Um canto às estrelas
Lá estava Gabriel parado olhando para o céu, escorado na mureta de sua lavanderia, já era de tardezinha e o sol calmamente se punha no horizonte, moço de origem simples porém desde de tenra idade muito curioso, sempre se perguntava coisas como: se há vida fora da terra ou se as formigas têm coração ou até mesmo conjecturava as coisas mais paradoxais em sua mente. Pois bem, talvez ao passar dos anos ele tenha esquecido tais perguntas ou porque achou uma resposta ou porque eram insolúveis, mas na verdade hoje no auge dos seus 25 anos e com formação em TI, estava mais focado em investir seus míseros trocados de cada mês na compra de um terreno, o que o fizera se sentir preso a um compromisso tão longo e entediante que fez borbulhar em sua mente ideias que fossem antagônicas de alguma forma àquele capitalismo agressivo do ter para ser que tanto lhe incomodara. E foi quando pensou em coisas como economia e cidades de estruturas ambientalistas e mais humanistas como o projeto de Ecopolos ou outro chamado Projeto Vênus que por essência era praticamente a mesma coisa. Talvez Gabriel estava usando todo esse conhecimento como uma válvula de escape para não ter que enfrentar a dura e atroz realidade, e coisas das quais ele não pensava antes, agora vinha a pensar. Teorias políticas que pudessem alijar de vez o que ele chamava de “escravidão moderna”, mesmo tendo lá suas dúvidas por tais teorias, ele se propunha a usar seus entrelaçamentos de ideias abstratas como uma esperança futura, de um futuro que nunca chegara. Um certo dia, logo após chegar do trabalho, era lá por volta das 1h da manhã, viu no horizonte o que lhe pareceu ser uma espécie de balão, tinha um faiscar cambiantes, hora era amarelado-alaranjado, outrora era azulado, ele não sabe o porquê mas lhe veio a mente a imagem de uma água-viva, o que de súbito lhe pareceu um disparate, já que o que tinha a ver um negócio daqueles com um ser marinho, pensou. Achou que estava tendo alguma prosopéia ou quimera e foi tomar seu banho, pois seja lá o que fosse não poderia ser mais urgente do que um bom e relaxante banho após um áspero e estressante dia de trabalho.
Voltou do banho, ligou a TV e estava passando uma reportagem sobre a importância da conservação da água, e o que era e o que causava a crise hídrica, e todas as interligações políticas de culpados e mais culpados por aquilo estar acontecendo, o mesmo logo se aborreceu com as asneiras midiáticas propagadas sem nenhum nexo científico de causa e logo desligou a televisão e foi para o seu quarto, onde trancou a porta sem se preocupar com possíveis barulhos como passadas, talheres ou portas se fechando, pois morava sozinho já havia três anos, mesmo que a casa ainda não fosse sua... Num átimo se lembrou do que vira há meia hora, e abriu a janela para dar mais uma olhadinha e ver se aquele negócio estranho ainda estava lá, e não estranhou nem um pouco quando notou que aquilo sumira... então pegou um livro e, foi ler um pouco deitado em sua cama para ver se o sono vinha... Quando de repente! A janela de seu quarto ficou toda embebecida duma luz fluorescente branca, mas não era um branco comum, e não era somente branco; Gabriel ficou paralisado, não mexia um só músculo de seu corpo, e mesmo reconhecendo algum instinto nisso com doses de saudades, como se lembraria algum tempo depois, sentiu muita vontade de chamar pelos pais por ajuda.
Lembrava de sentir seu corpo relaxado, anestesiado e uma sensação de paz intensa e de estar com os olhos fechado e ouvindo múrmuros indagadores, e foi quando abriu os olhos e se viu deitado no que parecia uma mesa metálica, que por sinal estava um pouco gelada. O mesmo se pôs sentado, o efeito anestésico já havia passado, olhou em volta e viu que era uma sala oval, toda branca e sem nenhum detalhe em lugar algum que pudesse lhe servir como referência, pisou no chão e tudo mudou. Agora a sala ficara numa penumbra estranha e repentina, mas era possível também notar que o branco sumira e agora a cor prata era predominante, e a sua esquerda tinha uma tela enorme e arredondada com o que lhe parecia ser aquilo que ele já vira algumas vezes nas imagens de Internet ou na mesa do seu professor de Geografia: O Globo terrestre, mas... não era sintético ou pictórico, lhe parecia muito ser real, então cético que é, atinou ser aquilo uma projeção 3D de toda a atmosfera da terra, o mesmo entendia desse tipo de criação e para ele aquilo não seria um problema, mas o problema era que, aquilo estava real demais. Olhou, olhou e tomou coragem e foi até a janela arredondada e tergiversando assumiu a si próprio, não... aquilo não é 3D de nenhuma geração, e começou ai a ficar com medo, medo esse que só sentira quando ainda criança, no dia em que o mesmo ficou preso na catraca giratória da estação de trem pelo lado oposto e seu pai foi correndo lhe ajudar, mas ali quem o ajudaria? Uma voz baixa e destoante começou a configurar no cenário, a mesma dizia para Gabriel não sentir medo, que estava tudo bem.
_Quem está ai? - Pasmado Gabriel meio que sem voz perguntou.
_Sou seu guia Gabriel, esse é como verá, um experimento de dessensibilização.
_Dessensibilização de quê?! Não tenho nenhuma psicopatologia que eu saiba.
_Se não tivesse sua espécie não estaria aqui, lhe garanto.
_Quem é você e onde está?
_Já disse, sou seu guia... aqui estou eu.
_Ai! Pô! Droga! – Grita Gabriel assustado.
Nesse momento Gabriel notara que o tal guia aparecia do seu lado direito como uma luz acendendo, e realmente era como uma espécie de luz, porém somente nas bordas tinha um contorno verde, mas no meio era translúcido, e tinha a forma humana de um homem.
_Que diabos é você?! Por que não consigo te ver direito? Quero ir embora dessa droga!
_Dentro das leis da física do seu Universo posso dizer que minha espécie existe e vasculha há milhares de anos posições estratégicas em cada galáxia para melhor ensinar e conhecer o propósito do todo.
_Por favor, do que você está falando...? Não, eu não quero participar de nada, por favor...
_Eu estava lá Gabriel, eu estava em sua infância quando você deixou o seu aviãozinho de papel cair em cima da árvore e não tinha ninguém para pegar, e de maneira bem pueril e doce você rezou para que Deus não o deixasse passar frio à noite... E eu estava lá quando você imaginou como seria a forma de um ser de outro mundo, hoje estou aqui para lhe dar algumas respostas.
Gabriel nesse momento sentiu uma paralisia quase tão forte quanto a que sentiu logo após o fenômeno luminoso em sua janela, mas agora era o arrepio e uma forte e afável emoção que sorvia em seu corpo.
_Como você sabe disso...? Eu nunca falei para ninguém do meu... do meu aviãozinho.
_E há só um tipo de comunicação? Perguntou o ser semiluminoso.
_Tá bom, mas o que você quer de mim exatamente?
_Venha aqui, vou lhe mostrar. – E nesse momento o ser o levou até a janela oval.
_Tá vendo lá? Esse é o seu planeta, o habitat natural de sua espécie e de milhões de outras espécies vivas, sei que você sabe disso mas não sabe da maneira correta.
Tudo bem, vou suspender um pouco o meu ceticismo, já que o que eu estou vendo ali me faz acreditar que eu não estou no meu planeta agora, e tentar achar que eu não estou ficando totalmente louco, e lhe perguntar se é impressão minha ou você fala como se você também não fosse humano?
_Eu não sou humano Gabriel.
_Não? Não mesmo? Ahã, ta bom.
_Utilizando o seu conceito de tempo, dentro do que vocês chamam de calendário gregoriano e usando os parâmetros de leis da física que vocês utilizam, eu sou de uma espécie que surgiu aqui mesmo, na sua própria Galáxia, há pelo menos 35 mil anos luz de distância do seu planeta e 457 milhões de anos antes do seu primeiro ancestral humano.
_Certo, e por que você tem então uma forma humana, levando em consideração que as chances dos processos evolutivos que desencadearam na projeção do que viria a ser um ser humano, dificilmente se repetiria em outro lugar do Universo? – Gabriel estava exercitando o seu ceticismo, e tentando convencer a si mesmo que aquilo tudo era uma mentira, só não sabia como.
_Eu não tenho a forma humana Gabriel, muito pelo contrário, minha forma corpórea é totalmente diferente da sua, talvez com detalhes homólogos e quase universais pelo que reparamos em outras espécies pelo cosmos, mas em essência em particular minha espécie é bem diferente da sua. – O ser já sabia que a espécie humana tinha algumas singularidades interessantes, dentre elas a dissonância cognitiva, e Gabriel obedecia em tudo suas as expectativas até o momento.
_Quero ver então o que é você, já que tecnicamente sofri um sequestro, nada como ver a cara do meu seqüestrador. E também me explique que software é esse que você usa para poder conversar comigo, já que também sei que você irá me falar que sua linguagem é bem diferente da minha, e nisso eu acredito já que isso existe na Terra também.
_Sim Gabriel, tenho permissão para mostrar minha forma corpórea, e muito mais que isso você verá em nossa viagem, mas se eu preferi lhe aparecer com essa imagem semi-humana é porque entendi que seria menos chocante para você. Mas pelo que notei em sua singularidade humana pessoal, você é apto a ter todas essas informações. Mas tudo ao seu tempo, tenho mais coisas para te mostrar, não seja ansioso.
_Eu não sou ansioso! Eu apenas acho que tenho o direito de saber com que ou o que estou conversando. – De maneira peremptória exigiu Gabriel.
_Gabriel, são as palavras que gritam mais forte à alma, se liberte dos rótulos que há no âmago de sua espécie, não seja escravo de sua condição visual. De todas as espécies inteligentes que visitamos no cosmos, a sua é de longe uma das mais pragmáticas.
_Estou conversando com um extraterrestre, ok?
_Sim, não sou do seu mundo.
_Está bem, vamos supor que eu acredite em você, e não esteja delirando ou num sonho profundo, qual foi o real motivo que dentre mais de 6 bilhões de seres humanos no planeta, você escolheu justamente a mim para capturar? E dentre tantas pessoas importantes na história humana, por que justo eu, por que justo um mero técnico em TI?
_Você apresenta as qualidades e idiossincrasias necessárias para estar aqui hoje Gabriel, mas não és o único a ser convidado pela nossa espécie, nem agora nem no tempo. Dentro desse conjunto de cinco milênios convidamos cerca de sessenta pessoas em todo o seu mundo, cada uma com sua importância e necessárias ao plano maior.
_E que planos são esses?
_Bom, acho que posso lhe mostrar isso agora, sua espécie já tem conhecimento sobre a quarta dimensão, apesar de Eles dificultarem um pouquinho as coisas para vocês, vocês já têm uma boa compreensão, e o que vou lhe mostrar agora talvez o assuste um pouco de início, mas depois garanto mostrar-lhe o caminho correto das ações.
_Certo, e o que seria isso então... ? – Nesse momento Gabriel começara a sentir um friozinho na barriga.
_Olhe. – O ser translúcido apontou o dedo em direção a janela oval.
