MANDY III - REDENÇÃO - PARTE 2
II – REDENÇÃO
Ana entregou o bilhete a Marcelo, que o segurou, mas não abriu.
- Você não vai ler? - ela perguntou.
- Por que o Marco teria que ler isso?
- Se você ler o bilhete, você vai entender.
Marcelo abriu o bilhete e foi sentar-se no sofá. Todos se sentaram também. Ele leu apenas com os olhos:
“Isso aqui eu escrevi pra quem se interessar pelo verdadeiro motivo de eu estar fazendo isso, mas principalmente para duas pessoas em especial: meu ex-colega de sala, Marcelo Junqueira e meu ex-colega de colégio, Marco Antônio Ramalho. Quero só pedir perdão aos dois. Não tive intenção de prejudicar ninguém e nem quero agora, só não consigo viver mais num mundo que não me aceita, e acho que vai demorar um pouco pra aceitar gente como eu, infelizmente. Não tenho mais forças pra olhar no rosto das pessoas e verem me olhar como se eu fosse um bicho, um monstro, uma aberração. Eu sou só um ser humano diferente, mas igual a todo mundo e que ama como qualquer pessoa. Amo meus pais, amo minha irmã, amo minha família em geral e amo os amigos que eu fiz no Paralelo. Daqui a algum tempo ninguém mais vai se lembrar de mim, mas por agora, eu só quero que me perdoem. Fiquem com Deus.”
Marcelo terminou de ler já com os olhos cheios de água e cobriu o rosto com as mãos.
- Eu espero que você o perdoe de verdade, Marcelo. Meu irmão era uma pessoa boa e não tinha intenção de magoar ninguém.
O rapaz acenou afirmativamente com a cabeça.
- Quem tinha que pedir desculpas era eu a ele. Alguém mais leu esse bilhete?
- Não, estava na mão dele e eu tirei e li, quando o encontrei, ontem, mas eu resolvi mostrar pra você e quero mostrar pro Marco primeiro, antes de entregar pro delegado responsável pela investigação do caso. Só que eu não sei onde o Marco mora.
- Eu sei. Eu te levo lá.
- Eu não quero ir. Eu não posso. Você não pode fazer isso pro mim? Depois você me devolve o bilhete, por favor.
- Você sabe por que o nome dele está nesse bilhete, não sabe?
- Sei, o Alberto me falava muito dele. Meu irmão... era apaixonado por ele... em segredo. Paixão platônica. Ele não queria que ninguém soubesse. O rapaz é casado com a filha do diretor do colégio... Não conta pra mais ninguém sobre isso... por favor...
- Está certo. Não vou contar... mas eu levo pro Marco.
- Obrigada.
Marcelo a abraçou ainda chorando.
- Eu sinto muito, Ana.
- Eu vou te levar pra casa, Ana, disse Isabel. - E, Marcelo, vai falar com a mamãe. Ela está preocupada.
- Eu vou.
À tarde, Marcelo foi à casa de Marco e Amanda, mas não encontrou ninguém lá. Foi até o colégio e resolveu falar com o diretor sobre o bilhete e, como José sabia que os dois estavam na RR com Rita, ligou para ela e quis falar com Marco. Ele atendeu ao telefone:
- Oi, professor.
- Marco, eu precisava falar com você. Você vai estar em casa hoje à noite?
- Não, infelizmente não, vou me encontrar com o Chu na faculdade pra fazer um projeto que a gente tem que entregar na semana que vem. Por quê?
- É... que o Marcelo veio falar comigo sobre... Não dá pra falar por telefone, Marco. Tinha que ser pessoalmente mesmo.
- Não dá pra adiantar sobre o que é, professor? - ele perguntou, olhando para Amanda.
- É sobre o Alberto. Ele... deixou um bilhete... endereçado ao Marcelo... e a você.
Marco encostou-se na mesa e fechou os olhos, ficando em silêncio por um instante.
- Marco? - José chamou.
- Eu estou aqui, professor, desculpa...
- Eu sei que esse assunto não é o que você quer ouvir ultimamente, mas eu li o bilhete e seria interessante você ver também. Pode colocar um ponto final em tudo isso e te deixar em paz de uma vez por todas.
- A gente pode fazer o seguinte: eu vou demorar no máximo umas duas horas com o Chu, então eu posso passar na Chácara Flora, à noite... umas oito e meia. A Amanda vai com a Rita pra sua casa e eu pego ela lá. Tudo bem?
- Pode ser. Espero você em casa, então. Até a noite, Marco.
Marco colocou o telefone no gancho e Amanda perguntou:
- O que foi que ele disse?
- Hoje, você vai pra casa do seu pai com a Rita, quando sair daqui à tarde, e me espera lá. Eu vou me encontrar com o Chu na biblioteca da faculdade e vou pra lá também à noite. Seu pai quer falar comigo.
- Sobre o quê?
- Você se importa se eu não falar sobre isso agora, amor? Eu preciso entregar essas pastas pro Henrique pra editar pra revista Capricho. Depois a gente conversa, ok?
Ele a beijou no rosto e saiu da sala.
- Marco...
Ele não atendeu seu chamado. Ela olhou para Rita, como a pedir ajuda.
- Dá um tempo pra ele, Amanda. Está todo mundo muito abalado ainda com a morte do garoto. Até o José, que é sempre tão centrado, seguro e tranquilo em qualquer situação, ficou meio estranho. Não conseguiu dormir direito à noite. Se eu não o tivesse obrigado a ir pra cama, ele teria ficado no escritório pensando nisso a noite inteira. O Marco ainda está confuso.
- Eu chego a me arrepender de ter contado pra ele sobre o Alberto.
- Ele ficaria sabendo de uma forma ou de outra. Foi melhor ficar sabendo por você. Você fez bem, querida. Hoje, você vai pra casa comigo e pode até dormir lá se quiser, hum? Que tal? Amanhã é sábado, não tem aula. Vocês dois podem ficar no quarto de hóspedes. Os dois estão muito tristinhos pro meu gosto.
Rita aproximou-se dela e passou o braço em volta de seu ombro.
- O convite é tentador, mas obrigada, Rita. A gente vai pra casa mesmo, depois que meu pai conversar com ele.
- Está certo, mas o convite vai estar sempre de pé. Agora vamos fazer as fotos para a campanha do jeans?
- Vamos.
REDENÇÃO
PARTE II
LEIA TUDO QUE TE ELEVA O PENSAMENTO E A ALMA
OU PELO MENOS O QUE ENSINA A ENFRENTAR O INEVITÁVEL!
DEUS ABENÇOE A TODOS OS AMIGOS DAS LETRAS
OBRIGADA POR ME ACOMPANHAR NESSE SONHO