MANDY III - RETORNO IMPREVISTO - PARTE 1
I – RETORNO IMPREVISTO
Quando Marco chegou em casa, já no corredor, percebeu a luz acessa no apartamento pela fresta da porta e estranhou. Então se lembrou que havia prometido ir jantar com a mãe no dia anterior e que havia esquecido completamente. Encostou-se na parede e passou a mão pelos cabelos, mas estava muito cansado pra voltar. Talvez fosse ela, cobrando a visita.
Abriu a porta e entrou. Não viu ninguém na sala. Chamou:
- Mãe! É você?
Amanda apareceu na porta da cozinha, com o rosto sério e vermelho de quem tinha chorado.
- Oi! - ele falou e sorriu surpreso por vê-la. – Você não ia... voltar amanhã à noite?
- Eu resolvi voltar antes...
Ele aproximou-se dela devagar e a beijou. Ela não correspondeu.
- O que foi? - ele perguntou, percebendo que ela estava fria.
- Onde você estava?
- Na quadra de squash da faculdade, jogando um pouco... O que aconteceu?
Ela afastou-se dele devagar e sentou-se no sofá. Tinha uma revista enrolada na mão e a colocou lentamente sobre a mesa de centro e a revista se abriu, mostrando a capa.
- Era com ela que você estava? - perguntou com a voz sumindo na garganta.
Marco foi sentar-se a seu lado, ainda olhando para ela.
- Ela quem? Eu estava sozinho...
- Com ela... Amanda falou, apontando para a capa da revista com um movimento da cabeça.
Era uma Playboy, cuja capa tinha a foto de Maria Eugênia, nua.
Ele olhou para a revista e a pegou. Ficou olhando para a foto, boquiaberto. Não tinha a mínima ideia de que a moça tinha ido tão longe.
- Onde é que você achou isso?
- Estava em cima da mesa da Rita.
- Você esteve na RR... hoje?
- Eu voltei de Campos e cheguei a São Paulo às quatro. Vim com a Cris. Passei primeiro lá pra te ver e... a Haidée me contou... que você tinha saído pra almoçar com a... com ela, e que não voltaria mais hoje. Como eu não sabia quem era e a Cris a conhecia e viu a revista em cima da mesa... me mostrou. É ela?
Marco ficou totalmente sem chão e colocou a revista de volta na mesa devagar. Não respondeu logo, porque percebia que a resposta não ia ser tão simples como um sim ou não.
- Como é que essa revista foi parar na mesa da Rita? De manhã ela não estava lá.
- É ela, Marco? Foi com ela que você foi... almoçar? - ela perguntou, sem olhar para ele.
- Foi... mas...
Amanda passou as mãos pelos cabelos e se levantou rapidamente, afastando-se dele.
- Amanda, eu nunca soube dessa revista. Eu só...
- Você foi conhecer pessoalmente, ao vivo e a cores, não é?
- Não! - ele respondeu, quase rindo de tão nervoso que estava. – Eu fui almoçar com ela e depois a deixei no prédio onde os pais dela moram, no Morumbi, mas...
- E por que não voltou mais pra agência? Hoje é quinta-feira, Marco. A Rita confiou em você pra cuidar da RR e não pra cuidar da modelo dela!
Ele sorriu e cruzou as mãos, apoiando os cotovelos nos joelhos e olhando para o chão. Respirou fundo.
- Eu não quero brigar com você, ele falou calmamente. – E eu não vou brigar com você...
- Não quero brigar também, Marco, só quero que você me explique o que estava fazendo a tarde toda depois de ter saído da RR com a capa da Playboy de novembro!
- Eu não saí com a capa, eu saí com a modelo da RR que por acaso é amiga da Rita e veio de férias pro Brasil. Eu estava com raiva de mim mesmo, por estar tão inseguro, porque você tinha saído com o modelo mais bonito da RR, que por acaso é doido por você, no dia anterior e...
- Eu já expliquei o que aconteceu! - ela disse, erguendo a voz e voltando-se para ele.
- Por isso mesmo! Eu estava me sentindo um idiota! Eu saí pra almoçar com a Maria Eugênia e a gente falou de você praticamente o almoço inteiro!
- É esse o nome dela... E que idade ela tem, dezenove? Pra ter saído nua na capa da Playboy, deve ter, porque eles lá levam muito a sério essa coisa de idade...
- Isso não vem ao caso, Amanda, eu nem sabia que ela já tinha posado nua em revista nenhuma. Eu a conheci ontem!
- Que idade ela tem?
- A mesma que você! Dezoito anos!
Amanda deu as costas para ele e começou a chorar.
- Amanda...
Ele se aproximou dela e colocou as mãos sobre seus ombros. Ela deu um passo para mais longe dele, se afastando.
- Amanda, olha pra mim... ele pediu.
Ela fechou os olhos e não se moveu, sem conseguir parar de chorar, ainda que em silêncio.
- Por que você voltou de Campos?
- Eu fiquei preocupada com você. Te senti tão triste, no telefone... Achei que você tivesse ficado zangado comigo. Que estava sentindo minha falta...
- Mas eu estava mesmo. Eu falei pra você que estava morrendo de saudade. Só que você não pode deixar seu trabalho por minha causa, Amanda. Se a gente for viver assim...
- Eu não deixei meu trabalho! - ela disse, voltando-se para ele. - Eu fiz tudo que tinha que ser feito lá e ia ficar mais um dia só pra acompanhar o trabalho da Luana com o Fernando que foram fazer umas fotos no teleférico da cidade e depois a gente ia ficar só curtindo pra se despedir. A cidade é linda... e eu adorei ir pra lá. Me lembrou Poços... Me lembrou minha avó...
Seu choro aumentou de intensidade pelas lembranças e pelo nervosismo e Marco se aproximou dela e a abraçou. Amanda se deixou abraçar, mas não retribuiu ao abraço.
- Valeu a pena o almoço? - ela perguntou.
- Eu imaginei que um dia fosse acontecer alguma coisa desse tipo comigo... com a gente, mas não pensei que fosse tão cedo...
- O quê?
- Eu ter que provar pra mim mesmo que eu posso ficar sem você e sobreviver a isso.
Ela olhou para ele.
RETORNO IMPREVISTO
PARTE I
Nada nos deixa tão solitários quanto nossos segredos.
- Paul Tournier
DEUS ABENÇOE A TODOS NÓS!
OBRIGADA PELA COMPANHIA!
BOM DIA!