Nesse momento Gabriel viu aparecer na janela o que era exatamente imagens - porém de uma forma que ele nunca vira em sua vida, imagens com sentimentos, e o sentimento era avassalador – Mega cidades! Isso encheu os olhos de Gabriel, eram descomunais. Ele viu o que parecia ser robôs, algo do tipo, porém bem diferente dos mostrados pelos filmes de ficção que assistira desde de tenra idade, eles se auto-moldavam a diversas formas, e interagiam com as pessoas no dia a dia. Viu o que lhe parecia ser um palestrante usando um tipo de terno ajustado ao corpo, falando de maneira bem carismática e até coerente, Gabriel não sabia de que lugar do mundo ele era, mas conseguia entender tudo o que ele dizia, não porque falasse português, mas sim porque ele conseguia entender uma nova língua sem nunca ter estudado nada sobre ela antes, e por sinal, aquela língua ele nunca ouvira antes. Logo depois viu o que parecia ser uma mega estrutura construída na atmosfera da Terra, era incrível... Mas ao lado tinham vários compartimentos brancos ovais com logo-tipos de marcas que nunca viu, porém uma ele reconheceu de átimo, era o da NASA. Havia pessoas ali dentro conversando, mas não eram astronautas, eram pessoas com roupas diferentes, mas nada que pudesse fazê-lo crer que estivessem ali numa missão espacial, mas sim em um jantar... muito tempo depois Gabriel ainda se lembraria que a imagem que mais ficou em sua memória desse momento foi a mulher loira, em torno de uns 45 anos, toda de branco e elegante com sua saia até o joelho e uma espécie de colete, sentada de pernas cruzadas tomando o que lhe parecia ser um champagne numa taça. Depois disso a coisa começou a ficar mais esquisita, Gabriel viu o que lhe pareceu ser uma espécie de capa mega gigante ao lado do Sol, tinha ¼ do tamanho da estrela, mas obviamente que isso já o fazia ser a maior estrutura construída pela espécie humana de todos os tempos. Naves e mais naves passavam cruzando a atmosfera da Terra, e não era nenhuma invasão alienígena, eram construções humanas... Gabriel viu o que parecia ser um ser humano colocando uma bandeira preta com algo no centro escrito em vermelho, que por sinal nunca viu na vida, no que parecia ser um planeta gelado, e foi ai que Gabriel se lembrou que aquilo não era um planeta e sim um satélite natural, mas conhecido como Europa, a lua de Júpiter. Eis que Gabriel vê o que lhe deixou aterrorizado...
É como se o espaço em torno da Terra aumentasse e se contraísse muito rapidamente, mas em pouco menos de alguns minutos a Terra ficou ás avessas e um lodo vermelho submergiu na planície e numa velocidade muito grande a Terra foi sugada para dentro do seu próprio centro e desapareceu! Em instantes um “braço” de luz do Sol foi puxado para onde antes estava a Terra, e aos poucos o Sol inteiro juntamente com toda a sua estrutura, sem falar da própria lua foram tragadas e sumiram de forma incrivelmente rápida numa espécie de ralo cósmico muito parecida a um buraco negro. Tudo que estava nas proximidades teve o mesmo fim, e nenhuma imagem mais apareceu, até que imagens mostrando colônias humanas em mundos distantes reapareceram na janela oval, mas todas desapareceram e nada sobrou.
_Gabriel, lhe mostrei o fim de sua espécie em seu original cerne. Sei que isso é chocante, mesmo que minha espécie nunca tenha caminhado por tais caminhos em nenhuma das possibilidades cósmicas paralelas. Estou aqui como representante do Universo original de minha espécie, sou o verdadeiro, e você é do universo humano original assim como eu também sou original ao meu.
Isso deu um nó na mente de Gabriel, que ainda atordoado com o que acabara de ver, tentava atinar o que o seu companheiro de viagem tentava lhe dizer.
_Mas do que você está falando? Não consigo entender nada do que diz, e por que me mostrou isso tudo? Não acredito em nada do que me mostrou!
_O que lhe mostrei é o que devia ter lhe mostrado, o fato é a resposta em si. Mas entendo as suas dúvidas, sei que a negativa é a resposta humana mais urgente de todas, é quase instintiva e precede a razão. Porém eu tenho certeza que entenderá do que se trata o que lhe mostrei aqui, e o que ainda não sabe é o que vou lhe falar agora... Cada ação viva em todo os cosmo gera um mini universo paralelo ou alternativo como preferir, que brotam um do outro infinitamente, mas sempre haverá o universo vivo original, e esse precederá a todos para sempre, porém chamamos de espécie original, todas aquelas que surgiram e se mantiveram vivas dentro de seu universo de origem, e não é por que uma espécie original deixou de existir num universo que deixará de existir em outro, mas essa outra não será a original e será sempre vestigial, e ainda não sabemos por quais mecanismos, sumirão como um som que vai baixando, ou como o último impulso eletromagnético de uma lâmpada ao ser apagada que ainda insiste em existir até que se apague totalmente. Nos Universos a morte do ser original gera um efeito dominó onde todas se apagam logo depois. A única que nunca se apaga é a original, mas mesmo assim ela pode dentro de suas próprias e imprudentes atitudes se auto-extinguirem. E esse será o fim da sua espécie Gabriel, pelos nossos cálculos, se nada for feito desde já. Realmente aquilo que lhe mostrei ainda não é a realidade do seu Universo original, mas é uma fração paralela ao seu que teve o mesmo fim, o que nos fez deduzir que existem muitas possibilidades de sua espécie ter o mesmo fim com algumas micro-alterações.
Nesse momento Gabriel parou, se abaixou e sentou no que parecia ser um pequeno degrau em frente a grande janela oval, com os joelhos dobrados e a cabeça prostrada em seu colo refletiu um pouco de maneira pusilânime e abatida... e finalmente assumiu que aquilo não podia ser um delírio, por mais que quisesse crer nisso como uma confusão mental que logo pararia, não conseguia se convencer mais disso, tinha que se readaptar e tentar colaborar com o ser, para que aquilo acabasse rápido... mas antes de levantar a cabeça e abrir a boca novamente, o mesmo se lembrou de uma famosa frase: “Cuidado com o que deseja”. E foi ai que a criatura lhe fez uma pergunta surpreendente...
_Gabriel, sei dos seus anseios e medos, o conhecemos desde tenra idade, já sabíamos que seria assim, e não precisamos continuar com isso caso não queira, se quiser voltar a sua casa respeitaremos a sua decisão, de forma alguma somos sequestradores, por mais que não entenda, você não está aqui contra a sua vontade, muito pelo contrário, foram as suas decisões e os seus anseios que lhe trouxeram aqui hoje, mas você pode acabar com isso se assim preferir, deixamos essa decisão em suas mãos.
Gabriel levantou a cabeça meio assustado com a boa possibilidade de ele próprio poder acabar com tudo aquilo ali naquele exato momento, então se levantou e fitou a área dos olhos no contorno esverdeado do ser translúcido e olhou de volta ao seu querido planeta Terra pela janela oval e disse contrariando até mesmo o que ele pensava que iria dizer:
_Estranho, agora entendo o que você quis dizer com “seus anseios lhe trouxeram aqui hoje”, vocês acertaram, esse sempre foi meu sonho, entender o meu lugar no Universo, entender o porquê as coisas são como são na Terra, o porquê das divisões socioculturais, o porquê das guerras sem sentido algum e de toda miséria intelectual da qual a minha espécie está submersa, e realmente essa é a minha chance de entender tudo isso, e sim, eu quero ficar. Tenho que entender o que foi tudo aquilo que vi, quero fazer algo pela minha gente, pela minha espécie e pela vida na Terra. Estou meio desconfortável com tudo isso, mas vou acreditar em você, não é possível que eu esteja delirando, as coisas que fala e que me mostrou no pouco de ciência que sei e nas coisas que eu ando observando em meu Planeta me fez ver coerência no que diz. Seja lá o que for, seja lá como for, eu decido ficar e entender tudo isso.
_Fico feliz pela sua decisão Gabriel, então iniciaremos aqui o processo de aprendizado e dessensibilização, vamos para Alkaid em Ursa Maior?
_Hã? Tudo bem... mas do que você diz?
_Veja... – E nesse momento só o que se viu foram pontos de luz brancas passando a frente da janela oval, que seguiu-se por um clarão e uma parada súbita que estranhamente não tinha nenhuma inércia, e toda a viagem não durou mais do que 15 ou 20 segundos.
_Nossa! Meu Deus, o que é isso?! - Perguntou de forma atônita Gabriel.
Naquele momento a nave estava frente a frente com uma grande e bela estrela branca-azulada, simplesmente enorme e linda, os olhos de Gabriel brilharam tamanho o encanto em seus olhos.
_Meu Deus, que lindo... Onde estamos mesmo? - Ainda sem acreditar muito no que seus olhos viam.
_Estamos há 163 anos luz do seu planeta Gabriel, aqui é o que vocês chamam de Constelação de Ursa Maior, o nome dessa estrela para vocês é Alkaid, e não estamos aqui à toa, ali girando em torno dela tem uma rocha, uma rocha viva igual a Terra, e eu gostaria de lhe mostrar mais de perto.
A nave em instantes chegou próximo ao planeta, que por sinal estava bem afastado da estrela em si, agora parecia que a estrela tinha diminuído um pouco de tamanho ali de perto do planeta, e quando Gabriel realmente prestou atenção na atmosfera daquele planeta, não podia acreditar... tinham umas divisões continentais, mesmo que mais homogêneas e maiores ainda assim eram, uma parte era avermelhada, outras esbranquiçadas e outras levemente amareladas, e foi então que a nave começou a descer ali...
Assim que passaram pela imersão de nuvens, a paisagem se clareou, e o que Gabriel viu era demais para seus olhos, uma espécie de selva avermelhada com árvores com estruturas um pouco diferente da que conhecia, e era possível ouvir o barulho dessa selva, ele não sabia como, mas era possível... Olhou para cima e viu o céu daquele mundo, um sol branquíssimo e um céu de um azul muito forte com longas nuvens, e ao olhar para baixo novamente, entre as árvores da floresta, viu algo estranho ali se mexer...
_Veja Gabriel, no meio dessa selva há muitas espécies, não há seres aqui nesse planeta com inteligência racional, porém há seres com um nível de inteligência comparada a seus chimpanzés, cachorros e golfinhos... Aquele ali por exemplo, consegue entender?
Gabriel olhou e não conseguiu definir, mas mesmo assim era um bicho muito mais familiar do que esperava ser a princípio um extraterrestre.
_Não, ele me parece um cruzamento de um elefante com uma anta, com olhos de aranha... A cor dele é interessante, meio lilás com branco, quase não da para ver ele direito.
_Sim, é o que chamamos de Voirapide, é um dos animais mais astutos desse ecossistema, e de elefante não tem nada, apesar de ser quase tão inteligente quanto, tão pouco de anta, porém eles se parecem mais com as aranhas do que você imagina.
Voaram a uma outra parte desse Planeta, ainda era uma selva densa e fechada com árvores de todas as formas, troncos rosados e folhas avermelhadas, uma terra cinzenta ou avermelhada, flores exóticas multicoloridas, foi quando notaram algo se enrolando no tronco rosado da árvore, era um ser parecido com uma cobra, mas só que mais espesso, esse ser chegou até o chão e ficou de pé como uma centopeia, e realmente parecia uma centopeia, porém com aspectos répteis, e não demorou muito para atacar um bicho que Gabriel nem se dera conta, pois o outro ser estava enterrado e bem camuflado na terra esbranquiçada-avermelhada, tinha o aspecto de um rato, mas sem focinho, sem calda, era achatado mas tinha também um conjunto de pernas muito parecido com o ser que lhe atacara, a centopeia alienígena agarrou o bichinho, se enrolou toda nele, e quando se desenrolou o bichinho estava todo envolto numa teia branca, e foi quando puxado por uma linha igual a teia de aranha, a centopeia alienígena o puxou para o topo da árvore e lá o deixou.
