sentou nele, enfiando a cabeça nas mãos, desolado.
- Seus pais já sabem disso?
- Não.
- As crianças?
- Ninguém sabe, só o Guilherme, o doutor Schuster... e a Amanda claro. E a Mariana...
- A Mariana sabe?
- Não sabe literalmente, porque a gente não contou pra ninguém, mas ela sente quase tudo que eu sinto. É como se a gente fosse... irmãos gêmeos. Ela sempre teve uma ligação muito forte comigo. Até já sonhou com o bebê que vai nascer, como eu...
- E o que é que você vai fazer agora?
- Nada.
- Como, nada?
- Eu vou viver como tenho vivido até agora. Vou seguir tudo que os médicos me mandarem fazer, mas não quero e não vou mudar minha rotina em uma vírgula. E, se possível, não quero envolver meus pais nessa história. Meu pai se aposenta no ano que vem e tem uma filha de dez anos que quer seguir a carreira de modelo e vai seguir, com a minha ajuda, se Deus quiser. E ela vai estudar e ser Bióloga, quando ficar mais velha. E quero ver meus filhos crescerem. Quero ver o Lupe e a Letícia se tornarem adultos felizes e responsáveis. E quero ver a AR&MAR ajudar ainda mais crianças, porque esse é o sonho da Amanda... e foi ela quem me ajudou a realizar tudo isso. Foi ela quem me deu dois filhos lindos e está me dando outro que não vejo a hora de ver o rosto dele, como sonhei em ver os rostos dos gêmeos. E eu ficaria ainda a tarde inteira dizendo pra você o que eu ainda quero ver... e que talvez não veja, mas eu nunca vou parar de querer... nunca vou parar de sonhar...
Marco parou de falar e sentou do lado dele, visivelmente emocionado. Colocou a mão no rosto e começou a chorar. Teo colocou a mão em seu ombro e ficou em silêncio. Marco endireitou o corpo e começou a enxugar o rosto.
- Acho bom, a gente voltar pra casa. O pessoal pode ficar preocupado.
Ele se levantou e começou a voltar para o carro. Caminharam em silêncio até chegarem ao veículo e quando estavam já perto dele, Teo apoiou os braços no carro e falou:
- Lembra quando você ficou uma fera... só porque eu disse... que não queria ter filhos, quando a gente estava pintando o seu apartamento lá na Otávio Machado em oitenta e nove?
Marco balançou a cabeça afirmando.
- Na hora, aquilo me pareceu a maior prova de amizade que você já tinha me dado. Eu apostei com você... aliás... você apostou comigo que eu mudaria de ideia quando visse o seu primeiro filho... Eu senti essa vontade de ser pai, quando ouvi você dizer que a Amanda estava grávida. A Cleo engravidou naquele mesmo ano e perdeu o bebê dois meses depois. Eu quase desisti de novo, mas eu vi os gêmeos... me casei com a Cleo dois meses depois e quando o Arthur nasceu em 95... eu senti a emoção mais fantástica que já tinha sentido em toda minha vida... e perdi a aposta... Lembra?
Marco sorriu.
- Você não perdeu a aposta, nós dois ganhamos. Eu provei que você estava errado. O Arthur só veio abençoar isso.
- Aposta comigo de novo...?
- O quê?
- Que vai acontecer tudo isso que você falou... Que você vai ficar aqui com a gente... por muito tempo ainda...
- Eu estou aqui... e não pretendo ir a lugar nenhum. Aposto a minha vida.
Eles apertaram-se as mãos. Teo sorriu e entrou no carro. Marco respirou fundo e entrou também.
APOSTA
PARTE III
É fundamental sabermos exatamente o que queremos realizar
em nossa vida.
Vamos fazer o que é certo e bom pra nós e para o próximo.
OBRIGADA SEMPRE!