MANDY VII - APOSTA - PARTE 2
II – APOSTA
Teo riu, mas logo ficou sério.
- A gente pode conversar agora?
- Conversar? Sobre...? – Marco se fez de desentendido.
- Não me enrola, não, Marco. Agora a gente está sozinho. Você vai me contar o que está acontecendo ou não?
- Do que você está falando, cara?
- O Edu me ligou essa semana e me contou que você teve uma crise na agência, depois de cancelar a conta do Itaú por causa do Heitor.
Marco ficou sério também e passou a mão no rosto.
- Ele ligou, é?
- Ligou e eu sabia que você já não estava legal naquele dia. O que você tem? Ele falou que foi uma crise fortíssima de dor de cabeça. Ele e a Bárbara ficaram muito assustados. Eu pedi pra ele pra manter contato comigo sem você saber e ele falou que você e a Amanda não falaram mais sobre o assunto. O que está acontecendo, Marco?
- Não está acontecendo...
- Não mente pra mim, Imperador! Eu não sou mais um adolescente! Se é que algum dia eu fui.
Marco se levantou e pediu:
- Vamos dar uma volta de carro. Eu não quero falar sobre isso aqui na casa do meu pai.
- É tão grave assim?
- Anda logo.
Os dois saíram e passaram pelas crianças, tentando não ser percebidos e entraram no carro de Teo.
- Pra onde você quer ir? - Teo perguntou.
- Pra qualquer lugar longe daqui.
Lupe viu o pai entrar no carro e perguntou:
- Onde vocês vão, papai?
- Comprar refrigerante, filho.
- Posso ir junto?
- Não, fica cuidando do Arthur com a sua irmã. Eu volto já.
Teo colocou o carro em movimento e a única coisa que lhe passou pela cabeça foi ir para o clube. Quando o carro parou no meio fio, Marco olhou para o muro que cercava o lugar e perguntou:
- Por que aqui?
- Aqui você não vai ter coragem de me enrolar de novo.
Marco olhou para ele e Teo engatou o carro, virando o corpo para ele, dispondo-se a ouvir.
- Começa. O que está acontecendo? Que dor de cabeça esquisita foi essa que te deu? Eu nunca soube que você tivesse tido nem febre, a não ser daquela vez que o vidro da imobiliária do seo Antônio quebrou em cima de você. O que está pegando?
Marco passou a mão pelo rosto e apoiou o braço na janela do carro, começando:
- Eu... Eu estou sentindo essas dores de cabeça há umas... três semanas. Desde que pegamos a conta do Itaú pra fazer o comercial do banco sobre a poupança programada, você sabe... Desde que o Heitor começou a discutir comigo sobre a criança que ia fazer o comercial. Ele queria inicialmente que fosse uma criança loira de olhos azuis, mas eu sugeri que fosse uma criança mais parecida com a clientela que estavam querendo atrair. A classe mais carente da população: média/baixa. Aí... cada vez que a gente se reunia pra falar disso, ele falava de um jeito tão grosseiro e tão... racista, preconceituoso sobre as crianças que a gente sugeria, que eu comecei a me enojar do jeito que ele pensava. E toda vez que saía dessas reuniões, eu sentia uma dor incômoda na cabeça, mas não dei muita atenção. Nem falei pra Amanda, nem pra ninguém. Até que um dia, na semana passada, a dor me atacou de madrugada. Eu acordei sentindo a cabeça pesar. Senti vontade de levantar, fui ver as crianças no quarto deles e quando voltei pro meu quarto, pareceu que alguma coisa estava pressionando minha cabeça muito forte. Senti uma dor ainda maior, na cama, e a Amanda se assustou e ligou pro Guilherme, de madrugada mesmo, e ele... marcou uma consulta pra mim, de manhã. Eu fui, fiz umas chapas no consultório dele mesmo e, no dia seguinte, quando voltei a falar com ele, ele...
- Ele o quê?
- Ele disse que tinha encontrado um aneurisma na minha cabeça...
- O quê?
- O que você ouviu. Ele encontrou uma anomalia de alguns centímetros na minha cabeça.
- Você está brincando!
- Gostaria de estar, acredite, Marco disse, olhando para a rua.
- Mas... tem tratamento, não é? Pode ser operado?
- Tratamento tem, mas não pode ser operado. Se operarem, eu não saio da mesa...
Teo ficou alguns segundos olhando para ele, depois olhou para a rua.
- Eu não consigo acreditar...
Marco balançou a cabeça, sorriu e olhou para ele.
- Você devia ver a sua cara, agora.
- Isso é sério, Marco.
- Eu sei. Você não sabe o que eu já chorei. Chorei tanto que, eu não consigo chorar mais. Só de pensar que eu posso morrer a qualquer hora, pensar na possibilidade de deixar a Amanda aqui, meus filhos, meu pai e minha mãe, minha irmã, você... Todo mundo que está lá na casa do meu pai, passando um domingo em família.
- Deve haver um tratamento eficaz, uma solução, alguma coisa a se fazer...
- E há. Eu já comecei a fazer o tratamento, na clínica do doutor Schuster. Ele foi professor do Guilherme, na faculdade.
- Então há esperança.
- Eles vão tentar minimizar as dores que eu sinto, mas isso não garante nada. Ele vai continuar dentro da minha cabeça.
Teo olhou para o outro lado tentando digerir aquela informação e Marco abriu a porta do carro e saiu dele.
APOSTA
PARTE II
É fundamental sabermos exatamente o que queremos realizar
em nossa vida.
Vamos fazer o que é certo e bom pra nós e para o próximo.
OBRIGADA SEMPRE!
ABENÇOADO DOMINGO!