_Nossa! - Exclamou Gabriel assustado com a cena.
_É um ortodelix atacando uma rapisodia, são seres muito interessantes. – Disse o alien.
Voaram um pouco mais e chegaram numa espécie de deserto, bem amarelado e cheio de dunas, onde o guia intergaláctico de Gabriel o pedira para olhar no chão abaixo da janela oval dentro da nave, e lá estavam uma série de seres pequeninos, de várias formas.
_Esses são em projeção aumentada microformas, alguns são espécie de bactérias que não há em seu mundo, e outros são seres análogos aos seus insetos, e inclusive ainda sua espécie vai evoluir a um ponto onde quebrarão as próprias travas biológicas e conseguirão entender que biomassa não só significa seres parecidos com vocês, que o termo biomassa incluem os insetos também. Em seu mundo vê-se humanos em defesas dos animais, mas para vocês animais são mamíferos ou repteis, talvez aves e anfíbios... mas um dia vocês reconhecerão e enxergarão que a natureza vai além disso, vai além de um ativismo seletivo. Gostaríamos muito de ver sua espécie defendendo a importância dos insetos na Terra, talvez a partir daí, conseguindo enxergar o que há de mais sublime na simplicidade, vocês conseguiriam respeitar melhor seus pares, membros de sua própria espécie, pois quebrariam um pouco mais o sectarismo, entenderiam que tudo faz parte de um todo, e que o tudo está no todo e que vocês são só mais uma parte desse todo.
Nesse momento Gabriel bugou, nunca tinha visto antes “alguém” defender com tanto furor a vida dos insetos, para ele era meio estranho e bizarro aquilo.
_Eu sei Gabriel, embora não tenha falado eu entendi o seu pensamento, sei que o que falo aqui parece bem bizarro para você, mas um dia almejo que como espécie vocês evoluam, e eis é um dos motivos de você estar aqui hoje. Agora eu gostaria de lhe mostrar outra coisa...
A nave voou rapidamente e a tela ficou toda avermelhada, quando pararam estavam alguns metros acima do que parecia ser um mar.
_Veja Gabriel, entende o que é isso?
Gabriel inclinou a cabeça para frente e com os olhos assustados meio que gaguejou um pouco para falar...
_É... nossa, parece muito com gelatina isso. Um mar de gelatina.
_Não, isso não é um alimento exatamente, é um outro tipo de ecossistema, veja o que acontece.
Ao se aproximarem com a nave do mar, ouve uma grande agitação na superfície da mesma, e com uma rapidez descomunal para os olhos de Gabriel, viu-se pequenas ondulações e submersões do que pareciam ser água-vivas alaranjadas, que num instante sumiram da planície do mar e chafurdaram, e o que se desnudou foi a superfície mista em laranja com marrom de um mar, que ainda assim parecia água da qual existia na Terra.
_Aquilo ali Gabriel, eram marujócas, sempre que sobem a superfície do mar para fotossíntese, elas mudam de cor para laranja, pois caso o contrário, virariam presas fáceis as seres como os pontorgos por exemplo.
_E o que são pontorgos?
_Bom, deixe-me ver, sabe as gaivotas do seu mundo? São parecidos. Que coincidência, olhe ali em cima.
Nesse momento Gabriel levou um susto, um bicho que parecia mais com um lobo de asas, mas que ao chegar mais perto se parecia mais com um morcego sem olhos, e era enorme, mais ou menos 1 metro e meio e todo preto, com um conjuntos de umas doze patas em forma de pinça, e com uma enorme aza, mirou num canto daquele mar e do que parecia ser o seu abdome saiu uma espécie de arpão, que estava preso ao corpo, que cravou numa daquelas água-vivas alienígenas, e a levou para o alto, quando o bichão voltou ainda Gabriel pode ver metade da vítima para fora, porém na altura de onde deveria ser a garganta do bicho, não a boca.
_Vamos Gabriel, vamos dar um passeio lá embaixo.
_Lá embaixo? Vamos ao fundo disso?
_Sim, quero lhe mostrar a vida marinha desse ecossistema.
Quando mergulharam, Gabriel viu que aquela nave era bem melhor do que um submarino, e que ali embaixo as coisas até então não eram diferente do que vira em seu próprio Planeta, porém não demorou para notar coisas estranhas ali embaixo...
Tinha mais ou menos uns 3 metros de altura, e nadava na vertical, parecia com cogumelo gigante com calda também iguais as das água-vivas... Passou por eles e foi embora, logo à frente uma série de bichinhos aerodinâmicos parecidos com cubos ou lancinhas passaram também... E eis que Gabriel fica novamente atônito com a imagem que vira, um bicho muito parecido com uma baleia, porém com uma boca descomunal, aquilo era umas 5 vezes maior do que uma Jubarte, mas não parecia ser agressivo.
_Isso ai é uma Galúpada, não são exatamente carnívoros vorazes, apesar de também terem outros animais em sua dieta, se alimentam mais de vegetais submersos e pequenos seres marinhos, inclusive de Marujócas.
E a cada pedaço de mar que a nave passava, uma nova surpresa aparecia para Gabriel, que sempre se encantava com tudo aquilo e ainda não podia crer que lhe estava sendo concedida tal oportunidade na vida, o mesmo parou para pensar quantas pessoas não pagariam muito para ter uma oportunidade daquelas, e ele estava ali de graça e pela própria vontade, também pensou em quem seriam os outros 59 seres humanos escolhidos para essa missão, e o que eles aprenderam com isso... Já que até ali Gabriel sentira que tinha ganhando uma experiência e razão existencial que nunca tivera antes em sua vida, era como literalmente sair da Matrix. E Gabriel resolveu perguntar, meio que nutrindo alguma esperança de conhecer alguns desses meros privilegiados em sua vida, quem eram e onde estavam eles.
_Tem algum aqui nessa nave conosco? Algum dos outros 59 seres humanos para essa missão?
_Não Gabriel, não há, agora você é o único aqui.
_Mas onde todos eles estão agora?
_A maioria esmagadora já partiu Gabriel, já cumpriram a suas missões. Hoje em dia tem somente mais um humano vivo além de você, é uma fêmea da sua espécie, a convidamos quando a mesma tinha 14 anos, ela é da divisão política geográfica onde vocês chamam de Indonésia, e hoje ela está com 62 anos de idade e desde de que participou do nosso projeto, tem feito um grande trabalho em sua comunidade local na disseminação do pensamento de preservação das espécies e da empatia humana. Todos os outros já não estão mais aqui, antes de vocês dois tínhamos convidado um humano de onde é a divisão conhecida como França, no seu calendário isso foi em 1894, ele teve um grande desempenho em sua época na disseminação dos valores humanos e tudo mais. Também me recordo de outros notáveis humanos, como um que convidamos em 1464 no que seria em suas divisões conhecido como Itália das quais ensinamos os valores da vida, arte e arquitetura, o mesmo acabou se tornando uma figura central de seu tempo e suas ideias e arte permanecem até hoje em seu mundo. Um dos principais sem sombra de duvidas, foi um jovem onde em suas divisões correspondem ao que é o estado de Israel, era realmente uma criatura muito doce e pacífica, um jovem de sua espécie com aproximadamente 12 anos, isso foi aproximadamente no ano 6 do seu calendário gregoriano, a ele ensinamos sobre emancipação e a simplicidade da real força das ações, ele desenvolveu excelentemente bem, tinha um apreço por sofisticações desde as materiais até as psicológicas, e de fato fez uma engenharia em sua época, o chamamos depois disso de técnico da paz, ou o real reformista social. Mas lembre-se Gabriel, e isso que vou lhe dizer aqui é muito importante, se não a coisa mais importante que já te disse até agora, nós como espécies guias somente mostramos o caminho, e o que há de melhor a fazer, mas não determinamos que os faça, não escolhemos de forma arbitrária os grãos e os mandamos plantar, na verdade os ensinamos como fazer os seus próprios grãos e plantar, não damos as ferramentas para eles e o deixamos construir, na verdade os ensinamos a construir ferramentas e o que sai disso sempre é algum tipo de surpresa para nós, mesmo que saibamos de quase todas as possibilidades, não interferimos além disso. Houve espécies das quais não tivemos o mesmo sucesso que estamos tendo com a sua espécie, lembro-me de uma em particular que era extremamente inteligente, progrediam a passos largos rumo ao que seria uma civilização tipo 2 da escala kardashev, escala essa que alguns cientistas do seu mundo usam para determinar o nível tecnológico energético de uma civilização. Pois bem, mesmo com esse nível tecnológico e com nossas investidas, eles nunca reagiam de forma agradável aos nossos convites, eles eram geneticamente falando mais variáveis do que vocês humanos que geneticamente são gêmeos, porém em todas as suas unidades eram muito parecidos, totalmente indiferente e insípidos, fizemos o nosso melhor e ensinamos muitas coisas a eles, que utilizaram de uma forma totalmente aleatória e pragmática, e acabaram se extinguindo ainda mais rápido, você talvez pense: sabíamos nós de tais possibilidades? Sim, sempre calculamos muitas possibilidades, mas é contra as regras interferir na espécie depois de um nível, mas podemos jogar sabedoria para que ELAS mesmas possam tentar mudar seus pensamentos e ações, mas jamais podemos interferir de fora para dentro de maneira mais agressiva. E assim foi com a espécie humana, que ao contrário de algumas espécies pelo cosmos, está aprendendo e fazendo a coisa certa pelas suas próprias capacidades e talento. Bom Gabriel, vamos, quero te mostrar outra coisa, mas não nesse mundo aqui.
_Outro mundo? Para onde iremos agora? E antes que eu me esqueça eu gostaria de saber quem é essa mulher ainda viva que participou do projeto.
_Vocês vão se conhecer um dia Gabriel, não só a ela mas todos vocês ainda se conheceram, mas não nesse tempo, e tudo ao seu tempo. Agora vamos...
Gabriel nesse momento ficou pensativo, pois não acreditava em vida após a morte, e aquilo não o fizera nenhum sentido. E também pensou em como deveria ser essas outras”raças”, espécies indiferentes e extremamente inteligentes pelo cosmos, isso também o deixou bem pensativo.
E novamente Gabriel se encantou com os pontos brancos passando rapidamente pela tela oval, e parando mais uma vez subitamente, e dessa vez ficou frente a frente com uma estrela amarela que lembrava muito o Sol, mas algo lhe dizia que aquela estrela não era a estrela mãe. Ele não demorou muito para ver que o seu guia fazia uns movimentos com as duas mãos ao mesmo tempo em direção a tela, e que as imagens ficavam mais nítidas, e ele logo mostrou ao jovem que aquilo lá não era só uma estrela, mas quatro estrelas separadas por uma certa distância. Mas a coisa ficou ainda mais curiosa quando ele mostrou ao jovem o que parecia ser mais um planeta a uma certa distância das estrelas.
_Onde estamos? – perguntou Gabriel.
_Constelação de Auriga, no sistema quádruplo de Capella, há 42 anos luz de distância do seu mundo.
_Nossa! Tão perto por assim dizer e não descobrimos que aqui havia um planeta com vida?
_Acertou Gabriel, aqui tem realmente vida, e vocês não descobriram porque essas são as regras.
_Que regras são essas? – Perguntou de forma meio cética Gabriel.
_O corpo superior Gabriel, são eles que determinam e determinaram as regras e leis da física em todos os universos paralelos e multiversos conhecidos pelas espécies guias.
_E quem são esses tais de corpo superior?
_Não sabemos, eles nunca se comunicaram diretamente conosco, mas temos umas ideias provindas de muita ciência e união entre nós espécies guias de que eles são reais, e não só isso, são quem determinam tudo a nossa volta.
E o que são espécies guias? – Gabriel agora ficara cada vez mais confuso com aquilo tudo.
Somos nós Gabriel, mas minha raça junto com mais duas raças somos as comandantes, as principais instrutoras. E há mais vinte e cinco raças que colaboram com o projeto, estão espalhadas por mais de 5 bilhões de Galáxias nesse e em outros Universos. Todas sem exceção estão naquilo que matemáticos e físicos do seu mundo chamam de Escala Kardashev nível 3, então estão todas muito bem avançadas e superaram problemas parecidos com os que os humanos passam hoje em dia, porém vale a ressalva de que existem muitas diferenças na estrutura psicológica entre seres possuidores da dita inteligência racional, e nesses caso apenas três dessas vinte e cinco colaboradoras do projeto são espécies animistas, todas as outras tem o pragmatismo como principal estrutura psicológica. Geralmente civilizações animistas, que tenham algum outro ingrediente em seu DNA como o egoísmo, se aniquilam antes mesmo da infância tecnológica.
Nós da raça guia extraordinárias estamos na escala 4, o corpo superior deve estar numa escala 6 ou até mesmo maior dentro dos pilares que lhe apresentei.
_E o que seria uma civilização animista?
_Sua espécie por exemplo é animista, dão valores e vida a coisas não vivas. E o pior de tudo, vocês são beligerantes, bem pragmáticos e egoístas por natureza. Está cravado no DNA de cada um de vocês, porém aos poucos vemos indivíduos se livrando dessa falha da essência e evoluindo a um plano superior. Mas lembre-se, por si só ser animista e pragmático não é exatamente um defeito, mas isso vai depender de outros ingredientes genéticos, se forem favoráveis a espécie progredirá de qualquer forma, caso haja coisas como perversão estrutural , egoísmo e indiferença, ai sim a não ser com muito esforço, a espécie estará arruinada em pouco tempo de existência, infelizmente sua espécie é egoísta e sectária, mas extremamente compassiva, o que balanceiam as coisas e nutri boas esperanças de progresso. Já em contrapartida as espécies pragmáticas são menos compassivas, porém estão longe de serem egoístas, e acima de tudo são muito realistas e deterministas na forma de pensar, mas não se engane, eles geralmente são menos passionais por terem extrema cognição, mas não são indiferentes e tão pouco insensíveis, são seres que também a sua forma, são amáveis.
_Quer dizer que minha espécie está fadada ao fracasso? E só por curiosidade, de qual categoria é a sua espécie?
_Talvez, como lhe mostrei, mas estamos trabalhando para ajudar-vos e superar isso, porém obviamente não podemos interferir até um certo ponto acima disso. São as regras, porém temos bons motivos para pensar no sucesso de sua espécie, aquilo que te mostrei na janela oval é a possibilidade mais aceita dentro de um panorama mais abrangente do que aconteceria sem a nossa ajuda e interferência, sem mostrarmos a vocês como construir seus próprios grãos, aquilo lá não é um fato consumado ainda, não se preocupe com isso agora; pois há muito pela frente ainda. A minha espécie é junto com as outras duas que fazem parte do corpo superior, somos o que chamamos de espécies extraordinárias, temos quase todas as qualidades das demais, mas também temos os defeitos, porém nossas qualidades sobressaíram e conseguimos sobreviver, existem qualidades em algumas espécies que não há em humanos e vice-versa, o que foi determinante em nossa espécie foi a ação da abstração e do antagonismo sob tais estruturas psicológicas, o que nos fez entender e buscar o melhor dentre tantas outras possibilidades, pois como por exemplo seria possível imaginar o contrário de algo que não conseguimos imaginar em sua essência, nem sempre o contrário de uma coisa é a ausência da coisa em si, e isso é de difícil explicação para você.
A nave se aproxima do planeta, tinha duas lindas luas, mas o que mais intrigou Gabriel não foram as luas em si, mas que em volta do que parecia um planeta sem vida alguma, havia uma mega estrutura, formava um arco em torno de todo o planeta como se fosse os anéis de Saturno, mas aquilo não era um “anel” natural, e sim algo sintético construído por algo ou alguém.
O que é aquilo?! – Pergunta pasmado Gabriel.
Aquilo Gabriel... aquilo é um captador de luz estelar, era usada pela civilização que aqui habitava há muito tempo.
Habitava? Como assim, não estão mais aqui?
Não Gabriel, eles não estão mais aqui e em lugar nenhum. Eles simplesmente sumiram do que conhecemos como existência, também foram apagados das possibilidades quânticas dos Universos Paralelos, simplesmente é como se nunca tivessem existido.
Mas o que houve com eles? Como pode algo que construiu isso não existir mais? – Gabriel parecia cada vez mais aturdido com tais ideias, mas mesmo assim ainda cético quanto tudo aquilo.
Nós fizemos o nosso melhor Gabriel, ensinamos muitos valores a eles durante muito tempo, e numa indiferença intrínseca à espécie, não absorveram as coisas da forma como gostaríamos que captassem, e resolveram de uma maneira quase unânime ir numa direção contrária,vicissitudes. O porquê de eu te trazer aqui é doravante com os interesses da sua espécie, pois os seres que aqui habitavam tinham uma estrutura psicológica muito parecida com as suas, e enveredaram pelos mesmos caminhos, políticas egoístas, desrespeito para com a natureza, segregações étnicas, e guerras intermináveis. Porém quando parecia que tinham conseguido resolver alguns de seus problemas, sumiram sem deixar rastros.
Mas o que realmente aconteceu com eles? Se eles já tinham resolvido alguns de seus problemas, por que então sumiram?
Uma estranha mutação maligna e irreversível os acometeu, foi como uma praga incutida. Em pouco mais de dez anos do seu calendário toda a espécie se extinguira. Eles tinham bases há milhares de quilômetros de distância daqui, no próprio satélite e em planetas vizinhos, mas o que sobraram foram ruínas. Nada criado por eles permaneceu, nem mesmo os protótipos robóticos sobreviveram, o que nos fez pensar num agente externo.
Nossa, você está me dizendo que houve uma guerra entre dois mundos?
Não exatamente, as únicas espécies capazes de interferir em outro mundo somos nós espécies guias, e não somos beligerantes como algumas das espécies primárias, e estas não conseguem sair de seus próprios mundos e estão separadas por anos luz de distância e por bloqueios físicos e matemáticos que os impedem de se localizarem, então logo isso não tem absolutamente nada a ver com elas. O que nos fez pensar que foi uma atitude direta do Corpo Superior.
Gabriel nessa hora ficara ao mesmo tempo surpreso e triste, e as duas coisas bem correlacionada a outra, pois achara que atitudes assim só existiam em seu mundo, como um genocídio seria cogitado por uma espécie não humana e ditas “corpo superior”, isso fez Gabriel nutrir um sentimento de desesperança, mas agora não só com a espécie humana, mas com as espécies não humanas também.
Como isso?! Como esses seres se sentiram no direito de cometer uma atrocidade dessas?!
Entendo o seu desespero Gabriel, mas do mesmo jeito que existe a ética em seu mundo, também há um consenso ético universal, algo que ainda não conseguimos exatamente entender, mas que estranhamente conspira para o bem, para o lado bom e evolutivo das coisas.
Então me explique onde está o bem em matar toda uma espécie?! Tudo o que eram não existe mais... já ouvi falar desses discurso de “o lado bom” na segunda grande guerra, e na consequente decisão para realizar um genocídio.
Não sabemos das reais motivações Gabriel, mas pelos nossos cálculos temos uma boa ideia do que aconteceu, mas primeiramente deixe-me explicar o que é ética universal.
Lembro-me de uma espécie interessante que visitamos há mais de duzentos milhões de anos, eles tinham um hábito que para vocês humanos pareceria ultrajante, imoral, inescrupuloso. Na espécie deles, que a propósito era sexuada igual a de vocês, o que seria análoga a uma fêmea na sua espécie, criava um casulo depois de fecundada e depositava ovos que davam origem a no mínimo quatro a cinco novos membros da espécie, todos cresciam e tinham uma vida social similar, mas na ausência de proteínas específicas, era lícito matar um ao outro e realizar canibalismo, o que daria uma extraordinária fonte dessas proteínas específicas, e isso era visto como normal dentro dessa sociedade. E ao convidar um membro dessa espécie ele me fez a seguinte indagação: “É ético eu não dividir o meu irmão morto com os meus outros irmãos?”.
Entenda a naturalidade com a qual ele me perguntou isso, ele nem sequer cogitou que haveria algo de errado em matar o irmão, eles nem sequer nutrem traços genéticos, biológicos com parentes, então para eles matar um irmão era o mesmo que matar uma barata, dentro da mente humana, para ele não significava absolutamente nada, para ele e dentro da trava biológica que a espécie dele tinha, foi criado sim um consenso ético, mas este é intricado com as próprias programações sócio-biológicas do indivíduo. Mostramos valores para esse individuo que para ele era bizarro, mas aos poucos vimos surgir de dentro para fora dentro dessa espécie, algo que chamamos de ética universal, o corolário da ética... e essa espécie começou a fazer revoluções em seu mundo, indagando sobre alguns desses valores, não foi da noite para o dia mas essas práticas foram sumindo até se erradicarem totalmente milhares de anos depois, a empatia por algum motivo emergiu nessa espécie. Antes que ache um absurdo algumas sociedades da sua espécie, a humana, praticavam canibalismo como forma de se alimentar do poder de outrem, ou como mero alimento, ou escravizavam de forma grotesca, ou matavam filhos nascidos com algum problema físico, existem coisas que são brechas negativas dentro da espécie, o que as fazem fazer coisas absolutamente estranhas dentro de uma ótica universal, mas também há brechas positivas que os fazem mudarem maus hábitos antigos.
Essa espécie aqui do qual veres ruínas, era extremamente maligna, nada ou quase nada dentro dela prosperava para o bem ou ética universal, elas chegaram ao nível 1 da Escala Kardashev, e caso chegassem ao 2 e por algum motivo descobrissem o seu planeta, não pensariam duas vezes em aniquilar qualquer ser humano ou vida de lá vivente. Obviamente colocamos travas dentro das leis da física que dificultam espécies assim, ou espécies ainda imaturas de enxergarem umas as outras.
Ao falar isso a nave foi baixando e entrando no planeta de tal criatura, e ao chegar lá embaixo só o que se viu foram construções desmoronadas e mato, era de uma arquitetura incrivelmente linda e complexa, dava para ver que mesmo que despencadas aquelas ali eram megacidades muito altas, não havia ser vivo mais ali, de nenhuma espécie. Gabriel pensara que talvez não devesse sentir pena daquela espécie, mas mesmo assim sentia um profundo pesar em sua alma. Num canto tinha uma espécie de Globo verde brilhante, certamente parecia a única coisa viva ali, o que despertou a curiosidade de Gabriel.
O que é aquilo lá?
Como disse, eles tinham uma estrutura psicológica muito parecida com as suas, com a exceção de serem apáticos, coisa que vocês humanos não são, eles tinham soluções muito parecidas com as suas, como por exemplo mexer com a energia nuclear, e esse reator foi o que sobrou de “vivo” de sua espécie. Caso esteja se perguntando onde estão os animais do planeta, lhe digo que não há mais nenhum, eles exterminaram todos assim que perceberam que poderiam viver sem eles sem causar qualquer desequilíbrio ambiental,então mataram todos, nem sequer pensaram em deixar algumas espécies como lembranças de uma época, e somente não se matavam porque tinham um conluio social biológico que não os inclinavam para isso, o dito “assassinatos” do seu mundo, aqui não faria o menor sentido, pois não tem lógica matar alguém do qual se poderia explorar, era assim que eles pensavam e raciocinavam. As guerras que eles travavam eram de ideologias sociais, não havia entraves sanguentos como em seu mundo, aqui os perdedores usavam a lógica para se entregarem, era uma guerra friamente travada em um diálogo frio e insensível entre as divisões políticas que eles estabeleciam, quem perdesse produziria mais bens para os ganhadores e assim por diante. Eram insanos. Acreditamos fortemente que os seres do Corpo Superior deram uma última chance a eles, incutindo-lhes um problema do qual teriam ao invés de explorar, colaborar um com os outros na solução do problema, mas ao invés disso o que se notou foi ainda mais exploração alheia, e deixando claro que o explorado não achava que o outro tava de todo errado, e pensamentos de como usar aquele problema para caso houvesse a chance de se depararem com uma outra espécie alienígena, fizessem o mesmo com elas para que conseguissem dominar os seus mundos sem maiores empecilhos, e no que diz respeito de exploração espacial, eles eram ainda mais focados do que vocês humanos nisso. De qualquer forma a sociedade deles prosperaram a um bom nível, quando definitivamente foram exterminados pela própria incapacidade de compreender o outro e a qualquer coisa que não fossem eles mesmos.
Não há nada demais em ter políticas em seu mundo Gabriel, mas o problema somente está no egoísmo humano, não aquele egoísmo empreendedor, mas no egoísmo mesquinho e indiferente que é o que leva qualquer sociedade a destruição. Um relógio precisa de partes para funcionar, e você pode ver isso como uma divisão, mas não existe peça superior dentro das engrenagens, não existe egoísmo, todos trabalham para todos, e assim deveria ser com qualquer sistema político dentro de sua sociedade, seja estatal, seja empresarial, e seja lá qual for, levando em consideração que as riquezas naturais são escassas, são finitas, e tendo sempre em vista a natureza, ela é quem dita as regras, não vocês. O que vocês chamam de dinheiro nunca deveria existir, e as divisões sociais que segregam e inferiorizam seres humanos são simplesmente uma aberração do ponto de vista da ética universal.
O que me nutre de esperança em sua espécie Gabriel, é que vocês são tão sensíveis que nem sempre é necessário convidar para vasculhar o cosmos para que alguns dos membros de sua espécie entenda o nosso recado.
Então nossa espécie está trilhando um caminho parecido? O que lhe faz pensar que nossa espécie pode ser assim tão sensível e benéfica?... – Era tanta informação que Gabriel ainda tentava dissolver tudo aquilo .
Ainda em seu mundo, e na sua divisão humana chamada Brasil, no ano de 1971 percebi uma energia muito forte e muito boa planar de uma região, e chegando lá vi uma jovem de sua espécie com aproximadamente 6 anos de idade, passando por uma pequena confusão emocional relacionada a uma debilidade motora na perna, o que parecia ser sua mãe tentara colocar-lhe uma prótese para que pudesse andar normalmente, e ela resistia. Senti ali que podia traçar alguma comunicação com a jovem e dizer-lhe com as melhores emoções e energias possíveis, que aquilo que sua mãe tentara fazer era um gesto de amor, não de prisão ou qualquer tipo de privação, ela viu nossa nave brilhar e entendeu o nosso recado, e partimos sem precisar dizer uma só palavra à jovenzinha evoluída. Acreditamos que até hoje ela repasse essa mensagem de paz e harmonia aos demais a sua volta.
Gabriel nesse momento sentiu uma pontada de paz com a história, sentiu de maneira genuína que a missão daquele ser era realmente de paz.
_Sabe, agora me dei conta do que disse lá atrás, sobre a nossa espécie ser animista... Seria a crença em um Deus maléfica? A maioria dos extraterrestres são ateus?
_Não, a interpretação genuína que uma espécie da a sua existência nunca é maléfica em si, mas sim o uso que faz dela, o animismo está impregnado no DNA de sua espécie, é uma estrutura biológica e pouco se deve preocupar com isso, mas não é porque uma espécie fora de seu planeta não compartilha de uma mesma estrutura que a da sua espécie que essas são contrárias as concepções biológicas, sociais ou psicológicas da civilização do seu mundo. Não te contei, mas das vinte e cinco espécies colaboradoras do projeto, duas delas são muito parecidas com a classe animal de seu mundo com o nome de hidrozoários, mais especificamente com a Turritopsi Nutricula... mas ambas não têm origem recente em oceanos em seus respectivos mundos, mas têm uma semelhança devera perfeita no que diz ser uma vida cíclica, eles são sexuados e variam entre maturidade e imaturidade sexual, e o mais interessante, em ambas as espécies o sistema nervoso central cresce e amadurece com o individuo, mas em uma dessas espécies, ao contrário da outra que o sistema nervoso central continua sendo o mesmo até o final do ciclo, na outra depois de um período de crescimento que seria mais ou menos o tempo de setenta anos do seu calendário, o processo começa a se reverter e de maneira bem rápida, dura uns quinze anos e recomeça a crescer de novo, mas aquele sistema nervoso central formará outro indivíduo, o dono do antigo cérebro por assim dizer, morreu e surge uma nova vida utilizando o mesmo corpo, as duas espécies são muito parecidas e acredite, ao menos corporeamente falando, são imortais. Mas como te disse, não faria sentido algum eu chamar os seres humanos de seres inimigos da imortalidade ou os seres sem imortalidade de uma forma antagônica e panfletária, pois vocês não são inimigos da imortalidade, apenas nasceram mortais, nós não somos inimigos da crença em um ser criador, nascemos sem mecanismos que ajudem a interpretar a realidade dessa forma, porém acredito que muitos de vocês já chegaram a conclusão que independentemente da ferramenta que se use para vasculhar a realidade, todos podemos por meios diferentes chegar as mesmas conclusões.
E quais conclusões seriam essas? – Pergunta Gabriel de forma curiosa e perscrutadora.
_A de que aquilo que nossa espécie e as espécies colaboradoras chamamos de corpo superior, dentro da visão da sua espécie seria Deus. Em ambas as posições falamos a mesma coisa, a de que eles ou ele, seja lá o que for, nunca se comunicou de maneira direta conosco, somente deixou ou deixaram pistas de sua existência, acho que vocês humanos interpretam da mesma forma que nós tudo isso, só que com ferramentas bem diferentes das nossas.
_Sabe... acredito também nisso que você falou, mas sou bem cético, o que me faz mais parecido com os ETs do que com os humanos, creio eu.
_Você é mais parecido com os outros humanos do que você mesmo possa pensar Gabriel, acredite em mim, isso do que você chama de ceticismo, psicologicamente falando não diferencia muito você dos outros humanos, todos têm lá seu grau de ceticismo, mas esse mesmo ceticismo utilizado de maneira inteligente pode e deverá ser em muito, benéfica a sua espécie.
_Eu fico surpreso que em tão pouco espaço haja tanta vida não localizada por nós humanos, o que me faz pensar que o Universo está repleto de vida... A vida é normal no Universo, não é?
_Até o momento eu mostrei estrelas dentro de um raio que contém 100 mil estrelas, e nesse trecho do Universo há razoavelmente bastante vida, mas nem sempre é assim, há raios de milhares de anos luz no Universo estéreis, sem vida alguma. O que levou esse trecho do Universo em que você vive ter mais seres vivos, foi a panspermia local. O fato de vocês não terem localizado esses planetas eu já lhe respondi, isso é de implicação nossa, não deixamos espécies racionais em grau baixo de evolução ter tais informações sem antes entenderem e valorizar a vida em seu próprio planeta de origem, essas são as regras Gabriel, tudo ao seu tempo.
_Sabe... eu gostaria de conhecer você em sua plenitude, gostaria de saber quem é que está me ensinando e me mostrando coisas tão valiosas das quais eu nunca conheceria em minha vida, mas te entenderei caso não queria se mostrar, até agora só vi seres magníficos, mas dos quais não poderia travar uma boa conversa igual a que estou tendo com você aqui agora.
Gabriel não sabe o porquê, mas teve a sensação que o extraterrestre bordado em verde fluorescente e translúcido ao meio lhe pareceu sorrir ao olhar para ele, e isso foi um tanto quanto bizarro, já que ele nem sequer tinha boca para sorrir.
_Tudo bem Gabriel, é chegada a hora de me conhecer de verdade. Mas não se assuste, não sou nada parecido com você, como já lhe dissera antes.
E de relance o contorno esverdeado começou a apagar ao mesmo tempo que a estrutura visual de um homem translúcido diminua e se desconfigurava, e se transformava em algo estranho, amórfico e meio colorido, não era possível entender onde começava e onde terminava o ser vivo ali postado.
_Esse sou eu Gabriel, sou de carbono igual você, porém tenho uma pele mais fina e meus ancestrais evoluíram de uma adaptação abrupta, algo como efeito gargalo, e somos muito parecidos com o que vocês chamam de anfíbios, outras características em nossos corpos não são traços evolutivos, são sim a ação de nossa tecnologia em melhoria em nossos corpos, nosso metabolismo e cognição teve um grande avanço com a implementação de tecnologia genética.
Gabriel ficou embasbacado e com a boca aberta, porém não exatamente assustado, pois sua mente formava coisas estranhas também quando imaginava os tais seres em seus pensamentos, mas ainda assim ele nunca conseguiria imaginar um ser daquele.
_Você é realmente muito estranho, morfologicamente eu digo, não entendo onde estão seus olhos ou boca, para mim essas seriam as tais características universais ao qual você tinha se referido.
_Eu tenho, mas é diferente dos animais do seu planeta, apesar de que as minhas células foto receptoras não são as mais comuns no Universo que conhecemos, está vendo essa saliência aqui no topo da minha cróquia?
_Não sei o que é cróquia, mas vejo que seu tentáculo apontou nessa região e não consigo ver nada ai. - Respondeu Gabriel ainda um pouco confuso.
_Esses são os meus olhos, apesar que não se fala no plural já que temos só uma receptora, que por si só é bem maior que os dos humanos e capta mais de 5 milhões de cores diferentes, e logo aqui do meu lado esquerdo existem esses buraquinhos, consegue notar? Seria a nossa boca, nosso metabolismo é bem diferente dos seus, comemos alguma proteína em média uma ou três vezes por ano dentro do seu calendário gregoriano especificamente falando, o resto é fotossíntese. Tenho quatro membros inferiores para locomoção e dois superiores com dois apêndices cada, e usando sua escala de medição, tenho um metro de altura, meio metro de largura e um metro e meio de cumprimento, não tenho um sistema nervoso central, o sistema nervoso de nossa espécie é disperso, tenho em média um conjunto de oito cérebros de tamanho mediano espalhados pelo corpo. A regeneração de nosso tecido orgânico é rápida graças aos avanços tecnológicos que temos, inclusive do sistema nervoso, em suma seriam essas as principais informações morfológica de nossa espécie que podemos passar para você.
_Nossa, é realmente incrível, ter um contato visual com um ser inteligente de outro mundo agora em minha mente oficializa a coisa toda, mesmo que isso pareça bobagem, e mesmo que eu acreditasse que você de fato não era humano, só agora te vendo que sinto que estou conversando realmente com um extraterrestre. – Nesse momento Gabriel sorriu.
_Acredito que seja pelo fato de sua espécie ser visual Gabriel, nada de mais nisso, fique tranqüilo.
_Escuta, eu ainda não entendo como consegue falar a minha língua tão bem.
_Nossa tecnologia faz isso por nós, não precisamos nos esforçar para isso, é assim com qualquer ser que visitamos pelo cosmos.
_Mas como que é a linguagem real de vocês?
Você não entenderia Gabriel...
_Como sabe que não? Não posso tentar observar?
_Nossa comunicação não é por fala igual a sua, é por sinais de luz. Ela é rápida e direta, além do mais por causa do nosso sistema nervoso disperso podemos ter várias conversas diferentes ao mesmo tempo, com ou com outros seres simultaneamente. Algo em torno de mais ou menos uns 300 a 600 assuntos diferente e complexos ao mesmo tempo.
Ual! Meu Deus, como é possível isso?! - Pergunta Gabriel de uma forma totalmente alarmada com a revelação.
_A linguagem pode definir o destino de uma espécie Gabriel, no que reparamos muitas das atitudes da sua espécie é correlacionada por prisões linguísticas, o que os tornam escravos da própria linguagem.
_Sim, eu também acredito nisso... mas escuta, vocês não se importam com outros de vocês ficarem vendo sua conversas?
_E por que ficaríamos? Não tem sentido algum observar a conversa de outrem que não nos diz respeito, mas entendo o sentido da sua pergunta, na sua espécie informações sobre o comportamento alheio é de suma importância, pois sabendo dos hábitos de algum mau elemento no grupo, se pode afastar do mesmo e se unir com quem compartilhou a informação, além de ser uma prática prazerosa, acaba se tornando algo seguro a membros de sua espécie. A chamada fofoca e falar mal de seus pares é uma arma biológica da sua espécie, mas não da minha. Na nossa espécie isso é inconcebível. Lembro de uma espécie que visitamos há 40 anos, e o nosso escolhido para o projeto nos fez uma interessante pergunta: Quando se sentem cansados vocês não se juntam aos outros e se entrelaçam numa giratória de três a cinco membros para repor a energia? Eu de pronto lhe respondi que para nossa espécie aquilo não fazia o menor sentido, mas que também entendia o porquê de ele me perguntar aquilo, em sua espécie a união social é de extrema importância, e eles mesmo entre estranhos fazem algo semelhante ao dito “abraços” de vocês humanos, porém entre três ou cinco membros, giram e giram e depois vão embora como se nada tivesse acontecido, isso serve dentre outras coisas para liberar um hormônio responsável com o bem-estar, e aumentam a energia do sistema nervoso, que na espécie deles assim como na sua, é central, porém com estruturas análogas aos seus neurônios bem diferentes, passam informações de maneira mais rápida, mas com muito dito lixo cognitivo, no geral o cérebro humano acaba sendo mais bem adaptado. Enfim, muitas das perguntas estão estritamente ligadas a fatores biológico-sociais de cada espécie, e o que mostramos é um outro caminho, uma outra visão, não que o “abraço” desses aliens e o dos humanos sejam maléficos, apesar da “fofoca” entre os humanos no geral ser maléfica, muito pelo contrário ao menos no que diz respeito ao “abraço”. Gostaríamos até de ver e sentir alguma real graça nisso, mas não sentimos dessa forma, mas temos os nossos próprios jeitos de interagir, que não vem ao caso agora. Agora vamos.
Para onde vamos agora? – Indagou Gabriel.
Para o outro lado da Galáxia, tem algo lá que quero lhe mostrar.
E novamente Gabriel se encantou com as luzes brancas passando rápido pela janela oval, e quando menos se dera conta, a nave parou, sem som algum, abrupta, sem impacto e sem inércia. Mais à frente, Gabriel podia ver o que parecia com um grande globo laranja, era lindamente brilhante, mas não era nenhuma estrela ou até mesmo planeta, notava-se nitidamente ser algo construído, e perfeito. Nesse momento também, Gabriel se deu conta que o ser alienígena ao seu lado voltara a forma anterior, o que exatamente não incomodou Gabriel nem um pouco.
_O que é aquilo? – Indaga de forma surpresa Gabriel.
_Não sabemos ao certo, não foi algo construído por nenhuma das vinte e cinco espécies do projeto, nem por nós espécies extraordinárias, e está ai há mais ou menos uns 40 mil anos; mas temos uma pequena ideia do que talvez possa ser isso.
_E o que seria? Para que serve isso?
_Suspeitamos que seja um portal, mas nada que leve a algum lugar que já fomos um dia, o chamamos de porta para casa do corpo superior, acredito que para vocês seria algo como a porta dos céus.
_Ual... – Os olhos de Gabriel brilharam nesse momento - Outra dimensão ou algo assim?
_Sim, mas além das dimensões que já visitamos, além de antes do que vocês chamam de Universo Ecpirótico.
_Como assim? Vocês já visitaram outras dimensões? E o que havia antes do Big Bang?
_Só fomos até a quinta dimensão, além disso é muito do que podemos conseguir, a nossa ciência tem muito ainda o que evoluir. E antes do Big Bang acredito que vocês humanos estejam no caminho certo para conseguir a resposta.
_Podemos chegar perto desse globo?
_Não, só até aqui. O que torna esse globo tão misterioso é a substância da qual ele provavelmente seja feito, e a força gravitacional que há nele. Ele parece inativo, é imóvel e lindo, mas tem massa suficiente para engolir 100 mil galáxias com seus respectivos buracos negros de uma vez, a massa dele é inestimável, e tem apenas o tamanho do seu planeta vizinho, Marte. Ele é feito de matéria escura, que sua espécie ainda descobrirá ser uma quintessência.
_E o que acontece se chegarmos mais perto? – Mesmo com medo da resposta, Gabriel pergunta.
_Já mandamos uma sonda próxima a ele, e o que aconteceu foi bizarro e não previsto pela nossa ciência...
_E o que aconteceu? - De maneira atônita e com os olhos arregalados, pergunta Gabriel.
_Assim que a enviamos e a própria chegou bem próximo ao globo, ela parou e ficou imóvel por alguns instantes, logo depois ela começou a volta lentamente sem nossos comandos, perdemos totalmente o controle dela, ao chegar perto da nossa nave, a nave mãe, algo a fez mudar e auto-moldar a própria matéria numa forma geométrica, e várias formas geométricas se formavam como letras de uma espécie de alfabeto, cada figura geométrica era milimetricamente exata e oscilava em cores lindas, algumas das quais nunca nos demos conta que existira, e repentinamente ela voltou a forma original e ficou ali parada sem vida. A recolhemos, e todo o mecanismo dela havia mudado, mas para melhor, havia dentro dela um pequeno cristal de número atômico totalmente estranho a algo do nosso Universo, e figuras geométricas espalhadas pela estrutura interna de maneira microscópica e de difícil detecção, a espécie humana mesmo demoraria muito tempo para alcançar um grau tecnológico capaz de começar a enxergar aquelas figuras, e nelas trabalhamos assiduamente com a ajuda das espécies colaboradoras junto com outras espécies pelo cosmos, e descobrimos pouca coisa do que aquelas figuras queriam nos dizer.
_E o que era esse pouco que eles queriam dizer a vocês? – Um suspense crescia em Gabriel.
_Dizia sobre vocês Gabriel, dizia sobre a sua espécie, a espécie humana.
_Nossa...
Nesse momento Gabriel voltou seus olhos para o globo laranja e se perguntou como aquilo seria possível, a sua humilde espécie mal chegará a adolescência tecnológica, era vista como primitiva pelas outras vinte e cinco espécies do projeto, e algo muito superior até mesmo a essas espécies mandara uma mensagem a sua própria espécie, que tipo de mensagem seria aquela se perguntava Gabriel.
_Você quer ouvir a mensagem Gabriel?
_Sim, claro... eu quero. – Nesse momento Gabriel se sentira a pessoa mais privilegiada do mundo.
Um som muito parecido com um canto lírico começou a vir de algum lugar que não fora localizado por Gabriel, mas na janela oval apareceu as tais formas geométricas ditas pelo seu guia alienígena, e uma voz serena e feminina começou a falar...
“Oh espécie filha, eres tão linda e perfeita, eres uma das nossa mais sublime criação, tão amáveis e sensíveis, cuida ó filho querido do que eu lhos dei, cuida também de ti, seríeis os guias dos guias nessa jornada de luz, amadurecereis e de glórias vivereis, prepararás os teus para a grande glória que há por vir, quando estiverdes pronto sabereis o que fazer, e aqui estaremos vos esperando, nossa amável criação”.
_Nossa... estou sem palavras... – Gaguejou Gabriel ao falar - Mas o que exatamente é isso? Por que nós humanos?
_Ainda não sabemos Gabriel, mas essa foi a única comunicação que tivemos com essa civilização, e foi assim, de forma indireta e como uma ponte para quem realmente interessava a mensagem, que eram vocês humanos. Mas acreditamos numa coisa, e nisso todas as espécies guias concordam, seja lá o que for, o destino e sentido real da vida está na esperança da evolução humana, é por isso que temos um certo apreço pela sua espécie e nutrimos esperanças nela, acreditamos que chegada a hora, serão vocês que nos mostraram o verdadeiro caminho a seguir, mas por enquanto vocês ainda são bebês, estamos ensinando vocês a sair do engatinhar. O modo como descobrimos esse globo foi ainda mais bizarro, ele não existia, ao menos dentro do nosso Universo, e foi quando que há 40 mil anos, todas as espécies guias notaram um campo de energia colossal planando desse lado dessa galáxia, rapidamente mandamos nossas sondas para cá, e nos deparamos com isso, se passaram uns 50 anos até que finalmente conseguimos obter algumas informações, dentre elas aquela que lhe mostrei, onde seja lá o que for se dirigia aos humanos ao falar, o que nos pareceu realmente muito estranho, já conhecíamos os seus ancestrais, mas nossos cálculos apontavam que vocês não sem muita força, teriam um destino muito parecido com o povo da civilização que eu lhe mostrara há pouco. Então, chegada a hora, as revelamos a vocês, a todos que convidamos, cada um à sua própria época e sujeitos as suas singulares interpretações. Agora vamos... Quero lhe mostrar um lugar que existe, existia e existirá para sempre, mas ele está antes do Big Bang.
_Antes do Big Bang? Eu realmente nem consigo imaginar isso...
Nesse momento Gabriel não viu as estrelas passando rapidamente pela janela oval, algo diferente aconteceu, algo novo que nunca imaginara em seus sonhos intergalácticos quando criança ou na adolescência, aquilo era inimaginável para ele. O que se viu foi uma luz muito forte cobrindo toda a janela oval, com uma súbita puxada para frente e depois para baixo, Gabriel sentira como se tivesse sendo sugado por alguma força estranha, sentira um aperto no coração que batera mais forte, de repente ele se viu deitado na mesma mesa metálica do qual teve contato logo no início... abriu os olhos, olhou em volta e não viu nada, a sala estava novamente toda branca como também notara no início, e começou a ficar novamente um pouco assustado com aquilo.
_Ei! Olá... Onde estamos agora? – Gabriel sentia que falava sozinho, pois ninguém o respondia.
_Estamos aqui Gabriel.
Aqui onde? – Gabriel ouvira mas não vira ninguém.
_Estamos aqui, desse lado.
Quando Gabriel olhou para o lado esquerdo, lá estava não só o seu conhecido guia, mas outra entidade que obedecia os mesmos critérios do guia, translúcido e com um contorno fluorescente, mas que dessa vez não era verde, era num azul bem vivo.
_Oi, quem é ele? – Perguntou Gabriel ao seu guia mas sem tirar os olhos do estranho.
_Sinto por você ter sido submetido ao sono Gabriel, mas sua espécie não tem uma reação natural a esse tipo de viajem, ainda não têm. E esse aqui é o representante de uma das vinte e cinco espécies guias, a espécie dele faz vigília dentro do que chamamos de a grande singularidade, ou o grande Universo Ecpirótico para vocês humanos.
_Olá Gabriel, prazer em conhecer mais um membro de sua espécie, sinto-me honrado com a sua espécie aqui conosco.
_Oi, obrigado... mas o que seria esse grande Universo do qual vocês falam? Eu realmente não conheço muito sobre isso.
_É isso aqui que você pode ver Gabriel, olhe... – Respondeu o seu guia.
Ao olhar pela janela Gabriel não conseguira entender muito bem, ele via o que parecia grandes arcos de luz quase infinitos como linhas brancas, estiradas e se curvando nas pontas, percebia que havia ali grande atividade energética, algumas ao se chocarem com as outras vibravam como cordas de violão... era algo muito estranho para ele, e tudo aquilo num fundo negro, muito escuro e sem brilho ou estrela alguma, totalmente opaco.
_O que é isso? Onde estamos?
_Estamos antes do Big Bang Gabriel, foi aqui que o seu Universo e os demais Universos nasceu.
_Nossa... mas como? Vocês realmente viajam no tempo?!
_Sim, dominamos a quarta dimensão, mas não da forma romântica e hora caótica como vocês expressam dentro da arte e concepções humanas. Ao contrário do que as maiores mentes do seu mundo pensam, nós podemos intervir no passado, mas subsequentemente temos que aniquilar o seu resultado em todas as esferas dentro de uma quinta dimensão, é ai que existe o real problema, mas temos conhecimento e sabedoria para isso.
_E o que acontece caso vocês não aniquilem os resultados? – Perguntou de forma desconfiada Gabriel.
_Surgirão Universos Paralelos não naturais, o que a ética universal considera uma real aberração, os Universos Paralelos são reais, mas todos são naturais, não mexemos na essência do Universo, respeitamos o Universo, estamos abaixo dele. A única forma que nos permite mexer em suas estruturas, é alterando mecanismos dele próprio, para proteger alguma de suas criações, a lei do mais forte não é a forma que os humanos entendem as coisas, ainda vocês avançaram e amadureceram para entenderem o real sentido dessa frase.
_Gabriel nem se dera conta que o outro ser havia sumido enquanto ele conversava com seu guia, mas aquilo por algum motivo, não o surpreendera mais.
Onde está o outro de vocês?
Ele se foi, ele apenas nos recebeu aqui para nos dar as boas vindas.
Ele faz parte daquelas três super raças que você disse fazer parte do que vocês são?
Não, ele é das vinte e cinco raças guias colaboradoras com o projeto, a espécie dele em particular é uma das mais inteligentes e amáveis que já conhecemos, mas não é a mais velha delas.
Gostaria de poder vê-lo assim como pude ver você. – Um pouco de curiosidade mórbida brotou em Gabriel nesse momento.
Você não iria gostar de vê-lo. – O seu guia translúcido, por algum motivo que muito tempo depois ainda tocaria Gabriel, foi muito sucinto na resposta.
O que são aqueles arcos brancos ali?
Em primeiro lugar Gabriel, não são brancos, as cores não existem aqui, nada do que você vê aqui é da forma que é, são tudo apenas uma interpretação aguçada com a ajuda de nossa tecnologia, por assim dizer fizemos com que você enxergasse os grandes campos energéticos da cor branca, e o fundo da cor preta, já que esse é o contraste que melhor se adapta a sua visão, e tem familiaridade com o modo que você e toda a sua espécie enxerga o Universo. Aqui, nos impactos desses arcos de energia, que o seu Universo nasceu.
Como vocês conseguiram chegar até aqui? Que tecnologia seria capaz de algo assim... por mais que eu sempre pensasse em tais possibilidades, algo em mim sempre me dizia que isso era apenas algo imaginativo, que nunca seria possível um dia, até mesmo que até onde eu sei, isso seria algo além de viajar no tempo, já que antes do Big Bang nem o tempo existia.
O tempo é mais um resultado de uma série de ações do que uma coisa em si, e a partir do momento em que conseguimos entender isso, ficou tudo mais fácil para nós. Mas veja, seja lá como foi, algo antes de nós deve ter chegado as mesmas conclusões, quando chegamos aqui notamos rastros de tecnologia, algo que seria até mesmo invisível a civilizações de categoria 2 e 3 na escala Kardashev, mas que não deixamos escapar a nossa percepção em conjunto com outras raças. E esse algo fez isso muito tempo antes da primeira super espécie intergaláctica surgir, que faz parte do nosso conjunto de três super raças, na nossa concepção quem fez isso é ligado de alguma forma ao corpo superior, eles sempre estão muito a frente de qualquer um de nós. São os mesmos que mandaram a mensagem a sua espécie, não conseguimos ver de outra forma isso.
O que havia antes disso tudo?
Não sabemos, nada em nossa tecnologia foi capaz de responder a essa pergunta, nem nossa e nem a de das colaboradoras, é simplesmente quase impossível atravessar essa barreira, mas nossa ciência aponta algumas possibilidades que está além da compreensão humana, por isso não vou tentar te explicar, mas em uma analogia bem simplória seria o inverso do invisível, mas de uma forma não visível e intangível, inconcebível.
Ok, é realmente não entendi, se essa é a forma fácil de se explicar isso, imagina a mais difícil.
Sim Gabriel, não é uma ciência humana, nem sequer vocês dispõe de ferramentas orgânicas ou tecnológicas para isso ainda, ainda...
O seu “ainda” quer dizer alguma coisa?
Sim, que um dia vocês que irão ensinar a gente, mas do que nós a vocês, e esse dia a por vir, respeitamos e entendemos isso.
Agora vamos, mas não exatamente para esse período do tempo, mas daqui a 13 bilhões de anos, dentro do seu mundo.
Gabriel demorou a entender que nesse período ele estaria apenas voltando ao seu tempo real, já que haviam retrocedido no tempo para antes do Big Bang, e ficou curioso e pensando que talvez tivera que voltar para casa de uma maneira tão breve, e que tudo aquilo iria terminar, mas o que estava por vir, não era exatamente o que Gabriel pensara... era algo surpreendente, talvez uma das mai surpreendentes até aquele momento. Novamente Gabriel se vê deitado na mesa metálica, se sentia um pouco tonto, mas suspeitava ser por causa de sua labirintite, já estava acostumado com aquilo, olhou direto para a janela oval, onde o seu guia translúcido já estava, e viu o que pareceu ser uma estação de trem, vista de cima, e lá abaixo um garotinho tentando desesperadamente forçar a catraca para entrar de novo para dentro da estação, mas não conseguia, quando um homem deu a volta por fora e o ajudou a entrar pelo lugar certo da estação... E essa cena fez os olhos de Gabriel lacrimejarem, pois aquele garotinho e aquele homem, era ele e seu pai.
Veja Gabriel, este foi o seu primeiro guia, sempre ao teu lado, e aquela ali a sua outra guia...
Gabriel olhou outra cena, uma jovem mulher pegando em suas mãos quando ainda criança, e entrando numa espécie de pequeno comercio em uma ladeira, e comprando um ursinho de pelúcia para ele...
Dessa vez Gabriel não segurou as lágrimas e começou a chorar...
Nossa, eu me lembro desse dia, é a minha mãe... e eu tenho esse ursinho até hoje, sem os olhos e com uma das patas murcha mas tenho. - Sorriu com os olhos cheios d’água Gabriel.
Numa outra cena, Gabriel observa o que parece ser um homem carregando uma criança nos ombros enquanto atravessa o que parece ser um riozinho, passando por cima de uns dutos de pedra, de encanamento subterrâneo de tamanho pequeno... De átimo Gabriel se lembrara desse dia em que seu pai o carregou nos ombros.
Lembro também desse dia, nunca esqueci... – Gabriel estava reflexivo.
Numa outra cena, Gabriel sentiu o seu coração partir, ele vira sua mãe e seu pai fazendo cada um ao seu modo um desenho que ele tinha que entregar como trabalho de escola, e no final eles pedindo para ele escolher um dos desenhos, do qual ele acabou escolhendo o desenho que seu pai fez, que ele gostou muito, mas se arrepende por não ter escolhido o desenho que sua mãe fez com tanto carinho, e se lembrou nitidamente de ver ela chorando por não ter sido escolhida, isso o fez ficar com o coração nas mãos... Pois o estilo de desenho de sua mãe , que ele tanto aprendeu a amar, o marcaria para sempre, cada vez que visse desenho parecidos em sua vida.
Eu devia ter escolhido o desenho da minha mãe, gostei muito do desenho que meu pai fez, me pareceu mais dinâmico na época, mas o melhor desenho era o da minha mãe, gostaria de poder voltar a ser criança e escolher o desenho dela, e a abraçar, e dizer o quanto eu a amo.
_É Gabriel, arrependimento não é só uma virtude humana, isso é quase universal. – Disse o Alienígena de maneira prosaica.
_Por que está me mostrando tudo isso?
_Você precisa saber, você precisa entender com o coração tudo aquilo que não posso lhe explicar com palavras, e acredito que chegada a hora saberá o real significado de tudo isso que veres em nossa viagem.
Gabriel pôs-se a olhar pela janela oval de uma forma nunca antes tão reflexiva, e ficou em silêncio.
_Vamos Gabriel, tenho mais coisas a te mostrar... Mas agora no tempo real.
E o que seria assim tão importante? – Como de praxe Gabriel ficava sisudo e perdido.
_Está há aproximadamente 600 milhões de anos luz da sua Galáxia, vocês a chamam de O Objeto de Hoag, é uma outra galáxia Gabriel.
_Toda essa distância... Confesso que estou um pouco curioso para sair da minha própria Galáxia. – Fala sorrindo e em um tom brincalhão Gabriel.
_Pois deveria, serás o terceiro humano a ir tão longe desde que começamos o projeto.
_Ual! Nossa, é mesmo? Então o que verei poucos seres humanos viram?
_Sim Gabriel, e em particular nesse caso serás o primeiro a ver.
_Ver o quê? – Pergunta surpreso Gabriel.
_Uma civilização animista igual a tua, que teve grandes progressos.
_Hominídeos? Tá, ok... eu sei que não. – Sorriu Gabriel ao seu guia e já amigo, ser translúcido.
_Vamos Gabriel, não podemos perder tempo, ao menos nesse Universo ele é precioso.
E a nave foi em sua jornada a sua contumaz velocidade colossal da qual Gabriel nunca conseguiria entender os mecanismos, e como percebera, dessa vez demorou um pouco mais do que de costume, mas chegou. Não entraram dentro da Galáxia, mas ficaram parados por cima dela, e Gabriel achou aquela imagem linda demais para os seus olhos, cores azuis, amarela e alguns tom de vermelho pairavam na paisagem daquela lindíssima Galáxia de formato anelar.
_O que achou da paisagem Gabriel?
_Linda... E aquilo lá vermelho, o que é?
_Já vou lhe mostrar...
E a nave adentrou na Galáxia, e quando parou já estavam cara a cara com uma enorme estrela vermelha.
_Nossa, ela é enorme!
_Sim, bem maior do que o seu Sol. Consegue ver ali?
_Hum... Sim, sim.É um planeta?
_É sim Gabriel, é o mundo deles.
E mal o guia havia falado isso, e a nave adentrou no planeta, que ao menos ali de cima não demonstrava haver uma única criatura viva, e também não havia nenhum ponto de luz como nas grandes cidades do Planeta natal de Gabriel, o que deixou o humano um tanto quanto curioso.
_Tem vida mesmo aqui? – Pergunta Gabriel de forma meio descosida.
_Do outro lado você poderá ver animais andando pela superfície, mas aqui desse lado as coisas são mais submersas. Os seus ancestrais diretos surgiram de animais de tamanho médio que debandaram e se adaptaram a viver primeiramente em grutas, o que não demorou a terem uma adaptação subterrânea eficaz contra predadores, a inteligência no nível racional começou a brotar nessa espécie devido a sofisticação do aparelho sonoro, a abstração do sonar e o entendimento matemático espacial das grutas e fendas no solo foi essencial à sua espécie, o que com o tempo fermentou a um crescimento exponencial do sistema nervoso que nessa espécie é dividido em duas partes, de forma lateral. São seres extremamente sociais, não beligerantes e amáveis. Assim como a sua espécie são animistas, e estão no nível 1.5 da Escala Kardashev.
Nesse momento sem serem vistos devido a alta tecnologia da nave, eles flutuaram numa fenda que os levaram para baixo dentro daquele planeta. Ao passar por uma entrada de formato circular, uma extensa paisagem emergiu aos olhos de Gabriel, era uma cidade gigantesca, ali deveriam caber uns 100 mil estádios de futebol pensara Gabriel, toda avermelhada com tons de azul piscina e calcário em alguns lugares. Aquilo que Gabriel entendia ser casas ou prédios eram de uma arquitetura totalmente estranha a de sua espécie, eram baixas e arredondadas, porém enormes e com pequeninos pontos em linha reta em um tracejado que não ocupava toda a metade da obra circular, tinha a cor vermelha viva, grandes feixes de cristais inundavam todo o lugar, eram cristais azuis enormes que iam até o teto daquela enorme caverna subterrânea, e a nave flutuou até uma outra fenda mais à frente, ao chegarem no final daquela fenda outra paisagem se desnudou aos olhos humanos de Gabriel, era uma espécie de parque, tudo ali tinha uma luz fraca, mas Gabriel pôde ver os seres criadores de tudo aquilo, tinham uma forma corpórea similar a larval, com o corpo cor de bronze, e três pequenas patas em cada lado, com quatro maiores mais acima, e nesse momento Gabriel além do asco que sentiu, se convenceu também que a forma corpórea do seu amigo guia era até mais normal do que pensara.
_Veja Gabriel, vou lhe dar a possibilidade de entender com o coração o melhor que a filosofia dessa espécie já produziu.
_Como isso? De que forma isso seria possível?
_Apenas feche os olhos e sinta... se desprenda do preconceito humano da visão, e enxergue com os olhos do coração.
Nesse momento, Gabriel um pouco cético resolve fechar os olhos, e de imediato sente um silêncio tranquilizador e uma paz emergiu em seu coração, e mesmo que não entendesse os sons daquela linguagem alienígena, que se parecia com os cantos das baleias, ele entendera tudo o que diziam de alguma outra forma da qual não sabia explicar, ele nunca antes sentira tanta pureza numa fala, tanto amor e cumplicidade e entrega. Ele entendeu o amor que essa espécie detinha pelo desconhecido, o respeito que tinham por outras espécies, o quanto se sacrificavam uns pelos outros, o quão louvavam a mãe natureza como uma deusa e a sua forma oravam e rezavam para o bem maior, Gabriel entendera que a mensagem daquela espécie era de paz, não havia quase nenhuma noção de maldade em seus corações, e nesse momento Gabriel começara também a entender o quão mesquinho era o ser humano... ou melhor, o quão mesquinho era ele próprio.
_Gabriel? Espero que tenha conseguido entender essa linda espécie, mas não só isso, espero que tenha começado a entender a sua própria espécie.
_Sim, eu entendi... Infelizmente eu vi a sujeira que sou refletida no espelho de cristal que aqueles que meu preconceito me fizera sentir nojo erroneamente, seguraram e apontaram para mim... como eles são lindos, como são infinitamente mais bem preparados que nós humanos.
_Não se entristeça meu adorável, a sua espécie ainda está começando a aprender. E haverão outras espécies que desenvolverão a inteligência a nível racional ainda daqui a muitos milhões de anos, e eu também gostaria de lhe mostrar isso.
_No futuro? Nós vamos para o futuro?
_Sim, mas não podemos cortar de forma alguma o cordão umbilical com o nosso Universo momentâneo real, e é nisso que a tecnologia humana terá muito ainda o que evoluir.
A nave novamente subiu para fora do planeta e Gabriel ainda teria tempo de ver uma nave da espécie que visitara, era toda negra e com um designe bizarramente liso, tinha o tamanho de um prédio de uns 80 andares, e nesse momento antes de Gabriel se desse conta novamente notara o clarão que deixara toda a janela oval branca, e quando se deu conta, na verdade estava deitado na mesa metálica, porém dessa vez ela não estava muito gelada como de costume.
_Chegamos? Onde estamos exatamente?
_Estamos 730 milhões de anos no futuro além do seu tempo Gabriel, dentro da sua própria Galáxia.
_Nossa, sério? Sei que parece um pouco pueril da minha parte mas não parece, ainda parece a mesma Galáxia com as mesmas estrelas...
_Nem tudo é o que parece Gabriel, ainda mais para uma espécie visual igual a sua.
_Onde estamos?
_Alfa Centauri, um sistema de estrelas bem conhecido em seu mundo.
_Aquilo lá é um planeta, não é? – Pergunta de forma curiosa Gabriel.
_Sim, é um planeta rochoso igual ao teu. Porém o mesmo estava muito próximo a sua própria estrela, a Alfa Centauri B para que aqui pudesse surgir vida, mas como nos foi informado alguma coisa puxou esse planeta para uma zona habitável muito parecida com a da Terra, e mais uma vez isso não teve absolutamente nada a ver com quaisquer uma das espécies que formam o projeto, não mexemos na natureza dessa forma. Seja lá o que fez isso, o fez com algum propósito, e vimos que nesse mundo está surgindo uma espécie engatinhando a caminho de uma inteligência mega racional, veja você mesmo Gabriel.
Nesse momento a nave desceu no planeta, que estava repleto de vida animal e fauna riquíssima, uma selva verde muito parecida com as selvas do planeta Terra, mas Gabriel notara que se assemelhava e muito àquelas representações artísticas que mostravam o paleozóico do período Carbonífero, animais enormes de todas as formas jamais vistas por Gabriel, uma das coisas que mais chamaram a atenção de Gabriel eram as formas de vida que se pareciam com corais ambulantes, não era possível saber se eram animais ou plantas, tinham um formato de cone. Outros pareciam muito com escorpiões ou qualquer espécie de artrópodes marinho, mas com pele grossa escura ou multicoloria, ao invés de exoesqueleto. As árvores eram enormes, no mínimo umas três vezes maiores do que as coníferas de seu planeta, a natureza e seus sons eram exuberantes, sons de bichos que ele nem sequer conseguia definir o que era exatamente, plantas andando para lá e para cá, algumas aparentemente carnívoras. Gabriel estava boquiaberto.
_Nesse planeta Gabriel, não há as divisões exatas nos ditos reinos vegetais e animais, aqui houve uma simbiose em um nicho primitivo que acabou vingando. Porém há também outras divisões, e há animais sem resquícios vegetais em suas estruturas, mas esses são raros e pertencem a um outro filo.
_Meu Deus, eu nunca poderia imaginar coisas assim, por mais que eu soubesse dessas possibilidades, ver é outra coisa. Muito lindo... E onde está a espécie com potencial racional?
_Já te mostro...
Em uma fração de milésimos a nave já estava pairando sob outra paisagem, dessa vez era árida e aparentemente sem vida, desértica...
_Estamos ao sul oeste desse planeta, aqui o clima é mais árido, porém não se engane, há vida aqui e é essa vida que irá dar muitos frutos pelos nossos cálculos.
_O que é aquilo ali se mexendo? – Pergunta atônito Gabriel.
_São eles, espécie interessante, não?
Dessa vez Gabriel não podia falar que era uma espécie bizarramente diferente da espécie humana, porém ainda assim, bem diferente, mas compreensível. Pareciam tartarugas, andavam sob duas longas patas que pareciam sair do abdome, com uma espécie de calda fina abaixo de onde parecia uma boca, e essa mesma calda no lugar errado se dividia em dois nas pontas , e tinham uma pele réptil áspera, porém brilhante. Tinham cerca de uns dois metros e meio a três metros de altura, e andavam em bando.
_Se parecem muito com tartarugas gigantes... consegui entender o formato corpóreo deles.
_Sim, porém eles são mais para árvores ambulantes do que para tartarugas. Eles têm uma interação social muito forte, têm um sistema nervoso disperso mais bem sofisticado, e estão progredindo cognitivamente particularmente muito rapidamente. Calculamos que se continuarem assim, em dentro de uns dois a três milhões de anos estarão viajando pelo espaço. E se tudo ocorrer bem, são vocês humanos quem serão os guias dessa espécie.
Nesse momento Gabriel ficou com a boca aberta e sem palavras.
_Será? Será que conseguiremos passar ao teste do Universo e sobreviveremos ao egoísmo de nossa espécie?
_Gabriel... se eu realmente não acreditasse nisso, por que você estaria comigo aqui hoje? – Fala de forma singela e pausada o Alienígena, com extensa ternura em sua fala.
_Fico feliz de verdade em ouvir isso... – Sorri docemente Gabriel.
_Acho que a minha missão com você já acabou Gabriel, é hora de irmos.
_Não! Eu acho que tenho tanto a aprender ainda...
_O essencial você já aprendeu meu amável, agora tens que ir e ensinar aos outros o que aprendeu aqui hoje...
_Eu não poderia contar nunca que fui abduzido ou convidado a ir para o espaço, eu seria motivo de chacota, mas...
_Sim, no seu “mas” há a verdadeira resposta, não foi à toa que os escolhemos Gabriel, você tem o que é necessário para estar aqui hoje.
_Sim, eu acho que sei disso... na verdade eu sempre soube eu acho... Realmente eu tenho muito o que fazer, mas me sinto tão pequeno...
_É um gigante Gabriel, e quando conseguir canalizar a sua inteligência e humildade em um rumo só, entenderás definitivamente a sua missão, assim como os outros um dia também tiveram que entender...
_Eu tenho essa esperança em mim – Gabriel sorri...
_Eu sei que tens... Agora feche os olhos...
_Espere! – Num átimo Gabriel se lembra de algo -
_Muito obrigado por tudo – Gabriel agradece com os olhos cheio d’água -
_Nós é que lhe agradecemos Gabriel... – Ainda de forma terna, o seu guia lhe responde.
E antes mesmo que Gabriel respondesse, foi acometido por um sono profundo e relaxante, sentiu o seu corpo flutuar, era como se tivesse flutuando entre as estrelas, era algo muito profundo e espiritual que nunca sentira antes em sua vida... E foi quando abriu os olhos... Estava em seu quarto, o livro em cima do peito e ao olhar no relógio do celular, vira que dormira por menos de uma hora. Correu até a janela e tentou ver alguma coisa, mas nada vira a não ser o miado de seus três gatos... Saiu da janela e a fechou, ficou pensativo se tudo aquilo não fora um sonho, um lindo sonho... Foi quando olhou para sua cama, e do lado esquerdo estava lá um pedaço de uma espécie de metal, era todo negro e extremamente liso, muito lindo... Gabriel então sorriu, e teve certeza à partir daquele momento, em qual seria a sua mais nova e talvez eterna missão na Terra.